Falta transparência a multinacionais brasileiras, aponta relatório
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- Rodrigo Amaral
- 11 de julho de 2016
- Sem categoria
Levantamento da Transparência Internacional ressalta falhas na comunicação de medidas anticorrupção e obscuridade organizacional
A clareza das multinacionais de países emergentes sobre temas de governança corporativa deixa muito a desejar, e as empresas brasileiras que fazem parte deste grupo não são exceção, afirma a Transparência International.
Relatório divulgado pela ONG anticorrupção atribuiu uma nota média de 3,5 para os esforços de transparência das empresas brasileiras. Doze empresas foram avaliadas, mas o grupo não inclui a Petrobras, que está no centro de um dos maiores escândalos de corrupção já revelados no mundo.
A Embraer recebeu a melhor nota, com 5,6. Já a Coteminas, grupo têxtil pertencente à família do ex-vice-presidente José Alencar, falecido em 2011, ficou na lanterna com 1,1 (ver gráfico acima).
O relatório analisa as práticas de divulgação de informação de governança corporativa postas em prática pelas cem maiores empresas multinacionais sediadas em países emergentes – 12 das quais são brasileiras.
A organização admite que simplesmente adotar boas práticas de transparência não é suficiente para garantir que uma companhia esteja livre de atos ilícitos. Esse tipo de medida é, no entanto, um começo.
“Boas práticas de divulgação ao público apoiam e promovem o bom comportamento”, afirma a Transparência no documento.
Média global
Em geral, as grandes múltis emergentes receberam uma nota média de 3,4, em uma escala de 0 a 10, com respeito a seus níveis de transparência. Vale notar, porém, que é uma avaliação similar à obtida por 124 grandes multinacionais mundiais de capital aberto em relatório similar divulgado pela entidade em 2014. Na ocasião, a nota foi de 3,8.
Entre os argumentos em favor de maior transparência corporativa, a entidade observa que o escândalo centrado na Operação Lava Jato custou à Petrobras “não só a reputação, como lucros cessantes de estimados em US$ 1,5 bilhões [sic]”.
Uma das conclusões do relatório é que as empresas fazem muito pouco em termos de transparência se isso for deixado à sua própria revelia.
Prova disso é que a economia emergente com mais avanços nesta área foi a Índia, onde os requerimentos regulatórios para a divulgação de dados sobre políticas anticorrupção são estritos, argumenta a Transparência.
Outra conclusão é que as empresas de capital aberto estão mais avançadas neste campo do que as estatais e as privadas de capital fechado.
As líderes
A Transparência analisou as informações disponibilizadas pelas empresas em seus websites, relatórios anuais e outros documentos públicos.
De maneira geral, os esforços de transparência corporativa das multinacionais emergentes foram descritos como “patéticos” pela ONG.
A maior nota possível é 100%, o que significa que todas as informações que se devem publicar, do ponto de vista das boas práticas de governança corporativa, podem ser acessadas pelo público.
A empresa mais bem avalizada foi a Bharti Airtel, uma companhia de telecomunicações indiana, com 73% de transparência. As sete primeiras do ranking são indianas.
Quatro empresas, todas elas chinesas, receberam pontuação zero. O grupo inclui a Chery, companhia automobilística que possui fábrica no Brasil.
Critérios de avaliação
O quesito em que as empresas mais falharam é o da divulgação de informações sobre suas atividades em cada país onde estão operando. De acordo com a metodologia utilizada pela organização, apenas 9% das informações individualizadas sobre cada mercado são tornadas públicas pelas empresas pesquisadas.
A média entre as empresas estatais nesta área foi de zero. No outro extremo, o grupo com melhor desempenho, o chileno Falabella, obteve uma avaliação de 60% de transparência.
Já no critério de divulgação de programas anticorrupção, a avaliação média foi de que 48% dos dados concernentes são publicados pelas empresas. Mais preocupante do que a baixa nota, porém, é o fato de que praticamente não houve melhora neste quesito com relação a um relatório feito pela Transparência Internacional em 2013.
A Transparência observa que, ainda que 84% das empresas se declaram empenhadas em seguir normas anticorrupção, apenas 19% proíbem claramente seus funcionários de realizar pagamentos para “facilitar” o fechamento de negócios.
As empresas brasileiras receberam uma avaliação de 55% neste item, lideradas pela Embraer (92%) e com a Coteminas fechando o cortejo (8%).
A nota brasileira é superior à média geral dos países emergentes, que chega a 48%, mas inferior às de outros grandes emergentes como a Índia (64%) e a Rússia (62%). A China, com 26% e 37 empresas entre as 100 pesquisadas, derruba a média global.
No que diz respeito à transparência sobre as estruturas de governo corporativo, houve regresso, com uma avaliação de 47%, contra 54% no relatório anterior. Mas a Transparência admite que parte disso se deve ao emprego de uma metodologia mais rígida do que três anos atrás.
Neste quesito, as empresas de capital fechado, muitas das quais são familiares, conseguem ser ainda mais obscuras do que as estatais.
Clique aqui para baixar o relatório completo em português.
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