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Multis brasileiras ainda ignoram programas globais de seguros

Alfredo Arán, CEO da Mapfre Global Risks
Alfredo Arán, CEO da Mapfre Global Risks (Foto: Divulgação)

O número de empresas multinacionais brasileiras cresceu 321% entre 2010 e 2014, de 95 para mais de 400. A forte internacionalização do período não foi acompanhada na mesma proporção pela implementação de programas internacionais de seguros, segundo especialistas reunidos no XI Seminário Internacional de Gerência de Riscos promovido pela ABGR, a associação do setor.

Este gap gera riscos para as empresas, além de oportunidades e desafios para os gestores, avaliaram. “Algumas grandes multilatinas têm programas muito bons, mas empresas emergentes têm um campo importante para desenvolver – e aproveitar assim os ganhos de escala da internacionalização”, disse Alejandro Solorzano, da corretora Marsh.

Vanderlei Pires Moreira
Vanderlei Pires Moreira, vice-presidente da ABGR (Foto: Divulgação)

Segundo ele, um programa global bem estruturado pode resultar em economia de custos com seguro da ordem de 20%, podendo chegar em alguns casos a 40%.

Além do custo extra, a empresa pode ter de enfrentar sinistros que eventualmente não tenham sido bem monitorados no país onde foi atuar.

Por outro lado, os especialistas afirmaram que já existem programas globais cujas apólices master estão baseadas no Brasil, um desenvolvimento que pode facilitar a gestão de tais programas pelas empresas multinacionais sediadas no país.

Esforço

A tarefa de montar um programa internacional de seguros pede um esforço considerável. “Não é nada fácil, é duro. Existem muitas barreiras”, disse Vanderlei Moreira, gerente global de seguros da Weg, empresa catarinense de produtos de automação com fábricas em 13 países, cujo programa internacional começou a ser desenvolvido em 2010.

Se a atuação no país de origem soma uma série de obrigações que devem ser cumpridas, o programa internacional as multiplica de forma exponencial, fator agravado pelo fato de que cada país tem suas várias particularidades – cada um com suas regras, impostos e cultura que pedem um trabalho bastante complexo.

“Isso tudo representa novas oportunidades para o gestor de risco”, disse Caio Petroucic, da corretora Willis. Oportunidade que tende a exigir mais mão de obra: “As questões locais já ocupam todo o tempo do gestor atualmente.”

Desafios

A partir da decisão de montar um programa internacional surge para a empresa uma série de desafios aos quais é preciso estar atento, diz Petroucic.

Ele elenca os principais: a escala da operação cresce; há barreiras de idioma e fuso horário; substituição de funcionários atravanca o processo; a terminologia do “segurês” nem sempre bate entre as partes; a cultura corporativa pode “brigar” com as particularidades locais; é preciso metodologia de alocação de prêmios, bem como mapear bem os riscos locais e entender a legislação do país. E ainda há os riscos cibernéticos, que são uma grande ameaça emergente que não se inibe com fronteiras geográficas.

As questões regulatórias fazem parte de um capítulo especial do processo. Segundo Alfredo Arán Iglesias, diretor geral para América Latina e Ibéria da Mapfre, pode haver conflito entre a apólice máster e local, além do que cada país tem seus seguros obrigatórios e tarifas específicas, além das questões relativas a impostos.

Ele também destaca a necessidade de implementar uma boa gestão de sinistros, com protocolo claro e responsabilidades bem atribuídas, caso contrário o processo de internacionalização terá dificuldades extras.

Segundo Arán, uma grande preocupação dos clientes quando começam a montar um programa internacional é o receio de sinistros em cadeia. “Os clientes pode ter 1.500 ou 500 mil riscos”, disse ele. Precisamos saber onde estão esses riscos”, afirmou. “Conhecer bem o mercado [local] é fator chave para o sucesso.”

Para o executivo espanhol, encarar essas dificuldades, no entanto, não é opção, mas obrigação das empresas. “O segurador precisa apresentar as soluções para elas.”

Na Weg, Moreira ressaltou que uma das preocupações foi deixar claro dentro da empresa que o programa internacional é uma atribuição de todos.

Nesse processo é fundamental para o programa dar certo ter uma comunicação muito bem afinada, ressaltou Petroucic, da Willis. “É preciso combinar muito bem o jogo”, disse, lembrando da importância de uma estrutura de acompanhamento das informações entre os países.

Segundo ele, isso inclui protocolos de comunicação, como modelo de atas de reunião, estabelecer a frequência das reuniões, hierarquia de decisão e sistema para acompanhamento das apólices – itens considerados fundamentais num bom programa. “Mas não existe receita única”, afirmou. “Cada cliente vai ter as demandas específicas.

Com a experiência acumulada na Weg, Moreira dá um conselho a quem vai começar seu programa internacional: “Não crie conflitos”.




Cobertura para fusões e aquisições ganha força e chega ao Brasil

Lygia Muriel, diretora da JLT.
Lygia Muriel, diretora de Energia da JLT.

