Só compliance formal não garante ética nas empresas
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- Oscar Röcker Netto
- 16 de dezembro de 2015
- Sem categoria
Para diretora do Instituto Ethos, boas práticas dependem de cultura de integridade e liderança real dos “chefes"
Garantir atitudes éticas numa empresa vai muito além das formalidades do compliance, que não podem ser um fim em si mesmas, mas sim mecanismos para “algo maior”, que é a real implementação de uma cultura de integridade na companhia.
O diagnóstico da presidente do conselho deliberativo do Instituto Ethos, Celina Carpi, considera que é impossível construir tal cultura sem que as lideranças da empresa expressem claramente seus compromissos e ações com a ética.
“Os líderes devem ser os guardiões dos valores e os disseminadores da cultura”, escreve ela no capítulo dedicado a analisar a cultura da integridade nas empresas do “Caderno Anticorrupção”, publicado recentemente pelo braço brasileiro do Pacto Global das Nações Unidas.
“A flacidez nas condutas, a flexibilidade em relação ao cumprimento das leis, a concorrência desleal, a busca subterrânea por vantagens — entre outros comportamentos empresariais condenáveis — representam riscos enormes à reputação, à imagem e à perpetuidade das organizações”, avalia Carpi.
A diretora do Ethos acredita que empresas com práticas de vale-tudo têm um futuro de fracasso garantido. “Podem ganhar muito dinheiro por um tempo”, diz ela. “Mas perdem energia vital tentando administrar os riscos causados por sua maneira de agir. Quase sempre, é um esforço inútil.”
De acordo com Carpi, o nível de intolerância contra este tipo de desvio é crescente e a sociedade está cada vez mais bem equipada para descobrir e punir fraudes e corrupção. “A história mostra que a falta de ética se traduz, mais cedo ou mais tarde, em desvantagem competitiva”, defende.
Nome ao bois
Em nenhum momento do artigo que escreveu para o Caderno, Carpi cita nominalmente os diversos casos que estão sendo expostos no âmbito da Lava Jato.
Ela fala de conceitos. Mas pelo que o noticiário vem mostrando, não é difícil deduzir que o caminho para mudança cultural em relação à corrupção ainda é longo.
Muitas organizações citadas diariamente em reportagens sobre as ações do Ministério Público e da Justiça Federal dispunham — antes de as denúncias virem à tona — e ainda dispõem de bem organizados programas formais de compliance, o que não impediu que presidentes, sócios, herdeiros e diretores fossem presos, acusados de desvios e fraudes — alguns deles envolvidos também no caso anterior do Mensalão.
São as pessoas que ocupam esses cargos que precisam, de acordo com a argumentação de Carpi, liderar pelo exemplo e fazer com que as “formalidades do compliance” se transformem em cultura na empresa, zelando pelas boas práticas.
“Todo profissional, do presidente ao operário, precisa se reconhecer nos valores da companhia onde trabalha para que as coisas fluam com naturalidade, com riscos reduzidos”, diz Carpi.
A Lava Jato já condenou pelo menos 12 presidentes, diretores e executivos de empreiteiras, a penas que chegam a 19 anos de prisão cada uma.
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