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Risco marítimo excepcional inclui até mina perdida na II Guerra Mundial

Bombardeios em alto mar, minas submarinas, ataques de piratas e quem sabe até corsários cibernéticos. A lista de riscos cobertos pelo Garex, uma agência de subscrição sediada em Paris, é digna de filme estrelado por um Johnny Depp ensandecido.

Mas o nicho dos riscos de guerra marítimos também enfrenta desafios comuns aos muito mais pacatos setores do seguro e resseguro globais, sobretudo o longo mercado baixista e um aumento da concorrência por parte de atores não-convencionais.

Do ponto de vista dos compradores de seguro, as atividades do Garex ajudam armadores, exportadores e importadores a terem a segurança de que suas cargas podem contar com coberturas contra riscos pouco comuns, mesmo circulando em mares de alta periculosidade.

O mercado de riscos de guerra marítimos protege navios contra danos causados por bombardeios de forças militares estrangeiras, mas também contra ataques de piratas e até mesmo, como um caso recente, encontros acidentais com uma mina explosiva deixada no fundo do mar durante a Segunda Guerra Mundial.

O Garex, sigla em francês para Grupo de Seguros de Riscos Excepcionais, é uma empresa formada por sete seguradores e resseguradores que mutualizam capacidade para prover coberturas de tais riscos, que são comumente excluídos de apólices de seguro marítimo tradicionais.

A empresa celebrou em junho 35 anos de existência com uma cerimônia especial em Paris, coberta pela Risco Seguro Brasil.

Muita capacidade
“Os riscos de guerra marítimos demandam níveis de capacidade bastante substanciais, complementados por sólidos acordos de cosseguro”, disse Patrick de la Morinerie, que presidiu o Garex por duas décadas até meados do ano passado, em uma entrevista durante o evento.

A mutualização dos riscos se justifica porque os eventos cobertos pelas apólices da empresa são pouco comuns, mas tendem a demandar altas indenizações. Há notícias, por exemplo, de perdas de até 20 milhões de libras cobertas por apólices de risco de guerra.

“A ideia da criação do grupo foi de fundir a capacidade de empresas que queriam participar deste mercado. Na época, em 1980, cerca de 20 seguradores aceitaram o desafio de desenvolver este portfólio”, explicou De la Morinerie.

Com o tempo, as empresas fundadores do Garex passaram por várias fusões e aquisições até chegar à sua atual composição. O grupo é tradicionalmente liderado pela francesa Axa Corporate Solutions. Seus outros membros são as seguradoras Allianz Global Corporate & Specialty (Alemanha), Generali (Itália), Helvetia (Suiça), Mapfre Global Risks (Espanha) e Mitsui Sumitomo (Japão), além da resseguradora oficial francesa CCR. A capacidade estimada neste mercado de nicho é de 250 milhões de euros.

Piratas
Não foi só a composição do Garex que mudou nestes 35 anos. A natureza das ameaças também evoluiu consideravelmente no período. A princípio os principais sinistros do Garex envolviam o bombardeio de navios por forças militares. Este risco se tornou menos relevante nos últimos anos, mas que segue ocorrendo em regiões como o litoral da Líbia, onde petroleiros foram atacados nos últimos meses por forças que disputam o controle do país.

Com o tempo, os ataques de piratas tomaram a dianteira na lista de ameaças cobertas pelo grupo, e a própria pirataria mudou bastante nas últimas décadas.

Nos anos 80, ataques de grupos armados contra navios costumavam ter um viés político, como no caso do sequestro do transatlântico Achille Lauro pela Frente de Libertação da Palestina, em 1985. Mas nos anos 1990 e 2000, os piratas que mais alertam os armadores globais são grupos puramente movidos pelo lucro que atuam em áreas como o chifre da África e o Golfo da Guiné, no oeste africano. Tais grupos sequestram navios e pedem resgates a seus donos, ou roubam a mercadoria transportada pelas embarcações.

Ciberataques
Agora o mercado se prepara para a possibilidade de ter de cobrir ataques de piratas realizados pela internet contra navios em alto mar ou quando estão ancorados.

“Nós podemos imaginar grupos de hackers criptografando informação que é essencial para que um navio navegue”, disse o presidente do Garex, Mathieu Daubin. “Eles podem então pedir um elevado resgate para prover uma chave que desbloquearia o sistema. É um tipo de pirataria que estamos vendo com cada vez mais frequência em setores industriais e que ainda não chegou à indústria marítima. Mas é uma questão de tempo.”