A demanda por seguros para cobrir operações de fusões e aquisições (M&A) está começando a ganhar fôlego no Brasil, de acordo com participantes do XI Seminário Internacional de Gerência de Riscos e Seguros, em São Paulo.

Especialistas que participaram de um painel dedicado ao tema ressaltaram a tranquilidade que coberturas como as chamadas representations & warranties trazem aos participantes de operações de consolidação de mercado, ainda que o seu custo pode parecer elevado para compradores de seguros.

De acordo com Flávio Sá, coordenador de linhas financeiras da seguradora AIG, sua companhia já colocou algumas apólices de seguro para fusões e aquisições no mercado brasileiro, ainda que não tenha havido qualquer sinistro até o momento.

Mas ele espera que a demanda se consolide para um produto que é relativamente novo no mercado internacional, mas que vem ganhando bastante espaço em países como os Estados Unidos e a Austrália nos últimos anos.

O produto

As primeiras apólices de seguro para fusões e aquisições apareceram nos Estados Unidos em 1998, segundo Sá. No Brasil, a AIG oferece as apólices representations & warranties a um custo de entre 3% e 6% do limite assegurado.

A cobertura mínima é de US$ 150 mil, motivo por que Sá afirmou no painel que se trata de um produto direcionado a operações de fusão ou aquisição de empresas de um porte significativo.

Segundo os especialistas, as franquias variam entre 1% e 3% do valor assegurado, o que pode parecer um valor elevado.

Mas Lygia Muriel, diretora de Energia e Fusões e Aquisições da corretora JLT, observou que a experiência internacional mostra que cerca de um terço das apólices apresentam sinistros, o que é uma média considerada elevada.

Sá, por sua vez, disse que as apólices oferecidas pela AIG visam operações de fusão e aquisição com um valor entre US$ 20 milhões e US$ 1 bilhão.

Passivos ocultos

As coberturas para este tipo de transação servem sobretudo para garantir o pagamento de eventuais passivos ocultos que podem ser descobertos pelos participantes após as negociações terem sido finalizadas.

Os passivos ocultos são dívidas que não podem ser estimadas porque a parte vendedora, em boa-fé, não tinha conhecimento de que eles surgiriam.

Os riscos que com maior frequência produzem este tipo de passivo são os temas ambientais, tributários e trabalhistas, segundo Muriel.

“O comprador não quer ter uma surpresa”, disse ela no evento. Na grande maioria dos casos, é a empresa ou fundo que está comprando a outra empresa quem adquire a cobertura de seguro. Mas há casos em que a parte vendedora decide adquiri-la para garantir a conclusão do negócio, mesmo que surjam imprevistos.

“O passivo oculto pode acabar sendo até maior que o valor do negócio”, afirmou Muriel.

Durante as negociações entre os participantes de um processo de aquisição, a parte compradora costuma exigir que o vendedor prepare algum tipo de garantia financeira para o caso de que despesas desconhecidas apareçam no futuro.

As garantias ficam disponíveis para o comprador durante períodos de cerca de cinco anos, e sua liberação, quando necessária, pode gerar litígios que atrasam a transação.

Com a cobertura de seguro, a responsabilidade de cobrir tais eventualidades recai sobre uma seguradora de primeiro nível, liberando da necessidade de alocar fundos para a garantia financeira. “A apólice se torna uma vantagem competitiva”, disse

Por esse motivo, as coberturas do tipo representations & warranties são sobretudo um instrumento de engenharia financeira, privilegiada por exemplo por fundos de private equity que buscam entrar e sair do capital de empresas de forma dinâmica e sem deixar temas pendentes.

Mercado dinâmico

Muriel acredita que, apesar da crise econômica, operações de fusão e aquisição continuarão acontecendo no Brasil no futuro próximo.

Ela disse que nos últimos meses tem havido uma média mensal de 800 transações por mês, e que o volume deve continuar no mesmo nível, ainda que as operações estejam se tornando mais complexas devido aos efeitos da crise.

A desvalorização do real, segundo Muriel, tornou o Brasil um mercado atraente para este tipo de operação, ainda que haja alguma insegurança com a situação de crise no país.

“Os fundos de investimento americano estão interessados no Brasil”, disse ela. Áreas como tecnologia de informação, setor financeiro e varejo estão as principais áreas acompanhadas pelos investidores.

Além disso, investidores de outras partes do mundo, como a Espanha e países asiáticos estão de olho no mercado de infraestrutura, afirmou a executiva da JLT.

“Eles estão interessados em oportunidades ligadas aos ativos de empreiteiras, mandados etc.”, disse Muriel.




Para advogado, consolidação do seguro vai brecar amadorismo

Antonio Mendonça, advogado especialista.
Antonio Mendonça, advogado especialista.

A onda de fusões e aquisições que está tendo lugar no mercado segurador forçará a profissionalização do setor, segundo um dos principais advogados de seguros no país.

