Lava Jato e crise estimulam melhoria da governança nas empresas
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- Oscar Röcker Netto
- 27 de julho de 2015
- Sem categoria
Para especialista, melhorias em estruturas de compliance trazem ganhos de competitividade, mas devem ser para valer, e não ficar só no papel.
Os riscos ligados ao compliance estão ganhando força no Brasil, e algumas das empresas mais conhecidas do país estão investindo no reforço de estruturas especializadas em lidar com este tema.
Em julho, a gigante alimentícia JBS anunciou a criação de uma diretoria de compliance que terá a missão de revisar o código de conduta da companhia, que tem 215 mil funcionários espalhados por 20 países.
Já o Magazine Luiza, peso-pesado do varejo, contratou uma consultoria para readequar seu manual de governança corporativa num prazo de 18 meses.
Por sua vez, o Grupo Sílvio Santos vai finalizar nas próximas semanas um processo de reorganização de sua governança corporativa, focado em preparar terreno para a substituição do comando da empresa, proprietária de marcas como o SBT e a Jequiti Cosméticos.
Longe de serem exemplos isolados, essas ações fazem parte de um movimento de melhoria do sistema de governança e compliance das empresas brasileiras, segundo avaliação de Robert Juenemann, conselheiro de administração do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).
“Existe, sim, uma preocupação maior das empresas em buscar mecanismos que façam com que haja aperfeiçoamento de gestão”, disse ele à Risco Seguro Brasil, analisando o mercado em geral.
Escândalo
Para o especialista, há duas razões principais por trás deste fenômeno: os escândalos ligados à Lava Jato e a crise econômica.
O conturbado momento atual do país estimula, portanto, um incremento numa área fundamental para o desenvolvimento das empresas. “O que se busca num sistema de governança é o aperfeiçoamento contínuo”, disse Juenemann.
As ações da Justiça Federal e do Ministério Público, expondo práticas discutíveis em algumas das principais companhias brasileiras, instigam as demais a buscar mais transparência em seus processos.
“Não porque estejam fazendo algo de errado, mas porque estão vendo como é importante ter canais de informação eficazes para a gestão”, afirmou o especialista. “O noticiário faz com que haja uma busca geral por mais transparência.”
O fraco desempenho da economia, por sua vez, afeta os resultados e força as companhias a buscar ganhos de competitividade — o que pode ser obtido com ajustes nos processos internos.
“Cada vez mais, quando há um crescimento menor, há uma busca de mercado entre os próprios concorrentes. As empresas estão procurando se capacitar, tanto em relação a causas externas quanto a internas”, disse Juenemann.
“Para isso o compliance acaba funcionando muito bem porque estabelece limites, parâmetros e competências. Além de toda a questão jurídica, de aderência à legislação, busca-se uma maior agilidade no processo de gestão. Para saber como ser mais competente, é preciso haver processos decisórios e entender quem é competente para fazer o quê.”
Consistência
Também é importar ressaltar que as empresas agora parecem estar se tornando mais conscientes do fato de que um sistema de compliance precisa funcionar para valer, e não só existir para cumprir requisitos de manuais de governança.
Para isso, segundo Juenemann, é importante que as iniciativas sejam consistentes e agreguem de fato valor. Caso contrário, diz, o próprio mercado se encarrega de “anular” ações pouco efetivas.
“O mercado não leva a sério uma governança que não seja percebida como real”, afirmou o especialista. “É mais provável que uma empresa com esse perfil venha a ter problemas que uma outra em que os conceitos estejam introjetados e que aja de acordo com eles.”
Introjetar conceitos numa corporação significa implementar uma cultura empresarial, o que é fundamental para limitar cada vez mais as zonas cinzentas que existem nos sistemas de governança em muitos setores.
Muitas das empresas envolvidas na Lava Jato, por exemplo, têm uma estrutura formal de governança e compliance, com manual de conduta, auditorias e outros elementos do controle. Mas nada disso impediu os desvios que estão embasando ações do Ministério Público contra elas.
“O ser humano é muito criativo. É preciso buscar não só maneiras de reduzir as áreas cinzentas, aquelas em que as pessoas podem ter dúvidas sobre como devem agir, mas também investir muito, especialmente no aspecto educacional”, disse Juenemann.
“Isso faz com que haja eliminação de dúvidas sobre determinadas situações. É preciso entender o conceito e os valores da empresa e as eventuais punições se houver descumprimento de alguma regra. Tem de ser algo natural.”
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