Os desafios da produção globalizada e a complexidade dos riscos associados
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- por Alfredo Chaia*
- 11 de janeiro de 2016
- Sem categoria
Em primeiro de três artigos para Risco Seguro Brasil, diretor da AIG analisa os riscos da inter-dependência de plantas
No mundo globalizado em que vivemos, as organizações são formadas por complexas combinações de recursos, interdependentes e inter-relacionados, que devem perseguir os mesmos objetivos e cujo desempenho pode afetar, positivamente ou não, a estrutura operacional como um todo.
A economia global considerava que as economias locais seriam decompostas e, posteriormente, rearticuladas em sistemas de transações, operando em um plano internacional. Foi assim que chegamos à expressão “Fábrica Global”, que reflete a ideia de que a produção e o consumo se globalizaram de tal maneira que cada etapa do processo produtivo seja desenvolvida em um país diferente, de acordo com as vantagens e possibilidades de lucros que oferece.
Atualmente, a grande empresa transnacional pode conceber um produto nos Estados Unidos, desenvolver seu projeto na Europa ou na Índia, fabricar os componentes na Coréia do Sul, realizar a montagem no México e, finalmente, comercializá-lo em todos os continentes.
A despeito da complexidade desse cenário e, ao contrário do que muitos temiam, algumas empresas brasileiras tornaram-se parceiras ativas do processo de globalização, desenvolvendo vantagens competitivas próprias e transformando-se também em multinacionais. Já outras, inseriram-se nesse contexto de “economia globalizada”, obtendo ou fornecendo bens de consumo, bens de capital ou componentes para outros mercados. O Brasil integrou-se à economia mundial e passou a ser importante para o restante do mundo, ao passo que o mundo se tornou importante para nós.
Por outro lado, esse movimento ainda não cumpriu a promessa de criar um mercado livre de fronteiras à circulação de produtos e pessoas; mas já mostrou que a interdependência de instalações em diferentes locais incorpora riscos que antes não eram percebidos, além de explicitar implicações muito mais amplas do que se poderia imaginar.
Novas tecnologias
Com essa premissa, as cadeias de suprimentos tornam-se cada vez mais complexas à medida que novas tecnologias são introduzidas no mercado, o que torna a gestão de possíveis vulnerabilidades ainda mais difícil. Não obstante, os sistemas de infraestrutura são mais tortuosos, com complicadas redes de inter-relacionamento, dependências e inter-dependências, e vulnerabilidades associadas, podendo desencadear impactos em cascata.
A “dependência” existe quando qualquer subsidiária de um mesmo grupo econômico se integra à rede de negócios e gestão, e o desligamento repentino de uma linha de produção chave produz efeitos em outra propriedade ou processo do grupo.
A interdependência está presente quando a operação é gerenciada por outro parceiro de negócio, podendo criar uma perturbação na capacidade normal de produção nas instalações que seguem daquele ponto.
Esse conceito reflete a relação entre várias instalações operacionais ou de produção que devem continuar ativas para que a empresa possa produzir e vender o componente final ou os produtos acabados aos clientes. Em geral, há quatro maneiras de classificar uma interdependência, são elas: Matéria-prima, Componentes & Subconjuntos, Serviços e Infraestrutura Central.
Um exemplo de estratégia de produção largamente utilizada nas indústrias é o modelo “Just In Time”, que tenciona o melhor retorno sobre investimento, reduzindo estoque e custos contábeis associados. Esse sistema de negócios é projetado em torno dos níveis de estoque mínimos e se concentra fortemente em logística, garantindo que peças, componentes e materiais cheguem onde e quando necessários. Entretanto, muitas variáveis podem colocar a organização em risco elevado, frente à uma interrupção direta ou contingente, na qual qualquer rompimento na cadeia global pode criar relevantes impactos financeiros.
Força da natureza
Vamos lembrar do terremoto japonês e as inundações na Tailândia ocorridos em 2011.
As inundações na Tailândia em julho 2011 foram consequência das chuvas da monção, seguidas por três tempestades tropicais, que provocaram a subida do nível médio de água dos rios, fazendo com que rios como Chao Phraya e Mekong transbordassem. Foram implementados sistemas de controle de drenagem, incluindo barragens múltiplas, canais de irrigação e bacias de detenção de inundação, todavia insuficientes para prevenir danos causados pelas inundações.
O sismo e tsunami de Sendai de março daquele ano (designado oficialmente Grande Terremoto do Leste do Japão) registrou magnitude de 8,9 MW com epicentro ao largo da costa do Japão, e provocou ondas de tsunami de mais de 10 metros de altura, que atingiram o Japão e diversos outros países. No Japão, as ondas percorreram mais de 10 quilômetros em direção ao interior.
Ambos fenômenos interromperam cadeias de abastecimento de diversas indústrias ao redor do mundo. Todos recordamos das severas consequências indiretas referentes aos danos causados aos fabricantes de automóveis e eletrônicos. A magnitude das perdas foi surpreendente, incluindo casos extremos de estruturas que foram afetadas mesmo estando preparadas com planos de contingência.
A extensão da ruptura mostrou como cadeias de produção fortemente interconectadas estão operando atualmente, e como os fabricantes muitas vezes permanecem vulneráveis quando dependem de fontes únicas de suprimento. Eis a economia globalizada. Um mundo conectado, complexo, brilhante e, sim, inter-dependente.
*Alfredo Chaia é diretor da AIG Consultoria Brasil. A sequência deste artigo será publicada no dia 18/1.
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