Antonio Penteado Mendonça, que é assessor jurídico da Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR) também afirmou que as seguradoras deverão ter mais  foco em seus produtos e serviços, além de desenvolver tecnologias para prestar serviços de melhor qualidade a seus clientes.

“Nós vamos parar de ter amadorismo, de ter bobagens simplesmente comerciais”, disse ele.

Em painel sobre fusões e aquisições durante o XI Seminário Internacional de Riscos e Seguros, em São Paulo, Mendonça afirmou ainda que serão criadas condições para o lançamento de novos produtos de seguros trazidos dos mercados internacionais com o apoio das resseguradoras.

Para ele, más práticas que hoje persistem no mercado, como a imitação de estratégias comerciais adotadas pelas maiores empresas do mercado e a cópia de apólices utilizadas por outras companhias, tendem a desaparecer na medida em que um maior profissionalismo se implantar no setor.

“Mesmo as companhias estrangeiras, ainda que estejam focadas em segmentos específicos, vão ter que buscar uma maior especialização, pois haverá uma maior concorrência entre elas”, disse o advogado.

“Não vai adiantar, como ainda acontece hoje, para uma companhia pegar o questionário de outra, e depois, quando há o sinistro, argumentar que o cliente cometeu fraude. Fraudou como, se a empresa usou um questionário que não perguntava isso?”

Resseguros

A consolidação do setor de seguros também fará com que as resseguradores apliquem um pente mais fino nos riscos que assumem, de acordo com o advogado.

“Elas vão criar parcerias que hoje não existem entre elas e suas resseguradas no Brasil. Elas passarão a trazer produtos mais modernos, mais conectados com o que acontece no mundo”, afirmou.

“Elas passarão a fornecer às empresas brasileiras tecnologia que as ajudarão a oferecer produtos que atendam as necessidades da sociedade, como coberturas para o problema das mudanças climáticas, que causam sinistros gigantescos.”

Com o tempo, ressaltou Mendonça, as seguradoras terão menos desculpas para não oferecer coberturas para os riscos enfrentados pelos compradores brasileiros.

“Queremos que as seguradoras sejam rentáveis, mas que consigam lucro atendendo a demanda, e não dizendo que não aceita um risco, e comprando títulos do governo federal sem assumir riscos”, disse o advogado.

Ele defendeu que, com as novas condições de mercado que vêm por aí, os subscritores se concentrem novamente no seu negócio principal, o que não está acontecendo hoje em dia.

“Se vocês olharem a média dos balanços das seguradoras brasileiras nos últimos dois anos, vocês verão que o resultado delas é financeiro”, disse Mendonça. “Com raríssimas exceções, tem pouquíssimas seguradoras ganhando dinheiro com seguro no Brasil. Estão todas ganhando dinheiro com aplicações financeiras.”




Corrupção em alta deixa seguro D&O mais caro e rigoroso

O estouro dos casos de empresas envolvidas com corrupção, dos quais a operação Lava Jato é o mais emblemático e atual, fez aumentar a sinistralidade do seguro D&O (Directors and Officers) e alterou o perfil do produto, voltado para proteção dos executivos das empresas.

Segundo especialistas reunidos em painel sobre o seguro e a aplicabilidade da Lei Anticorrupção no XI Seminário Internacional de Gestão de Riscos e Seguros, em São Paulo, o seguro ficou mais caro para algumas empresas, a subscrição está mais rigorosa e mudaram os limites das coberturas.

Além disso, as seguradoras começaram a aplicar mais exclusões e franquias mais elevadas, aumentou o foco sobre o compliance dos tomadores, e estão surgindo algumas novidades na gestão do produto.

O maior impacto para os compradores do seguro recai sobre empresas estatais e aquelas que têm relações com estatais, além das empresas com histórico de sinistros.

Nesse processo, o subscritor de D&O ganhou mais preponderância e responsabilidade, e as seguradoras estão cobrando muito mais informações do tomador do seguro.

“Estão perguntando mais e precificando de forma diferente”, disse Celso Soares Júnior, responsável pelas linhas financeiras da seguradora Zurich.

Medidas de proteção

Soares diz que se busca conhecer de maneira detalhada como está estruturado o programa na empresa, como funciona o canal de denúncias, se há política anticorrupção, se há treinamento nessa área para os funcionários, entre outras coisas. “Percebemos que muitas empresas falham nesses itens”, disse ele.

“Acredito quer a subscrição vai ficar muito mais personalizada”, completou Álvaro Igrejas, diretor de grandes riscos da corretora Willis.

De acordo com Igrejas, a expectativa é que a fase atual do D&O irá desembocar num maior envolvimento da alta direção das empresas nos assuntos de compliance e gestão de riscos. Além disso, a tendência é que os procedimentos internos passem a ser melhores, com análise periódica e avaliação de riscos, canais de denúncias e controles internos.

A advogada Márcia Cicarelli, do escritório Demarest, lembrou que o D&O é uma importante ferramenta de proteção dos executivos, mas não é a única. “O seguro é complementar”, afirmou.

