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Multis brasileiras ainda ignoram programas globais de seguros

Alfredo Arán, CEO da Mapfre Global Risks
Alfredo Arán, CEO da Mapfre Global Risks (Foto: Divulgação)

O número de empresas multinacionais brasileiras cresceu 321% entre 2010 e 2014, de 95 para mais de 400. A forte internacionalização do período não foi acompanhada na mesma proporção pela implementação de programas internacionais de seguros, segundo especialistas reunidos no XI Seminário Internacional de Gerência de Riscos promovido pela ABGR, a associação do setor.

Este gap gera riscos para as empresas, além de oportunidades e desafios para os gestores, avaliaram. “Algumas grandes multilatinas têm programas muito bons, mas empresas emergentes têm um campo importante para desenvolver – e aproveitar assim os ganhos de escala da internacionalização”, disse Alejandro Solorzano, da corretora Marsh.

Vanderlei Pires Moreira
Vanderlei Pires Moreira, vice-presidente da ABGR (Foto: Divulgação)

Segundo ele, um programa global bem estruturado pode resultar em economia de custos com seguro da ordem de 20%, podendo chegar em alguns casos a 40%.

Além do custo extra, a empresa pode ter de enfrentar sinistros que eventualmente não tenham sido bem monitorados no país onde foi atuar.

Por outro lado, os especialistas afirmaram que já existem programas globais cujas apólices master estão baseadas no Brasil, um desenvolvimento que pode facilitar a gestão de tais programas pelas empresas multinacionais sediadas no país.

Esforço

A tarefa de montar um programa internacional de seguros pede um esforço considerável. “Não é nada fácil, é duro. Existem muitas barreiras”, disse Vanderlei Moreira, gerente global de seguros da Weg, empresa catarinense de produtos de automação com fábricas em 13 países, cujo programa internacional começou a ser desenvolvido em 2010.

Se a atuação no país de origem soma uma série de obrigações que devem ser cumpridas, o programa internacional as multiplica de forma exponencial, fator agravado pelo fato de que cada país tem suas várias particularidades – cada um com suas regras, impostos e cultura que pedem um trabalho bastante complexo.

“Isso tudo representa novas oportunidades para o gestor de risco”, disse Caio Petroucic, da corretora Willis. Oportunidade que tende a exigir mais mão de obra: “As questões locais já ocupam todo o tempo do gestor atualmente.”

Desafios

A partir da decisão de montar um programa internacional surge para a empresa uma série de desafios aos quais é preciso estar atento, diz Petroucic.

Ele elenca os principais: a escala da operação cresce; há barreiras de idioma e fuso horário; substituição de funcionários atravanca o processo; a terminologia do “segurês” nem sempre bate entre as partes; a cultura corporativa pode “brigar” com as particularidades locais; é preciso metodologia de alocação de prêmios, bem como mapear bem os riscos locais e entender a legislação do país. E ainda há os riscos cibernéticos, que são uma grande ameaça emergente que não se inibe com fronteiras geográficas.

As questões regulatórias fazem parte de um capítulo especial do processo. Segundo Alfredo Arán Iglesias, diretor geral para América Latina e Ibéria da Mapfre, pode haver conflito entre a apólice máster e local, além do que cada país tem seus seguros obrigatórios e tarifas específicas, além das questões relativas a impostos.

Ele também destaca a necessidade de implementar uma boa gestão de sinistros, com protocolo claro e responsabilidades bem atribuídas, caso contrário o processo de internacionalização terá dificuldades extras.

Segundo Arán, uma grande preocupação dos clientes quando começam a montar um programa internacional é o receio de sinistros em cadeia. “Os clientes pode ter 1.500 ou 500 mil riscos”, disse ele. Precisamos saber onde estão esses riscos”, afirmou. “Conhecer bem o mercado [local] é fator chave para o sucesso.”

Para o executivo espanhol, encarar essas dificuldades, no entanto, não é opção, mas obrigação das empresas. “O segurador precisa apresentar as soluções para elas.”

Na Weg, Moreira ressaltou que uma das preocupações foi deixar claro dentro da empresa que o programa internacional é uma atribuição de todos.

Nesse processo é fundamental para o programa dar certo ter uma comunicação muito bem afinada, ressaltou Petroucic, da Willis. “É preciso combinar muito bem o jogo”, disse, lembrando da importância de uma estrutura de acompanhamento das informações entre os países.

Segundo ele, isso inclui protocolos de comunicação, como modelo de atas de reunião, estabelecer a frequência das reuniões, hierarquia de decisão e sistema para acompanhamento das apólices – itens considerados fundamentais num bom programa. “Mas não existe receita única”, afirmou. “Cada cliente vai ter as demandas específicas.

Com a experiência acumulada na Weg, Moreira dá um conselho a quem vai começar seu programa internacional: “Não crie conflitos”.




Cobertura para fusões e aquisições ganha força e chega ao Brasil

Lygia Muriel, diretora da JLT.
Lygia Muriel, diretora de Energia da JLT.

A demanda por seguros para cobrir operações de fusões e aquisições (M&A) está começando a ganhar fôlego no Brasil, de acordo com participantes do XI Seminário Internacional de Gerência de Riscos e Seguros, em São Paulo.

Especialistas que participaram de um painel dedicado ao tema ressaltaram a tranquilidade que coberturas como as chamadas representations & warranties trazem aos participantes de operações de consolidação de mercado, ainda que o seu custo pode parecer elevado para compradores de seguros.

