Compliance abre mercados para Radix no Brasil e no exterior
- 1269 Visualizações
- Rodrigo Amaral
- 7 de março de 2017
- Sem categoria
Segundo CEO Luiz Eduardo Rubião, selo Pró-Ética, obtido em 2016, faz clientes se sentirem mais cômodos em fazer negócios com a empresa
A implementação de programas de compliance pelas empresas se tornou uma necessidade no Brasil. Principalmente com as investigações anticorrupção que tomaram conta do noticiário nos últimos anos. Porém, é também uma boa prática que traz resultados em termos de novos negócios.
Esta é a opinião de Luiz Eduardo Rubião. Ele é CEO e sócio da Radix Engenharia, que em 2016 recebeu pela primeira vez o selo Pró-Ética, emitido pelo Ministério da Transparência para empresas que demonstram engajamento na implementação de estruturas de conformidade.
Segundo ele, o selo certifica os esforços feitos pela empresa na área de compliance. E está ajudando a companhia a desenvolver suas atividades tanto no Brasil quanto no exterior. “Queremos mostrar que estamos fazendo a coisa certa. Mas também queremos que nossos esforços gerem resultados para a empresa,” disse Rubião à Risco Seguro Brasil.
A Radix é uma empresa jovem. Foi fundada em 2010 para prestar serviços de engenharia e de informática para o setor de petróleo e gás. E teve a Petrobras como principal cliente.
Assim, nos primeiros anos, a empresa navegou um ambiente de negócios favorável. Com o setor de petróleo e gás se expandindo de forma consistente e com a economia brasileira mostrando grande vigor.
Mas a desaceleração econômica que culminou na recessão dos últimos anos, combinada à queda global do preço do petróleo, tornou o mercado muito mais difícil para a jovem empresa. Assim. a marca decidiu expandir suas atividades para outros mercados.
“O cenário ficou muito cruel no Brasil para as empresas que focavam no mercado de óleo e gás”, disse Rubião. “Isso nos levou a fazer um esforço muito grande de diversificação. Começamos a buscar outras indústrias, fora do mercado de óleo e gás. Assim como outros mercados, como os Estados Unidos.”
Contaminação
Em 2013, a Radix abriu uma subsidiária em Houston. Mas a busca de novos mercados deixou claro à empresa que potenciais parceiros tinham algo de receio de trabalhar com uma empresa que vinha de um mercado altamente exposto ao risco de corrupção, como revelado pela Operação Lava Jato.
“O mercado estava contaminado”, disse Rubião. “Afinal, as empresas brasileiras tinham ficado um pouco chamuscadas com esta questão das investigações de corrupção no setor de óleo e gás.”
Vale lembrar que, graças ao chamado FCPA, a Justiça americana pode processar empresas por crimes de corrupção mesmo que elas não estejam envolvidas diretamente em pagamento de propinas. Basta que um parceiro comercial em uma licitação, por exemplo, utilize meios ilícitos para vencer um leilão.
“Fora do Brasil, à distância, era difícil para as pessoas separarem o joio do trigo”, observou Rubião. De uma maneira geral, a percepção era de que o mercado brasileiro estava contaminado.”
Para combater esta percepção, a Radix decidiu buscar maneiras de dar um caráter oficial para seus esforços no campo da conformidade. A escolha recaiu no selo Pró-Ética. O selo é emitido pelo Ministério da Transparência como resultado de um detalhado trabalho de análise dos sistemas de compliance implementado pelas empresas.
Compliance
“Da mesma forma, decidimos que valia a pena mostrar ao mercado em geral que estamos fazendo um esforço para implementar um sistema de compliance. Inclusive no trato com os nossos fornecedores”, afirmou Rubião. “Queremos deixar claro que estamos atento ao comportamento dos funcionário. Assim como para todas as nuances da lei.”
Rubião e outros diretores da Radix já tinham experiência com programas de compliance. Uma vez que haviam trabalhado na Siemens, empresa que se tornou referência na área após uma série de escândalos. Mas eles concluíram que o processo de auditoria do Pró-Ética funcionava como um roteiro para a implementação de um programa eficiente. Dessa forma, capaz de transmitir confiança a parceiros comerciais.
