Pego no contrapé pela crise, seguro de Crédito tenta vencer barreiras
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- Oscar Röcker Netto
- 19 de julho de 2016
- Sem categoria
Segundo diretor da CredRisk, baixo volume de prêmios acentua problemas causados pelo aumento da sinistralidade, que já estaria rondando 150%
A crise econômica pegou o seguro de Crédito numa fase em que ele ainda não havia ganhado envergadura suficiente para responder à grande demanda imposta pelo aumento da inadimplência nas empresas seguradas. Essa situação traz implicações financeiras para as seguradoras e vem travando o crescimento da carteira, mesmo com o aumento da procura pelo produto. Passada a crise, no entanto, o potencial de crescimento é enorme.
A avaliação é do diretor comercial da CredRisk, corretora especializada no Crédito e Garantia, Claudio Macedo. “O mercado hoje é muito pequeno para o tamanho do problemas que estamos enfrentando, com muitas empresas quebrando”, afirmou ele em entrevista à Risco Seguro Brasil. “Não há volume de negócios suficiente [na carteira] para suportar os sinistros.”
Segundo ele, a sinistralidade já ronda os 150% num setor que tem aproximadamente mil apólices. “Se o seguro de Crédito fosse do tamanho, por exemplo, do de seguro Garantia, talvez a sinistralidade não estivesse em 150%, mas em 70 ou 80%”, compara Macedo, ressaltando que não se trata de falta de capacidade das seguradoras. “Isso tem de sobra”.
O tamanho reduzido deixa, segundo ele, as seguradoras muito expostas. Em virtude disso, diminui o apetite para os riscos, que estão efetivamente muito elevados. A procura por parte dos compradores aumentou, sem que isso esteja representando fechamento de novas apólices, diz o executivo. A taxa de renovação do seguro continua alta, mas caiu de um ano para cá — rondava os 100% está em 90% na CredRisk.
Trata-se de uma situação “compreensível”. “O mercado poderia estar crescendo mais, mas as seguradoras estão rigorosas na análise. Aliás, não digo rigorosas, mas corretas: há risco que não vale a pena porque a situação financeira [dos compradores] não é boa; os balanços não estão bons”, analisa o corretor.
No nível que está, a sinistralidade compromete a saúde da carteira. Como resultado, as seguradoras vêm diminuindo os limites de crédito dos segurados. Há casos, conta o corretor, que o comprador só poderia obter 30% do limite que pretendia contratar — e aí alguns optam por não renovar ou contratar um seguro do qual esperavam mais garantias. “Alguns ficam decepcionados, mas é uma situação compreensível.”
De qualquer forma, nos cinco primeiros meses do ano, levantamento de Risco Seguro Brasil com dados da Susep mostra que a carteira de Crédito Interno cresceu 10,9%, para R$ 266 milhões em prêmios diretos, em relação ao mesmo período do ano passado. O desempenho ficou pouco acima da inflação, de 10,1% (IPCA Geral) acumulada nos 12 meses. A sinistralidade nesse período fechou em 99%.
Travas
As restrições ocorrem num momento em que a crise econômica, que traz índices elevados de inadimplência e recuperações judiciais, reforça as características do seguro de Crédito.
Para Macedo, o potencial do produto reside justamente no fato de proteger o segurado em momentos em ele toma calote de seus clientes.
Ao garantir a indenização decorrente de um cliente inadimplente, o seguro gera, de acordo com Macedo, mais previsibilidade para as finanças das empresas. Também pode, diz ele, ser usado para alavancar novas vendas, por meio da ampliação do limite de crédito segurado.
“Com respaldo do seguro, a empresa tem mais segurança para entrar em mercados que eventualmente não conheça muito bem.”
Além disso, diz o corretor, o seguro tem apelo por funcionar como uma extensão do departamento de crédito das empresas, trabalho que inclui acompanhar a situação da carteira de crédito do cliente e, em caso de sinistro, fazer a cobrança do débito. “É um seguro que tem muito serviço embutido.”
Não se trata, no entanto, de um produto para todo tipo de empresa. É voltado para as de grande faturamento. Vendas abaixo de R$ 5 mil, para pessoas físicas e para governos não são cobertas, diz Macedo.
No modelo de apólice tradicional, o seguro cobre entre 60% e 90% de um calote. Após pagar a indenização, a seguradora continua o processo de cobrança da dívida e, em caso de sucesso, devolve a franquia paga pelo segurado, explica o diretor da CredRisk.
Investimento
Além da crise, o produto, no entanto, precisa vencer outras resistências para crescer mais. Uma delas é a velha conhecida dos seguradores: convencer os compradores de que se trata de um investimento que vai lhes garantir melhor administração da empresa — e não apenas custo, como costuma ser visto.
Esse processo acaba exigindo mais saliva na hora da venda.
De acordo com Macedo, trata-se de um seguro que tem taxa baixa, mas valor alto. “Pode sair mais caro que todos os outros seguros da empresa”, afirma.
Ele explica: a base de cálculo da taxa é o faturamento segurado. O porcentual geralmente aplicado pelo mercado fica entre 0,3% e 0,4%. “É baixa, mas quando aplicada sob, por exemplo, um faturamento de R$ 100 milhões, fica em R$ 300 mil, um valor nominal alto para a empresa”, diz. “Então, depende muito do apetite da empresa em encarar o seguro.”
Campo aberto
Como a maioria dos demais nichos no setor de seguros, o Crédito tem ainda uma baixa penetração.
Utilizando-se de dados do Instituto Brasileiro de Planejamento e Tributação (IBPT), Susep e do governo, Macedo observa que, na Europa, uma em cada cada três empresas contrata seguro de Crédito; nos Estados Unidos a proporção é de um para dez, sendo que no início dos anos 1990 estava em 1/50.
No Brasil, diz ele, apenas uma em cada 3.300 empresas contratam o seguro, considerando as empresas “não individuais”, que são a maioria (50,4%) das 16 milhões de companhias ativas no país. Há, de acordo com o executivo, apenas 550 empresas com apólices de seguro de Crédito, com um total de aproximadamente mil contratos.
“O seguro de Crédito no Brasil é relativamente novo e só esquentou de três ou quatro anos para cá”, afirma. “Seguramente haverá crescimento deste mercado.”
Mas não se trata de uma abordagem simples dos clientes, diz Macedo. “O namoro é longo, leva de um a dois anos entre a primeira visita e a assinatura da apólice.”
Desde a guerra
A entrada no produto, diz, se deve normalmente ao fato de se ter tomado um calote grande ou então do conhecimento de que alguma outra empresa está sofrendo os percalços de um deles — justamente a situação que se vê hoje em grande número de empresas por conta da crise. Depois disso, a renovação da apólice costuma ficar em patamares elevados.
Para Macedo, a Espanha serve de referência para um horizonte de longo prazo do crescimento deste mercado no Brasil. Lá, diz ele, há cerca de 22 mil apólices de seguro de crédito — volume que ele acredita possa ser alcançado em 15 ou 20 anos pelo Brasil, que vem apresentando crescimento de dois dígitos nos últimos anos.
“Na Alemanha 80% dos negócios têm seguro de crédito”, prossegue na comparação. “Por quê? Porque eles mexem com isso desde a Segunda Guerra Mundial.”
Mercado
Levantamento feito pela corretora mostra nove empresas atuantes no mercado brasileiro em 2015. A líder é a Coface (com 37,6% dos prêmios), seguida pela Euler Hermes (18,7%), AIG e Crédito y Caución (ambas com 15,9%) e Cesce (6,1%).
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