Dormir pouco é um dos riscos que tiram o sono do mercado
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- Rodrigo Amaral
- 8 de junho de 2018
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Para Swiss Re, ameaças emergentes também incluem incerteza geopolítica, sinistros ligados ao amianto e prédios inflamáveis
Vivemos em propriedades com grandes riscos de incêndio, muitas vezes construídas com materiais tóxicos como o amianto. Ao mesmo tempo em que a agitação política toma conta das ruas.
Para completar, dormimos cada vez menos, e não é de susto. Afinal, novos hábitos e tecnologias estão mantendo as pessoas acordadas por mais tempo do que deveriam. Dessa forma umentando o risco de erros humanos, obesidade, ataques cardíacos e outros problemas.
Esse é um mix dos riscos emergentes mais urgentes enfrentados pela indústria do seguro. Isso de acordo com o mais recente relatório sobre o tema divulgado pela Swiss Re.
O relatório Sonar, publicado a cada ano a partir de informações coletadas de subscritores, corretores e clientes, também põe o foco em temas como os ataques cibernéticos. Assim como os riscos ambientais e os perigos e oportunidades trazidas por desenvolvimentos tecnológicos. Como o uso cada vez mais intenso da inteligência artificial.
Leia abaixo alguns exemplos:
Edifícios inflamáveis
Alguns dos riscos emergentes não são exatamente novos. Assim como é o caso das ações de responsabilidade ligadas ao uso e manuseio do amianto.
A Swiss Re nota que sinistros ligados ao amianto, que está relacionado a enfermidades como o câncer, já causaram perdas de quase US$ 100 milhões para a indústria do seguro só nos Estados Unidos.
Porém, o tema continua sendo uma bomba relógio implantado no coração da indústria seguradora. Assim, as enfermidades ligadas ao emprego ou mineração de amianto tendem a se manifestar 40 ou 50 anos depois que a pessoa teve contato com a substância tóxica. O mesmo passa, logicamente, com os sinistros de seguro.
Contudo, a Swiss Re nota que, apesar da literatura existente sobre o tema, o amianto continua sendo minerado. Da mesma forma, segue amplamente presente em construções em países como a Rússia, Índia, China e Indonésia.
E também, é claro, no Brasil. O Supremo Tribunal Federal demorou mais de uma década para julgar uma ação que proibia o uso do amianto em todo o país. Dessa forma, o veredicto só foi alcançado em novembro de 2017.
A Swiss Re recomenda que apólices de seguros tragam exclusões para o amianto, sempre que possível. Porém, as indenizações do futuro provavelmente já estão plantadas em contratos em vigor.
Outro risco emergente de alto impacto ligado a edificações diz respeito ao uso de revestimentos inflamáveis na construção de arranha-céus.
Da mesma forma, foi esse tipo de material que estava presente na torre Grenfell. A torre pegou fogo em Londres no ano passado, matando mais de 70 pessoas.
Mais uma vez, o Brasil tristemente ajuda a ilustrar o risco com o incêndio. Por exemplo, como o incêndio do edifício Wilton Paes de Almeida, em São Paulo. O sinistro pode ter sido agravado, entre outros fatores, pelo uso de materiais pouco resistentes ao fogo em sua construção. Ao menos sete pessoas morreram.
Geopolítica
A Swiss Re também recomenda aos executivos de seguro que fiquem de olho nas mudanças geopolíticas que estão acontecendo ao redor do mundo.
Vários países, incluindo o Brasil, estão vivendo a emergência de movimentos populistas de cariz mais radicalizado.
Os Estados Unidos estão adotando uma postura unilateral, acelerando a mudança de eixo de poder rumo à Ásia, com uma China cada vez mais confiante como protagonista.
Com a atual arquitetura multilateral sob ameaça, aumentam também as incertezas para as empresas de seguros e resseguros que têm negócios globalizados e fortamente ancorados nas atuais estruturas de governança.
Para complicar ainda mais, a deterioração das estruturas de governança também aumenta o risco de conflitos militares e reduz a possibilidade colaboração interenacional para frear processos como o aquecimento global. Ambos desdobramentos elevam os riscos de que o setor sofra perdas de valor cada vez mais elevado.
A cereja envenenada no bolo indigesto é a emergência do protecionismo e um aperto regulatório cada vez mais premente. Com economias se fechando para empresas de outros países, os grupos seguradores podem vir a perder acesso a mercados importantes, comprometendo estratégias de diversificação de riscos que são vitais para a sua sobrevivência.
Dormir pouco
Outros riscos emergentes parecem menos dramáticos, mas mesmo assim têm o potencial de tirar o sono dos executivos do setor.
Um deles é justamente o fato de que as pessoas estão dormindo cada vez menos. A Swiss Re alerta que, devido à difusão de novas tecnologias como telefones celulares e iluminação LED, além de práticas como o teletrabalho, as longas viagens para chegar ao trabalho ou a necessidade de ter vários empregos para sustentar a família, estão reduzindo o número de horas de sono dos cidadãos.
A falta de sono que obriga a dormir pouco tem dois efeitos principais para a indústria. Em primeiro lugar, dormir pouco aumenta o risco de condições como obesidade, ataques cardíacos e infartos, elevando a conta das seguradoras de saúde e, quando levam o segurado desta para uma melhor, também para as de vida.
Por outro lado, funcionários que dormem menos estão mais propensos a cometer erros em seus ambientes de trabalho, elevando o risco de acidentes que podem gerar perdas de propriedade e responsabilidade, além das próprias coberturas de acidentes de trabalho.
A Swiss Re lembra que, em todo o mundo, dois de cada três sinistros de seguro já estão ligados a erros humanos. Dormir pouco é um deles.
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