De acordo com Flávio Sá, coordenador de linhas financeiras da seguradora AIG, sua companhia já colocou algumas apólices de seguro para fusões e aquisições no mercado brasileiro, ainda que não tenha havido qualquer sinistro até o momento.

Mas ele espera que a demanda se consolide para um produto que é relativamente novo no mercado internacional, mas que vem ganhando bastante espaço em países como os Estados Unidos e a Austrália nos últimos anos.

O produto

As primeiras apólices de seguro para fusões e aquisições apareceram nos Estados Unidos em 1998, segundo Sá. No Brasil, a AIG oferece as apólices representations & warranties a um custo de entre 3% e 6% do limite assegurado.

A cobertura mínima é de US$ 150 mil, motivo por que Sá afirmou no painel que se trata de um produto direcionado a operações de fusão ou aquisição de empresas de um porte significativo.

Segundo os especialistas, as franquias variam entre 1% e 3% do valor assegurado, o que pode parecer um valor elevado.

Mas Lygia Muriel, diretora de Energia e Fusões e Aquisições da corretora JLT, observou que a experiência internacional mostra que cerca de um terço das apólices apresentam sinistros, o que é uma média considerada elevada.

Sá, por sua vez, disse que as apólices oferecidas pela AIG visam operações de fusão e aquisição com um valor entre US$ 20 milhões e US$ 1 bilhão.

Passivos ocultos

As coberturas para este tipo de transação servem sobretudo para garantir o pagamento de eventuais passivos ocultos que podem ser descobertos pelos participantes após as negociações terem sido finalizadas.

Os passivos ocultos são dívidas que não podem ser estimadas porque a parte vendedora, em boa-fé, não tinha conhecimento de que eles surgiriam.

Os riscos que com maior frequência produzem este tipo de passivo são os temas ambientais, tributários e trabalhistas, segundo Muriel.

“O comprador não quer ter uma surpresa”, disse ela no evento. Na grande maioria dos casos, é a empresa ou fundo que está comprando a outra empresa quem adquire a cobertura de seguro. Mas há casos em que a parte vendedora decide adquiri-la para garantir a conclusão do negócio, mesmo que surjam imprevistos.

“O passivo oculto pode acabar sendo até maior que o valor do negócio”, afirmou Muriel.

Durante as negociações entre os participantes de um processo de aquisição, a parte compradora costuma exigir que o vendedor prepare algum tipo de garantia financeira para o caso de que despesas desconhecidas apareçam no futuro.

As garantias ficam disponíveis para o comprador durante períodos de cerca de cinco anos, e sua liberação, quando necessária, pode gerar litígios que atrasam a transação.

Com a cobertura de seguro, a responsabilidade de cobrir tais eventualidades recai sobre uma seguradora de primeiro nível, liberando da necessidade de alocar fundos para a garantia financeira. “A apólice se torna uma vantagem competitiva”, disse

Por esse motivo, as coberturas do tipo representations & warranties são sobretudo um instrumento de engenharia financeira, privilegiada por exemplo por fundos de private equity que buscam entrar e sair do capital de empresas de forma dinâmica e sem deixar temas pendentes.

Mercado dinâmico

Muriel acredita que, apesar da crise econômica, operações de fusão e aquisição continuarão acontecendo no Brasil no futuro próximo.

Ela disse que nos últimos meses tem havido uma média mensal de 800 transações por mês, e que o volume deve continuar no mesmo nível, ainda que as operações estejam se tornando mais complexas devido aos efeitos da crise.

A desvalorização do real, segundo Muriel, tornou o Brasil um mercado atraente para este tipo de operação, ainda que haja alguma insegurança com a situação de crise no país.

“Os fundos de investimento americano estão interessados no Brasil”, disse ela. Áreas como tecnologia de informação, setor financeiro e varejo estão as principais áreas acompanhadas pelos investidores.

Além disso, investidores de outras partes do mundo, como a Espanha e países asiáticos estão de olho no mercado de infraestrutura, afirmou a executiva da JLT.

“Eles estão interessados em oportunidades ligadas aos ativos de empreiteiras, mandados etc.”, disse Muriel.




Para advogado, consolidação do seguro vai brecar amadorismo

Antonio Mendonça, advogado especialista.
Antonio Mendonça, advogado especialista.

A onda de fusões e aquisições que está tendo lugar no mercado segurador forçará a profissionalização do setor, segundo um dos principais advogados de seguros no país.

Antonio Penteado Mendonça, que é assessor jurídico da Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR) também afirmou que as seguradoras deverão ter mais  foco em seus produtos e serviços, além de desenvolver tecnologias para prestar serviços de melhor qualidade a seus clientes.

“Nós vamos parar de ter amadorismo, de ter bobagens simplesmente comerciais”, disse ele.

Em painel sobre fusões e aquisições durante o XI Seminário Internacional de Riscos e Seguros, em São Paulo, Mendonça afirmou ainda que serão criadas condições para o lançamento de novos produtos de seguros trazidos dos mercados internacionais com o apoio das resseguradoras.

Para ele, más práticas que hoje persistem no mercado, como a imitação de estratégias comerciais adotadas pelas maiores empresas do mercado e a cópia de apólices utilizadas por outras companhias, tendem a desaparecer na medida em que um maior profissionalismo se implantar no setor.

“Mesmo as companhias estrangeiras, ainda que estejam focadas em segmentos específicos, vão ter que buscar uma maior especialização, pois haverá uma maior concorrência entre elas”, disse o advogado.

