Swiss Re CS vê novo ciclo de crescimento com a Bradesco
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- Oscar Röcker Netto, em São Paulo
- 31 de outubro de 2016
- Sem categoria
Segundo João Nogueira Batista, companhia ganha poder de fogo e permanece atenta a possíveis outras fusões ou aquisições
A joint venture firmada com a Bradesco Seguros na área de grandes riscos vai permitir à Swiss Re Corporate Solutions crescer em um patamar de 15% pelos próximos anos, segundo o presidente da companhia suíça no Brasil, João Nogueira Batista. “Teremos um novo ciclo de crescimento, com poder de fogo maior, em força de vendas e novos produtos”, disse ele em entrevista exclusiva à Risco Seguro Brasil.
Ele estima que crescimento será próximo ao registrado pela empresa desde 2011. Só que agora com base num volume de prêmios bem maior. A companhia resultante do negócio soma, segundo Batista, R$ 815 milhões em prêmios brutos em seguros corporativos (número do fechamento em 2015), sendo que os suíços são responsáveis por pouco menos da metade desse total.
O negócio permitiu um salto na operação brasileira da Swiss Re CS, que passa a jogar entre os líderes do setor. Nas contas do CEO, a empresa resultante da parceria (chamada SRCSB) torna-se a terceira maior força nos ramos que cobrem grandes riscos do país, com 7% de market share. Separadas, a Bradesco ocupava a oitava colocação, e a Swiss Re, a nona. “Antes de vender qualquer seguro a mais, já viramos terceiro.”
À frente da nova companhia continuam duas gigantes: BB-Mapfre e Chubb. “É dureza, mas vamos tentar diminuir a distância o máximo possível”, adianta Batista. “Com o canal que a gente tem agora, não é impossível [passá-las].”
O acesso à rede ligada ao segundo maior banco privado do Brasil é um ponto de destaque os planos da Swiss Re CS. São 4.600 agências. Com o acordo, a Bradesco transfere aos suíços sua carteira de P&C (bens e propriedades) e transportes e permite à Swiss Re comercializar todos os seus seguros.
De acordo com Batista, a forma como a joint venture foi construída lhe confere características especiais de competição, com resultados potencialmente “muito mais promissores”.
“Somos o veículo exclusivo para vender todo e qualquer produto de grandes riscos na rede [Bradesco]; os que eles fazem, os que a gente faz e os futuros”, afirma. “A questão da parceria foi fundamental no nosso processo. O dono do canal é sócio, os interesses estão alinhados.”
A Bradesco, que controla o acesso de venda de seguro no canal do grupo (rede bancária, segmento corporate, pequenas e médias empresas e os corretores de seguros), tem 40% da SRCSB, sendo os 60% restantes da Swiss Re. “Eles também acreditam no negócio de grandes riscos”, afirmou Nogueira, destacando o fato de a empresa que dirige agregar uma expertise na área que os brasileiros não dominam tanto.
Tratou-se, compara o executivo, de um modelo distinto, por exemplo, de outro grande negócio realizado na área recentemente, a compra pela Ace (atual Chubb) da carteira de grandes riscos da Itaú Seguros, ligada ao maior banco de varejo do país. Neste caso, a seguradora ficou sem acesso à rede bancária, passando ela própria a gerir o portfólio adquirido. “A gente quis fazer diferente”, resume Batista.
Dentro dessa nova estrutura, ele demonstra que o radar da Swiss Re CS para novos negócios prossegue ligado. Segundo Batista, a companhia estará atenta a eventuais novos processos de fusões ou aquisições, caso haja oportunidades que “façam sentido” em sua estratégia para o Brasil. “Vai ser decisão em conjunto entre os acionistas Swiss Re e da Bradesco Seguros.”
Novos nichos
A nova estrutura de distribuição passará a incluir produtos que até agora estavam de fora do portfólio das seguradoras, de acordo com o CEO.
