Ataques em Paris mostram risco de terrorismo em alta
- 1388 Visualizações
- Rodrigo Amaral
- 16 de novembro de 2015
- Sem categoria
Empresas com unidades no exterior devem estar conscientes da ameaça, que pode se intensificar com retaliação a atentados que mataram 129 na França
Os ataques do fim de semana em Paris mostram as mudanças por que vem passando o risco de terrorismo, o qual já não pode ser ignorado por empresas que possuem presença internacional.
A escolha da capital francesa como alvo dos ataques que mataram pelo menos 129 pessoas e feriram mais de 300 não é uma surpresa devido à ativa participação da França no combate ao Estado Islâmico, agrupamento que assumiu a autoria dos atentados.
Mas a eleição dos alvos revelou um nível de arbitrariedade que destoa de estratégias mais tradicionais utilizadas por grupos terroristas.
Os bares e restaurantes visados pelos terroristas não possuem um caráter simbólico relevante como a revista Charlie Hebdo e o comércio judaico que que foram alvos em janeiro deste ano também em Paris, ou as Torres Gêmeas do World Trade Center, atacadas em 2001.
Tampouco são estruturas capazes de causar um caos generalizado como os trens de subúrbio visados em Madrid em 2004 e o sistema de metrô de Londres, atacado em 2005.
Analistas observam que o Estado Islâmico procura deixar claro, através da matança indiscriminada de grandes quantidades de pessoas, que ninguém está a salvo de suas ações, e assim fomentar a rejeição, pela opinião pública, a campanhas contra o grupo.
Ao mesmo tempo, utiliza uma sofisticada estrutura propagandística para atrair novos militantes e possui notável capacidade técnica, como revelado pelo padrão dos explosivos usados pelos militantes suicidas no fim de semana, e significativo músculo financeiro.
Por isso, com a inevitável reação a ser desenvolvida pela França e seus aliados contra o grupo no norte da África e no Oriente Médio, é bem provável que os ataques aconteçam com maior frequência no futuro próximo.
“Com o mesmo modus operandi ou não, é de se esperar que haja novos atentados”, disse ao jornal Les Echos o ex-juiz Marc Trévidic, um especialista em terrorismo islâmico na França.
Destinos de risco
As empresas que possuem unidades em países onde o risco de terrorismo é elevado devem portanto estar atentas para os possíveis efeitos de ataques terroristas sobre seus negócios.
Os alvos mais óbvios são os países do Oriente Médio e Norte da África onde o Estado Islâmico e outros grupos fundamentalistas estão envolvidos em conflitos armados de longa duração, como a Síria, a Líbia e o Iraque, ou que os abrigam, como o Líbano. Na semana passada, 44 pessoas morreram em um ataque a bomba em Beirute também atribuído ao grupo.
Países ocidentais engajados diretamente na luta contra o Estado Islâmico, como a França, tendem a ser visados pelas ações do grupo. Prova disso é que o Estado Islâmico também clamou responsabilidade pela queda de um avião russo no começo de novembro, depois que a Rússia intensificou seus bombardeios contra o grupo na Síria.
Os Estados Unidos, o Reino Unido e a Turquia são outros exemplos de países que estão em campanha contra o Estado Islâmico. Outros, como a Espanha, que possui regiões que são considerados partes do mundo islâmico por grupos radicais, também constituem alvos em potencial. O mesmo vale para nações com grandes populações muçulmanas em estado de conflito com outros grupos religiosos, como a Indonésia, a Índia e, uma vez mais, a Rússia.
Eventos esportivos apresentam atrativas oportunidades de exposição para os grupos terroristas, como refletido pela escolha do estádio de futebol de Saint-Denis como um dos alvos dos ataques do fim de semana. Motivo porque o risco de ataques contra as Olimpíadas de 2016 no Rio Janeiro é visto como real por muitos especialistas.
Efeitos nas empresas
Os ataques terroristas também podem afetar os negócios das empresas tanto direta quanto indiretamente.
Em um guia sobre o tema, a resseguradora Catlin (agora parte da XL) explica que a gestão do risco de terrorismo implica uma série de aspectos, a saber:
– a identificação de fontes potenciais de ações terroristas;
– identificação dos riscos de ataques e suas consequências;
– definição da exposição de empregados, clientes e visitantes à estrutura física da empresa;
– estimativa do potencial de danos físicos e de contaminação resultantes de um ataque;
– temas relacionados à responsabilidade social corporativa.
Já a atividade de uma empresa pode ser afetadas através de:
– danos direto a seus bens e propriedades;
– danos colaterais resultantes de atos ocorridos em propriedades vizinhas;
– interrupção do acesso à empresa;
– interrupção de faturamento;
– transtorno às cadeias de suprimento;
– risco reputacional;
– fragilização do balanço da empresa.
Companhias que trabalham em setores como a energia, transportes, finanças e outras infraestruturas críticas são consideradas como mais expostas ao risco de terrorismo. Mas negócios capazes de simplesmente atrair uma grande quantidade de pessoas, como bares, restaurantes e casas noturnas, também apresentam risco.
Dependendo da sua exposição, a empresa deve tomar medidas como a garantia de continuidade de negócio em caso de ataque (a si mesma ou a parceiros-chave), a elaboração de planos de contingência para a evacuação de pessoal, a criação de uma estratégia de mídia para a eventualidade de um ataque e a implementação de sistemas de segurança para controlar o acesso de visitantes às premissas da empresa.
A reação aos atos do Estado Islâmico também podem ter efeitos mais corriqueiros, mas ainda assim reais, para as empresas que possuem negócios no exterior.
Por exemplo, os controles de entrada e de saída nas fronteiras, assim como de embarques em aviões, tendem a ficar cada vez mais estritos. Documentação em ordem e paciência se tornam mais fundamentais do que nunca para uma bem-sucedida viagem de negócios.
Seguros
Em muitos casos, também se pode recorrer ao mercado de seguros para transferir parte do risco. A capacidade alocada ao segmento está crescendo nos últimos anos, com as tarifas baixando como resultado, de acordo com corretores, apesar de uma frequência significativa de ataques.
Mas não é em todos os países que apólices específicas de seguro contra terrorismo se fazem necessárias. Mercados como a Espanha, o Reino Unido e a própria França possuem sistemas de mutualização do risco, nos quais um fundo manejado pelo Estado assume a responsabilidade pelas indenizações. Os fundos são geralmente custeados por uma taxa obrigatória agregada aos prêmios de seguro de bens e propriedades.
Após os ataques de 11 de setembro de 2001, os Estados Unidos também criaram um programa de seguro de terrorismo, conhecido como TRIP, que tem sido constantemente renovado pelo Congresso do país. O atual prazo de validade do programa é 2020.
- Brasil 97
- Compliance 66
- Gestão de Risco 200
- Legislação 17
- Mercado 247
- Mundo 102
- Opinião 25
- Resseguro 105
- Riscos emergentes 10
- Seguro 198