“Não vai adiantar, como ainda acontece hoje, para uma companhia pegar o questionário de outra, e depois, quando há o sinistro, argumentar que o cliente cometeu fraude. Fraudou como, se a empresa usou um questionário que não perguntava isso?”

Resseguros

A consolidação do setor de seguros também fará com que as resseguradores apliquem um pente mais fino nos riscos que assumem, de acordo com o advogado.

“Elas vão criar parcerias que hoje não existem entre elas e suas resseguradas no Brasil. Elas passarão a trazer produtos mais modernos, mais conectados com o que acontece no mundo”, afirmou.

“Elas passarão a fornecer às empresas brasileiras tecnologia que as ajudarão a oferecer produtos que atendam as necessidades da sociedade, como coberturas para o problema das mudanças climáticas, que causam sinistros gigantescos.”

Com o tempo, ressaltou Mendonça, as seguradoras terão menos desculpas para não oferecer coberturas para os riscos enfrentados pelos compradores brasileiros.

“Queremos que as seguradoras sejam rentáveis, mas que consigam lucro atendendo a demanda, e não dizendo que não aceita um risco, e comprando títulos do governo federal sem assumir riscos”, disse o advogado.

Ele defendeu que, com as novas condições de mercado que vêm por aí, os subscritores se concentrem novamente no seu negócio principal, o que não está acontecendo hoje em dia.

“Se vocês olharem a média dos balanços das seguradoras brasileiras nos últimos dois anos, vocês verão que o resultado delas é financeiro”, disse Mendonça. “Com raríssimas exceções, tem pouquíssimas seguradoras ganhando dinheiro com seguro no Brasil. Estão todas ganhando dinheiro com aplicações financeiras.”




Corrupção em alta deixa seguro D&O mais caro e rigoroso

O estouro dos casos de empresas envolvidas com corrupção, dos quais a operação Lava Jato é o mais emblemático e atual, fez aumentar a sinistralidade do seguro D&O (Directors and Officers) e alterou o perfil do produto, voltado para proteção dos executivos das empresas.

Segundo especialistas reunidos em painel sobre o seguro e a aplicabilidade da Lei Anticorrupção no XI Seminário Internacional de Gestão de Riscos e Seguros, em São Paulo, o seguro ficou mais caro para algumas empresas, a subscrição está mais rigorosa e mudaram os limites das coberturas.

Além disso, as seguradoras começaram a aplicar mais exclusões e franquias mais elevadas, aumentou o foco sobre o compliance dos tomadores, e estão surgindo algumas novidades na gestão do produto.

O maior impacto para os compradores do seguro recai sobre empresas estatais e aquelas que têm relações com estatais, além das empresas com histórico de sinistros.

Nesse processo, o subscritor de D&O ganhou mais preponderância e responsabilidade, e as seguradoras estão cobrando muito mais informações do tomador do seguro.

“Estão perguntando mais e precificando de forma diferente”, disse Celso Soares Júnior, responsável pelas linhas financeiras da seguradora Zurich.

Medidas de proteção

Soares diz que se busca conhecer de maneira detalhada como está estruturado o programa na empresa, como funciona o canal de denúncias, se há política anticorrupção, se há treinamento nessa área para os funcionários, entre outras coisas. “Percebemos que muitas empresas falham nesses itens”, disse ele.

“Acredito quer a subscrição vai ficar muito mais personalizada”, completou Álvaro Igrejas, diretor de grandes riscos da corretora Willis.

De acordo com Igrejas, a expectativa é que a fase atual do D&O irá desembocar num maior envolvimento da alta direção das empresas nos assuntos de compliance e gestão de riscos. Além disso, a tendência é que os procedimentos internos passem a ser melhores, com análise periódica e avaliação de riscos, canais de denúncias e controles internos.

A advogada Márcia Cicarelli, do escritório Demarest, lembrou que o D&O é uma importante ferramenta de proteção dos executivos, mas não é a única. “O seguro é complementar”, afirmou.

De acordo com ela, outras formas de proteger a empresa e o board, evitando práticas nebulosas, é limitar o poder dos executivos, produzir atas claras do conselho de administração e utilizar as confort letters (mecanismo pelo qual a empresa assume responsabilidade de seus executivos, desde que eles ajam de acordo com a legislação e as regras da companhia).

Ela lembrou que programas efetivos de compliance têm potencial de reduzir em até 50% os casos de corrupção numa companhia. E deu números para o tamanho do problema no Brasil.

Citando como fonte reportagem do Valor Econômico, lembrou que a corrupção consome 2,3% (ou cerca de R$ 95 bilhões) do PIB brasileiro e que 15% dos executivos do país se disseram dispostos a pagar propina para viabilizar algum negócio.

Sinistros

A sinistralidade no seguro D&O passou de 32,30% em 2013 para 53,50% em 2014, com prêmios na ordem de R$ 230 milhões e R$ 227 milhões. Este ano,  caiu (até outubro), para 36%, mesmo com os vários casos decorrentes das ações do Ministério Público.

O motivo, no entanto, é técnico.  Igrejas explica que os sinistros foram retirados das reservas das seguradoras porque nos processos que ainda estão em andamento.

As seguradoras também estão trabalhando com versões diferentes para as cláusulas de exclusão, disse Soares.

Entraram no circuito itens como exclusão absoluta, pagamento de custos com defesa só depois de a ação judicial ter sido finalizada, além de sublimites para cobertura dos custos. “A inversão de pagamento está supercomum hoje”, disse Soares.

