Resseguradoras se adaptam a mercado global em transformação
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- Rodrigo Amaral
- 9 de setembro de 2015
- Sem categoria
Resistência de preços baixos leva empresas a visar mercado primário e deve manter ondas de fusões e aquisições no setor, dizem agências de rating
As condições de mercado são negativas para as resseguradoras internacionais, que enfrentam um período de mudança de seu modelo de negócio, de acordo com relatórios de duas agências de rating lançados às vésperas da reunião anual do setor em Monte Carlo.
Segundo a Standard & Poor’s, a lista de desafios enfrentados pelas resseguradoras inclui competição cada vez mais acirrada, emergência de capitais alternativos, preços cada vez mais baixos e queda do faturamento.
Já a AM Best considera que a atual onda de fusões e aquisições no mercado ressegurador vai continuar no futuro próximo, criando empresas mais fortes, mas também perdedores no setor.
O lado positivo é que muitos grupos resseguradores estão bem capitalizados e, por esse motivo, devem ser capazes de enfrentar os desafios gerados pelo longo mercado brando, que, de acordo com os analistas, pode ser não mais um ciclo, mas um novo arranjo estrutural do setor.
Do ponto-de-vista dos cedentes, a tendência é que os preços de resseguro continuem caindo, mas por outro lado as agências esperam que muitas resseguradoras se mostrem cada vez mais seletivas na hora de aceitar riscos.
Capital
Os desafios enfrentados pelo setor devem ser discutidos em profundidade na edição deste ano do encontro Les Rendez-Vous de Septembre, que reúne a indústria do resseguro todos os anos em Monte Carlo, no principado de Mônaco. O evento será realizado entre os dias 12 e 17 de setembro.
Um dos temas centrais para o setor nos últimos encontros tem sido a abundância de capital que está se dirigindo à indústria do resseguro desde o começo da crise financeira global.
Dennis Sugrue, diretor da S&P Ratings, afirmou que o volume de capital disponível para o mercado ressegurador chegou a níveis recordes nos últimos meses, e grande quantidade de dinheiro também se dirigiu para o setor dos veículos alternativos de resseguro.
“Mas as empresas estão encontrando dificuldades para utilizar este capital de forma lucrativa, já que o perfil da demanda mudou”, disse Sugrue. “O crescimento nos mercados emergentes se desacelerou, e os mercados desenvolvidos estão saturados.”
“Além disso, as cedentes estão mudando seu comportamento”, afirmou o executivo. “Elas estão otimizando suas compras, adquirindo menos resseguro de um número menor de resseguradoras, o que torna mais difícil para as empresas competirem.”
Mas ele também disse que as resseguradoras estão adotando estratégias defensivas para preservar sua fortaleza de capital e desta maneira estão preparadas para enfrentar eventuais perdas de grande porte mesmo nas atuais condições de mercado.
“Elas reagiram com responsabilidade aos desafios que estamos vendo no mercado”, afirmou Sugrue. Empresas menos diversificadas ou com menor escalas são as que apresentam maior risco de uma deterioração de sua situação financeira, concluiu.
Fim do ciclo?
Em ciclos anteriores, períodos de mercados brandos foram seguidos por outros em que os preços subiram de forma acelerada devido ao efeito de eventos catastróficos.
Mas a escassez de grandes perdas e o reduzido efeito sobre o mercado de perdas como a supertempestade Sandy, em 2012, indicam que desta vez as causas do mercado brando podem ser mais duradouras.
Consequentemente, resseguradoras estão procurando se adaptar às atuais circunstâncias por meio do reforço de suas reservas de capital e a reorganização de seus negócios.
Segundo a AM Best, as resseguradoras estão buscando diversificar suas operações, tanto em termos de novas linhas que vão além do tradicional risco catastrófico, mas também geograficamente, especialmente em países emergentes (clique aqui para saber mais).
Várias empresas estão aumentando sua presença no mercado primário, com o objetivo de se posicionar o mais perto possível da origem do risco.
“Enquanto os preços de resseguro continuarem a cair em dígitos duplos e os preços do mercado primário se mostrarem mais estáveis, os negócios nos segmentos de seguro primário devem continuar a crescer como uma porcentagem dos prêmios totais para alguns dos atores mais diversificados”, afirma a agência em um relatório.
A AM Best também espera que as operações de fusão e aquisição continuem no futuro, na medida que grandes resseguradoras procuram diversificar seu portfólio e atingir escalas cada vez mais globais.
“Com as atuais condições de mercado em que os preços caem em ritmo de duplos dígitos, as comissões aumentam, os prêmios baixam e a competição cresce, a necessidade de fusões e aquisições está ficando mais clara”, afirma a AM Best. “A consolidação vai continuar, especialmente entre os menores atores do mercado, uma vez que retornos de investimento aceitáveis se tornam cada vez mais difíceis de obter.”
Veículos alternativos
Fora os desafios específicos ao setor, a indústria do resseguro também está vendo a emergência de formas alternativas de transferir riscos diretamente aos mercados de capitais.
Cedentes cada vez mais buscam oportunidades para transferir seus riscos por meio de instrumentos como os chamados cat bonds e derivativos. A AM Best estima que em 2014 a emissão destes instrumentos chegou US$8,3 bilhões, o maior valor já registrado e um aumento de 15% em relação ao ano anterior.
Os riscos mais comumente transferidos para os mercados de capitais são os ligados a vendavais nos Estados Unidos e Europa, terremotos nos Estados Unidos e Japão e tufões no Japão.
No entanto, novos riscos como incêndios florestais nos Estados Unidos, erupções vulcânicas e até impactos de meteoritos chegaram a este mercado nos últimos meses. A AM Best espera que mais variações de riscos sejam alvo de operações do tipo no futuro próximo, incluindo alguns tipos de responsabilidades.
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