Miami se firma como centro de resseguros e mira Brasil
- 1625 Visualizações
- Rodrigo Amaral
- 15 de setembro de 2017
- Sem categoria
Cidade cresce como alternativa a Londres para cedentes latino-americanos; MS Amlin vê portfólio crescer 10 vezes desde outubro de 2014
Resseguradoras baseadas em Miami estão de olho no mercado brasileiro, que aos poucos está se tornando mais aberto ao resseguro internacional.
Segundo fontes ouvidas pela Risco Seguro Brasil, companhias estabelecidas na Flórida vêem no Brasil um mercado promissor. Porém, protecionista. Mas agora pode entrar de vez nas suas estratégias de negócio.
Em 2020, a reserva do resseguro local terá caído para 15% no Brasil. Comparado com 40% dois anos atrás. No mesmo ano, subscritores registrados no Brasil poderão transferir até 75% de seus prêmios a empresas do mesmo grupo. Antes de 2016, o limite era de 20%.
O mesmo vale para a Argentina. Assim como o Brasil, o país está gradualmente reabrindo seu mercado ressegurador para os atores globais.
“Uma parcela dos prêmios (de resseguro) da Argentina deve vir para Miami no futuro”, disse José Astorqui. Ele comanda o escritório da corretora BMS na cidade americana. “Quando o mercado do Brasil abrir, os cedentes brasileiros vão buscar os melhores preços e condições. Da mesma forma, alguns podem optar por colocar seus riscos em Miami também.”
Crescimento
De fato, Miami tem crescido de forma sólida como uma opção ao Lloyd’s, de Londres, para seguradoras e clientes corporativos baseados na América Latina.
Igualmente o mercado local começou a se desenvolver no início dos anos 1990. Por exemplo, com a chegada de um punhado de empresas como Odissey Re, Trans Re, Everest e Scor. Nos últimos anos, o ritmo de crescimento tem se acelerado. Com vários sindicatos londrinos e resseguradoras globais optando pela cidade como sede de suas operações latino-americanas.
Foi o caso, por exemplo, da MS Amlin, que abriu escritório em Miami em outubro de 2014. “Quando abrimos, tínhamos um pequeno portfólio na região, primariamente de resseguros automáticos”, disse Louis de Ségonzac. Ele lidera a operação latino-americana da empresa desde a cidade na Flórida.
“Desde então, nosso portfólio já aumentou em dez vezes. E com negócios que a empresa não tinha em Londres.”
A MS Amlin hoje tem 12 pessoas trabalhando em Miami. Incluindo um responsável por sinistros e uma capacidade de modelização catastrófica, disse o executivo.
Todas as linhas
“Miami começou como um centro de resseguros automáticos. Porém, agora, oferece todos os tipos de linhas facultativas também”, disse Astorqui. “É verdade que, nos casos de linhas mais técnicas, como aviação ou energia, Londres continuar a ter um papel proeminente. Mas hoje Miami pode satisfazer praticamente todas as necessidades dos cedentes latino-americanos.”
“Miami provavelmente detém uma das maiores capacidades de resseguros automáticos para a América Latina. Da mesma forma, a capacidade facultativa segue crescendo. Especialmente em linhas patrimoniais, mas em especialidades também,” observou Segonzac.
Estima-se que mais de 30 resseguradoras já instalaram o comando de seus negócios latino-americanos na cidade. O grupo inclui desde grandes grupos globais até sindicatos do Lloyd’s londrino. Assim como resseguradoras especializadas em nichos, como a suiça Helvetia.
A experiência tem sido satisfatória para várias delas. E ao menos duas empresas, Everest e Navigators, ampliaram as responsabilidades de executivos baseados em Miami para outras economias emergentes, além da América Latina.
Entre as vantagens oferecidas por Miami para as resseguradoras encontra-se a regulamentação local, uma vez que a lei da Flórida é bastante rigorosa com os seguros vendidos nos EUA, mas mais relaxada com operações que visam mercados estrangeiros.
“O regulador de seguros da Flórida aplica regras favoráveis para contratos de resseguros assinados com cedentes latino-americanos”, disse Alex Guillamont, que lidera a prática latino-americana do escritório de advocacia Kennedy’s em Miami.
Língua e férias
Também há fatores mais prosaicos, mas ainda assim importantes, que beneficiam o progresso de centro de seguros de Miami, segundo os especialistas.
Um deles é a língua. Com uma grande população de origem latina, o espanhol é uma língua franca em Miami, o que facilita em muito a redação dos contratos.
Mesmo especialistas capazes de falar português do Brasil podem ser contratados com relativa facilidade na cidade.
O fuso horário também ajuda, especialmente na competição com Londres, e também o fato de que a cidade está conectada, por meio de avião, a praticamente todas as cidades economicamente importantes da região.
Outro atrativo é o fato de que muitos executivos latino-americanos estudaram nos Estados Unidos e alguns até possuem propriedades na Flórida.
Além disso, não deve ser ignorado o fascínio que Miami exerce sobre as classes abastadas da América Latina como um centro de turismo e compras.
A rua dos seguros
Para completar, o hub de resseguros de Miami acabou se concentrando em uma região em particular, a Brickell Avenue, no coração financeiro da cidade.
No decorrer dos anos, dezenas de subscritores se instalaram na avenida, e logo foram seguidos por corretores, escritórios de advocacia, peritos e outros profissionais ligados ao seguro e ao resseguro.
Com isso, os executivos das empresas cedentes podem se deslocar a pé de um lugar ao outro, perdendo pouco tempo ao visitar diversos potenciais parceiros comerciais.
A boa qualidade de vida oferecida pela cidade também facilita a atração de executivos especializados em resseguros, muitos dos quais poderiam mostrar relutância em se comprometer a viver no longo prazo em uma metrópole latino-americana.
“Com frequência, as resseguradoras estabelece seus quartéis-generais regionais em Miami, e depois criam escritórios locais em países latino-americanos”, observou Guillamont.
- Brasil 97
- Compliance 66
- Gestão de Risco 200
- Legislação 17
- Mercado 247
- Mundo 102
- Opinião 25
- Resseguro 105
- Riscos emergentes 10
- Seguro 198