Para especialista, risco de desastre natural é mal gerido nas empresas
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- Rodrigo Amaral
- 21 de julho de 2015
- Sem categoria
Renato Flôres avalia que falta visão integrada sobre os danos. Trabalho “antifragilidade” da FGV procura criar rotinas para reduzir prejuízos
O Brasil é frequentemente afetado por temporais, enchentes e outros desastres naturais como os que atingiram o Paraná e Santa Catarina em julho. Mesmo assim, as empresas do país não estão conscientes da necessidade de gerir este risco, de acordo com um especialista da Fundação Getulio Vargas.
Renato Flôres, diretor do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV, também afirmou à Risco Seguro Brasil que o mercado de seguros precisa lançar produtos mais adequados e dar uma melhor orientação sobre esse tema a seus clientes corporativos.
As fortes chuvas e ventos que atingiram o Sul do Brasil este mês mataram quatro pessoas e causaram danos a mais de 5.100 propriedades no Paraná e em Santa Catarina, de acordo com os governos dos dois estados.
Em uma estimativa inicial, a Secretaria de Defesa Civil catarinense estimou os prejuízos causados pelos temporais em quase R$ 13 milhões para o setor privado e R$ 26 milhões para o setor público.
As perdas ocorreram menos de três meses depois que um tornado atingiu Xanxerê, também em Santa Catarina, causando dezenas de milhões de reais em prejuízos. Em anos recentes, enchentes originaram grandes perdas econômicas em Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, entre outros estados.
Aliados com a forte seca que vem afligindo várias regiões do país nos últimos anos, esses eventos desafiam a popular noção de que o Brasil é um país que não está sujeito a catástrofes naturais.
Entre 2010 e 2013, de acordo com a resseguradora Terra Brasis, foram registrados no país 10.542 eventos que podem ser qualificados como desastres naturais, principalmente ligados à seca (6.812) e a enchentes e inundações (3.013).
Falta conscientização
A frequência das perdas ainda não foi suficiente, porém, para convencer as empresas da necessidade botar mais ênfase na gestão de riscos de catástrofes naturais, segundo Flôres.
“Não há consciência ainda sobre os riscos naturais e as próprias catástrofes”, disse ele. “E tudo indica que estamos entrando em um período em que a probabilidade de estes eventos acontecerem será maior.”
No Brasil, explicou ele, existe uma percepção até certo ponto justificada de que não há grandes riscos de catástrofes naturais. Mas nos últimos anos esta percepção está sendo contradita por uma sucessão de eventos que causam danos cada vez maiores.
“Tem havido furacões, alguns já com uma intensidade razoável”, disse Flôres. “Há áreas potencialmente de erupção vulcânica. Então é preciso tomar cuidados.”
Flôres desenvolve trabalhos na FGV no que define como “antifragilidade”, que implica a criação de rotinas e procedimentos que reduzam a fragilidades das atividades das empresas.
Mas é um trabalho ainda muito incipiente, disse ele, já que muito poucas companhias brasileiras possuem uma visão integrada dos riscos de desastres naturais que elas enfrentam.
“As empresas brasileiras nem começaram a lidar com o problema”, afirmou Flôres. “Ainda é preciso fazer um trabalho muito grande nesta área.”
Falta seguro
Outro problema é que, mesmo que uma empresa decida levar a sério a gestão de riscos de catástrofes naturais, ela terá dificuldade em encontrar uma solução de transferência deste risco para o mercado segurador.
Flôres disse que o mercado de seguros, nesta área, não possui os dados necessários para definir o preço de uma cobertura, o que impede o oferecimento de produtos adequados para cobrir o risco.
“É um mercado fino, e por isso o problema está nos dois lados”, afirmou Flôres. “O comprador não sabe direito onde encontrar o produto que necessita, porque não há oferta suficiente. Mas a demanda também é muito pequena. Do lado de quem oferta o seguro, existe dificuldade para precificar.”
Para solucionar esta situação, segundo Flôres, é necessário que o mercado realize um trabalho mais profundo no sentido de ensinar a potenciais compradores como é possível transferir o risco de desastres naturais.
“O processo de conscientização dos demandadores de seguro é lento”, afirmou. “As companhias do setor precisam fazer um esforço de se aproximar dos clientes e explicar como as coberturas podem ajuda-los. Também deveriam fazer um investimento no sentido de identificar e desenvolver produtos para este segmento.”
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