Cresce oferta de cursos em gestão de riscos e compliance
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- Oscar Röcker Netto
- 20 de janeiro de 2016
- Sem categoria
Alunos são atraídos por maior visibilidade do setor no Brasil; especialistas preveem maior independência para os profissionais da área
Nos próximos dez anos, a independência dos profissionais de compliance e de gestão de riscos tende a se consolidar no Brasil, permitindo que os profissionais tenham mais autonomia e poder decisório nas empresas. Esta é a opinião de professores que vão ajudam a formar muitos dos profissionais que ocuparão estes cargos cada vez mais vitais para as empresas brasileiras.
“Trata-se de um processo que está amadurecendo”, diz Valdir Domenegheti, coordenador do MBA Controles Internos (Compliance) da Fundação de Pesquisas Contábeis, Atuariais e Financeiras (Fipecafi). “Tenho absoluta certeza de que a o número de cargos na área e a independência desses profissionais vai crescer, para que tenhamos empresas mais saudáveis e para que os acionistas, o governo e a sociedade tenham condição de verificar que os resultados apresentados no papel têm veracidade.”
A conclusão de Domenegheti é feita de um posto de observação que gera um bom termômetro do desenvolvimento deste setor no Brasil. A Fipecafi oferece cursos na área há dez anos, já abriu 25 turmas e formou aproximadamente 1.100 alunos. Para 2016, o interesse pelo MBA na área aumentou em 40% em relação a 2015, e a próxima classe deve começar os trabalhos com cerca de 25 alunos.
As turmas estão ficando maiores, e um número também maior de instituições especializadas se dedica a ofertar formação específica na área, coisa que até 2013 era raridade. Mas este ano, por exemplo, a Fundação Escola Nacional de Seguros está oferecendo seu MBA de Gestão de Riscos e Seguros em cinco capitais.
A Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), por sua vez, lançou seu MBA de Gestão de Risco e Compliance no início de 2015 para atender a procura crescente. A terceira turma começará as atividades em março.
“A profissionalização do setor ainda é baixa, mas está crescendo”, diz o criador e coordenador do curso, Fabio Coimbra. “Nos próximos anos, vamos ter mais profissionais crescendo [nas suas empresas], até porque passamos a ter mais gente com formação e com experiência. Hoje, mesmo com a crise, já se observa uma maior contratação para área de riscos, controles internos e compliance.”
A expectativa de desenvolvimento aciona a roda da boa e velha lei da oferta e procura na área da formação. O interesse dos alunos aumentou em grande medida pelo fato de que palavras como “compliance”, “riscos”, “controles internos” e “auditoria” terem apitado com enorme frequência para a opinião pública em 2015, com casos decorrentes principalmente da Operação Lava Jato, Samarco, Volkswagen e Operação Zelotes, que de certa forma “massificaram” o tema.
De um lado, as empresas estão cada vez mais vendo que precisam dar tratamento adequado ao setor e estruturá-lo de forma mais consistente em seu organograma. De outro, profissionais buscam aprimoramento de olho nas oportunidades de crescimento de uma carreira que os especialistas consideram de alta exigência, com falta de gente capacitada e bons salários.
Por que será?
“As pessoas estão se perguntando: por que a estrutura de controle não funcionou em empresas grandes?”, diz Domenegheti sobre o efeito Lava Jato. “O que está faltando é que o profissional que atua na área esteja mais capacitado, para que a área de controles seja realmente independente. Tão importante quando mapear os controles internos é ter independência em relação às demais áreas da empresa.”
Segundo ele, 70% dos alunos do MBA da Fipecafi já trabalham no setor e buscam ampliar a formação específica. Os outros 30% são profissionais que estão de olho nas oportunidades. “É uma área muito promissora, no Brasil e no mundo.”
Coimbra, da Fecap, chama a atenção para outro efeito que está acontecendo neste setor: a migração de profissionais, já que quem já tem formação e experiência está sendo disputado. É que, por conta da forte regulação, sistemas de controle estão presentes há mais tempo e são mais desenvolvidos no setor financeiro — notadamente depois da grave crise de derivativos de 2008. “Há um movimento neste sentido, de profissionais do setor financeiro indo para o setor não financeiro, por conta da experiência que já adquirida”, diz ele. “Os conceitos e as boas práticas são aplicáveis em qualquer tipo de empresa.”
Reforço competitivo
Para as empresas, o reforço nesta área está ligado a um posicionamento que tem muito a ver com sua competitividade no mercado e que não está restrito às grandes companhias, dizem os especialistas. Pelo contrário.
“O processo contábil no Brasil, aliado ao processo de mapeamento de riscos e de controle de legislação, começa a permear todos os segmentos”, diz Domenegheti. “Num mercado competitivo, vai sobreviver aquela empresa que tiver um controle mais rigoroso sobre as suas operações, independentemente do porte da companhia.”
Ambos os coordenadores relatam que os alunos em suas salas de aula não vêm só de grandes empresas. “Há bastante aluno que trabalha em empresa média”, diz Coimbra.
Convença o chefe
Eles levam para as salas de aula questões bem presentes no mundo atual da gestão de risco no Brasil. “A principal é a cultura, o entendimento por parte da alta direção sobre a importância do setor e como ele está ligado à estratégia do negócio”, afirma Coimbra, sobre as dificuldades expostas pelo alunos.
A questão da autonomia e da independência de atuação também vem à tona. “Se você é um assistente de compliance e quem decide é um diretor financeiro, comercial ou administrativo, você não tem voz”, diz Donenegheti.
“Claro que tem de equilibrar o organograma de acordo com o tamanho da empresa. Numa pequena, talvez a força do compliance esteja no próprio gestor [geral]. Mas empresas de médio e grande porte têm de ter estrutura específica e independente, principalmente agora, depois da Petrobras.”
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