De acordo com ela, outras formas de proteger a empresa e o board, evitando práticas nebulosas, é limitar o poder dos executivos, produzir atas claras do conselho de administração e utilizar as confort letters (mecanismo pelo qual a empresa assume responsabilidade de seus executivos, desde que eles ajam de acordo com a legislação e as regras da companhia).

Ela lembrou que programas efetivos de compliance têm potencial de reduzir em até 50% os casos de corrupção numa companhia. E deu números para o tamanho do problema no Brasil.

Citando como fonte reportagem do Valor Econômico, lembrou que a corrupção consome 2,3% (ou cerca de R$ 95 bilhões) do PIB brasileiro e que 15% dos executivos do país se disseram dispostos a pagar propina para viabilizar algum negócio.

Sinistros

A sinistralidade no seguro D&O passou de 32,30% em 2013 para 53,50% em 2014, com prêmios na ordem de R$ 230 milhões e R$ 227 milhões. Este ano,  caiu (até outubro), para 36%, mesmo com os vários casos decorrentes das ações do Ministério Público.

O motivo, no entanto, é técnico.  Igrejas explica que os sinistros foram retirados das reservas das seguradoras porque nos processos que ainda estão em andamento.

As seguradoras também estão trabalhando com versões diferentes para as cláusulas de exclusão, disse Soares.

Entraram no circuito itens como exclusão absoluta, pagamento de custos com defesa só depois de a ação judicial ter sido finalizada, além de sublimites para cobertura dos custos. “A inversão de pagamento está supercomum hoje”, disse Soares.

Novidades

Também surgiram algumas novidades no mercado, como a possibilidade real de o Brasil vir a ter a chamada delação remunerada.

Trata-se de um instrumento comum nos Estados Unidos, pelo qual quem denúncia uma irregularidade pode receber 2% do que a empresas deixou de ter de prejuízo.

“Acho que logo vai ter no Brasil”, disse Álvaro Igrejas, diretor de riscos corporativos da corretora Willis.

Outra novidade são estudos especiais para empresas que passam por recuperação judicial, desdobramento da Lava Jato.




Novas regras devem aprimorar uso do resseguro, diz Labuto

Marcelo Labuto, diretor-presidente da BB Seguridade.
Marcelo Labuto, diretor-presidente da BB Seguridade.

As novas regras de exigência de capital e a abertura gradual do mercado para o exterior devem incrementar a utilização do resseguro no Brasil, segundo um dos principais executivos do mercado segurador nacional.

Marcelo Augusto Dutra Labuto, o diretor-presidente da BB Seguridade, também disse à Risco Seguro Brasil que a abertura promovida pela Resolução 322, em julho, deve aumentar a competitividade do mercado e a qualidade dos portfólios de riscos das seguradoras.

“Para a indústria como um todo, é um processo positivo”, disse Labuto, referindo-se à implementação de novas regras de supervisão prudencial pela Superintendência de Seguros Privados (Susep).

“Está trazendo segurança para o mercado, afastando possíveis aventureiros e profissionalizando mais as operações, o que faz com que as companhias tenham maior rigidez em seus métodos e modelos.”

Alguns críticos têm observado que a implementação das novas normas de requerimento de capital foi muito abrupta, dando pouco tempo para as seguradoras se adaptarem a elas. Mas Labuto afirmou que, no caso da BB Seguridade, a transição tem ocorrido com tranquilidade.

“A gente já vinha, ao longo dos últimos dois ou três anos, promovendo adequações ao nosso modelo de provisionamento, em previsão a este processo”, afirmou. “Quando a Susep tem colocado as novas normas e os prazos, no nosso caso a gente já está adequado e em condições de cumprir os prazos estabelecidos.”

Resseguro aberto

As regras de requerimento de capital em implantação pela Susep prevê que as seguradoras necessitarão atingir 50% das reservas de capital a partir de 31 de dezembro 2016 e 100% um ano mais tarde.

As reservas serão calculadas pela utilização de modelos que atribuem pesos diferenciados a cada tipo de risco, e não mais como uma porcentagem fixa do total do portfólio de riscos de uma seguradora (clique aqui para ler a explicação no site da Susep).

As regras seguem a mesma linha de supervisão baseada em riscos de mercado prevista pela diretriz europeia Solvência II (link), que entra em vigor, também gradualmente, a partir do ano que vem.

Por sua vez, as novas de resseguro constituem um desdobramento esperado pelo mercado e que, aliadas aos futuros requerimentos de capital, deve suscitar um maior uso desta ferramenta pelo mercado segurador brasileiro.

“Era alguma coisa que de alguma forma se entendia como uma necessidade”, disse Labuto.

“Com a chegada das grandes resseguradoras mundiais, já se imaginava que isso ia acontecer. É um processo salutar. A indústria se torna mais competitiva e exige-se uma melhor qualificação dos portfólios, além de um aprimoramento dos processos comercial e operacional.”