Novidades

Também surgiram algumas novidades no mercado, como a possibilidade real de o Brasil vir a ter a chamada delação remunerada.

Trata-se de um instrumento comum nos Estados Unidos, pelo qual quem denúncia uma irregularidade pode receber 2% do que a empresas deixou de ter de prejuízo.

“Acho que logo vai ter no Brasil”, disse Álvaro Igrejas, diretor de riscos corporativos da corretora Willis.

Outra novidade são estudos especiais para empresas que passam por recuperação judicial, desdobramento da Lava Jato.




Para ONU, seguro deve ser agente de mudança ambiental

Com 50% dos prêmios globais de seguros vindos de países com exposição a perda de biodiversidade acima da média e quase 40% provenientes de países com níveis de emissão de gases do efeito estufa igualmente acima da média, segundo uma pesquisa da Swiss Re, a indústria de seguros pode se considerar um agente de peso para iniciativas “verdes”.

Mas o que as empresas podem fazer para participar mais ativamente das soluções para esses problemas? “Há grandes desafios para o setor de seguros, que pode ser um canal de mudanças, gerenciando melhor essas questões”, afirma Butch Bacani, especialista em sustentabilidade do setor financeiro do PNUMA, o Programada das Nações Unidas para o Meio-Ambiente. “Isso requer um foco mais forte do setor.”

Bacani lidera o programa de seguros e investimentos do UNEP FI, uma parceria público-privada entre o PNUMA (cuja sigla em inglês é UNEP) e o setor financeiro global.

A preocupação expressa pelo executivo do PNUMA vem sendo tocada desde 2012 por meio dos Princípios para Iniciativas de Sustentabilidade em Seguros, mais conhecidos pela sigla inglesa PSI, uma parceria criada durante a conferência Rio+20.

Segundo Bacani, que esteve em São Paulo no mês de setembro, o Brasil está bem representado no PSI, sendo o país com maior número de empresas signatárias (nove, além da CNSeg, a confederação nacional de seguros). No mundo todo, o projeto reúne 85 signatários.

Essa rede pode vitaminar os resultados do programa, acredita o executivo do PNUMA. Mas as ações ainda estão abertas ao desenvolvimento. “Podemos ter iniciativas colaborativas, como o PSI, ou investimentos responsáveis: seguradoras e investidores se reúnem para lidar com essas questões”, afirmou ele. “Uma das premissas por trás do PSI é de que uma empresa sozinha não pode mudar tudo. Isso requer uma ação sistêmica e mais forte.”

Bacani, no entanto, elogia o esforço brasileiro em promover ações efetivas. “Em apenas alguns anos, o Brasil tornou-se um exemplo brilhante de compromisso, implementação e colaboração com o PSI. O país mostrou como um mercado de seguros pode abraçar os princípios e transformá-los em prática.”

Enquanto o tipo de ação conjunta vai sendo desenhada, pipocam iniciativas individuais — até porque o conceito de sustentabilidade não é novo, e as empresas vêm sendo pressionadas a trabalhar com ele há anos.

Iniciativas
Bacani elencou, entre outros exemplos, que a AXA promete triplicar seus investimentos verdes nos próximos anos; o BB Mapfre criou sua Academia de Sustentabilidade; a Sul América, seu Comitê de Sustentabilidade; a Munich Re desenvolveu uma ferramenta especial de subscrição de riscos ambientais; a Swiss Re criou um sistema para gerenciamento de riscos ambientais e tomada de decisões sobre financiamentos; a resseguradora Terra Brasis desenvolveu um mapa de riscos climáticos no Brasil.

A pesquisa da Swiss Re foi feita para verificar até que ponto indústria de seguros está envolvida e engajada nos riscos de ambientais, sociais e de governança (ASG). A conclusão, diz Bacani, é de que a mudança climática é provavelmente o tópico relacionado à sustentabilidade mais importante para a indústria de seguros global.

“Existe um elo crescente entre o crescimento de negócios de seguro em todo o mundo e a perda da biodiversidade, violação de direitos humanos e corrupção”, afirmou ele.

Segundo Christiana Figueres, secretária executiva da Convenção de Painéis das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, “o setor segurador é um dos maiores investidores do mundo e, por meio de suas políticas de investimentos, está liderando o movimento para uma mudará na economia baseada em combustíveis fósseis para uma baseada em energias renováveis e de baixo carbono”.

O foco das discussões sobre o papel do setor como indutor de desenvolvimento sustentável passa por três pontos: investimentos e gerenciamento de riscos físicos e financeiros. Dessa forma, o setor pode influenciar a alocação de recursos na área, além de oferecer produtos que atendam às demandas de riscos ambientais, sociais e de governança.

No Brasil, o Comitê de Sustentabilidade da CNSeg trabalha para que as práticas nessa área sejam incorporadas às estratégias das empresas.




Seguro contra risco de reputação é limitado e difícil de encontrar

O escândalo envolvendo a fraude nos testes de emissão de gases por parte da Volkswagen deixou clara a seriedade do risco de reputação. O que nem todo mundo sabe, porém, é que é possível transferir parte desse risco para o mercado de seguros.

Possível, mas não fácil. As apólices de seguro reputacional são oferecidas no mercado internacional, mas são poucas as seguradoras que trabalham com o produto.

