Grandes eventos puxam seguro de espetáculos
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- Oscar Röcker Netto
- 12 de agosto de 2016
- Sem categoria
Olimpíada ajuda a manter setor aquecido enquanto crescimento de shows se desacelera; sinistros encurtam margem de negociação, diz Aon
Pode ser Mick Jagger rebolando em cima do palco ou centenas de atletas desfilando na abertura e reunindo milhares de pessoas nas competições. Apesar da crise, o aumento do número de grandes eventos nos últimos anos puxou a reboque um crescimento dos seguros nesta área, de acordo com Midiã Borges, consultora sênior de riscos e seguros de entretenimento da Aon.
Maior evento esportivo do planeta, a Olimpíada, que teve uma abertura grandiosa na sexta-feira (5/8), ajudou a aquecer o setor num momento em que os demais eventos deram uma arrefecida.
“Ainda há muitas carências, mas a procura por seguros nesta área está crescendo”, disse Borges a Risco Seguro Brasil. “Temos sentido uma evolução ano após ano no Brasil.”
Um levantamento feito pela Folha de S.Paulo mostrou um “crescimento fantástico” de shows de artistas e grupos internacionais de música no Brasil entre 2010 e 2014 — em 2015, a curva ascendente travou. Em 2010, 149 cantores ou bandas se apresentaram em 234 shows no país, segundo o jornal. O volume passou para 419 artistas e 1.057 shows em 2014. Já em 2015, o crescimento perdeu fôlego, mas os eventos continuaram num patamar considerável: 399 artistas ou grupos, com 1.116 eventos.
De acordo com Borges, os eventos de fora demandam bastante cobertura de riscos, “mas o mercado nacional de entretenimento hoje também apresenta uma grande procura, principalmente de Responsabilidade Civil”.
Produção
A produção na área de entretenimento pede mesmo atenção especial de gerenciamento dos riscos.
Produções caras, grandes estruturas, nomes valiosos, público amplo… Só a abertura da Olimpíada do Rio reuniu no Maracanã cerca de 50 mil pessoas, fora os millhares de atletas que desfilaram — espetáculo que incluiu queima de fogos, várias estruturas móveis nos palcos e um extenso aparato de segurança (pelo temor de ataques terroristas).
Em outros casos, que também ajudam a dar a dimensão deste setor, o DJ David Guetta, por exemplo, reuniu em seus 12 shows no ano passado no Brasil 238 mil pessoas. Já a turnê dos Rolling Stones este ano atraiu cerca de 215 mil fãs em quatro cidades, e os shows incluíram um palco cuja estrutura equivale à de um prédio de sete andares.
Se um “mundo de gente” decide ir a um espetáculo e sacolejar ouvindo música, se extaziar com seu artista preferido ou torcer avidamente numa competição, os produtores de tais eventos precisam se precaver. Acidentes podem causar danos consideráveis, prejuízos imensos e complicar as marcas associadas aos eventos. “Um dano do público pode automaticamente prejudicar a imagem [do realizador]”, diz a especialista.
Os seguros com que a Aon trabalha na área fazem a proteção de responsabilidade civil por danos materiais ou corporais involuntários a terceiros, dos equipamentos e também podem garantir os valores investidos na realização do evento, caso haja, por exemplo, cancelamento ou interrupção de um espetáculo.
“A cobertura de despesas médicas é muito demandada no Brasil”, exemplifica Borges. Em alguns estados, como São Paulo, Paraná e Minas Gerais, o seguro contra acidentes pessoais é obrigatório.
Borges diz que o mercado internacional nesta área é mais maduro do que o brasileiro.
Segundo ela, os eventos internacionais que aportam por aqui já trazem exigências consolidadas de cobertura. “Principalmente em relação aos limites de garantia de Responsabilidade Civil; exigem no mínimo uma garantia superior a US$ 10 milhões”, afirma. “Há exigência também de cobertura para cancelamentos; em alguns casos é prevista a extensão para o não comparecimento do artistas devido a falecimento de familiares ou até do presidente do país [de origem].”
Mais recentemente, diz ela, garantias antes não exigidas começaram a entrar na lista, como as voltadas para casos de sequestro, pandemia e epidemia.
Sem choro
Sinistros relevantes recentes encurtaram a margem de negociação dos preços. Segundo Borges, um deles foi o cancelamento do show a banda U2 em decorrência dos atentados em Paris em 2015; outro, o que a cantora Rihanna faria em Nice, cidade que também foi alvo de atentados terroristas que deixaram 84 mortos em julho passado. “A margem de negociação de custos está muito reduzida”, afirma a consultora. “A preocupação maior é ter garantia que atenda ao segurado.”
Segundo ela, nos eventos internacionais é praticamente impossível negociar limites de garantias. “A maioria é decorrente de contratos já fixados entre promotor e organizador”, diz. Borges acredita que a tendência no Brasil é de que as proteções sejam cada vez mais presentes nos eventos, na medida em que as pessoas se tornam mais cientes de seus direitos e passam a exigir reparações em caso de algum prejuízo ou dano. “Com isso, a necessidade de seguro cresce.”
Esse caminho, no entanto, tem desafios. Para Borges, no aspecto técnico do seguro há questões sobre uso de novas tecnologias que merecem atenção. Ela cita o uso de drones neste setor, por exemplo. Como a regulação desses aparelhos ainda não foi concluída, trabalha-se em meio a uma certa zona cinzenta.
Outro obstáculo a ser transposto, para ela, é a questão cultural do seguro no Brasil — a conhecida aversão a considerar o seguro investimento e não custo. “Ao longo dos anos devemos seguir a mesma tendência de países como os Estados Unidos e os da Europa, que já têm uma forte cultura de seguro de entretenimento”, acredita.
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