Rio 2016 dá pouca ênfase à gestão de riscos
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- Rodrigo Amaral
- 5 de abril de 2016
- Sem categoria
Profissional contratado em 2013 deixou comitê logo depois; organização não sabe dizer quem comanda área, que teve alta visibilidade em Londres
Em agosto, as primeiras Olimpíadas realizadas na América do Sul vão colocar o Brasil sob os holofotes – e também vão expor ao mundo a capacidade do país de gerir os riscos envolvidos em um evento de escala planetária.
Se as oportunidades de exposição do país na Rio 2016 são imensas, algo muito semelhante se pode dizer dos riscos envolvidos.
O Rio de Janeiro vai receber cerca de 11.000 atletas de mais de 200 países para a 31ª edição dos Jogos Olímpicos. Junto com os desportistas, a Rio 2016 atrairá centenas de milhares de turistas, homens de negócio, agentes de segurança e profissionais de mídia atraídos pelo poder gravitacional do megaevento.
Trata-se do maior evento esportivo do mundo e, por esse motivo, nas últimas décadas, uma ênfase cada vez maior tem sido dada à mitigação de ameaças como catástrofes naturais, terrorismo, epidemias e outros temas que podem afetar o bom desenvolvimento dos jogos.
Segundo Will Jennings, um professor da Universidade de Southampton, no Reino Unido, que estuda a gestão de riscos das Olimpíadas, o tema tem ganhando cada vez mais relevâncias nos últimos jogos, chegando a patamares notáveis quatro anos atrás em Londres.
“Em Londres, basicamente todos os aspectos da governança dos jogos tiveram a integração de algum tipo de noção relacionada à gestão de riscos,” disse Jennings.
Isso inclui desde a segurança dos participantes até a construção da infraestrutura dos jogos, e se trata de uma prioridade claramente expressada pelo Comitê Olímpico Internacional. “O COI utiliza os padrões de ERM da ISO 31000 para a identificação, avaliação e gestão dos riscos,” afirmou um porta-voz da entidade.
“A gestão do risco é uma parte essencial do trabalho do COI porque ela reduz a probabilidade de que eventos inesperados venham a afetar de forma adversa a capacidade da organização de atingir seus objetivos.”
Pouca ênfase
No Brasil, porém, a ênfase na gestão de riscos é bem menos evidente no que na edição britânica dos jogos.
Os documentos oficiais publicados nos sites de “transparência” da Rio 2016 trazem reduzida informação sobre o tema. Os poucos dados disponíveis fazem parte do dossiê de candidatura do Rio de Janeiro, preparado vários anos atrás.
Após a delegação dos jogos para o Rio de Janeiro, um gestor de risco brasileiro com experiência internacional foi contratado para cuidar da área, mas pouco tempo depois deixou o cargo por “desentendimentos” com seus superiores, conforme apurou a reportagem.
Apesar de insistentes consultas da reportagem, a assessoria de imprensa do comitê organizador não soube informar quem é atualmente o responsável pela área. Assessores de imprensa mencionaram a possiblidade de que a direção de compliance pudesse comentar o tema, mas nada chegou a ser organizado em tempo para a publicação da reportagem.
Em dezembro de 2015, uma apresentação sobre o tema na Câmara dos Deputados foi feita pelo coronel da Polícia Militar Roberval Ferreira França, apresentado como gerente-geral de Integração de Segurança do Comitê Organizador. Ele também será responsável por palestra sobre o tema durante o 5º Encontro de Resseguro, organizado pela CNSeg no Rio de Janeiro.
A assessoria de imprensa da Rio 2016 não soube confirmar se o coronel em questão é responsável pela gestão de riscos dos jogos. A apresentação feita aos congressistas versava sobretudo a respeito da segurança física e policiamento das instalações. A assessoria não soube nem mesmo confirmar se o coronel Roberval Ferreira França é um membro da equipe do comitê organizador.
Riscos gerais
No dossiê de candidatura aos jogos, o comitê organizador afirmou que o nível de “riscos gerais” referentes aos jogos é baixo.
O dossiê menciona especialmente o fato de que o Rio de Janeiro não costuma ser atingido por catástrofes naturais, a não ser enchentes, e que os jogos se realizarão durante a temporada seca, o que reduz em muito a possibilidade de enchentes.
Há preocupação com crime, tumultos e segurança pública, mas os organizadores argumentam que a experiência de organização dos Jogos Pan-americanos de 2007 e a Copa do Mundo de 2014 mostram que as forças de segurança estão capacitadas a lidar com estes riscos.
Quanto ao terrorismo, os organizadores observam que o Brasil está tradicionalmente fora da rota de atentados terroristas.
“O Brasil não tem histórico relevante de atividade terrorista nacional ou internacional, e as autoridades brasileiras não identificaram no país quaisquer ameaças terroristas aos Jogos de 2016,” afirma o dossiê.
Mas especialistas alertam que é importante não subestimar este risco, especialmente em uma época em que o terrorismo está em alta em todo o mundo. “Em eventos como as Olimpíadas e a Copa do Mundo, o fato de o país não ter um histórico de terrorismo tem pouca relevância,” afirmou Chris Nash, diretor executivo da Sportscover, uma seguradora australiana especializada em esportes. “O terrorismo segue os megaeventos onde quer que eles vão.”
“Em eventos de porte tão grande quanto as Olimpíadas ou as Copas do Mundo, o terrorismo é sempre uma preocupação, e as epidemias também”, disse Sonja Kaufmann, subscritora sênior de Riscos Especiais da resseguradora Swiss Re.
“Os limites necessários não são necessariamente relacionados com os países-sede, mas a exposição de cada país é levada em consideração quando a cobertura é avaliada.”
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