Para Banco Mundial, falta diálogo sobre gestão de riscos no Brasil
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- Oscar Röcker Netto
- 8 de setembro de 2015
- Sem categoria
Especialista afirma que falta de integração entre setores público e privado prejudica esforços de mitigação de desastres no país
Para o Banco Mundial, discussões sobre a relação entre a gestão de riscos no setor público e no setor privado são essenciais, mas praticamente inexistentes no Brasil.
De acordo com Frederico Pedroso, especialista em gestão de risco de desastres da instituição no Brasil, o banco considera o tema prioritário. “Mas mal e mal conseguimos falar de relação público-privada em outras áreas, imagine nessa”, afirmou ele após palestra realizada em Curitiba. “É preciso um processo de amadurecimento de ambas as partes. O diálogo não funciona muito bem hoje.”
Segundo o especialista, quando se fala em desastres com origem na natureza, o problema não está só nas grandes catástrofes, já que eventos de menor parte também causam sérios danos à sociedade.
“(Estes eventos) acontecem todos os dias nos municípios menores e afetam a economia local, que vai se depreciando,” disse Pedroso. “Isso pode impedir, por exemplo, uma indústria de se instalar na cidade”.
Sem uma unidade maior entre público e privado, mesmo quando uma empresa implementa um programa sofisticado de gestão de riscos, seus efeitos acabam sendo limitados, já que não podem passar dos muros da companhia. “A partir dali tem a estrada, o porto etc, que são públicos”, afirmou.
Histórico
O Banco Mundial estruturou melhor sua atuação na gestão de riscos de desastres há cerca de dez anos, quando foi criada uma estrutura específica para lidar com o assunto.
A instituição, que funciona como um agência de fomento e crédito, entende que a gestão de riscos é um instrumento poderoso para o desenvolvimento, garantindo segurança e meios para amenizar prejuízos. Mais do que isso, permite que a população se desenvolva.
De tanto receber pedidos de refinanciamento para obras já financiadas e destruídas por algum desastre natural — principalmente no Caribe e na Ásia —, o banco decidiu criar mecanismos para reduzir o problema.
Cada evento de reconstrução representava um prejuízo grande para quem contraiu o empréstimo e uma inconsistência para quem fornecia o dinheiro, contou Pedroso, que é pós-doutorado em gestão de riscos de desastres pela Universidade de Kyoto, no Japão.
O banco começou então a incluir alguns requisitos de gestão de riscos nos projetos a serem financiados, a fim de induzir um mapeamento dos riscos de desastres naturais onde a obra vai ser construída.
O processo institucional é mais de aconselhamento do que de exigências, explica o especialista. O banco aponta a necessidade de gerenciar determinadas questões, a fim de maximizar as chances de sucesso daquele financiamento. Se a obra é uma ponte, faz-se uma análise do potencial de inundação da região, exemplifica Pedroso.
O maior controle da exposição ao risco gera resultados positivos, como pode ser visto numa estatística apresentada por Pedroso.
Enquanto os prejuízos causados no Brasil, entre 2008 e 2013, foram de US$ 1,7 bilhão na média anual, a Indonésia registrou danos significativamente menores, de US$ 460 milhões, mesmo sendo uma região com maior quantidade de eventos desastrosos.
O país do sudeste asiático possui 17 mil ilhas que ficam assentadas numa região entre três diferentes placas tectônicas, o que garante a frequência de eventos como terremotos, vulcões e tsunamis. Mais de 170 mil pessoas morreram no país durante o tsunami de 2004.
Já o Brasil registra muito menos eventos, mas teve no período casos graves como as enchentes em Santa Catarina, Pernambuco e Alagoas, além de deslizamentos de terra no Rio de Janeiro.
Para Pedroso, a diferença no tamanho do prejuízo de cada país se deve ao controle dos riscos, que no Brasil é mais precário. Na Indonésia acontecem muito mais eventos desastrosos, mas eles são monitorados. Aqui ocorrem menos, mas sem muito monitoramento. Resultado: mais danos aqui.
Mas o trabalho do Banco Mundial no setor começa a ganhar corpo no Brasil. No ano passado, foi publicado o primeiro estudo “Risco e Oportunidade: Gestão de Risco para o Desenvolvimento”, tratando de temas como distúrbios sociais, crise econômica e desastres.
Em março passado, o banco divulgou o primeiro “Diagnóstico da Políticas e Programas de Gestão de Risco no Setor Agropecuário”.
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