Pesadelo de seguradores, James Bond acumula R$ 46 bi em estragos
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- Rodrigo Amaral
- 1 de dezembro de 2015
- Sem categoria
Experts avaliam que 007 gerou mais de R$ 2,4 bi de perdas no último filme, mas só Os Vingadores parecem ser capazes de reverter mercado brando
Há várias décadas James Bond vem salvando o planeta dos mais variados vilões do cinema. E imagina-se que, em seu mundo, causando dor-de-cabeça para os peritos que avaliam as perdas de seguro que ele causa.
Por onde passa, o agente 007 deixa um rastro de destruição de automóveis, edifícios e helicópteros, em um verdadeiro pesadelo para os seguradores ficcionais. Para ser mais exato, no valor de € 600 milhões, ou R$ 2,44 bilhões, apenas em sua última aventura.
O cálculo foi feito pela venerável Gesamtverband der Deutschen Versicherungswirtschaft, GDV, a associação de seguradores da Alemanha, por meio de uma estimativa causada pelo agente preferido de Sua Majestade no filme 007 Contra Spectre, que foi lançado no Brasil em novembro.
No filme, Bond transforma em migalhas os mais variados bens segurados na Cidade do México, Roma, Londres, Marrocos e nos Alpes Suíços, onde inclusive destrói um avião.
Apenas em automóveis, a perda chegaria a € 32 milhões, ou R$ 130,2 milhões, graças à tendência mostrada pelo agente do MI6 em utilizar apenas modelos luxuosos da Aston Martin, Jaguar e Land Rover em suas perseguições.
Perdas em edifícios residenciais chegariam a mais € 500 milhões, ou R$ 2 bilhões, estima a GDV.
A associação não menciona em nenhum momento, porém, possíveis ações por responsabilidade e danos a terceiros, além de tratamento médico a feridos e indenizações às famílias de vilões mortos. Afinal, o mínimo que se deve exigir, em termos de gestão de risco de recursos humanos, de uma empresa sofisticada como a Spectre é que proveja seus capangas de cobertura de seguro de vida.
Bond light
Para dizer a verdade, os seguradores das aventuras de James Bond devem ter soltado um suspiro de alívio quando Daniel Craig assumiu o papel do agente de Sua Majestade.
Em suas quatro aparições no papel, o ator inglês causou perdas acumuladas de R$ 2,5 bilhões, ou R$ 625 milhões por filme, de acordo com a More Than, uma seguradora britânica que faz parte do grupo RSA.
Seu mais venerável antecessor, o escocês Sean Connery, causou perdas médias de R$ 1,25 bilhão, enquanto Pierce Brosnan chegou a R$ 2,75 bilhões por filme.
Todos palidecem, porém, em comparação com o genial Roger Moore, que deixou a indústria seguradora no chão ao gerar R$ 3,82 bilhões de perdas por filme.
Apenas no filme 007 Contra o Foguete da Morte, Moore causa prejuízos estimados em R$ 23,7 bilhões ao destruir várias espaçonaves e até mesmo uma estação espacial.
Em seus 50 anos de aventuras, os vários James Bond causaram danos estimados pela More Than em mais de R$ 46,2 bilhões.
James Bond não deixa de causar prejuízos para o mercado de seguros também no mundo real. A GDV nota, por exemplo, que cinco automóveis de alta linha foram roubados da equipe de filmagem durante rodagens na Alemanha, e eles estavam todos cobertos por apólices.
As coberturas de responsabilidade civil da produção também terão que ser atividades para arrumar danos causados pela equipe de filmagem no centro histórico da Cidade do México, de acordo com a mídia mexicana.
Podia ser pior
Os diretores financeiros do mundo de James Bond podem se conformar porém com o fato de que a situação financeira do setor é certamente muito mais precária no universo ficcional da Marvel, onde o volume de destruição causado por heróis e vilões chega a níveis estratosféricos.
Por exemplo, em 2012 a empresa de avaliação de desastres Kinetic Analysis Corp. estimou, a pedido de The Hollywood Reporter, que os danos causados em Manhattan pela batalha entre Capitão América e seus amigos contra os Chitauris teriam chegado a US$ 160 bilhões, ou R$ 615 bilhões — o que constituiria a maior perda jamais sofrida pela indústria de seguro.
Esta sim parece ser uma perda capaz de dar um fim ao mercado brando no resseguro internacional. A batalha é descrita no filme Os Vingadores e superaria, em termos de perdas seguradas, os ataques de 9 de setembro de 2001, o furacão Katrina, de 2005, ou o tsunami e terremoto que afetaram o Japão em 2011.
A Risco Seguro Brasil sugere aos gestores de risco do mundo Marvel que considerem com bastante carinho a possibilidade de montar um par de empresas cativas e transferir os riscos de danos à propriedade e de responsabilidade civil diretamente ao mercado de resseguros.
É fogo mesmo?
As estimativas dos danos causados por um evento de tal magnitude não é um processo tranquilo, pois tende a gerar divergências entre seguradores e segurados e muita discussão sobre o que é coberto ou não pelas apólices.
A coisa é ainda mais complicada quando as causas são pouco usuais. Digamos, por exemplo, que sua empresa tenha uma presença física em uma cidade invadida por um lagarto de 100 metros de altura que cospe fogo pela boca.
Em 2014, o site Property Casualty 360º decidiu encarar o desafio e entrevistou especialistas para tentar estabelecer como os afetados pelos atos de Godzilla em São Francisco no filme homômino lançado naquele ano poderiam pedir as indenizações a que teriam direito.
É de se prever muitas das controvérsias resultantes teriam acabado na Justiça. O site observa por exemplo que empresas do setor de turismo poderiam pedir que suas cláusulas de interrupção de negócios fossem ativadas devido à fuga de turistas da cidade. Mas as seguradores poderiam argumentar que o fluxo de nerds fanáticos por Godzilla que infalivelmente invadiria a cidade nos meses seguintes mais do que compensaria tais perdas.
Também não está totalmente claro que tipo de apólice cobriria os danos causados aos automóveis da cidade. Em muitos casos, um expert argumenta, a melhor chance do segurado seria invocar a cláusula de danos causados por “contato com pássaro ou animal”.
Coberturas contra incêndio também poderiam dar problema. Afinal, há quem defenda que Godzilla na verdade não cospe fogo, e sim labaredas de radiação pura.
A boa notícia é que, com base na experiência cinematográfica, a menos que a empresa esteja sediada em Tóquio ou Nova York, é improvável que um gestor de risco tenha dificuldade em transferir seu risco contra ataques de lagartos pré-históricos ao mercado de seguros.
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