Estratégia de capital

Alguns comentaristas acreditam que o mercado brasileiro ainda faz pouco uso do resseguro como uma alternativa para reduzir os custos de gestão de reservas de capital. Isso pode ser obtido com a transferência de parte de seus portfólios de riscos, especialmente aqueles que possuem maior peso no cálculo das reservas, para o mercado ressegurador. Dessa maneira, uma seguradora necessita reservar uma parcela menor de seus lucros como contrapartida aos riscos retidos.

Mas labuto disse que a conjunção das novas regras fará com que as empresas estejam cada vez mais atentas a este tipo de prática.

“Hoje o resseguro já é parte da estratégia de capital das resseguradoras”, afirmou. “Com a implementação de Solvência 2, se torna ainda mais necessário.”

“É preciso ter uma boa estratégia de identificação de riscos, saber que tipos de riscos a companhia retém e que tipos ressegura, entender como se faz esse mix de negócios, isso tudo faz parte do futuro sucesso das companhias”, continuou o presidente da BB Seguridade. “Vai ser um importante elemento na formação dos resultados. Toda seguradora vai ter isso em mente agora por diante.”

Ele também expressou otimismo de que o IRB Brasil Re está em condições de manter sua posição de liderança no mercado brasileiro mesmo com o mercado mais aberto à transferência de riscos para o exterior. O maior acionista do IRB Brasil é o Banco do Brasil, que também é o controlador da BB Seguridade.

“Nossa operação de resseguros vai continuar líder no mercado nacional, e com uma boa rentabilidade para os nossos negócios”, completou.




Para ONU, seguro deve ser agente de mudança ambiental

Com 50% dos prêmios globais de seguros vindos de países com exposição a perda de biodiversidade acima da média e quase 40% provenientes de países com níveis de emissão de gases do efeito estufa igualmente acima da média, segundo uma pesquisa da Swiss Re, a indústria de seguros pode se considerar um agente de peso para iniciativas “verdes”.

Mas o que as empresas podem fazer para participar mais ativamente das soluções para esses problemas? “Há grandes desafios para o setor de seguros, que pode ser um canal de mudanças, gerenciando melhor essas questões”, afirma Butch Bacani, especialista em sustentabilidade do setor financeiro do PNUMA, o Programada das Nações Unidas para o Meio-Ambiente. “Isso requer um foco mais forte do setor.”

Bacani lidera o programa de seguros e investimentos do UNEP FI, uma parceria público-privada entre o PNUMA (cuja sigla em inglês é UNEP) e o setor financeiro global.

A preocupação expressa pelo executivo do PNUMA vem sendo tocada desde 2012 por meio dos Princípios para Iniciativas de Sustentabilidade em Seguros, mais conhecidos pela sigla inglesa PSI, uma parceria criada durante a conferência Rio+20.

Segundo Bacani, que esteve em São Paulo no mês de setembro, o Brasil está bem representado no PSI, sendo o país com maior número de empresas signatárias (nove, além da CNSeg, a confederação nacional de seguros). No mundo todo, o projeto reúne 85 signatários.

Essa rede pode vitaminar os resultados do programa, acredita o executivo do PNUMA. Mas as ações ainda estão abertas ao desenvolvimento. “Podemos ter iniciativas colaborativas, como o PSI, ou investimentos responsáveis: seguradoras e investidores se reúnem para lidar com essas questões”, afirmou ele. “Uma das premissas por trás do PSI é de que uma empresa sozinha não pode mudar tudo. Isso requer uma ação sistêmica e mais forte.”

Bacani, no entanto, elogia o esforço brasileiro em promover ações efetivas. “Em apenas alguns anos, o Brasil tornou-se um exemplo brilhante de compromisso, implementação e colaboração com o PSI. O país mostrou como um mercado de seguros pode abraçar os princípios e transformá-los em prática.”

Enquanto o tipo de ação conjunta vai sendo desenhada, pipocam iniciativas individuais — até porque o conceito de sustentabilidade não é novo, e as empresas vêm sendo pressionadas a trabalhar com ele há anos.

Iniciativas
Bacani elencou, entre outros exemplos, que a AXA promete triplicar seus investimentos verdes nos próximos anos; o BB Mapfre criou sua Academia de Sustentabilidade; a Sul América, seu Comitê de Sustentabilidade; a Munich Re desenvolveu uma ferramenta especial de subscrição de riscos ambientais; a Swiss Re criou um sistema para gerenciamento de riscos ambientais e tomada de decisões sobre financiamentos; a resseguradora Terra Brasis desenvolveu um mapa de riscos climáticos no Brasil.

A pesquisa da Swiss Re foi feita para verificar até que ponto indústria de seguros está envolvida e engajada nos riscos de ambientais, sociais e de governança (ASG). A conclusão, diz Bacani, é de que a mudança climática é provavelmente o tópico relacionado à sustentabilidade mais importante para a indústria de seguros global.

