Axa cria líder global, mas mercado reage mal
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- Rodrigo Amaral
- 9 de março de 2018
- Sem categoria
Com aquisição do grupo XL por US$ 15,3 bi, francesa visa maior exposição a seguros para empresas e menor a segmentos de vida
A onda de fusões e aquisições no mercado de seguros teve um desdobramento dramático com a anúncio de que a francesa Axa decidiu comprar a XL, baseada em Bermuda.
O presidente da Axa, Thomas Buberl, descreveu a transação como uma “oportunidade estratégica única”. Isso para mudar o perfil da empresa. Assim aumentando sua exposição ao mercado de seguros comerciais, em detrimento das linhas de vida.
A Axa afirma que o novo grupo será a maior seguradora especializada em linhas para empresas de todo o mundo.
Para tanto, aceitou pagar US$ 15,3 bilhões, ou R$ 50 bilhões, pelo grupo XL, uma tradicional seguradora e resseguradora global com forte presença nos Estados Unidos e no mercado de Londres. No Brasil, a combinação das duas companhias criará a sexta maior seguradora de empresas do mercado, de acordo com ranking elaborado por RSB.
Comunicado
A Axa afirmou em um comunicado que seu plano é reduzir sua exposição a linhas de seguros. Os resultados técnicos dessas linhas são mais sensíveis aos humores dos mercados financeiros. O plano agora é focar em áreas como os seguros para empresas. Dessa forma, cuja performance está mais ligada à qualidade da subscrição de riscos.
A estratégia deve ser complementada nos próximos anos com a IPO da unidade de seguros de vida e gestão de ativos da Axa nos Estados Unidos.
A empresa considera que a forte presença da XL no mercado corporativo dos Estados Unidos e em Londres, bem como sua relevância no segmento de grandes riscos, complementa a própria atividade de linhas comercais da Axa. A gigante tem uma presença importante no continente europeu e em linhas dedicadas a pequenas e médias empresas.
“A Axa do futuro verá seu perfil ser rebalanceado. Da mesma forma com foco em riscos do mercado de seguro e distanciando-se dos riscos financeiros”, disse Buberl em um comunicado. “O grupo XL tem a presença geográfica correta. Assim como equipes de primeiro nível com expertise reconhecida e reputação por criar soluções inovadoras para os clientes.”
Onda
Todavia, a aquisição segue uma série de transações similares em um mercado que parece ter retomado o apetite pelas grandes operações de consolidação. Principalmente após um par de anos mais sossegados.
Segundo a consultoria Conning, em 2016 e 2017, a ênfase do setor esteve em operações de menor porte . Elas visaram recalibrar os negócios das empresas com vistas a um futuro incerto.
Porém, as grandes transações que têm o objetivo de incrementar a presença de empresas em mercados com potencial de crescimento parecem estar de volta em 2018.
Por exemplo, em janeiro, a americana AIG já havia comprado o grupo Validus, baseado em Bermuda, por US$ 5,56 bilhões.
No final de fevereiro, foi a vez da Zurich anunciar uma aquisição. A empresa pagou US$ 409 milhões pelas operações na Américas Latina da australiana QBE.
Igualmente, o mercado parece estar disposto a adotar uma estratégia de crescer por meio de aquisições. Uma vez que tanto os resultados técnicos quanto os financeiros estão difíceis de decolar no atual cenário global.
Analistas consideram que outros subscritores baseados em Bermuda, que sofreram bastante com o longo período de preços baixos no mercado não-vida, constituem alvos suculentos para grandes grupos em busca de aquisições.
Reação negativa
Ainda assim, a reação de investidores à compra da XL pela Axa foi negativa. Isso, com a ação da empresa francesa despencando quase 10% logo após o anúncio.
Analistas expressaram dúvidas com respeito ao preço pago pela seguradora francesa, ademais de incertezas sobre as sinergias que serão criadas.
A gestora de ativos Macquarie qualificou o raciocínio por trás da operação como “pouco convincente”. Dessa forma, expressando dúvidas sobre a capacidade da XL de obter os resultados esperados pela Axa nas atuais condições de mercado.
Para chegar aos US$ 1 bilhão de lucros projetados, os analistas da empresa calculam que o índice combinado da XL teria que fechar o ano em 95%.
Mas em 2017, um ano difícil devido ao elevado número de catástrofes naturais, a empresa registrou 106,8%, notou a Macquirie. Mesmo em 2016, mais favorável em termos de perdas catastróficas, o índice combinado foi de 96,9%.
Já a agência de avaliação de crédito S&P observou que a Axa planeja financiar boa parte da aquisição. Isso com recursos levantados pela listagem em bolsa de sua unidade de seguros de vida americana.
Risco de perda
Contudo, caso esta operação seja menos bem-sucedida que o esperado, alertou a agência, os níveis de capital da seguradora francesa poderiam ser significativamente fragilizados.
A S&P também observou que há risco de perda de clientes por parte da XL após a operação. Especialmente no setor de resseguros. Uma vez que seguradoras que são rivais da Axa no mercado primário podem pensar duas vezes antes de continuar trabalhando com a empresa.
Mas a S&P concorda com a visão de que a aquisição tem valor estratégico para a Axa. Isso devido à presença da XL no mercado de grandes riscos. Da mesma forma levando em conta a complementaridade e potencial de ganhos de sinergia entre as duas empresas no mercado seguros comerciais não-vida.
A empresa francesa vai fundir sua unidade de seguros comerciais, Axa CS, à XL. Assim, formando uma operação com mais de US$ 15 bilhões em prêmios, dos quais um terço é formado por prêmios de resseguros.
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