Gestão de risco, seguro e competitividade
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- por Angelo Colombo*
- 25 de maio de 2015
- Sem categoria
CEO da Allianz para América do Sul diz que desenvolvimento da gestão de risco no Brasil vai beneficiar toda a economia
O desenvolvimento da gestão de riscos no Brasil é uma boa notícia não só para as empresas, mas também para o mercado de seguros.
No caso das empresas, a explicação é simples. Companhias que se preocupam em gerir seus riscos de uma maneira efetiva tendem a ser mais eficientes. A correlação positiva se deve ao fato que riscos bem administrados representam uma menor possibilidade de interrupção da atividade da empresa. E isso é algo importante porque ninguém quer perder mercado para concorrentes devido às suas próprias falhas operacionais.
Para as seguradoras, a importância de uma gestão de risco eficiente por parte de seus clientes tampouco pode ser minimizada. À primeira vista, pode parecer uma afirmação contraditória. Afinal, uma das características de um programa eficiente de gestão de riscos é que a empresa busca transferir a menor quantidade possível de riscos para o mercado de seguros.
Mas é preciso lembrar que o seguro não é uma ferramenta à disposição das empresas para se livrar dos seus riscos operacionais a fim de não ter mais que se preocupar com eles. Na verdade, trata-se de uma opção que o cliente tem de transferir apenas aqueles riscos que não deseja manter na sua operação. Para uma seguradora global que lida com áreas complexas, como a Allianz, é importante que o cliente seja o principal interessado em reter os seus riscos.
Por exemplo, muitas empresas transferem para o mercado riscos como incêndios ou terremotos, que apresentam baixa frequência, mas causariam elevados prejuízos caso viessem a ocorrer. É uma prática consagrada que, aliada a medidas de prevenção e de mitigação do potencial impacto de tais eventos, auxilia a empresa a otimizar sua capacidade financeira ao mesmo tempo em que assegura sua sobrevivência no caso de uma catástrofe.
Esse, no entanto, não é o caso dos riscos do dia-a-dia da operação empresarial, que precisam ser cobertos não pelo seguro, mas pela manutenção criteriosa por parte das próprias companhias. De fato, o cliente de que as seguradoras mais gostam é aquele que atua como se não fosse segurado, e por isso toma todas as medidas necessárias para evitar que sua operação seja afetada por eventos inesperados.
Hoje, porém, o mercado segurador vive um ciclo de baixa, em que a abundância de capacidade pressiona os preços para baixo. Com isso, o cliente pode considerar atraente a ideia de transferir para o mercado até mesmo aqueles riscos que não costuma transferir.
É uma opção que deve ser analisada com muito cuidado. Quando uma empresa decide transferir um risco sem investir na sua mitigação, ela pode comprometer sua capacidade futura de recorrer ao mercado de seguros. Isso porque, caso tenha uma perda, o mercado mais tarde pode recusar a tomar novamente este risco. Além disso, o cliente terá perdido uma oportunidade de criar uma cultura de gestão de risco, o que torna mais difícil o posterior saneamento.
A atual conjuntura também alimenta a possibilidade de exageros no lado oposto da equação. Infelizmente, ainda é comum que empresas vejam o seguro como um custo supérfluo. Em tempos em que a economia se desacelera, isso significa que muitos administradores podem ver no programa de seguros um candidato a sofrer cortes de gastos.
Tal decisão seria no mínimo discutível, pois é justamente quando a empresa está trabalhando sob pressão financeira que o impacto de uma perda inesperada tende a ser mais crítico. Ainda mais porque este tipo de postura é mais comum entre as organizações de pequeno e médio porte, que são justamente as que mais estão expostas a desaparecer caso sofram um grande sinistro.
A calibragem das reais necessidades de seguro é um importante passo para otimizar a competitividade da empresa e garantir sua sobrevivência no longo prazo. E isso se consegue por meio da gestão de riscos. Na verdade, nós observamos no mercado de seguros que os clientes que conseguem mais êxito em seus segmentos em geral têm ótimo gerenciamento de riscos.
Ainda há portanto um grande trabalho de conscientização a ser feito para ajudar o setor empresarial brasileiro a desfrutar destas vantagens pela implementação de programas efetivos de gestão de riscos. É um processo trabalhoso, mas que vai trazer importantes resultados no longo prazo não só para as empresas, mas para toda a economia brasileira.
*Angelo Colombo é CEO para a América do Sul da Allianz Global Corporate & Specialty.
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