“Existe um elo crescente entre o crescimento de negócios de seguro em todo o mundo e a perda da biodiversidade, violação de direitos humanos e corrupção”, afirmou ele.

Segundo Christiana Figueres, secretária executiva da Convenção de Painéis das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, “o setor segurador é um dos maiores investidores do mundo e, por meio de suas políticas de investimentos, está liderando o movimento para uma mudará na economia baseada em combustíveis fósseis para uma baseada em energias renováveis e de baixo carbono”.

O foco das discussões sobre o papel do setor como indutor de desenvolvimento sustentável passa por três pontos: investimentos e gerenciamento de riscos físicos e financeiros. Dessa forma, o setor pode influenciar a alocação de recursos na área, além de oferecer produtos que atendam às demandas de riscos ambientais, sociais e de governança.

No Brasil, o Comitê de Sustentabilidade da CNSeg trabalha para que as práticas nessa área sejam incorporadas às estratégias das empresas.




Seguro contra risco de reputação é limitado e difícil de encontrar

O escândalo envolvendo a fraude nos testes de emissão de gases por parte da Volkswagen deixou clara a seriedade do risco de reputação. O que nem todo mundo sabe, porém, é que é possível transferir parte desse risco para o mercado de seguros.

Possível, mas não fácil. As apólices de seguro reputacional são oferecidas no mercado internacional, mas são poucas as seguradoras que trabalham com o produto.

Uma delas é a Munich Re, que oferece cobertura disponível na Europa e nos Estados Unidos, mas a empresa afirmou à Risco Seguro Brasil que também pode avaliar a possibilidade de negociar com clientes baseados em outras partes do mundo.

Já a Allianz Global Corporate and Specialty (AGCS) afirmou que no momento só negocia a cobertura na Europa. No Brasil, uma seguradora e uma corretora afirmaram à reportagem que a cobertura não está disponível no país.

Os compradores de seguro corporativo não fariam mal, portanto, em pressionar para que produtos capazes de lhes dar um nível de proteção contra este grave risco emergente sejam oferecidos no mercado nacional.

Tome-se o caso da Volkswagen. Segundo a consultoria de imagem Brand Finance, desde o anúncio da EPA, a agência ambiental americana, de que a empresa trapaceou nos testes de emissão, a marca da montadora alemã perdeu US$ 10 bilhões em valor de mercado. Antes do escândalo, a consultoria havia avaliado a marca em US$ 31 bilhões.

São valores nada desprezíveis mesmo para uma das maiores empresas automobilísticas do planeta. Desgastes reputacionais tampouco são uma exclusividade dos países desenvolvidos, como podem atestar as empresas citadas nas investigações da Operação Lava Jato no Brasil.

Com a difusão das mídias sociais, o risco tem se agravado com velocidade, e costuma aparecer entre as principais ameaças enfrentadas pelas empresas em pesquisas realizadas por seguradoras e corretoras. Não por acaso, há quem acredite num grande aumento da demanda pelo seguro de risco reputacional.

A corretora londrina Reputation Risk Solutions, que é especializada no setor, espera que o volume de prêmios e tarifas ligadas ao seguro de risco reputacional atinjam £ 1 bilhão até 2019 apenas no Reino Unido.

Escassez
Para chegar lá, porém, o mercado ainda precisa desenvolver o produto e ampliar a sua oferta.

De acordo com a Airmic, a associação de gestão de riscos da Grã-Bretanha, apenas 3% de seus associados já possuem coberturas de risco reputacional. O interesse existe, segundo a associação, mas a maior dificuldade encontrada pelos potenciais compradores é definir e avaliar os riscos a que suas reputações estão expostas.

Já um estudo publicado em setembro nos Estados Unidos encontrou apenas seis produtos no mercado que oferecem coberturas contra o risco reputacional.

Segundo Johan Schmitt, professora de Gestão de Riscos e Seguros na Wisconsin School of Business, uma das autoras do estudo, as apólices oferecidos possuem limitações que podem estar brecando o interesse de potenciais compradores.

“Há um grande volume de interesse pelo seguro de risco de reputação porque os líderes das empresas estão vendo histórias que danificam [as marcas] se espalhar como o fogo nas mídias sociais, e como os clientes querem fazer negócios com empresas socialmente responsáveis”, disse Schmitt em uma nota divulgada junto com o estudo.

“No entanto, o caráter nebuloso do que constitui uma perda direta resultante do dano de reputação tem levado à criação de apólices que têm um alcance limitado e um custo alto, o que está reprimindo a demanda.”

Cobertura
Como observam Schmitt e suas colegas no estudo em questão, o risco reputacional, por ser intangível, tem uma quantificação muito difícil de ser feita.

Valores citados pela Brand Finance e outras consultorias constituem uma avaliação subjetiva, que não necessariamente refletem o efeito total do dano reputacional sobre a performance e o valor de mercado da empresa. Não são utilizáveis, portanto, pelo mercado de seguros para precificar o risco.