A partir do ano que vem, começam, por exemplo, as vendas do D&O. Segundo Nogueira, era uma seguro que a Swiss Re CS já vinha se preparando para entrar e que se reforça agora com a parceria com a Bradesco, cuja rede tem um perfil que casa bem com as características do produto, diz ele.
Outro ramo que os suíços vão começar a trabalhar é o de aviação, do qual estavam de fora e que faz parte da carteira da Bradesco Seguros. “A Swiss Re tem uma expertise grande neste setor em nível mundial, mas não fazíamos ainda aqui por questão de prioridades.”
Até agora, a operação da Swiss Re CS no Brasil estava bastante concentrada no seguro rural e garantia, de acordo com dados da Susep. No rural, a empresa reforça seu gosto de por trabalhar com parceiros robustos. Esse seguro representa maior volume de prêmios diretos deste ano (R$ 70,6 milhões, até agosto) e é comercializado em parceria com a Caixa Econômica Federal, estatal que é o segundo maior banco brasileiro.
Novidades
O setor de agronegócios é também uma área utilizada pela Swiss Re CS para trazer novidades de seu amplo portfólio internacional ao mercado brasileiro, como é o caso do seguro paramétrico, uma proteção que se baseia numa complexa metodologia com uso de satélites e estações climáticas para disparar gatilhos de cobertura dos segurados. No Brasil, ele começou a ser comercializado este ano para atividades rurais e de energia.
É um tipo de produto que representa uma inovação que, segundo o CEO da Swiss Re CS, poderia ser mais comum.
Para Batista, o modelo de regulação dificulta muito a entrada de novidades ou a customização de contratos no país. “A filosofia precisaria mudar, para permitir e acelerar processos de inovação”, diz ele. “A Susep força uma certa padronização dos clausulados e demora muito tempo para analisar [mudanças]. Nós demoramos mais de um ano para aprovar os paramétricos de clima.”
Em condições mais adequadas, segundo ele, a Swiss Re poderia trazer mais produtos que já comercializa no mercado internacional.
Concentração internacional
As companhias internacionais que operam no Brasil, por sinal, têm demonstrado uma disposição crescente pelo mercado de grandes riscos do país — na contramão das brasileiras.
Além da Bradesco e do negócio entre Ace e Itaú, a Axa comprou a carteira da SulAmérica. Outras seguradoras internacionais — como Generali, Tokio Marine, Sompo, Travelers e QBE — reforçaram suas estruturas neste setor.
Para Batista, esse movimento se explica pela especialização e capital que a área demanda — duas características que as estrangeiras estão em melhores condições de oferecer. “Tem que ter base de capital para grandes riscos e sinistros e solidez financeira para enfrentar uma competição cada vez mais globalizada”, afirma.
O aperto regulatório sobre os bancos, decorrente das regras de capitalização de Basileia, também contribuiu. Segundo ele, isso levou os bancos a analisar melhor a opção de se manter numa área que não é seu foco principal e consome grande base de capital, como é o caso de seguros de grandes riscos. “Há competição por capital dentro do próprio banco”, analisa.
A mudança regulatória no resseguro — peça fundamental nos grandes riscos — trazida pela Resolução 322 que começa a valer no ano que vem também traz um diferencial importante para as empresas internacionais, na opinião do CEO.
A partir do ano que vem começa a subir o teto de transferência de prêmios entre empresas do mesmo grupo. Em 2017 ele passa dos atuais 20% para 30%— e vai aumentando gradualmente para 75% até 2020.
Para Batista, é o tipo de mudança que ajuda a desenvolver o mercado no país. “Há uma enorme capacidade de resseguro lá fora e muitas vezes restrições impostas que inviabilizam utilizar a pleno vapor essa capacidade”, avalia ele, que gostaria de ver as mudanças serem implementadas num prazo mais curto. “Quanto mais acesso, através de suas seguradoras, ao mercado de resseguro mundial, melhor.”
A Swiss Re, diz, pretende se utilizar do teto tão logo possível. “Até para evitar triangulações [com locais], que são sempre complicadas.”
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