Proteção contra seca é exemplo de uso de mercado de capitais no seguro
- 1079 Visualizações
- Rodrigo Amaral
- 6 de maio de 2016
- Sem categoria
Empresa energética uruguaia se protege contra falta de chuva na produção de eletricidade; México e Caribe também têm experiências no setor
O mercado de ativos financeiros ligados aos seguros ainda não decolou na América Latina. Mas algumas experiências indicam a direção que o setor pode tomar quando finalmente se desenvolver na região.
A mais bem-sucedida iniciativa até o momento é a emissão de cat bonds por uma entidade governamental no México para garantir o rápido pagamento de indenizações no caso de terremotos ou furacões.
Já o Banco Mundial, que apoia o programa mexicano, emitiu em 2014 cat bonds no valor de US$ 30 milhões que visam prover cobertura de ressseguros para seu programa de seguros catastrófico no Caribe, conhecido como Caribbean Catastrophe Risk Insurance Facility (CCRIF).
Para as empresas, a experiência que pode se mostrar mais interessante aconteceu no Uruguai, onde uma companhia energética se assegurou durante 18 meses contra o risco sofrer perdas financeiras pela falta de chuva, com um elemento de proteção contra a variação do preço do petróleo.
Uma ideia que pode ter seu atrativo em um país como o Brasil, onde não é incomum ver a geração de eletricidade afetada pela seca.
UTE
A transação feita no Uruguai, que foi descrita como inovadora por especialistas, também envolveu o Banco Mundial, além de uma gestora de fundos americana e duas grandes resseguradoras.
Por meio de um contrato de transferência de risco, a estatal energética UTE obteve da gestora Nephila e suas sócias Allianz e Swiss Re uma garantia de cobertura no valor de US$ 450 milhões, para o caso de que não chovesse suficientemente na área que alimeta as usinas hidrelétricas da empresa.
O acordo foi fechado no final de 2013, com uma validade de 18 meses. O risco envolvido era o de a UTE ter de comprar petróleo para produzir eletricidade, caso faltasse chuva. Além disso, foi incluída uma proteção contra o aumento do preço do petróleo no mercado internacional.
De acordo com Barney Schauble, sócio-executivo da Nephila, a cobertura seria ativada caso o nível de chuva ficasse abaixo de índices pré-acordados entre os participantes. Caso o gatilho paramétrico fosse acionado, a empresa contaria com um significativo fluxo de caixa, a fim de realizar as compras de combustível necessárias para não interromper a produção.
As informações sobre os índices de chuva seriam fornecidas por 39 estações pluviométricas localizadas tanto no Uruguai quanto no Brasil.
“Temos visto muito interesse na América Central e do Sul por este tipo de transferência de risco, especialmente relacionado a energia hidroelétrica ou outras fontes renováveis”, disse Schauble. A Nephila administra fundos de investimento em ativos ILS, e os clientes destes fundos são, em geral, investidores institucionais.
Mercado
Na opinião de Schauble, um mercado latino-americano de ativos ligados aos seguros vai se formar de verdade no dia em que mais operações deste tipo forem realizadas e posteriormente renovadas.
Não foi o que aconteceu no caso da UTE, porém, que, ao final do contrato, decidiu não renovar a transação.
Mais duradoura é a experiência mexicana. Os primeiros cat bonds emitidos pela entidade governamental Fonden chegaram ao mercado em 2006.
Os títulos de três anos de maturação já foram renovados três vezes, atraindo forte interesse dos investidores, já que a demanda foi maior que a oferta em seus lançamentos.
No ano passado, o programa MultiCat mexicano foi posto a prova quando o furacão Patricia causou devastação no país. Fontes no mercado estimam que investidores nos cat bonds mexicanos chegaram a perder 50% de seu capital devido ao furacão.
Segundo Maria Rapin, uma especialista na estruturação de transações ILS na Nephila, o principal objetivo do programa mexicano é garantir que o Estado tenha recursos para responder rapidamente a uma catástrofe, caso o país seja atingido.
O programa mexicano é apoiado pelo Banco Mundial, assim como a emissão de títulos para reassegurar o esquema catastrófico caribenho. De acordo com Rapin, mais países podem se beneficiar das iniciativas da organização.
“O programa ILS do Banco Mundial está aí, é uma questão de os países mostrarem interesse por ele”, disse ela.
Segundo Schauble, o objetivo final do banco é justamente fomentar o desenvolvimento de soluções de mercado para aliviar a carga das catástrofes sobre as economias da região.
“É necessário que haja uma conscientização mais ampla de que as exposições existem e podem ser geridas”, disse o executivo. “E é preciso que se desenvolva um mercado consistente para estas transações, que devem ser renovadas a cada ano. Na medida em que o mercado se torne mais consistente, as coberturas ficarão menos caras.”
- Brasil 97
- Compliance 66
- Gestão de Risco 200
- Legislação 17
- Mercado 247
- Mundo 102
- Opinião 25
- Resseguro 105
- Riscos emergentes 10
- Seguro 198