Para especialistas, mercado muda e seguro terá que inovar no Brasil
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- Oscar Röcker Netto, no Rio de Janeiro
- 12 de abril de 2016
- Sem categoria
Advogado diz que empresas precisam sair da acomodação; setor é criticado por não conhecer clientes e não ter visão de longo prazo
O panorama do resseguro no Brasil mostra que o setor vai ter de trabalhar em uma nova configuração de mercado, segundo especialistas reunidos no 5º Encontro de Resseguro do Rio de Janeiro.
Entre outras coisas, isso significa que o mercado brando dos últimos anos talvez não signifique uma fase, mas uma nova realidade para o setor, dada a abundância de capital disponível e vindo em proporções gigantescas de fontes alternativas ao resseguro.
“Há quem diga que [a alternância] hard-soft acabou”, afirmou Luiz Araripe, diretor de Negócios da corretora AON. “A nova ordem é esse novo mercado e como vamos nos adaptar a ele.”
Essa situação deixa os preços mais camaradas e impõe desafios para seguradoras e resseguradoras, em meio aos quais elas terão de lidar com um tema cada vez mais presente entre os grandes compradores de seguros: falta de inovação nos produtos.
“Vejo uma imensa falta de apetite para novos seguros por parte das seguradoras”, afirmou Antonio Penteado Mendonça, diretor jurídico da Associação Brasileira de Gerenciamento de Riscos (ABGR) durante o painel Panorama do Resseguro no Brasil. “Não está na hora de [as seguradoras e resseguradoras] olharem para o próprio umbigo?”
Mea culpa
A cobrança suscitou algumas análises e mea culpas. ”As seguradoras e resseguradoras estão em débito com o mercado, mas há motivos para isso”, afirmou Paulo Eduardo de Freitas Botti, presidente da Terra Brasis Re e coordenador do painel. “Ficamos muito tempo discutindo regulação.”
Como exemplo, Botti lembrou que os painéis de discussão dos quatro encontros anteriores estavam focados em regulação, certamente um tema fundamental na indústria. Somente neste ano deu-se prioridade para a discussão sobre as técnicas de seguros e resseguros, disse ele.
Especialista em seguros da Light e coordenadora do comitê do setor elétrico da ABGR, Marcia Santos Ribeiro atesta as dificuldades trazidas pela necessidade nem sempre satisfeita de encontrar produtos inovadores.
Segundo ela, mesmo os grandes compradores de seguros, como é o caso da sua empresa, têm dificuldades para manter uma relação mais próxima dos seguradores, focada nos produtos. “O mercado segurador precisa nos ajudar mais a comprar os seguros dele mesmo”, afirmou.
De acordo com participantes da discussão, apesar das estratégias de relacionamento das seguradoras, a relação pode mesmo ser melhorada. “Os seguradores e resseguradores conhecem de fato mesmo seus clientes, as necessidades que eles possuem, as expectativa que têm dos produtos, da tecnologia, da inovação?”, indagou Estevam Souza, gestor de resseguro da Porto Seguro.
“Existe um potencial enorme para que as duas forças — seguradores e resseguradores — possam se juntar e crescer, seja no desenvolvimento de novos produtos, identificação de nichos, exploração de canais alternativos de distribuição. Há muitas situações em que o ressegurador pode suportar esse nosso mercado de forma sustentável.”
Para Ribeiro, é importante que as condições particulares de cada cliente sejam levadas em consideração pela indústria do seguro. “Talvez falte visão de longo alcance e de sentar com o segurado para entender melhor suas necessidades, entender melhor seus riscos e não ficar tão receoso em cobri-los.”
Histórico
“Comecei a trabalhar com seguros em 1976”, lembrou Mendonça. “E as condições que se têm hoje são praticamente as mesmas que do mercado norte-americano da década de 1950. Mudou muito pouca coisa no pressuposto atuarial para fazer as coberturas.”
Segundo ele, é natural que haja riscos que não sejam seguráveis, mas ele entende que há muitos outros para os quais há um mercado não aproveitado no país.
Mendonça observou que apenas uma seguradora na Alemanha paga entre 8 e 10 bilhões de euros por ano para repor danos causados por inundações e granizo. “Por que não trazer essa tecnologia para cá, para as áreas onde é possível aplicá-la?”
Ele acredita que as seguradoras estão “acomodadas com os negócios que já têm, não estão interessadas em novos, e as resseguradoras, menos ainda”.
Para o advogado, as resseguradoras de fora que entraram no Brasil após 2008 também deixaram a desejar no quesito inovação. “Ao invés de trazerem as soluções que têm no resto do mundo, elas só fazem o que o IRB Brasil faz aqui. Isso é muito ruim para o mercado.”
Especialização
De acordo com Bruno Camargo, CEO da Fairfax, uma seguradora especializada em grandes riscos, há mesmo um certo comodismo por parte da indústria de seguro. “Houve muito pouca coisa nova nos últimos vinte anos”, disse ele.”As coberturas são basicamente as mesmas para apólices de riscos nomeados, all risks ou de RC”.
Apesar dessa situação, Camargo entende que as companhias estão procurando novas oportunidades e aposta que as empresas vão se desenvolver de maneira cada vez mais especializada, em atuação de nichos.
Mendonça avalia que a Fairfax é um bom exemplo desse potencial, uma vez que vem “nadando de braçada” nos seguros corporativos, atuando numa linha de produtos elaborados à medida do comprador.
O analista diz que “ainda falta muito a desenvolver”, mas o setor de grandes riscos é mais inovador que os seguros massivos. E, diferentemente do que ocorreu com as resseguradoras, empresas que atuam neste setor estão trazendo mais novidades para o mercado. “O grande está coberto, mas o corporativo médio — a padaria, o açougue, o mercado — não têm cobertura”, disse ele à Risco Seguro Brasil.
Depois da crise, vai
Mendonça acredita que a tendência do mercado é de desenvolvimento nesse sentido depois que terminar a atual crise. “Se as seguradoras não fizerem inovação, o mercado vai exigir isso delas.”
A análise se baseia em “saltos de inovação” que aconteceram no passado. Na segunda metade dos anos 80, exemplificou Mendonça, houve uma revolução no seguro automóvel (“A Porto Seguro mudou o jeito de fazer seguro nesta área”). Já com o Plano Real surgiram o PGBL, o VGBL e os seguros de saúde (“Absolutamente novos na época; mas hoje o PGBL e o VGBL já se esgotaram”).
Passada a crise, é ver se o prognóstico se realiza.
“Há um setor inteiro a ser construído com soluções que hoje não existem”, diz Mendonça. “Seguro e resseguro no Brasil vão crescer — e muito!”
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