Em geral, portanto, o que as coberturas de risco reputacional cobrem são os custos mais concretos, como os gastos de gestão da crise de imagem (campanhas de mídia, cotratação de empresa de relações públicas etc.).

A Munich Re, porém, oferece a possiblidade de cobrir a perda financeira resultante de um dano de reputação.

Neste caso, a apólice é ativada quando, depois que a empresa sofre uma crise de reputação, há uma queda de faturamento significativa e que pode ser ao menos parcialmente atribuída ao evento em questão.

A avaliação da perda financeira é feita por um perito, que vai determinar a parcela da perda total que pode ser ligada à crise reputacional.

O objetivo da cobertura, portanto, é prover uma fonte de liquidez em um momento em que o caixa da empresa passa por um aperto, e em que fontes tradicionais de crédito podem se mostrar relutantes em conceder linhas de financiamento.

“Eventos reputacionais podem se originar em todos os ângulos do negócio, como produção, cadeia de suprimento, marketing, operações, incidentes de risco cibernético, recursos huimanos, o comportamento de pessoas-chave para a organização etc. Todos esses incidentes podem ser assegurados”, disse Ulrike Raible, a subscritora de riscos reputacionais da Munich Re.

Segundo a seguradora, a cobertura pode abranger os negócios do cliente em todos os países que desejar, de acordo com suas necessidades. Já o preço varia de acordo com a avaliação de risco do cliente feito pela seguradora e tem variado entre 1% e 2% ROL (rate on line, ou taxa de faixa), segundo Raible.

A avaliação do risco do cliente inclui fatores como a sua linha de negócio, os limites solicitados, suas práticas de gestão de risco, a cobertura que a mídia normalmente faz da empresa, seu histórico de perdas em riscos reputacionais, e a possibilidade de que o cliente seja afetado por eventos que danifiquem a sua imagem.




Governo americano pede seguro mais amplo para risco cibernético

O órgão supervisor da indústria de seguros dos Estados Unidos encorajou o mercado a coberturas mais amplas para os riscos cibernéticos.

Em seu relatório anual sobre o mercado, o Federal Insurance Office (FIO) afirma que compradores de seguro nos Estados Unidos consideram os limites das apólices oferecidas atualmente pelas seguradoras são “baixos demais”.

O órgão também mencionou a opinião de especialistas segundo os quais os limites, que hoje não passam de algumas centenas de milhões de dólares, devem chegar a até US$ 1 bilhão a fim de cobrir os riscos enfrentados pelas grandes empresas.

O FIO também fez um apelo para que o mercado atue em um espírito de colaboração a fim de apresentar soluções satisfatórias para um dos riscos emergentes que mais preocupam as empresas e o governo norte-americano.

“As seguradoras devem continuar aprimorando seus processos de subscrição para riscos cibernéticos”, afirma o órgão no relatório. Uma das maneiras de chegar a este objetivo, segundo o FIO, é compartilhar informações sobre o segmento. Outra é empregar profissionais da área para participar do processo de subscrição de apólices de risco cibernético.

De acordo com o FIO, estima-se que o mercado de seguros para riscos cibernéticos nos Estados Unidos já chegue a US$ 2,75 bilhões em prêmios e que vai continuar crescendo a passos rápidos no país.

Indústria seguradora
O FIO expressou preocupação especial no relatório com respeito ao risco de que as próprias seguradoras sejam alvos de ataques cibernéticos e especialmente de furto de dados sobre seus clientes.

“A segurança cibernética da indústria seguradora é um tema de interesse nacional”, afirma o órgão supervisor no relatório.

O motivo da preocupação é o fato de que “as seguradoras com frequência coletam e armazenam vastas quantidades de informações pessoais, incluindo sobre saúde, finanças, propriedades e interesses familiares”.

O relatório cita ataques recentes contra seguradoras de saúde americanas, como a Anthem e a Premera Blue Cross, e afirma que as empresas do setor devem estar sujeitas ao mesmo tipo de rigor regulatório que os bancos e outras instituições financeiras, no que diz respeito à prevenção de riscos cibernéticos.

O FIO é subordinado ao Departamento do Tesouro americano, que expressou sua preocupação com os riscos cibernéticos no setor financeiro ao celebrar outubro como o Mês de Conscientização sobre a Segurança Cibernética Nacional.

“Empresas em todo o setor financeiro fizeram progressos significativos para preparar a si e a seus clientes [contra os riscos cibernéticos]”, afirmou a vice-secretária do Tesouro Sarah Bloom Raskin no lançamento da iniciativa.

“Ainda assim, as defesas cibernéticas não estão onde elas deveriam estar. Em nossa economia interconectada, as vulnerabilidades de uma parte do sistema podem colocar as outras partes em perigo.”

Preocupação crescente
A crescente preocupação das autoridades americanas com o tema dos riscos cibernéticos também se reflete na assinatura de um megacontrato entre o Departamento de Segurança Doméstica (DHS, na sigla em inglês) do governo americano uma empresa de defesa para a provisão de serviços de segurança cibernética.