Por esse motivo, já há discussões no setor para decidir se tais ataques entrariam no escopo dos riscos cobertos por empresas como o Garex. “Como o mercado vai reagir a este tipo de risco?”, indaga Daubin. “As empresas armadoras vão reter este risco, ou vão transferi-lo ao mercado de seguros? Hoje, os riscos cibernéticos são excluídos de todas as apólices de seguro marítimo. Mas podemos ver o mercado evoluindo de forma que acabe indenizando as perdas ligadas a formas modernas de pirataria.”

Qualquer risco
Hoje, segundo Daubin, o Garex cobre qualquer tipo de risco de guerra marítimo, não importa a região do mundo onde ele se localize.

O que muda, porém, são os preços e condições dos contratos. As áreas de risco estão em constante movimento, o que pode acarretar sobrepreço dependendo da rota seguida pela embarcação. Por exemplo, o Mar Negro até recentemente não era considerada uma região de riscos de guerras marítimos. Mas, com os conflitos na Ucrânia, navegar por aquela região se tornou uma atividade muito mais arriscada, acarretando portanto um prêmio mais elevado.

“Conflitos podem se mover de uma região para outra”, explicou De la Morinerie. “Às vezes, os seguradores precisam acolher riscos em uma determinada região que eles não esperavam. É por isso que, quando os níveis de ameaça aumentam em uma região em particular, os seguradores oferecem a continuidade de suas coberturas de riscos de guerra por sete ou 14 dias. Essas coberturas possibilitam que os navios trafeguem pelas novas regiões de perigo enquanto contam com uma cobertura de risco de guerra.”

Posteriormente, os novos contratos refletirão o nível de risco mais acentuado por meio de prêmios mais elevados.

Em geral, porém, como em outras partes do mercado, os seguradores de risco de guerra marítimos estão encontrando dificuldades para obter preços mais altos de seus clientes. Não ajuda o fato de que o mercado amplo de seguros marítimos é um dos que sofrem maior pressão pelo excesso de capacidade vigente no setor.

“Por muito tempo o mercado tem estado brando”, disse Daubin. “Há um excesso de capacidade em seguros marítimos, os preços estão baixando e os seguradores obtêm poucos lucros. O mesmo fenômeno acontece com os riscos de guerra marítimos. Com o problema adicional de que alguns pacotes de seguros marítimos oferecidos pelo mercado escandinavo estão incluindo prêmios para cobrir riscos de guerra a fim de compensar as baixas tarifas.”




Atrás de receitas novas em ano de crise, governo põe olho no seguro

Leonardo Paixão, presidente do IRB Brasil Re.
Leonardo Paixão, presidente do IRB Brasil Re.

Em ano de ajuste fiscal, dificuldades para cumprir metas nas contas do Tesouro Nacional e retrocesso no crescimento econômico, o governo federal põe o olho em duas empresas de seguro como forma de obter receitas extraordinárias.

Segundo o secretário do Tesouro, Marcelo Saintive, há estudos para sobre abertura do capital da resseguradora IRB Brasil Re (que tem no Banco do Brasil um dos principais acionistas) e da Caixa Seguros (que faz parte da Caixa Econômica Federal).

Ambas medidas podem atrair signficativo interesse de investidores tanto do Brasil quanto do exterior, já que o mercado de seguros e resseguros do Brasil possui grande potencial de crescimento. A bem-sucedida abertura de capital da BB Seguridade pode ajudar a atrair interessados.

Em entrevista concedida em março à mídia britânica, o presidente e CEO do IRB, Leonardo Paixão, disse que a abertura de capital poderia ocorrer até o final de 2015.

Paixão afirmou que cerca de R$ 500 milhões poderiam ser buscados no mercado, seja por meio de uma oferta pública de ações (IPO) ou com a entrada de um parceiro estratégico no capital da empresa.

Potenciais parceiros poderiam incluir desde grupos do setor segurador ou ressegurador internacional até investidores como hedge funds ou fundos de private equity.

De acordo com o jornal Valor Econômico, IRB e Caixa juntos podem movimentar R$ 13 bilhões.

Paixão também disse que o dinheiro levantado ajudaria o IRB Brasil a continuar desenvolvendo sua estratégia de expansão internacional. A empresa já possui um escritório na Argentina e tem participado de operações de resseguro em países da Ásia e a Europa. O IRB Brasil tem ainda uma participação de 8% do capital do ressegurador pan-africano Africa Re.

Amadurecimento

Luigi Giancristofaro, CEO de Resseguros da Willis.
Luigi Giancristofaro, CEO de Resseguros da Willis.

Para o CEO de Resseguros da corretora Willis, Luigi Giancristofaro, a abertura da capital do IRB seria um passo natural de uma empresa que vem passando por transformações importantes desde o fim do monopólio do resseguro, há sete anos.

