Austral estima mais que dobrar resultados fora do país
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- Oscar Röcker Netto
- 28 de agosto de 2015
- Sem categoria
CEO Bruno Freire diz que receitas externas devem passar de 8% para 20% do total nos próximos três anos. Para ele, governo precisaria deixar mais claro o que quer para o resseguro local.
Quarta maior resseguradora local do país, a Austral pretende nos próximos anos ampliar seus negócios fora do Brasil.
De acordo com Bruno Freire, CEO da companhia, nos próximos três anos as receitas vindas de fora devem chegar a 20% do total da empresa — hoje, elas somam 8%.
A ampliação para o mercado externo é vista por especialistas como um caminho de crescimento para as empresas locais, a fim de ampliar o relativamente pequeno mercado brasileiro de resseguro.
“Estamos crescendo de forma orgânica no Brasil e também ampliando as operações fora”, diz Freire.
A Austral segue os passos já adiantados do IRB Brasil Re, maior resseguradora do país. Nos últimos anos, a empresa ampliou sua presença em outros mercados. As receitas externas passaram de 10% para 20% do total. A intenção do IRB Brasil é ganhar posições como player internacional no mercado de resseguros.
No caso da Austral, segundo Freire, a ampliação das fronteiras é necessária por causa da alta competitividade do mercado local. “É difícil crescer muito no país quando a competição é muito grande.”
Ele acredita ainda que tanto o potencial externo como o interno podem melhorar se as clássicas barreiras do Custo Brasil diminuírem. “Na medida em que o peso dos tributos e da burocracia diminuam, a tendência é o crescimento aumentar.”
A Austral fechou 2014 como a quarta maior resseguradora local entre as 16 que atuam no país, sendo responsável por 6% das receitas totais em prêmios do setor, que somaram R$ 9,1 bilhões, de acordo com a consultoria Rating de Seguros.
Neste ano, a companhia vem colhendo resultados positivos, segundo o CEO. O lucro líquido obtido no primeiro semestre equivale ao resultado de todo o ano passado: R$ 19 milhões.
A Austral apostou em setores com competição reduzida para o resseguro, como vida e agronegócio. Aliado a isso, o resultado decorre, segundo Freire, de ganhos de escala e redução de despesas, após o período inicial de maturação da companhia, bem como à política de subscrição.
Resolução 322
Empresa do grupo Vinci Partners, formado por ex-sócios do Banco Pactual, a Austral entrou no mercado em 2011. Hoje ela acumula um patrimônio de R$ 250 milhões e soma aplicações (reservas, caixa etc) de R$ 320 milhões no Brasil.
Todo o investimento inicial da empresa foi feito antes das mudanças de 2010, quando o governo aumentou a proteção ao mercado local, medidas parcialmente revertidas com a Resolução 322, publicada em julho passado.
Até por conta disso, não há mudanças no horizonte planejado pela Austral no Brasil.
Bruno Freire não acredita que as recentes medidas acarretarão em mudança acentuada no mercado de resseguro. “São mudanças graduais e não radicais”, afirma.
Ele defende a abertura do mercado, mas reclama, como vários de seus pares, das mudanças frequentes na legislação. “Apesar de essas modificações não serem tão significativas na dinâmica do mercado, que já está muito competitivo, a gente nunca sabe qual vai ser a próxima”, diz ele. “Pode vir alguma coisa mais radical e aí sim ter uma mudança que inviabilize algum negócio.”
O CEO, no entanto, não acredita em nenhum tipo de “radicalismo” futuro. “Mas o histórico de mudanças existe. O governo deveria ficar mais tempo com as regras e ter maior diálogo real com o mercado”, avalia.
Que mercado queremos?
Para o executivo, seria necessário que o governo fosse mais transparente com os objetivos que quer atingir com a regulação. “O importante é saber o que o país quer com o mercado de resseguro.”
Ele considera que os propósitos desde o fim do monopólio em 2008 na área eram bons e foram alcançados: mercado aberto, mais competitivo, com resguardo às empresas locais. “Hoje o resseguro é muito competitivo no Brasil.”
Mas reforça que eventuais mudanças na legislação sejam acompanhadas de mais clareza sobre os objetivos de longo prazo. “Tem de ter uma discussão mais ampla e deixar isso mais claro”, afirma.
Futuro
Estabilidade de regras e clareza de objetivos abrem espaço para uma série de outros pontos que Freire considera importantes para o mercado operar de forma cada vez mais aberta.
A burocracia nacional e a questão tributária são duas das mais relevantes. A soma de Imposto de Renda e contribuição social no Brasil chega a 40% para as resseguradoras daqui, enquanto é de zero nas Bermudas, 22% na Inglaterra e 18% na Suíça, exemplifica o executivo.
Segundo ele, pagamento de PIS/Cofins sobre os prêmios é um tipo de imposto que só existe no Brasil. “O ressegurador estabelecido aqui tem uma desvantagem tributária e de burocracia frente aos seus concorrentes internacionais”, diz Freire.
“O mais saudável para o mercado de resseguros local, para as empresas e para a imagem do Brasil como país aberto é que haja maior flexibilidade do mercado, reduzindo as restrições ao longo do tempo, mas fazendo isso de forma combinada com um política tributária e de legislação que deixe as locais mais competitivas”, diz.
Aberto
Freire lembra que no mercado financeiro como um todo o resseguro é o setor mais aberto. “O próprio setor de seguro e os bancos são 100% protegidos. As empresas têm de atuar aqui”, afirma. “O resseguro é o único que está competindo aqui dentro e lá fora com os players internacionais.”
“Então é preciso discutir se se quer deixar o ressegurador local mais competitivo, se o Brasil quer um mercado de resseguro local, que era uma boa ideia de 2008”, diz ele.
Reforma tributária no Brasil é um tema sempre urgente e nunca enfrentado. Apesar da importância, Freire considera que o ambiente político de crise dificilmente abrirá espaço para este tipo de mudança. “Mas que faz todo sentido, faz.”
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