Riscos políticos estreitam distância entre países, aponta RIMS
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- Rodrigo Amaral
- 5 de agosto de 2016
- Sem categoria
Empresas devem estar atentas a eventos inesperados, como a grave crise do Brasil; capacidade de seguro para o segmento está em alta e preços caem
A fronteira entre países desenvolvidos e em desenvolvimento está se tornando cada vez mais tênue – ao menos no que diz respeito aos riscos políticos, de acordo com um relatório da RIMS, a associação de gestão de riscos dos Estados Unidos.
O estudo divulgado nesta semana pela entidade afirma que eventos como a crise financeira na Grécia e a saída da Grã-Bretanha da União Europeia ganharam espaço no cenário de riscos das empresas ao lado de fatores como o expansionismo da Rússia ou a instabilidade política no Brasil.
De fato, corretores e seguradoras têm observado um aumento da procura por coberturas ligadas ao risco político em países como Grécia, Portugal e Itália, especialmente para lidar com o risco de crédito ligado a obras de governos que passam por programas de austeridade. Mas eles afirmam que a instabilidade dos países emergentes segue sendo o principal fator de crescimento no mercado.
Para mitigar este risco, a RIMS recomenda que as empresas realizem um detalhado trabalho de identificação das ameaças a suas operações nos diversos países em que atuam e adotem estratégias de mitigação adequadas.
O monitoramento dos riscos políticos deve incluir até mesmo elementos aparentemente mundanos como a evolução dos preços dos alimentos, já que eles podem revelar tendências de instabilidade que podem se intensificar e afetar as operações das empresas.
Um claro exemplo foi proporcionado pela chamada Primavera Árabe, em 2010, quando vários países do Oriente Médio entraram em convulsão, pegando de surpresa muitas empresas que não haviam reconhecido o nível de descontentamento das populações locais. Outro exemplo citado pela RIMS é a inesperada gravidade da crise econômica e política do Brasil.
“Trabalho [com gestão de riscos] há quase 20 anos, e este é de longe o ambiente de riscos mais instável, tênue e deteriorante que eu já vi”, disse Curtis Ingram, vice-presidente da AON Crisis Management, aos autores do relatório.
Seguros
Apesar da elevada percepção de risco, o mercado de seguros para esta ameaça está cada vez mais acessível para as empresas, nota a RIMS.
A organização estima que a capacidade para riscos políticos no mercado americano, por exemplo, passou de US$ 700 milhões em 2009 para US$ 2 bilhões em 2016.
A cobertura máxima chega a US$ 150 milhões por projeto, e os preços cobrados pelos seguradoras continuam caindo, apesar um aumento da sinistralidade nos últimos anos.
Os prêmios de seguros para riscos políticos estão crescendo a um ritmo entre 5% e 8% ao ano. Tradicionalmente, os riscos de expropriação e nacionalização são os que tradicionalmente são cobertos pelas apólices. Mas temas como violência política (incluindo guerras e terrorismo), restrições à convertibilidade cambial, desrespeito a contratos com o governo e risco de crédito ligado a ações governamentais estão ganhando espaço no setor.
As apólices podem cobrir riscos em apenas um país ou em várias partes do mundo. Segundo a RIMS, para diversificar seus próprios riscos, as seguradoras tendem a preferir o agrupamento de várias locações em um só portfólio.
Governos
A RIMS afirma que risco político é um conceito amplo, mas nem por isso inclui todo tipo de instabilidade no cenário internacional.
Por exemplo, para muitos analistas, o risco político é criado pelas ações de governos, legítimos ou não, que toma a forma de atos como o confisco de propriedades, nacionalizações, cancelamento de licenças operacionais, guerra civil e terrorismo.
Há também, no entanto, gestores de riscos que tratam do tema de forma mais ampla, levando em conta todos os fatores políticos que podem afetar a economia de um determinado país.
A definição do que constitui risco político é que vai determinar as estratégias de transferência deste risco, segundo o relatório.
Eventos que tradicionalmente podem ser transferidos para o mercado incluem nacionalizações, violência política, interrupção de negócios (lucro cessante) e restrições ao envio de capital para fora do país, explicam analistas consultados pela RIMS.
Cabe aos gestores de riscos identificar as ameaças específicas que pairam sobre suas empresas. Mineradoras, por exemplo, estão mais sujeitas a expropriações e nacionalizações de ativos. Empresas financeiras devem se preocupar com empréstimos a entidades governamentais e a empresas sediadas em jurisdições de risco, e assim por diante.
Apetite de risco
A RIMS também observa que a disposição de assumir riscos políticos depende da atividade da empresa e de seu perfil operacional.
Mineradoras, petroleiras e outras corporações de setor de matérias-primas tendem, por exemplo, a ter um elevado nível de tolerância a estes riscos, muitas vezes adotando estratégias de retenção elevada para compensar a falta de capacidade de seguro para regiões consideradas como demasiado arriscadas.
Mas empresas de outros setores podem adotar estratégias mais cautelosas. Um gestor de risco de uma fabricante de brinquedos citado no relatório observa que seus produtos são fáceis de transportar e ao mesmo são afetados pela conjuntura econômica de um país.
Portanto, se o clima social se degrada e há uma greve geral, uma forma de minimizar este risco político é simplesmente suspender o envio dos produtos para as regiões afetadas.
Já o gestor de risco de uma empresa de tecnologia afirma que os riscos políticos podem se tornar realidade quando decisões de um governo vão de encontro aos princípios da corporação. Ele diz que sua empresa se recusa a trabalhar em países onde o governo censura o fluxo de informações, um dos valores mais importantes para a companhia.
Os gestores de riscos entrevistados também são unânimes em dizer que, mais do que as propriedades e bens da empresa, uma estratégia para lidar com riscos políticos deve visar sobretudo a segurança e a integridade física de seus funcionários.
A RIMS lembra que muitas atividades de análise de risco político das empresas multinacionais estão espalhadas por diversos departamentos, como o de segurança, governança, pessoal, financeiro, jurídico etc.
Gestores de riscos podem criar relações com estes departamentos e tentar lidar com o tema de uma forma integrada, o que pode dar um impulso extra à função dentro da organização.
Clique aqui para ler o estudo em inglês.
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