“Não será um divisor de águas”, afirma Giancristofaro. “Vejo como mais um diferencial importante, do amadurecimento da empresa, que já mudou bastante desde 2008.”

A abertura de capital ajudaria a consolidar o IRB Brasil no país, onde lidera com 49% das receitas obtidas por todas as resseguradoras locais, e também daria fôlego extra para avançar no processo de internacionalização.

Giancristofaro não acredita que haverá mudanças na forma de atuação da empresa por conta da abertura de capital. “O IRB consolidou uma política de governança e uma filosofia de susbscrição de riscos que prevalece sobre todo o resto”, afirma.

Além do BB, a resseguradora tem como controladores Bradesco Seguros, Itaú Seguros e o fundo de participação da Caixa.

Mina BB
O mercado tem um exemplo positivo de abertura de capital de empresa controlada pelo governo.

Em 2013, a BB Seguridade, do Banco do Brasil, fez sua oferta inicial de ações arrecadando R$ 11,4 bilhões, que foram para o caixa do seu controlador.

Na época de pessimismo generalizado no mercado tratou-se da maior oferta pública em todo o mundo naquele ano. A nova seguradora praticamente dobrou o valor de mercado do banco  (de R$ 63 bilhões para R$ 120 bilhões no fim daquele ano).

No primeiro trimestre de 2015, a seguradora obteve um crescimento de 46%, para R$ 949 milhões, no lucro líquido, em relação ao mesmo período de 2014. A percpectiva é fechar o ano com aumento entre 12% e 21%.




Para Swiss Re, seca no Brasil como desafio para o seguro global

A seca está causando danos à economia brasileira – e também representa um sério desafio para o mercado global de seguros, de acordo com a Swiss Re.

Um relatório divulgado pela resseguradora suíça em maio incluiu a seca brasileira em uma lista dos desafios emergentes para o setor devido ao impacto que ela está tendo e na economia e na sociedade do país.

O documento diz que a seca está causando crescimento econômico menor do que o esperado, exigindo o racionamento de água em algumas regiões e aumentando o risco de que empresas sofram ações na Justiça devido a eventos ligados às mudanças climáticas

Além disso, o fenômeno eleva o preço da água e dos alimentos, o que pode gerar mais atritos sociais no Brasil, avalia Swiss Re.

A seca brasileira aparece no relatório como uma ameaça emergente de potencial de impacto médio, o segundo mais elevado. No mesmo patamar estão ameaças como o maior chance de ocorrência de pandemias, a possibilidade de que cidades afundem devido ao aumento do nível dos oceanos e os riscos ligados à engenharia genética.

Estado das coisas
Um nível acima aparecem os principais riscos emergente, segundo o relatório. Eles são a reversão do processo de globalização, as políticas monetárias expansionistas de diversos países, os desafios trazidos pela chamada “internet das coisas” e as supercatástrofes naturais.

O relatório diz que os efeitos da seca são agravados por falhas de planejamento e de ação política, além de uma escassez de investimentos em recursos hídricos e a má gestão do setor.

“Como o Brasil é altamente dependente de energia hidroelétrica, a seca também está tendo um impacto sobre a geração e o fornecimento de energia”, afirma o documento. “Em resposta, as usinas geradoras estão utilizando mais combustíveis fósseis, aumentando o preço da energia e as emissões ligadas ao efeito estufa.”

“A seca cria reações em cadeia para todo o setor econômico”, disse à Risco Seguro Brasil José Cullen, responsável pela área de Seguros Rurais da Swiss Re Corporate Solutions no Brasil e América do Sul.

A agricultura é um dos setores que mais sofrem, ainda que no Brasil isso se passe de forma desigual, afirmou Cullen. Enquanto as regiões Sudeste e Nordeste estão passando por momentos difíceis devido à seca, os agricultores do Sul vivem uma situação até de excesso de água, observou.

Soluções
Segundo Cullen, o mercado hoje oferece soluções de seguros para que os agricultores reduzam as perdas causadas pela falta de chuva. Mas nem todas as culturas podem se beneficiar das coberturas existentes.

“Há vários tipos de produtos que cobrem os riscos climáticos, o principais dos quais, para a agricultura no Brasil, é a seca”, disse ele. “Grãos como soja e milho possuem coberturas para a seca. É mais difícil no caso do café e das frutas, mas em geral há como se proteger deste risco.”

A introdução de seguros paramétricos no Brasil pode ajudar, porém, a obter cobertura mesmo para este setores mais complicados, afirmou.

No entanto, Cullen estima que apenas 15% da área cultivada no Brasil possui coberturas de seguro na atualidade.




