Seguro obrigatório é desafio para gestor de risco de empresa elétrica
- 1401 Visualizações
- Oscar Röcker Netto e Rodrigo Amaral
- 15 de julho de 2015
- Sem categoria
Falta de conhecimento por parte do supervisor complica contratos de concessão; mercado falha em algumas coberturas para o setor
A falta de conhecimento técnico sobre gestão de riscos e de seguros das empresas do setor elétrico por parte dos órgãos reguladores é obstáculo para implementação de programas de seguro mais eficientes na área, segundo a gestora de risco de uma da principais empresas do setor no Brasil.
Em entrevista à Risco Seguro Brasil, Marcia Santos Ribeiro, especialista em seguros da Light, disse ainda que muitas vezes o mercado de seguros também falha na provisão das coberturas que o setor necessita.
Ribeiro é coordenadora do Comitê do Setor Elétrico da ABGR, que no início de julho realizou seu 14º encontro anual na cidade de Tiradentes (MG). O evento reuniu 47 gestores de risco de 26 empresas elétricas brasileiras, que discutiram os temas mais relevantes para o setor e também participaram de debates com representantes do mercado segurador.
O período turbulento por que passa o setor elétrico — afetado pela falta de água, riscos de apagão, problemas de distribuição e a delicada situação econômica do país — garantiu peso extra ao encontro deste ano.
Alguns dos assuntos que preocupam os gestores de risco são as perdas de energia elétrica, algumas por razões técnicas que fazem com que nem toda a energia gerada nas usinas chegue ao consumidor final, outras devido a furtos e fraudes de energia, como os notórios “gatos”.
Temas regulatórios ligados às regras tarifárias, a influência da política energética do governo sobre os contratos de concessão e os custos associados aos riscos de investimentos também fizeram parte da agenda.
Coberturas obrigatórias
Mas um dos temas que mereceram maior atenção dos participantes foi a dificuldade em obter as coberturas de seguro obrigatórias incluídas em contratos de concessão na área de energia.
“Os gestores de riscos e seguros do setor elétrico experimentam certo desconforto em relação à obrigatoriedade da contratação de seguros dos ativos de transmissão”, disse Ribeiro.
Muitos dos problemas, segundo ela, estão ligados à falta de conhecimento técnico sobre seguros no lado do supervisor, o que resulta em demandas pouco claras, e nem sempre realistas, relacionadas à obrigatoriedade da contratação de seguros. O supervisor do setor elétrico é a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).
“Existem pontos obscuros a serem esclarecidos”, afirmou Ribeiro. “São poucos critérios em comum nas empresas e há experiências diferentes vivenciadas pelos gestores nas abordagens dos fiscalizadores. Durante troca de ideias, observei pedidos variados e distintos, com solicitação e apresentação de material diversificado. É possível perceber a falta de conhecimento técnico sobre o seguro específico e suas variáveis.”
Segundo ela, o órgão regulador deve ter um conhecimento mais profundo tanto da realidade das empresas concessionárias quanto do funcionamento da indústria de seguros que vai prover as coberturas exigidas para as concessões.
“Há um desconhecimento a respeito das questões técnicas ligadas aos seguros”, disse a especialista da Light. “É imprescindível entender esse mecanismo, a política das empresas, como o mercado segurador funciona, assim como os critérios dos seguros obrigatórios.”
Ela citou como exemplo um recente episódio vivido por uma organização do setor.
“Uma empresa pública recebeu um prazo de 60 dias para realizar a avaliação patrimonial para fins de seguros e apresentar o respectivo seguro com a especificação dos bens segurados, o que é impraticável. Em uma empresa privada, as atividades para obter a documentação da avaliação patrimonial podem levar de três a quatro meses, dependendo dos ativos a serem avaliados,” disse ela.
“Em resumo, o processo começa com o levantamento das informações necessárias, sites, plantas e dados técnicos dos locais e itens”, continuou Ribeiro. “Em seguida é preciso fazer visita a campo, entrevista com os profissionais de diferentes áreas. Depois disso, ainda é necessário fazer uma pesquisa de valores no mercado específico para a preparação de laudos técnicos e planilhas de custos. Sem o conhecimento dessa abrangência, como pode dizer o que é que falta, como deve ser feito e quando deve ser entregue?”
A solução deste problema, de acordo com ela, exige que as empresas façam um trabalho mais próximo com as autoridades a fim de traduzir as demandas do supervisor de forma mais realista com as condições de mercado.
“Esse não é um aspecto de fácil solução”, avalia ela. “O ideal é buscar a aproximação e o diálogo entre as partes, entender o contexto em prol de melhorias.”
Até que haja avanços nessa relação, porém, a contratação de seguros obrigatórios seguirá sendo resultado de um processo complicado, com muitos pedidos, réplicas e tréplicas por ambas as partes.
Falta produto
A relação com a Aneel não é a única dor de cabeça a ser trabalhada pelos gestores de risco do setor elétrico.
Segundo Ribeiro, muitas vezes também faltam respostas das seguradoras para riscos que as empresas gostariam de transferir para o mercado.
Em alguns casos, falta capacidade da seguradora. “É notória a carência de ofertas de produtos”, disse. “Em determinados ramos, às vezes apenas uma proposta é apresentada. As empresas de energia encontram barreiras e precisam usar a criatividade e muito empenho para conseguir seguradoras com interesse no risco.”
O mercado brasileiro também sofre com uma escassez de profissionais especializados nos segmentos que cobrem os riscos específicos do setor elétrico.
“Em riscos de engenharia, por exemplo, é comum encontrar obstáculos para garantir certos riscos em determinados tipos de obras”, explicou Ribeiro. “E isso pode ocorrer, por hipótese, devido à falta de um profissional do ramo com a qualificação necessária para entender este tipo risco.”
A coordenadora do comitê da ABGR também expressou preocupação com as frequentes fusões e aquisições que vêm sendo feitas no setor de seguros.
“É verdade que as fusões aumentam a capacidade das empresas envolvidas”, disse ela. “Mas por outro lado se reduz o número de players no mercado. Em uma concorrência, aumenta o risco de uma empresa participante ficar sem a oferta de seguros necessária, ou receber uma oferta que não é satisfatória.”
Encontro em Minas
O encontro que reuniu gestores de risco em Tiradentes abordou os seguintes temas: D&O – Lei Anticorrupção, cujo palestrante foi Álvaro Igrejas, da Willis; Programa Gestão de Riscos x Gestão de Seguros (Rodrigo Protásio, da JLT); Seguro de Responsabilidade Civil Geral (Lilian Greco, da Mapfre); Seguro Garantia (Roque Junior, da JMalucelli); Riscos climáticos e efeitos no fluxo de caixa das companhias de energia (Rodrigo Violaro, da Swiss Re); Avaliação Patrimonial para fins de Seguros (Carlos Eduardo Souza, da Engeval); e Seguro de Vida (Fabiano Lima, da SulAmérica).
- Brasil 97
- Compliance 66
- Gestão de Risco 200
- Legislação 17
- Mercado 247
- Mundo 102
- Opinião 25
- Resseguro 105
- Riscos emergentes 10
- Seguro 198