Bradesco se livra de área cara; Swiss Re avança estratégia global
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- Rodrigo Amaral
- 14 de outubro de 2016
- Sem categoria
Acordo cria décima maior empresa de seguros corporativos em P&C e transportes; banco é importante acionista da IRB Brasil Re, cujo IPO deve interessar resseguradoras globais
A cessão da área de grandes riscos da Bradesco Seguros para a Swiss Re Corporate Solutions era uma operação esperada e que segue uma tendência no mercado brasileiro de seguros.
Antes da Bradesco, Itaú e Sul América já haviam saído do segmento, vendendo suas operações de grandes riscos para a Ace (hoje Chubb) e Axa, respectivamente.
Na apresentação da joint venture, os chefes das duas empresas procuraram focar seus discursos na complementaridade de negócios e nas vantagens que, sempre que acontece esse tipo de operação, os envolvidos gostam de ressaltar.
Mas é possível ver outros motivos mais prementes para que o negócio fosse fechado.
A nova empresa deve se tornar a décima maior seguradora corporativa brasileira nas áreas de P&C e transporte, segundo levantamento de Risco Seguro Brasil. Para o grupo Swiss Re, a participação majoritária na joint venture no país representa um passo a mais em uma estratégia global de reforçar sua presença no mercado primário, a fim de mitigar as dificuldades enfrentadas no seu negócio principal, que é o resseguro global.
Neste sentido, o Brasil, como uma grande economia emergente que opõe menos dificuldades ao seguro internacional do que outros países em situação similar como a China ou a Índia, aparece como um mercado chave que, com todos seus problemas, apresenta fortes possibilidades de crescimento no seguro corporativo.
Já a Bradesco Seguros reduz o peso de uma atividade que não é chave em seu negócio, requer um nível de expertise raro, e caro, no Brasil, e exige cada vez maiores reservas de capital na medida em que a Susep implementa um sistema de supervisão baseado no risco.
Com a gradual reabertura do mercado de resseguros a partir do ano que vem, subsidiárias brasileiras de grupos globais, como a Swiss Re CS, terão condições bastante favoráveis para adotar estratégias de gestão de solvência utilizando os vastos colchões de capital de resseguro oferecidos por suas matrizes.
O fato é que, para a empresa de Cidade de Deus, bem como para o grupo Itaú ou a Sul América, está claro que é muito mais confortável ganhar dinheiro com a venda de seguros de massa via sua extensa rede bancária.
Não é por acaso que, segundo o anúncio feito ontem, a Bradesco Seguros vai reter as apólices inferiores a R$ 10 milhões de reais nas áreas abrangidas pelo acordo, ou seja, P&C e transportes.
Há mais coelhos nesta cartola?
Um aspecto curioso da operação é manutenção, por parte da Bradesco Seguros, de uma fatia de 40% na vitaminada Swiss Re Corporate Solutions Brasil.
Isso pode revelar o desejo, por parte da Bradesco, de manter um pé em um setor que pode se desenvolver mais rapidamente do que as seguradoras brasileiras esperavam?
Afinal, não só a Swiss Re CS, Chubb e Axa estão apostando nisso. Generali, QBE, Sompo, Travelers e Tokio Marine são outros exemplos de grupos estrangeiros que estão reforçando sua presença neste segmento no Brasil. A Markel pode ser próxima a entrar no mercado primário, o que mostra que, ao menos na comparação com o rastejante mercado global, o Brasil parece ser um lugar promissor para a indústria de seguros corporativos no médio e longo prazo.
Ou quem sabe há possibilidades de mais formas de colaboração entre a maior seguradora brasileira e a segunda maior resseguradora do mundo?
Convém lembrar o fato de que o Bradesco é o maior acionista não estatal do IRB Brasil, cujo IPO, esperado para o ano que vem, certamente vai atrair a atenção dos grandes grupos resseguradores globais.
Os números do negócio
Vale a pena dar uma olhada nos números do negócio. De acordo com a Susep, no final de 2015, a Swiss Re CS tinha R$ 329,6 milhões em prêmios diretos. A Bradesco Auto/Re, que reúne os negócios de grandes riscos da Bradesco Seguros, possuía R$ 5,2 bilhões.
Mas estes valores incluem a totalidade dos prêmios em todos os segmentos em que a empresas operavam no final do ano. O acordo, segundo divulgado pelas partes envolvidas, incluem apenas os grandes riscos nas áreas de P&C (bens e propriedades) e transportes.
Reduzindo o volume de prêmios diretos a 38 linhas de seguros que correspondem a essa classificação, os prêmios se reduzem a R$ 165,01 milhões no caso da Swiss Re CS, e R$ 710,3 milhões no caso da Bradesco Auto/Re. A soma dos dois portfólios levaria a nova empresa, apresentada como SRCSB, à quarta colocação no ranking dos seguros corporativos de P&C (atrás da Chubb, Mapfre e Tokio Marine).
É de esperar porém que boa parte do portfólio da Bradesco Auto/Re seja composto por seguros para pequenas e médias empresas, com valores portanto inferiores às apólices de mais de R$ 10 milhões que serão repassados à Swiss Re.
O jornal Valor Econômico menciona, de forma algo confusa, que a parte de prêmios da Bradesco Auto/Re era de R$ 418 milhões no final de 2015. Considerando que este seria o valor dos prêmios transferidos para a nova empresa, o total de prêmios diretos da SRCSB chegaria a R$ 583 milhões no final de 2015, o suficiente para ocupar a 10ª colocação no ranking da RSB.
A Swiss RE CS contava, no final do ano passado, com um total de R$ 329,6 milhões em prêmios diretos, contando com áreas que não fazem parte dos segmentos P&C e transportes, especialmente os seguros de vida coletivo, sempre de acordo com os números da Susep.
O anúncio não deixa claro se o acordo se estende também para esta área de negócios, ou para os seguros rurais, onde a empresa suíça também está apostando no Brasil. Em ambos os casos, o acesso à rede bancária do Bradesco seria sem dúvidas um poderoso canal de vendas para a Swiss Re CS.
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