Resseguro cresce, mas rentabilidade ainda é desafio

Francisco Galiza
Francisco Galiza, consultor.

Passados sete anos do fim do monopólio do resseguro, o Brasil tem um mercado mais dinâmico, fruto de um acentuado aumento no número de empresas e uma mão-de-obra altamente qualificada. Mas ainda há diferenças bastante acentuadas em termos de rentabilidade das empresas parti-cipantes no mercado.

Essas são algumas das conclusões de um estudo elaborado pela Rating de Seguros a pedido da resseguradora Terra Brasis. A base do levantamento são os dados publicados pela Susep (Superintendência de Seguros Privados),  até 2014.

“Analisando historicamente e de maneira bem objetiva, o resultado (da abertura) é bem positivo”, disse à Risco Seguro Brasil o consultor Francisco Galiza, responsável pelo estudo. Ele lembrou que o fim do monopólio ocorreu num momento, em 2008, em que a economia mundial estava em crise. “Teve esse percalço e mesmo assim o setor conseguiu triunfar.”

Para os próximos anos, Galiza acredita na continuidade do crescimento, que será influenciado pelo desempenho geral da economia e especialmente das empresas de seguro. Outro ponto destacado pelo consultor diz respeito à estabilidade do que o mercado chama de “arcabouço regulatório” — em outras palavras, as leis do setor.

Segundo ele, regras estáveis são um fator importante para o desenvolvimento do mercado de res-seguros. “Mas isso não vale só para o seguro”, disse Galiza. “Estabilidade é sempre estimulante para novas empresas.”

Desenvolvimento
O estudo lembra que os principais objetivos da quebra do monopólio foram o aumento da capacidade do mercado ressegurador brasileiro e a dinamização do setor, com novos produtos, a aplicação de práticas internacionais, mais qualificação profissional e mais empregos.

Houve evolução nesses itens, segundo o levantamento. O número de resseguradoras que operam no Brasil, por exemplo, mais que triplicou, passando de 40 em 2008 para 123 em 2014, entre locais, admitidas e eventuais.

O ano de 2010 representou um divisor de águas neste curto espaço de tempo pós-abertura. Apesar das polêmicas causadas por medidas do governo que restringiram a liberalização do mercado, a partir daquele ano os números do resseguro deram um salto.

Os prêmios emitidos aumentaram de R$ 4,5 bilhões para R$ 9,2 bilhões, chegando a 10,2% dos prêmios de seguro emitidos no país. Em ambos os casos, o crescimento a partir de 2010 foi contínuo.

Naquele ano, resoluções do Conselho Nacional de Seguros Privados passaram a exigir que pelo menos 40% do contrato fosse oferecido primeiramente a uma resseguradora local. Também foram criadas restrições ao repasse de contratos de resseguro para empresas de um mesmo grupo.

As medidas causaram alvoroço. Críticos disseram que elas limitavam o mercado, enquanto seus defensores elogiaram a preservação das empresas nacionais.

Posteriormente, o governo concedeu que 20% dos prêmios possam ser repassado a empresas de um mesmo grupo sediadas no exterior.

Mais produtos
As resoluções foram aplicadas logo após uma acentuada queda na participação das resseguradoras locais no faturamento geral do setor. Elas saíram de um patamar próximo a 90% do faturamento total em 2009 para menos de 50% em 2010. Após as medidas, as locais recuperaram algo do terreno perdido, ficando atualmente com uma parcela de cerca de 70%.

A receita obtida pelos diferentes ramos mostra que as resseguradoras conseguiram nos últimos anos uma certa diversificação e aumentaram sua penetração em alguns setores da economia.

O estudo da Terra Brasis mostra que o ramo patrimonial representa a maior fatia dos resseguros, com 34% dos prêmios em 2014 (contra 38% em 2012). O seguro agrícola teve um salto, passando de 7% para 12%. Já o ramo de riscos financeiros saiu de 10% para 11%, o de responsabilidades passou de 5% para 6%, enquanto o de transportes manteve seus 9% de participação.

Rentabilidade variável
O IRB Brasil RE, a empresa agora privatizada que até 2008 detinha o monopólio estatal do setor, é de longe a principal resseguradora do Brasil. Com quase a metade (49%) das receitas obtidas por todas as resseguradoras locais, a empresa é responsável por entre 80% e 90% do lucro no setor, graças a margens de rentabilidade significativamente maiores do que as da concorrência, aponta o levantamento.

A rentabilidade média entre todas as resseguradoras locais varia de 5% a 15% ao ano. Mas, se o IRB Brasil for excluído dessa conta, a média fica entre -5% e 5%.

