Mercado de seguros se prepara para efeitos do Brexit
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- Oscar Röcker Netto e Rodrigo Amaral
- 28 de junho de 2016
- Sem categoria
QBE afirma que terá de revisar contratos equivalentes a 500 milhões de libras em prêmios; Lloyd's se diz preparado, mas PwC prevê possível alta de custos
Seguradoras instaladas no mercado de Londres estão tentando tranquilizar seus clientes após a decisão do Reino Unido de abandonar a União Europeia.
Nos últimos dias, empresas como a QBE e o Lloyd’s de Londres emitiram notas em que afirmam que estão analisando as possíveis consequências do chamado Brexit nos contratos de seguros.
A australiana QBE, por exemplo, que atende clientes corporativos europeus desde Londres, afirmou que vai ter que revisar contratos que representam 500 milhões de libras em prêmios.
Os contratos são emitidos por filiais da unidade britânica da empresa que operam no continente de acordo com as regras do “passaporte” que as companhias dos países membros da UE têm direito e que lhes permitem trabalhar em todo o bloco.
Caso a unidade britânica perca seu passaporte europeu devido ao Brexit, segundo a QBE, os contratos terão de ser subscritos outra vez, agora por entidades instaladas em países que permanecem no bloco.
Mas a QBE também afirmou que o processo de transição das regras deve demorar cercad de dois anos, o que lhe dá tempo suficiente para realizar as mudanças necessárias. “Nossa capacidade de gerar negócios de clientes europeus continua inalterada”, afirmou a empresa em um comunicado. “Desta maneira, a QBE não antecipa nenhum impacto material em nossas operações diárias de seguros.”
Perda de espaço
Por sua vez, o presidente do Lloyd’s de Londres, John Nelson, afirmou que a entidade está preparada para enfrentar as consequências do Brexit sem perder sua posição de liderança no mercado internacional de grandes riscos.
“Nossos negócios seguem inalterados nos próximos dois anos,” afirmou Nelson em um comunicado. “O Lloyd’s tem um plano de contingência bem elaborado e estará totalmente equipado para operar no novo ambiente de negócios.”
Porém a consultoria PwC alertou que a perda do passaporte europeu pode exigir que seguradoras que operam desde Londres tenham que reestruturar suas operações, o que resultaria em mais custos operacionais, tributários e regulatórios.
Já o economista-chefe da Munich Re, Michael Menhart, disse à agência Reuters que Londres deve perder espaço para outros centros financeiros globais como Singapura e Nova York, e isso pode afetar a indústria seguradora.
Compradores
Não há dúvida de que o Brexit gera incerteza para as empresas que têm operações na UE asseguradas desde Londres. Mas há poucos motivos para preocupações imediatas com seus programas como resultado do Brexit, segundo Ramon de la Serna, um gestor de risco na Telefonica na Espanha.
“Não é necessários que os compradores de seguros entrem em pânico”, disse ele durante uma conferência em Madri organizada pela revista Commercial Risk Europe e a associação de gestão de riscos Igrea. “O mercado vai continuar o mesmo, não vai haver mudanças.”
No médio e longo prazo, as empresas podem ter de reavaliar os modelos de seus programas internacionais, afirmou De la Serna. “Mas no curto prazo, nada precisa mudar. A não ser que a libra desvalorize tanto que afete os ratings dos subscritores dos nossos programas,” observou.
Agências de avaliação de risco reduziram a nota soberana da Grã-Bretanha após o referendo do dia 23, ainda que a avaliação permaneça na zona alta dos níveis considerados como grau de investimento.
A AM Best, agência especializada no setor de seguros, divulgou comunicado afirmando não acreditar que a votação implique necessariamente a redução das notas da indústria seguradora britânica.
“A natureza de qualquer futura relação comercial entre o Reino Unido e a UE ainda não foi estabelecida. Mas, mesmo na ausência de quaisquer acordos de comércio ou direitos de transferência, acreditamos que as seguradoras do Reino Unido em funcionamento na União Europeia poderiam, por meio de planejamento adequado, continuar seus negócios em grande parte de forma ininterrupta”, apontou a AM Best. “O mesmo se aplica às seguradoras da UE que atuam no Reino Unido.”
Outras reações
A Associação de Subscritores Internacionais (IUA, na sigla em inglês), que congrega seguradoras e resseguradoras não-britânicas que operam desde Londres, disse que o Brexit trará desafios a seus membros, mas o setor está preparado para enfrentá-los.
“A decisão do Reino Unido de sair da UE claramente representa desafios para as empresas do mercado de Londres, e a incerteza criada pelo possível natureza prolongada deste processo será problemática para o planejamento futuro”, disse o CEO da IUA, Dave Matcham. “No entanto, nossa indústria tem experiência em reagir a mudanças.”
Por sua vez, a XL Catlin informou, em comunicado assinado por seu CEO, Mike McGavick, que vinha trabalhando nos últimos meses para entender melhor o impacto do Brexit nas suas operações europeias.
Agora que a saída foi confirmada ele prevê um “processo longo e complicado” durante o qual fará o trabalho operacional e administrativo necessário para a transição.
McGavick promete manter parceiros e clientes informados sobre o andamento do processo, “à medida que continuarmos a entender os desdobramentos” da decisão, que chamou de histórica. Segundo ele, a rede global do grupo permite que a XL Catlin se mantenha bem posicionada para enfrentar esse desafio.
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