Uma delas é a Munich Re, que oferece cobertura disponível na Europa e nos Estados Unidos, mas a empresa afirmou à Risco Seguro Brasil que também pode avaliar a possibilidade de negociar com clientes baseados em outras partes do mundo.

Já a Allianz Global Corporate and Specialty (AGCS) afirmou que no momento só negocia a cobertura na Europa. No Brasil, uma seguradora e uma corretora afirmaram à reportagem que a cobertura não está disponível no país.

Os compradores de seguro corporativo não fariam mal, portanto, em pressionar para que produtos capazes de lhes dar um nível de proteção contra este grave risco emergente sejam oferecidos no mercado nacional.

Tome-se o caso da Volkswagen. Segundo a consultoria de imagem Brand Finance, desde o anúncio da EPA, a agência ambiental americana, de que a empresa trapaceou nos testes de emissão, a marca da montadora alemã perdeu US$ 10 bilhões em valor de mercado. Antes do escândalo, a consultoria havia avaliado a marca em US$ 31 bilhões.

São valores nada desprezíveis mesmo para uma das maiores empresas automobilísticas do planeta. Desgastes reputacionais tampouco são uma exclusividade dos países desenvolvidos, como podem atestar as empresas citadas nas investigações da Operação Lava Jato no Brasil.

Com a difusão das mídias sociais, o risco tem se agravado com velocidade, e costuma aparecer entre as principais ameaças enfrentadas pelas empresas em pesquisas realizadas por seguradoras e corretoras. Não por acaso, há quem acredite num grande aumento da demanda pelo seguro de risco reputacional.

A corretora londrina Reputation Risk Solutions, que é especializada no setor, espera que o volume de prêmios e tarifas ligadas ao seguro de risco reputacional atinjam £ 1 bilhão até 2019 apenas no Reino Unido.

Escassez
Para chegar lá, porém, o mercado ainda precisa desenvolver o produto e ampliar a sua oferta.

De acordo com a Airmic, a associação de gestão de riscos da Grã-Bretanha, apenas 3% de seus associados já possuem coberturas de risco reputacional. O interesse existe, segundo a associação, mas a maior dificuldade encontrada pelos potenciais compradores é definir e avaliar os riscos a que suas reputações estão expostas.

Já um estudo publicado em setembro nos Estados Unidos encontrou apenas seis produtos no mercado que oferecem coberturas contra o risco reputacional.

Segundo Johan Schmitt, professora de Gestão de Riscos e Seguros na Wisconsin School of Business, uma das autoras do estudo, as apólices oferecidos possuem limitações que podem estar brecando o interesse de potenciais compradores.

“Há um grande volume de interesse pelo seguro de risco de reputação porque os líderes das empresas estão vendo histórias que danificam [as marcas] se espalhar como o fogo nas mídias sociais, e como os clientes querem fazer negócios com empresas socialmente responsáveis”, disse Schmitt em uma nota divulgada junto com o estudo.

“No entanto, o caráter nebuloso do que constitui uma perda direta resultante do dano de reputação tem levado à criação de apólices que têm um alcance limitado e um custo alto, o que está reprimindo a demanda.”

Cobertura
Como observam Schmitt e suas colegas no estudo em questão, o risco reputacional, por ser intangível, tem uma quantificação muito difícil de ser feita.

Valores citados pela Brand Finance e outras consultorias constituem uma avaliação subjetiva, que não necessariamente refletem o efeito total do dano reputacional sobre a performance e o valor de mercado da empresa. Não são utilizáveis, portanto, pelo mercado de seguros para precificar o risco.

Em geral, portanto, o que as coberturas de risco reputacional cobrem são os custos mais concretos, como os gastos de gestão da crise de imagem (campanhas de mídia, cotratação de empresa de relações públicas etc.).

A Munich Re, porém, oferece a possiblidade de cobrir a perda financeira resultante de um dano de reputação.

Neste caso, a apólice é ativada quando, depois que a empresa sofre uma crise de reputação, há uma queda de faturamento significativa e que pode ser ao menos parcialmente atribuída ao evento em questão.

A avaliação da perda financeira é feita por um perito, que vai determinar a parcela da perda total que pode ser ligada à crise reputacional.

O objetivo da cobertura, portanto, é prover uma fonte de liquidez em um momento em que o caixa da empresa passa por um aperto, e em que fontes tradicionais de crédito podem se mostrar relutantes em conceder linhas de financiamento.

“Eventos reputacionais podem se originar em todos os ângulos do negócio, como produção, cadeia de suprimento, marketing, operações, incidentes de risco cibernético, recursos huimanos, o comportamento de pessoas-chave para a organização etc. Todos esses incidentes podem ser assegurados”, disse Ulrike Raible, a subscritora de riscos reputacionais da Munich Re.

Segundo a seguradora, a cobertura pode abranger os negócios do cliente em todos os países que desejar, de acordo com suas necessidades. Já o preço varia de acordo com a avaliação de risco do cliente feito pela seguradora e tem variado entre 1% e 2% ROL (rate on line, ou taxa de faixa), segundo Raible.

A avaliação do risco do cliente inclui fatores como a sua linha de negócio, os limites solicitados, suas práticas de gestão de risco, a cobertura que a mídia normalmente faz da empresa, seu histórico de perdas em riscos reputacionais, e a possibilidade de que o cliente seja afetado por eventos que danifiquem a sua imagem.




Governo americano pede seguro mais amplo para risco cibernético

O órgão supervisor da indústria de seguros dos Estados Unidos encorajou o mercado a coberturas mais amplas para os riscos cibernéticos.