O IRB Brasil garante sua rentabilidade pelos resultados de sua carteira de seguros e também gra-ças a ganhos tributários obtidos em anos recentes.

Seus concorrentes, porém, têm apresentado mais dificuldades para obter lucros. Dados da Susep compilados pela Terra Brasis mostram que, em 2013, um período de sinistralidade desfavorável para o setor, 9 de 14 resseguradoras locais fecharam o ano no vermelho. No ano passado, o número caiu para 5 entre 16 companhias.

Mão-de-obra
O nível de escolaridade do pessoal que trabalha com resseguro no Brasil surpreendeu o consultor. Um total de 90% dos profissionais que trabalham nas resseguradoras locais têm nível superior, e 49% completaram cursos de pós-graduação.

As 24 resseguradoras locais e admitidas que responderam ao questionário da Rating de Seguros somam 699 funcionários. O IRB Brasil é o maior empregador, com 371 colaboradores. Fora ele, pode-se dizer que uma resseguradora local típica tem de 20 a no máximo 30 funcionários; uma admitida tem entre três e cinco funcionários — sendo que 27% deles ocupam cargo de direção.




Perdas em alta ameaçam capacidade em D&O

Rosangela Tito, do IRB Brasil RE.
Rosangela Tito, do IRB Brasil RE.

O mercado de seguro D&O pode sofrer falta de capacidade no futuro próximo, de acordo com um membro do mercado do Lloyd’s.

Darren Powell, executivo da resseguradora Allied World, disse à Risco Seguro Brasil que recentes perdas registradas no Brasil, por exemplo entre as empresas envolvidas no escândalo da Petrobras, podem elevar os limites pedidos por clientes até níveis que o mercado local não será capaz de absorver.

A situação se complica porque a legislação brasileira de resseguros exige que ao menos 40% dos riscos de uma seguradora ou de um cliente que recorra diretamente ao mercado de resseguros sejam oferecidos primeiramente a resseguradoras locais.

Somente depois que ficar comprovado que não há apetite para tomar esta parcela do risco localmente é que uma parcela maior do que 60% pode ser transferido para os mercados globais, onde a capacidade é mais abundante.

“O que vai acontecer se você só consegue encontrar limites de no máximo US$ 150 milhões, mas necessita transferir US$ 500 milhões ao mercado de resseguros? Se você tem que encontrar um ressegurador local que fique com 40% deste risco, a operação pode não funcionar”, disse Powell.

Oportunidades
O resultado pode ser a criação de oportunidades para resseguradoras internacionais.

“Nós sempre vimos a linha D&O como uma oportunidade no Brasil, mas durante muito tempo não houve grandes perdas no segmento. Como resultado, os preços não estavam nos mesmos níveis dos Estados Unidos ou da Europa”, afirma o executivo.

Na opinião dele, porém, a situação está mudando, e a demanda por coberturas e limites mais elevados tende a se acelerar.

“O volume de pedidos de informação que temos recebido de clientes brasileiros tem aumentado muito na esteira do caso Petrobras. O mercado está muito mais consciente da necessidade de cobertura.”

Distorções
O caso Petrobras também está colocando em evidência algumas distorções que precisam ser corrigidas no mercado de D&O brasileiro, de acordo com especialistas.

Participantes de um debate no 4º Encontro do Resseguro organizado pela Confederação Nacional das Empresas de Seguros Gerais, Previdência Privada e Vida, Saúde Suplementar e Capitalização, CNSEG, em abril no Rio de Janeiro, criticaram, por exemplo, práticas relaxadas de subscrição que por muito tempo persistiram no mercado.

Segundo os experts, apólices com abrangência de cobertura excessiva criaram situações em que mesmo réus confessos — uma vez que entraram em acordos de delação premiada — têm o pagamento dos custos legais discutidos para serem pagos.

Rosangela Tito, gerente de Riscos Financeiros no IRB Brasil Re, disse que o seguro D&O foi “banalizado” no Brasil e cobrou critérios mais rigorosos de subscrição.

Já Gustavo Galrão, superintendente de Linhas Financeiras da Argo Seguros, observou que a sinistralidade do seguro D&O atingiu níveis recordes no Brasil nos últimos meses e que a tendência parece que não vai se reverter no futuro próximo.

Caso as previsões se confirmem, o mercado viverá uma situação em que a demanda por seguro D&O estará em alta em um momento em que as perdas aumentam e os clientes pedem limites de coberturas mais elevados. Isso tudo ao mesmo tempo que as seguradores precisam adotar uma maior disciplina na hora de aceitar os riscos de seus clientes.