Queda na subvenção trava crescimento do seguro rural
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- Oscar Röcker Netto
- 2 de janeiro de 2017
- Sem categoria
Mercado estima crescimento entre 5% e 10% em 2016, podendo ficar abaixo da inflação no ano; subsídio caiu de R$ 700 mi para R$ 400 mi
O governo federal destinou até meados de dezembro R$ 400 milhões ao Programa de Subvenção ao Seguro Agrícola (PSR). De acordo com o Ministério da Agricultura, a cifra é 42% maior do que a de 2015 e beneficiou ao longo do ano 75 mil produtores rurais e 5,5 milhões de hectares.
O valor está muito distante dos R$ 700 milhões destinados ao programa em 2014. Como o seguro é muito dependente dessa subvenção, o crescimento da carteira — que apresentou forte alta no começo da década — travou.
Para o head de agro para América Latina da Swiss Re Corporate Solutions, José Cullen, o valor atual subvencionado é baixo e deixa uma demanda grande represada no seguro agrícola. “O mercado utilizaria tranquilamente entre R$ 700 milhões e R$ 1 bilhão”, afirma.
Cullen calcula que o crescimento acumulado do mercado em 2016 fique entre 5% e 10% sobre o ano anterior — na melhor das hipóteses, portanto, um tanto acima da inflação estimada para o ano (6,4%, segundo o Boletim Focus do BC); na pior, um pouco abaixo.
Os prêmios diretos do seguro agrícola somaram entre janeiro e outubro, segundo os dados mais atualizados da Susep, R$ 1,5 bilhão — mesmo patamar registrado em 2015 inteiro. As altas antes da crise, no entanto, vinham dando mais envergadura à carteira, cujos prêmios cresceram 89% em 2013 frente a 2012, 32% em 2014, e 11% em 2015 (já sob efeito da crise).
A subvenção arca em média entre 30% e 70% do prêmio do seguro, dependendo da cultura a ser protegida pela apólice. Alguns estados, como São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Minas Gerais, entram com mais uma fatia do custo. Com isso, o produtor desembolsa em média entre 15% e 25% do prêmio.
A Swiss Re CS é um dos principais players do setor no país. O seguro agrícola representa, de acordo com os dados da Susep, 44,5% dos prêmios diretos da companhia em 2016, ou R$ 107 milhões do total de R$ 240 milhões até outubro.
À frente da seguradora suíça, estão a Aliança do Brasil, que somou um total de R$ 865 milhões em prêmios diretos, a Mapfre (R$ 208 milhões) e a Essor (R$ 130,8 milhões). Nove seguradoras registraram prêmios na carteira em 2016.
Sinistralidade
A crise atrapalha, mas o seguro também encarou um problema que vinha dando uma folga em anos recentes: o clima.
Esses problemas, no entanto, têm efeitos distintos entre as seguradoras. Entre as quatro grandes, por exemplo, a Swiss Re CS foi a que mais sofreu com sinistros em 2016. A sinistralidade saltou de 21% de janeiro a outubro de 2015 para 91% no mesmo período de 2016. “O ano foi complicado em termos de sinistralidade”, resume Cullen, notando que a seguradora passou por um processo de redesenho desta carteira.
Já os principais concorrentes — Mapfre, Essor e Aliança do Brasil — registraram queda na sinistralidade, passado respectivamente de 70% para 35%, 121% para 11% e 110% para 108%, sempre segundo a Susep.
Cullen cita que chuvas excessivas na safra 2015/16 afetaram a produtividade da soja; a seca atrapalhou a produção no Centro-Oeste; e as geadas complicaram os resultados da safrinha e do trigo.
Clima representa, desde sempre, o principal risco para produção agrícola. Tanto que desde 1966 há um mecanismo para garantir a estabilidade neste seguro. Trata-se do Fundo de Estabilidade do Seguro Rural (FESR). Em anos bons, as seguradoras fazem aporte neste fundo; nos ruins, sacam dinheiro para equilibrar as contas. O critério de saque é sinistralidade entre 100% e 150%. Entre 150% e 250%, de acordo com a Susep, não se aplica o fundo, sendo necessário um contrato de resseguro.
Em 2016, até outubro, a sinistralidade superou os 100% na carteira da Allianz (109%), Aliança do Brasil (108%), Excelsior (184%), Fairfax (108%) e Sancor (114%) — a média de todo o mercado foi de 85%.
Potencial
Percalços como o risco político e o clima fazem parte do negócio. E como o Brasil é uma potência agrícola, o potencial do seguro é enorme na área.
Para a CNseg, os 61,5 milhões de hectares não cobertos por seguro rural são uma das grandes oportunidades para a indústria de seguro se desenvolver mais no país.
Segundo Cullen, só 10% das lavouras contratam o seguro atualmente — um número que já chegou a 15% em anos recentes. Outra forma de proteção, o Programa de Garantia da Atividade Agropecuária (Proagro), beneficia, de acordo com o especialista, outros 10% da produção. Quem opta por ele não pode receber o benefício do PSR.
Nos Estados Unidos, um dos mercados mais desenvolvidos no setor, entre 80% a 90% das lavouras fazem seguro, com o governo bancando subsídios da ordem de US$ 4 bilhões por ano, diz o especialista da Swiss Re.
Subvenção pública, aliás, é uma prática em todo mercado onde o seguro agrícola é mais desenvolvido, afirma Cullen. “Onde há seguro agrícola que funciona, há algum tipo de participação e apoio do governo.”
O norte-americano, por exemplo, além de bancar os prêmios também participa de alguns riscos e cobre alguns custos administrativos do seguro.
Risco político
O especialista da Swiss Re nota que, apesar do valor mais curto para o programa brasileiro, houve melhora do processo e da previsibilidade sobre os valores que de fato serão empenhados pelo governo no PSR.
“O planejamento dos recursos está mais bem definido”, avalia. “O governo está empenhando o dinheiro de uma forma mais rápida do que vinha fazendo.”
De qualquer forma, com as dificuldades recentes na política, as seguradoras acabaram sendo mais conservadoras em seus planejamento com a carteira.
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