Brasil e Argentina impulsam risco de crédito na América do Sul
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- Rodrigo Amaral
- 23 de março de 2016
- Sem categoria
Para seguradora, setores da economia nacional que mais preocupam são gás e petróleo, eletroeletrônicos e bens de consumo duráveis
A provável contração das economias do Brasil e da Argentina constituem o principal risco na área de seguros de crédito na América do Sul, de acordo com a seguradora espanhola Crédito y Caución.
Em relatório divulgado esta semana, a empresa estima que a economia brasileira deve recuar 3% em 2016, com desemprego em alta e a inflação chegando a 7%.
“O crescimento da dívida corporativa no Brasil entre 2007 e 2014 é um dos mais intensos registrados em economias emergentes”, informa a companhia, que opera no Brasil sob a marca Atradius, que desde 2008 faz parte do mesmo grupo.
Na Argentina, a economia deve sofrer no curto prazo na medida em que as reformas implementadas pelo presidente Mauricio Macri desde sua posse, em dezembro, vão eliminando alguns dos desequilíbrios criados nos últimos anos. A inflação deve subir e a economia deve se contrair em um primeiro momento, ainda que as perspectivas sejam mais positivas no futuro.
Mas nem só Brasil e Argentina apresentam desafios para os credores e seus seguradores de crédito na América do Sul, diz a empresa. “Escândalos de corrupção, burocracia excessiva, desigualdade social, baixo nível da educação e reformas estruturais urgentes” são temas que se repetem por todo o continente.
Veja as avaliações do risco de crédito da Crédito y Caución nos principais países da região:
Brasil
A empresa prevê que a retração da economia e a inflação serão um pouco menos dramáticas em 2016 do que no ano passado, mas o consumo deve continuar caindo na medida em que mais trabalhadores engordam as filas do desemprego.
A dívida do governo aumentará, e o crescimento das exportações deve se abrandar, mas o déficit em conta corrente deve cair de 3,3% em 2015 para 2,7% neste ano. Do lado positivo, a empresa nota que o déficit do governo está majoritariamente denominado em reais e tem uma maturidade média de 6,5 anos, o que reduz o risco de calote soberano.
Em termos dos setores da economia, os que mais preocupam, do ponto-de-vista do risco de crédito, são os de gás e petróleo, eletroeletrônicos e bens de consumo duráveis.
Também recebem qualificação negativas as indústrias da construção, bens de produção, metalurgia, papel, aço, têxtil e automotiva.
Já o setor da alimentação está tendo desempenho acima da média, e por isso a perspectiva para as empresas do ramo pagarem suas dívidas é bastante positiva. O agronegócio, a indústria farmacêutica e o setor de serviços também mostram uma conjuntura aceitável.
A dívida das empresas não-financeiras aumentou de 30% do GDP para 49% entre 2007 e 2015, diz a Crédito y Caución. A seguradora considera a relação dívida corporativa relativamente baixa, e observa que 90% do total é financiado domesticamente, o que mitiga os riscos de refinanciamento e de variação cambial.
O principal motivo de preocupação, porém, é a instabilidade política do país. “As possibilidades de que urgentes reformas estruturais necessárias para retomar o crescimento sejam realizadas […] se desvaneceram”, avalia o relatório. Isso preocupa também porque o país é vulnerável a mudaças de humor dos investidores internacionais, uma vez que 96% das reservas internacionais são constituídas de fluxos de investimento de portfólio.
Argentina
A Crédito y Caución argumenta que na Argentina a mudança de governo e as medidas implementadas por Macri logo de saída aumentaram o otimismo com relação ao futuro da economia, mas ainda não acabaram com a instabilidade.
A empresa prevê que o PIB argentino crescerá 1% neste ano, e o desemprego aumentará um ponto percentual até 8,2%. Mas há risco de contração econômica como resultado da combinação da inflação alta com o aperto fiscal promovido pelo governo.
No curto prazo as medidas liberalizantes de Macri devem alimentar a inflação e desvalorizar o peso. A taxa de juros de curto prazo do Banco Central argentino já passou de 8% para 38%, nota a empresa. A Argentina também enfrenta risco de descontentamento social uma vez que o governo desmonta a rede de subsídios implementada nos anos Kirchner.
Tampouco ajuda o fato de que o Brasil, em crise profunda, é o destino de mais de um quinto das exportações argentinas.
Os setores que mais preocupam do ponto-de-vista do risco de crédito são a construção, materiais de construção, metais, aço e têxteis. O setor automotivo e o de eletroeletrônicos também merecem atenção dobrada de credores e seguradores.
Chile
Ainda que geralmente mais bem administrada do que em outros países da região, a economia do Chile sofre atualmente com a queda dos preços das commodities, especialmente o cobre, de longe sua principal fonte de reservas internacionais.
As exportações de cobre em realidade respondem por 50% das exportações chilenas e 10% do PIB. A desigualdade de renda, baixo nível educacional e baixa produtividade são outros fatores que abalam a economia chilena.
A Crédito y Caución espera que o PIB do Chile cresça 2,2% neste ano, com um leve aumento do desemprego para 6,6% da população ativa. O país deve apresentar um leve déficit fiscal de 0,1% ao final de 2016, com a dívida do governo passando de 15,2% para 16,2% do PIB.
As empresas que devem preocupar mais os credores no Chile são as que trabalham nos ramos da metalurgia, automotivo, construção, mineração, aço e têxteis. A agricultura, os eletroeletrônicos e o setor de serviços também enfrentam dificuldades.
Do lado positivo, a posição fiscal do Chile é bastante sólida, uma vez que boa parte do dinheiro ganho durante o boom das commodities foi armazenado para momentos como os atuais.
As reservas internacionais chilenas chegam a 9,2% do PIB, segundo a Crédito y Caución.
Colômbia
Outra economia vista com bons olhos pelos investidores internacionais, a Colômbia enfrenta um período de desaquecimento devido à queda do preço das commodities. A economia deve crescer 2,1% neste ano, comparado com 2,8% em 2015.
A posição fiscal do país, no entanto, não justifica maiores preocupações, e as reservas internacionais colombianas equivalem a nove meses de importações, o que a Crédito y Caución descreve como uma “sólida” posição externa.
Dos 15 setores cujo risco de crédito é avaliado pela seguradora, 12 recebem a qualificação de “estável”. Apenas as empresas do setor de eletroeletrônico merecem um sinal de advertência.
O que mais preocupa na Colômbia é a desigualdade social, o desemprego (que chega a 9%) e as infraestruturas, na visão dos autores do relatório.
Peru
A economia peruana é descrita pela Crédito y Caución como “bastante débil” devido à sua dependência à exportação de commodities.
A seguradora espera que o PIB peruano aumente 2,8% em 2016, o que supera grande parte de seus vizinhos, mas fica muito abaixo das taxas de crescimento registradas até 2013.
As empresas de mineração, metalurgia e aço enfrentam perspectivas bastante negativas quanto ao pagamento de suas dívidas, enquanto que as dos setores da agricultura e têxtil também são considerados de risco elevado.
A situação fiscal do país, contudo, é sólida após vários anos de políticas responsáveis adotadas pelo governo, segundo o relatório. Conflitos sociais, a pobreza e a desigualdade são ameaças, porém.
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