Portanto, a empresa tentou pela primeira vez obter o selo em 2015. Mas não teve sucesso. Isso apesar de chegar muito perto da nota mínima exigida. Em 2016, porém, foi uma entre apenas 25 empresas que receberam o selo.
“A gente percebe que este tipo de iniciativa é valorizada pelos clientes”, disse Rubião. “Nos Estados Unidos, por exemplo, empresas grandes, que têm muita preocupação com o compliance e estão muito atentas a isso, perceberam o valor da certificação recebida aqui no Brasil.”
Parceiros comerciais e bancos
A história da Radix ilustra como o compliance está se tornando em uma ferramenta para desenvolvimento dos negócios de uma empresa, e também que não se trata de um esforço que deve ser feito apenas pelas organizações de maior porte.
A Radix conta hoje com cerca de 500 funcionários, um número bastante inferior ao de outros grupos que receberam o Pró-Ética no ano passado, como a Microsoft, Siemens, Natura e ABB.
Especialistas acreditam que um número cada vez maior de empresas deve seguir este caminho, seja buscando o selo Pró-Ética ou outras certificações para seus programas de conformidade, como a ISO 37001.
Rubião nota que além de dirimir a insegurança de potenciais parceiros comerciais, tais certificações podem também facilitar a vida das empresas na hora de levantar fundos no mercado financeiro. Ele observou que, entre as empresas que hoje retêm o Pró-Ética encontram-se três dos quatro maiores bancos do país (Banco do Brasil, Itaú e Santander).
Além disso, o BNDES anunciou recentemente que critérios de governança corporativa terão um peso maior na hora de avaliar pedidos de financiamento feitos pelas empresas.
“É óbvio que, quando você vai fazer alguma operação com os bancos, isso dá um certo conforto para eles”, disse Rubião. “É um grande risco que eles já não correm.”
A Operação Lava Jato certamente ilustrou que más práticas corporativas aumentam em muito a chance de que uma empresa não pague seus empréstimos.
Envolvimento completo
Para implementar seu programa, a Radix contou com a assessoria de um escritório de advocacia, mas o grande desafio foi envolver toda a empresa no esforço, segundo Rubião.
“Não adianta dizer que vai fazer um programa de compliance, e ficar só no papel”, observou. “Os funcionários precisam estar envolvidos.”
“Não é fácil. No início, as pessoas não colocam como prioridade. Mas depois que se ganha o reconhecimento externo, dá uma virada no jogo,” disse Rubião. “Hoje já não há mais resistência na empresa.”
Além disso, ele observou que o esforço não deve ser isolado, e sim abranger todos os ramos em que a empresa atua. Por exemplo, a Radix trabalha junto com o Conselho Regional de Engenharia e Agronomia, CREA, para garantir que seu setor de engenharia está adequado aos critérios de conformidade da profissão. Isso inclui pagar os salários mínimos exigidos pela lei.
Conformidade
“Estamos prestes a receber o nível 3 de conformidade profissional do CREA,” disse Rubião. “Isso quer dizer que respeitamos toda a legislação que existe em relação ao exercício da engenharia. Por exemplo, o piso salarial dos engenharias, por mais que isso afete a gente do ponto de vista competitivo, já que muitas outras empresas não pagam o piso.”
“Além disso, o nível 3 implica que cobramos o mesmo comprometimento dos nossos fornecedores. Não adianta dizer que tem compliance, e daí não pagar o piso salarial do engenheiro como exige a lei. Quem pode dizer que é ético se não segue a lei?”
Rubião é realista e afirma que este tipo de trabalho custa dinheiro para a empresa, além de tempo e energia. A Radix teve que investir em medidas como um canal de denúncias e em treinamento para todos os funcionários, além de treinamentos específicos para equipes que necessitam lidar com o setor público. Mas ele acredita que no fim os frutos do esforço fazem com que ele valha a pena.
“Já estamos vendo o benefício,” afirmou. “As empresas grandes se sentem muito mais à vontade em trabalhar com a gente do que com rivais que não têm a certificação.”
LEIA TAMBÉM
- Brasil 97
- Compliance 66
- Gestão de Risco 200
- Legislação 17
- Mercado 247
- Mundo 102
- Opinião 25
- Resseguro 105
- Riscos emergentes 10
- Seguro 198