Em seu relatório anual sobre o mercado, o Federal Insurance Office (FIO) afirma que compradores de seguro nos Estados Unidos consideram os limites das apólices oferecidas atualmente pelas seguradoras são “baixos demais”.

O órgão também mencionou a opinião de especialistas segundo os quais os limites, que hoje não passam de algumas centenas de milhões de dólares, devem chegar a até US$ 1 bilhão a fim de cobrir os riscos enfrentados pelas grandes empresas.

O FIO também fez um apelo para que o mercado atue em um espírito de colaboração a fim de apresentar soluções satisfatórias para um dos riscos emergentes que mais preocupam as empresas e o governo norte-americano.

“As seguradoras devem continuar aprimorando seus processos de subscrição para riscos cibernéticos”, afirma o órgão no relatório. Uma das maneiras de chegar a este objetivo, segundo o FIO, é compartilhar informações sobre o segmento. Outra é empregar profissionais da área para participar do processo de subscrição de apólices de risco cibernético.

De acordo com o FIO, estima-se que o mercado de seguros para riscos cibernéticos nos Estados Unidos já chegue a US$ 2,75 bilhões em prêmios e que vai continuar crescendo a passos rápidos no país.

Indústria seguradora
O FIO expressou preocupação especial no relatório com respeito ao risco de que as próprias seguradoras sejam alvos de ataques cibernéticos e especialmente de furto de dados sobre seus clientes.

“A segurança cibernética da indústria seguradora é um tema de interesse nacional”, afirma o órgão supervisor no relatório.

O motivo da preocupação é o fato de que “as seguradoras com frequência coletam e armazenam vastas quantidades de informações pessoais, incluindo sobre saúde, finanças, propriedades e interesses familiares”.

O relatório cita ataques recentes contra seguradoras de saúde americanas, como a Anthem e a Premera Blue Cross, e afirma que as empresas do setor devem estar sujeitas ao mesmo tipo de rigor regulatório que os bancos e outras instituições financeiras, no que diz respeito à prevenção de riscos cibernéticos.

O FIO é subordinado ao Departamento do Tesouro americano, que expressou sua preocupação com os riscos cibernéticos no setor financeiro ao celebrar outubro como o Mês de Conscientização sobre a Segurança Cibernética Nacional.

“Empresas em todo o setor financeiro fizeram progressos significativos para preparar a si e a seus clientes [contra os riscos cibernéticos]”, afirmou a vice-secretária do Tesouro Sarah Bloom Raskin no lançamento da iniciativa.

“Ainda assim, as defesas cibernéticas não estão onde elas deveriam estar. Em nossa economia interconectada, as vulnerabilidades de uma parte do sistema podem colocar as outras partes em perigo.”

Preocupação crescente
A crescente preocupação das autoridades americanas com o tema dos riscos cibernéticos também se reflete na assinatura de um megacontrato entre o Departamento de Segurança Doméstica (DHS, na sigla em inglês) do governo americano uma empresa de defesa para a provisão de serviços de segurança cibernética.

A Raytheon anunciou que foi contratada para desenvolver, implementar e manter sistemas, além de identificar e mitigar ameaças ao domínio .gov, que é utilizado pelo governo americano.

Segundo a empresa, o valor do contrato pode chegar a US$ 1 bilhão.

“As ameaças cibernéticas são cada vez mais sérias e difundidas”, disse Dave Wajsgras, presidente da Raytheon Intelligence, Information and Services, unidade da empresa resposável pelo serviço.

“As instituições do governo e do setor privado necessitam a melhor proteção possível.”




Susep anuncia seguro garantia mais amplo para infraestrutura

Roberto Westenberger, superintendente da Susep.
Roberto Westenberger, superintendente da Susep.

A Susep (Superintendência de Seguros Privados) está preparando um pacote de modernização que deve ser enviado ao Ministério da Fazenda e entrar em vigor no início do ano que vem, disse o superintendente da entidade, Roberto Westenberger, em São Paulo.

Ele também afirmou que, ainda em 2016, devem ser introduzidos novos produtos no mercado segurador. Entre eles, um seguro garantia para obras de infraestrutura com limites maiores do que os existentes hoje.

“Queremos assegurar que o seguro [garantia] cubra realmente o término da obra”, disse Westenberger, que participou do 7º Conseguro, realizado entre 15 e 17 de setembro em São Paulo.

Ele também disse que, quando assumiu o cargo, no ano passado, deparou-se com a falta de preparo de alguns membros dos conselhos de direção das seguradoras supervisadas pela Susep.

“Situações absolutamente preocupantes”, afirmou. “São exceções, mas vemos algumas vezes o despreparo dos conselheiros para tomar decisões.”

Modernização
O objetivo do que o superintendente chama de “Nova Susep” é garantir melhorias na eficiência do órgão regulador, que vem passando por mudanças desde que ele assumiu o comando do órgão, em março de 2014.

Entre as medidas de modernização está a criação da Diretoria de Condutas de Mercado, que terá duas atribuições principais. A primeira será reforçar o papel da Susep no que diz respeito à compra de seguros por parte dos consumidores. A segunda será fazer uma análise macro dos produtos que são oferecidos pelo mercado e, principalmente, dos movimentos concorrenciais.

Além de buscar mais eficiência, os pilares das mudanças são garantir a independência administrativa e a estabilidade financeira do órgão.

