Choque na UE pode encolher um dos principais polos de seguro do mundo
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- Rodrigo Amaral
- 3 de junho de 2016
- Sem categoria
Saída do Reino Unido do bloco europeu, que será votada em junho, tende a tirar centenas de milhões de clientes do mercado britânico
A possível saída da Grã-Bretanha da União Europeia – o chamado Brexit – constitui um sério risco para o mercado de Londres, um dos principais polos de seguros do planeta, segundo os próprios seguradores.
Em nota conjunta, a IUA, associação de seguradores internacionais baseados na capital britânica, e o Lloyd’s de Londres alertaram que o Brexit pode impedir o acesso do mercado de Londres a centenas de milhões de clientes na União Europeia.
Por esse motivo, algumas empresas do setor até já elaboraram planos de contingência para abandonar o país, caso os eleitores britânicos votem a favor de sair do bloco europeu no dia 23 de junho.
O alerta dos seguradores ocorre na sequência de outros setores que temem os efeitos do Brexit em suas atividades.
Por exemplo, TheCityUK, um lobby da City londrina, divulgou recentemente um relatório segundo o qual a saída da UE pode reduzir a contribuição dos serviços financeiros para o PIB britânico em £12 bilhões (mais de R$ 60 bilhões) até 2020.
Empregos
Segundo TheCityUK, o Brexit causaria uma destruição de 100 mil empregos nos serviços financeiros britânicos. A IUA e o Lloyd’s lembram que 34 mil postos de trabalho dependem diretamente do mercado de seguros corporativos — isso sem incluir atividades que dependem indiretamente do setor — e é muito provável que grande parte seja fechada caso o Brexit seja aprovado.
O motivo é a alta participação da União Europeia nos negócios das seguradoras sediadas em Londres, que disfrutam de livre acesso ao bloco graças às regras de livre comércio acordados entre seus membros.
Os seguradores observam na nota que a França, a Alemanha, a Itália e a Espanha são mercados tradicionais para o seguro londrino, que tem uma vocação claramente global. Cerca de 16% do faturamento do setor advém da União Europeia excluindo o próprio Reino Unido.
A participação tende a aumentar na medida em que o mercado londrino consegue aumentar sua presença em membros recentes da União Europeia, como a Polônia, que são também as economias que crescem com maior velocidade na região.
A IUA observa por exemplo que o volume de prêmios de seus membros cresceu quase 30% entre 2010 e 2014, em grande medida graças aos negócios internacionais. “O Brexit ameaça esta grande história de sucesso britânica”, alertam as seguradoras no documento.
Por outro lado, a agência de classificação de riscos Moody’s afirmou em maio que o Brexit provavelmente teria um impacto modesto sobre os ratings das seguradoras globais com operações significativas no Reino Unido.
Planos de contingência
Serviços financeiros, incluindo seguradoras e resseguradoras, temem perder acesso aos mercados europeus caso o Reino Unido tenha que negociar novos acordos de livre comércio e livre circulação de serviços com a UE.
Hoje, regras como a diretiva Solvência II criam um regime comum que coloca as empresas em igualdade de condições legais para competir nos 29 países do grupo. O regime regulatório comum é um dos motivos por que várias empresas internacionais decidiram transferir ou implantar suas sedes em Londres, observam os autores da nota.
“A noção de retirar Londres deste enorme mercado, o maior do mundo, de forma voluntária não faz nenhum sentido”, critica a nota.
De fato, segundo a IUA, uma enquete interna revelou que ao menos 6 de seus 65 já têm planos de contingência para transferir sua sede para outro país europeu, caso o Brexit seja aprovado.
A organização notou que 26 de seus membros são seguradoras e resseguradoras sediadas fora da UE que decidiram instalar sua sede europeia em Londres em grande medida para se beneficiar do livre acesso ao mercado comum.
Gestores de risco
O Brexit também preocupa os gestores de risco das empresas britânicas, que no dia 26 de maio organizaram uma reunião em Londres para discutir como suas organizações devem agir caso os eleitores votem pela saída da UE.
Durante a reunião organizada pela Airmic, a associação de gestores de riscos britânicos, a seguradora AIG lembrou que o processo de desligamento da UE pode demorar cerca de dois anos, durante os quais o Reino Unido teria que discutir algum outro tipo de acordo comercial com o bloco.
A possibilidade de que isso ocorra em dois anos, porém, é remota, já que acordos assinados com outros países, como o Canadá, a Noruega e a Suíça, levaram cerca de sete anos para ser concluídos.
Suíça e Noruega tiveram de aceitar, para garantir o livre comércio, grande parte da regulamentação europeia e a livre circulação de pessoas, que são os temas que mais incomodam os partidários da saída da UE.
Participantes na reunião argumentaram que, em grande devido à incerteza, as empresas ainda não sabem o que fazer para lidar com este risco. Segundo a CBI, maior organização patronal britânica, metade de seus membros já começaram a preparar planos de contingência para o eventual Brexit.
Em pesquisa da Deloitte divulgada em abril, porém, 53% dos diretores financeiros de grandes empresas britânicas disseram que suas companhias não estão preparadas para o Brexit, que foi apontado pelos respondentes como o principal risco enfrentado pelas organizações.
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