Brasil tem a maior percepção mundial de corrupção nos negócios
- 1818 Visualizações
- Rodrigo Amaral
- 26 de abril de 2016
- Sem categoria
Para 90% das companhias brasileiras entrevistadas pela EY, problema é generalizado no ambiente de negócios
Se assumir a existência de um problema é o primeiro passo para tentar fazer algo a respeito, é possível que as empresas brasileiras tenham finalmente acordado para a necessidade de combater a corrupção em suas fileiras.
De acordo com uma pesquisa global realizada pela consultoria EY, 90% das companhias brasileiras consultadas admitiram que o pagamento de propina e a corrupção são práticas generalizadas no ambiente de negócios do país.
Trata-se do índice de percepção de corrupção nos negócios mais elevado do planeta, superando outras economias emergentes como a Ucrânia (88%), Tailândia (86%), Nigéria (86%) e Quênia (84%).
Na América Latina, o México (82%) e Colômbia (80%) apresentam índices semelhantes ao do Brasil, enquanto que na Argentina dois terços das empresas afirmaram que a corrupção grassa solta nos negócios. A média global chegou a 39%.
O elevado índice de percepção da corrupção se deve em grande medida à repercussão da Operação Lava Jato e outras investigações de corrupção no país. Do lado positivo, a pesquisa da EY identificou uma convicção entre os homens de negócio brasileiro de que a atual onda de investigações vai colocar algum freio nas más práticas que prevalecem no ambiente de negócios.
Todos os representantes das 50 empresas entrevistadas afirmaram que as punições sofridas recentemente por altos executivos vão ajudar a fazer com que as companhias pensem duas vezes antes de se meter em irregularidades no futuro.
A ação da Justiça também parece ter adicionado um elemento extra de precaução – ou puro medo – aos executivos brasileiros. Apenas 4% afirmaram que algum tipo de conduta antiética pode ser justificado quando a empresa precisa atingir resultados financeiros.
Foi o mais baixo nível entre os 57 países investigados. A média global foi de 42%, e mesmo na Dinamarca, país que lidera o ranking de honestidade nos negócios da Transparência Internacional, 16% das empresas disseram que não se pode descartar a utilização de algum tipo de artifício contábil em determinados casos.
Surpresa
Por outro lado, 70% dos respondentes brasileiros afirmaram que, ainda que as autoridades estejam demonstrando vontade de apurar casos de fraude e corrupção, a Justiça não tem sido eficiente na obtenção de condenações aos corruptos.
A EY considera este resultado “surpreendente”, tendo em vista os resultados obtidos até o momento pela Operação Lava Jato e a atuação de organismos como o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade).
“Isso pode indicar que leva tempo para que as percepções negativas se alinhem com os fatos”, aponta o relatório.
O trabalho ressalta que a Lava Jato já rendeu 133 pedidos de prisão e 84 condenações, em um reflexo do aumento das ações de combate à corrupção no país. Por esse motivo, a consultoria recomenda que seus clientes se informem bem sobre o novo ambiente de compliance que existe hoje no Brasil.
Outra recomendação é realizar um cuidadoso trabalho de avaliação de parceiros comerciais, a fim de evitar surpresas ao lidar com fornecedores e clientes espalhados pelo país.
Bom caminho
Um painel de especialistas corporativos consultado pela EY mostrou que o Brasil está tomando medidas positivas para combater o problema da corrupção, enquanto que respondentes de países como a Rússia e a China parecem estar minimizando um problema que se apresenta mais grave do que mostram os resultados.
Na China, apenas 24% dos respondentes afirmaram que a corrupção está estendida no ambiente de negócios, enquanto na Rússia a proporção foi de 34%.
Questões culturais podem ter um papel importante nestes resultados. Por exemplo, mais da metade das empresas chinesas responderam que não há problema em fazer pagamentos em dinheiro vivo para garantir negócios em tempos de desaceleração econômica.
Já na Índia, 70% dos entrevistados disseram que ao menos um tipo de conduta antiética pode ser justificada quando a empresa precisa atingir metas financeiras.
A EY ressalta, entretanto, a percepção prevalente na China de que a atual ofensiva anticorrupção do governo está dando resultados. Quase três quartos das empresa chinesas participantes da pesquisa manifestaram essa opinião.
Apoio global
E, se no Brasil o nível da corrupção desespera muita gente, em outros países a situação parece ainda mais desoladora, já que as próprias empresas veem pouca perspectiva de mudança da situação.
É o caso da Ucrânia, onde nenhuma das empresas que responderam a pesquisa afirmou que as autoridades estão mostrando alguma inclinação a enfrentar o problema da corrupção.
A EY alerta que prevalece hoje no mundo um apoio sem precedentes ao combate à corrupção, e que órgãos como o Departamento de Justiça e a SEC nos Estados Unidos estão intensificando suas atividades de combate às irregularidades cometidas pelas empresas.
Ainda assim, segundo o estudo, muitos conselhos de administração não estão tomando as medidas necessárias para implementar sistemas de combate à corrupção mais eficientes em suas companhias.
Clique aqui para ter acesso à 14ª Pesquisa Global sobre Fraudes da EY, em inglês.
- Brasil 97
- Compliance 66
- Gestão de Risco 200
- Legislação 17
- Mercado 247
- Mundo 102
- Opinião 25
- Resseguro 105
- Riscos emergentes 10
- Seguro 198