Segundo Westenberger, que antes de assumir a Susep era sócio da consultoria PwC, a filosofia de trabalho está alinhada com o Ministério da Fazenda.

Ele também vai tentar implementar um mandato fixo para os diretores do órgão e blindar a escolha a profissionais com o adequado conhecimento técnico da área.

“Ainda não temos os parâmetros definidos”, afirmou ele. “Mas não vai ser nada muito diferentes do que se tem em outros órgãos reguladores. Os diretores precisam de estabilidade para poder fazer o seu trabalho.”

Westenberger afirmou ainda que outros novos produtos que vem ser introduzidos no ano que vem incluem um novo seguro de vida, um de VGBL/Saúde (cuja tramitação já passou pelo Congresso) e um seguro para empresas de recondicionamento de peças (setor que já passou pelo pré-requisito de ser regulamentado).

Princípios da regulação
O superintendente explicou que a base da regulação aplicada pela Susep é a “supervisão baseada em riscos”, modelo alinhado ao da norma Solvência II que será implementada na União Europeia a partir do ano que vem.

Este modelo não se limita à avaliação quantitativa dos dados, cujas limitações ficaram claras, segundo ele, na crise de 2008, quando uma das maiores seguradoras do planeta foi à bancarrota.

“A boa ou má situação de uma seguradora é mensurada na sua administração”, afirmou. “A supervisão baseada em riscos foca no quão bem ou quão mal, mais preparada ou menos preparada, está a administração da seguradora para cuidar de sua matéria-prima, que são os riscos.”

Nesse processo, avaliam-se os controles internos, a governança, os processos administrativos, a gestão de risco, o nível de preparação de seus conselhos de administração, entre outros itens.

Tudo isso está alinhado ao modelo Solvência II. Westenberger lembrou que o Brasil costuma ser colocado como um exemplo de boas práticas em supervisão, ao lado de países como Austrália, Canadá, Japão e México.

“Estamos em companhia de países que praticam os modelos mais avançados de regulação de seguradoras”, afirmou.

O trabalho ora em andamento na Susep inclui a modernização do setor de tecnologia da informação, num trabalho estimado em US$ 1 milhão. A ideia é acabar com processos de papel e dar mais eficiência ao órgão. “O que vamos fazer é nos capacitar melhor para monitorar as companhias”, afirmou.




Yasuda Marítima quer crescer 20% ao ano em grandes riscos

Mario Jorge Pereira, da Yasuda Marítima.
Mario Jorge Pereira, da Yasuda Marítima.

Com quase R$ 3 bilhões em prêmios emitidos líquidos no ano passado e um crescimento de 53% na carteira de seguros corporativos, a Yasuda Marítima planeja um incremento de 20% ao ano em média na carteira de grandes riscos.

Para isso, a companhia unificou e repaginou alguns produtos, criou outros e aposta no desenvolvimento de seguros tailor-made para atender seus clientes corporativos, que atualmente são responsáveis por 30% do faturamento geral da empresa.

“Nossa estratégia para este ano contempla uma série de investimentos em produto, tecnologia e ampliação de abrangência para dar suporte a um crescimento substancial em 2016”, diz o diretor-executivo da seguradora, Mario Jorge Pereira.

Neste pacote, a empresa aposta também no segmento de pequenas e médias empresas, para as quais formatou o Yasuda Marítima Empresarial Simplificado, que é um seguro voltado para as áreas de prestação de serviço, comércio e indústria.

Segundo Pereira, a estratégia de crescimento não descarta a possibilidade fusões ou aquisições a fim de expandir suas carteiras. “A companhia está atenta às oportunidades.”

Desempenho
Num período de economia em recessão, o desempenho da empresa ilustra o potencial do seguro no Brasil. O lucro líquido cresceu 455% no primeiro semestre deste ano em relação ao mesmo período do ano passado, pulando para R$ 28 milhões, enquanto os prêmios chegaram à casa de R$ 1,3 bilhão.

“O cenário econômico tem feito o empresariado brasileiro adotar muita cautela na tomada de decisões. Porém, é fato que, em situações de economia desfavorável, as empresas têm de buscar eficiência na gestão de seus recursos. Uma gestão de risco, com o suporte dos profissionais especializados pode fazer toda a diferença, sobretudo na área de grandes riscos”, avalia Pereira.

“Além disso, o mercado de seguros no Brasil ainda tem potencial para um crescimento substancial nos próximos anos. Tanto é que vem apresentando uma evolução a índices superiores ao do PIB desde 1994. Ainda que apresente um crescimento inferior ao observado em anos anteriores, o setor de seguros vai crescer.”

O executivo lembra ainda que o há alguns anos o setor não representava nem 3% do PIB brasileiro, mas hoje está em 6% (considerando o mercado de seguros como um todo, incluindo saúde suplementar, previdência e capitalização).

Grandes riscos
O principal foco de atuação na área de grandes riscos são riscos nomeados e operacionais, empresarial (segmentos médio e corporativo), riscos de engenharia, responsabilidade civil, garantia e riscos de petróleo, além de transportes.

Para as PMEs, a companhia aposta em diferentes e variadas modalidades, como salões de  beleza, escritórios e consultórios, bares e restaurantes, hotéis e pousadas, padarias, entre outros.

“Dessa forma, podemos atender diferentes segmentos com uma ampla gama de coberturas em uma apólice exclusiva e sob medida para cada perfil”, diz Pereira.




