Com escândalos e crise, seguro de crédito fica mais difícil
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- Oscar Röcker Netto
- 17 de junho de 2015
- Sem categoria
Demanda pelo produto dispara com alta de calotes; seguradoras estão endurecendo preços e condições para alguns setores da economia
Junte duas situações potencialmente complicadas —crise econômica e escândalo de corrupção em grandes empresas — e um problema surge para assombrar muitos departamentos financeiros: o calote.
Para os gestores de risco isso significa empenho extra nas negociações e custos maiores nos seguros de crédito: a renegociação de contratos está mais difícil, há recusa na aceitação de riscos e aumento de até 30% das taxas cobradas pelo seguro.
Esse quadro é embalado pelo aumento da sinistralidade e da gravidade dos sinistros. De janeiro a abril deste ano, o valor dos sinistros pagos pelas nove seguradoras do ramo aumentou 400%. Já o índice de sinistralidade passou de 24% em 2014 para 68% este ano.
Peso Petrobras
De acordo com Kiyoshi Watari, líder das Práticas de Risco Politico, Crédito e Garantia da Marsh Brasil, em grande medida a situação atual no mercado de seguro de crédito se deve ao escândalo da Petrobras, que atrasou pagamentos e afetou toda a cadeia produtiva de seus grandes fornecedores.
De acordo com o jornal Folha de S. Paulo, a dívida de prestadores de serviço da petroleira com cem fornecedores atingiu no fim de abril R$ 411,5 milhões, 1.424% a mais que o registrado em dezembro de 2014.
Mas o grosso do problema se deve a uma economia que não cresce.
Setores
Os setores mais afetados no mercado de seguro de crédito são a construção e atividades ligadas, como o fornecimento de mármore e granito e cimento.
As áreas de óleo e gás, siderurgia e automóveis também enfrentam situações que vão desde a recusa a firmar novos contratos à inclusão de mais restrições nas apólices. Mesmo setores historicamente “tranquilos” para o seguro de crédito enfrentam dificuldades, como é o caso da área de alimentos.
Segundo agentes do mercado ouvidos pela Risco Seguro Brasil, a situação vai piorar antes de começar a melhorar. “O problema ainda não parou de crescer”, diz Luciano Mendonça, diretor comercial, de subscrição e marketing da seguradora Euler Hermes.
Na Euler Hermes — segunda maior do país e líder mundial de seguro de crédito — o número de sinistros mais que dobrou, e a gravidade deles cresceu muito. “Até o ano passado, o normal eram casos envolvendo dívidas de R$ 100 mil ou R$ 200 mil. Agora, esses casos continuam chegando, mas estão acompanhados de outros com valores bem maiores”, afirma Mendonça.
Há outros agravantes. Além dos casos considerados comuns, de atraso nos pagamentos, há novas situações de insolvência das companhias que estão deixando de pagar suas dívidas com as empresas que contrataram seguro de crédito, conta o executivo. “E a tendência é que mais empresas quebrem.”
A Coface, líder em seguro de crédito no país, por sua vez, relatou ao jornal Brasil Econômico um crescimento de 45% nas notificações de atraso nos pagamentos a seus segurados. E o número de pedidos de recuperação judicial entre parceiros comerciais dos segurados subiu para um ritmo de sete ocorrências todos os meses — era de uma a cada quatro meses, segundo o jornal.
Preços
O gerente de produtos financeiros da corretora Aon Brasil, Eduardo Burmann, diz que por enquanto o aumento nas taxas não é generalizado, mas logo será. A média das tarifas se segura porque seguradoras estão tentando compensar o aumento da sinistralidade com a atração de novos clientes através de preços camaradas. A tática se observa em setores da economia que ainda se encontram em boa situação.
Burmann projeta para setembro, no entanto, um aumento generalizado nas taxas de seguro de crédito, quando então as seguradoras não terão mais margem de manobra para salvar a rentabilidade do ano.
Em algumas seguradoras, contudo, setembro já chegou — com registros de aumentos entre 15% e 30%, dependendo da situação do setor produtivo a ser coberto. O de mármores e de óleo e gás, por exemplo, enfrentam situações graves.
“Não se vê recusa nas renovações, mas os contratos estão sendo ajustados”, diz Watari. “Alguns compradores de seguro entrantes neste mercado, de setores complicados, no entanto, podem não conseguir fazê-lo neste momento. As seguradoras estão conservando suas posições.”
O aumento da sinistralidade afeta o resultado das seguradoras, mas Bermann afirma que “o risco de solvência [das seguradoras] é zero”. “São empresas multinacionais e que fizeram bastante caixa nos últimos anos.”
Para Watari, o índice de sinistralidade em 68% liga o sinal de alerta das companhias seguradoras. “Até 60% é aceitável, dá para cobrir os custos fixos e os de sinistros”, diz. “Passando disso, vai depender da estratégia de cada seguradora, do apetite que elas têm por risco. Algumas, vão ter uma postura mais conservadora.”
A taxa de sinistralidade varia bastante entre as operadoras deste mercado: pode chegar a 130%, mas em outros casos é próxima de zero. As seguradoras que trabalham com seguro de crédito pulverizado em várias áreas são as que estão enfrentando os maiores problemas. Nas que trabalham com nichos específicos, o problema é menor.
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