Pacientes bem informados e Justiça aumentam riscos para médicos

Raquel Silveira, executiva de Linhas Financeiras da AON
Raquel Silveira, executiva de Linhas Financeiras da AON

Se as gerações mais antigas conviveram com médicos cuja atuação profissional era considerada acima de qualquer suspeita, a vida para os doutores hoje em dia está bem mais complicada.

Com muito mais acesso à informação, pacientes que não ficaram satisfeitos com a atuação do profissional recorrem cada vez mais à Justiça em busca de reparação.

Os médicos, portanto, estão mais expostos ao risco de processos judiciais, reparação de danos e chamuscadas na imagem profissional, o que tem levado a uma procura maior por seguro de responsabilidade civil para esses profissionais.

Gustavo Galrão, superintendente de Linhas Financeiras da Argo Seguros.
Gustavo Galrão, superintendente de Linhas Financeiras da Argo Seguros.

Na Argo, por exemplo, uma das principais empresas que trabalham com o produto no Brasil, o número de apólices chegou a 7.000 desde que ela entrou neste setor, há três anos e meio — logo depois de começar a atuar no país.

O número representa 58% das 12 mil apólices comercializadas pela empresa na linha RC profissional, que inclui ainda outras sete profissões (dentistas, engenheiros e arquitetos, corretores de imóveis, contabilistas, advogados e corretores de seguros).

Já a corretora AON informa que o a procura é crescente por essas apólices, mas prefere não divulgar números. A empresa trabalha principalmente com outras duas seguradoras, Ace e Unimed, que estão mais atuantes na área, além da Argo.

Carlos Berlfein, subscritor sênior da Argo
Carlos Berlfein, subscritor sênior da Argo Seguros

Risco em alta
Os números da Justiça explicam porque profissionais e unidades médicas buscam proteção. Segundo o site JusBrasil, 43% dos médicos processados judicialmente no país foram considerados culpados, sendo que a maior pena pecuniária individual registrada no Supremo Tribunal Federal chegou a R$ 800 mil.

Gustavo Galrão, superintendente de Linhas Financeiras da Argo, chama atenção para o número reverso. “Os 57% que foram inocentados também precisaram enfrentar os processos”,  lembra ele.

Processos que normalmente não duram menos de dois anos podem se arrastar por um longo período e são mais comuns a cada ano. “Em 2014, tivemos um aumento de quase de 150% de ações contra os médicos, comparado ao ano anterior”, diz Carlos Berlfein, subscritor sênior de Linhas Profissionais da seguradora.

As coberturas na área incluem, além das custas judiciais, honorários advocatícios e perícias, a indenização causada por erro médico (lesão ou falecimento), dano moral e prejuízo financeiro (decorrente de tratamento, remoção etc). Na Argo, a cobertura também permite ao segurado firmar acordo judicial ou extrajudicial com terceiros. Algumas seguradoras oferecem ainda cobertura para homecare e transporte de pacientes.

“Na área médica o clausulado é um pouco mais aberto, as apólices são mais descritivas, mostrando quais são por exemplo os danos corporais cobertos”, diz Raquel Silveira, executiva de Linhas Financeiras da AON.

Ela considera que o aumento no número de processos também é influenciado pelo fato de as insatisfações envolverem fortes questões emocionais, além, claro, de danos concretos causados por erros. “Muitas vezes o médico acaba gastando bastante no processo e no final se vê que o caso realmente foi uma fatalidade, não tinha erro médico.”

Neste sentido, um nicho que tem estimulado um grande volume de ações é o dos cirurgiões plásticos, diz Berlfein. A expectativa de um nariz ou seios novos era um, o resultado foi outro, o caso vai parar com o juiz.

São comuns ainda processos em áreas de alta complexidade médica, como cirurgias neurológicas.

Coberturas
Raquel Silveira explica que a cobertura a ser feita pela apólice leva em conta o potencial de dano que o profissional pode causar e a estrutura de gestão de risco disponível.

Assim, um clínico geral, por exemplo, está exposto a menos riscos do que um colega cirurgião plástico ou neurológico.

As coberturas na AON — que fecha mais negócios com hospitais e clínicas— variam entre R$ 1 milhão e R$ 20 milhões (para pessoa jurídica), com taxas entre 1% e 11% do limite contratado — sendo que a faixa mais alta é aplicada a lugares de altíssima complexidade, diz Silveira.

Na pessoa física, as taxas ficam entre 0,7% e 2%, dependendo se os serviços médicos envolvem procedimentos cirúrgicos ou não. O porcentual mais alto (de 2,2% a  5,6%) recai para os profissionais de obstetrícia e cirurgia plástica. As coberturas flutuam entre R$ 100 mil e R$ 1 milhão.

Na Argo, cujas apólices são feitas principalmente para o profissional pessoa física, as coberturas normalmente variam de R$ 100 mil a R$ 500 mil, sendo que a maior parte fica na casa dos R$ 300 mil.

Berlfein explica que o médico que faz o seguro como pessoa física carrega a proteção para todos os lugares onde ele trabalha — é comum eles trabalharem em mais de um local.

Silveira alerta que um profissional só estará protegido por um seguro feito pela pessoa jurídica em que trabalha se, por exemplo, ele for processado junto com o hospital ou clínica. Caso a ação seja movida exclusivamente contra o profissional, ele precisará de um seguro individual.

Segundo a AON, as apólices excluem cobertura de procedimentos experimentais ou sem regulamentação e atos dolosos. “As apólices cobrem o que é erro mesmo”, diz Silveira.