A Raytheon anunciou que foi contratada para desenvolver, implementar e manter sistemas, além de identificar e mitigar ameaças ao domínio .gov, que é utilizado pelo governo americano.

Segundo a empresa, o valor do contrato pode chegar a US$ 1 bilhão.

“As ameaças cibernéticas são cada vez mais sérias e difundidas”, disse Dave Wajsgras, presidente da Raytheon Intelligence, Information and Services, unidade da empresa resposável pelo serviço.

“As instituições do governo e do setor privado necessitam a melhor proteção possível.”




Fatores quem influenciam queda no preço do resseguro continuam fortes

Resseguradoras de todo mundo se reuniram na semana passada em Monte Carlo, no Principado de Mônaco, com uma mensagem na ponta da língua: a queda de preços do resseguro está chegando ao fim.

Mas analistas observam que os fatores que têm determinado o atual ciclo de preços, incluindo o excesso de capital no setor e as baixas perdas catastróficas, continuam vivos e fortes e podem continuar pressionando os preços para baixo.

Empresas presentes nos tradicionais Encontros de Setembro do mercado ressegurador, realizado entre os dias 12 e 17 de setembro, anunciaram que leves sinais de uma reversão de ciclo começam a ser observados, especialmente nos Estados Unidos, de longe o maior mercado do mundo.

Elas também argumentaram que já não é mais possível reduzir as tarifas, que teriam alcançado níveis técnicos mínimos e portanto não teriam mais para onde cair. Victor Peignet, CEO da Scor Global P&C, por exemplo, previu uma “aterrissagem suave” para os preços de resseguro nos próximos meses.

Corretores observaram que o ritmo de redução de preços se tornou menos acelerado. “Em junho, nós observamos uma leve moderação no ritmo de degradação das tarifas nos segmentos catastróficos, especialmente na América do Norte”, disse Mike Reinolds, CEO da corretora JLT Re, à Best TV.

“As resseguradoras tiveram mais sucesso em resistir a exigências por grandes reduções de preços, depois de dois anos de quedas dramáticas”, disse Alex Moczarski, presidente e CEO da corretora Guy Carpenter.

Mais capital
Mas a expressão “aumento de tarifas” ainda não é comumente mencionada por executivos de resseguro, e analistas acreditam que é duvidoso que a maré mude enquanto grandes quantidades de capital seguirem chegando ao setor.

De acordo com analistas, comparados com outros tipos de investimento, como os títulos de renda fixa, instrumentos ligados ao resseguro continuam atraentes para os investidores.

Os chamados cat bonds, por exemplo, estão oferecendo retornos similares aos dos mercados de ações, mas com um nível muito menor de risco, segundo Bryan Erhart, CEO da AON Benfield.

A AON estima, porém, que o ritmo de entrada de capital no mercado americano deve se reduzir nos próximos meses, o que, combinado a um esperado aumento de demanda naquele país, pode resultar em uma maior moderação nas quedas de preços.

Resseguradores presentes em Monte Carlos também procuraram reforçar a mensagem de que o ciclo de mercado continua a existir, mas está durando mais do que o normal devido ao excesso de capital na indústria.

Afirmações neste sentido procuram responder a teorias de que o setor entrou em uma nova fase em que que os preços baixos e as condições favoráveis para os compradores constituem uma permanente realidade.

O que pouca gente nega é que os desafios continuam presentes para os grupos resseguradores.

“O prognóstico para o setor global de resseguros continua negativo, já que as resseguradoras continuam a enfrentar excesso de capacidade (…), persistentes taxas de juros baixas e uma menor demanda por parte dos compradores de resseguro devido à racionalização de suas compras e o baixo crescimento econômico global”, afirmou a Moody’s em um relatório divulgado logo antes dos Encontros.

“Além disso, nós esperamos maiores riscos para as resseguradoras na medida em que elas se aventuram em territórios estratégicos, mas desconhecidos de subscrição, em uma tentativa de reter relevância e lucratividade.”

A agência observa no documento que o setor tem conseguido divulgar resultados superiores a seus custos de capital, mas muitas vezes isso deve à liberação de reservas de capital, aliada a perdas catastróficas bastante baixas.

“Se ajustarmos para perdas catastróficas normais e a liberação de reservas, o cenário é muito mais sombrio”, alerta a Moody’s.

Consolidação
Outra impressão colhida pelos participantes dos Encontros foi que as fusões e aquisições vão continuar acontecendo no setor ressegurador.

“A atividade de fusões e aquisições foi claramente o tema número um do evento,” disse Stephen Holzberger, o chefe de ratings da AM Best. A recente compra da britânica Amlin pela japonesa Mitsui Sumitomo ajudou a temperar as discussões.

Ele afirmou que as empresas compradoras estão pagando preços elevados por seus alvos, o que mostra que não são empresas moribundas financeiramente que estão se expondo a uma aquisição.

“São empresas saudáveis e dinâmicas que elevam seu perfil ao se integrar a organizações globais”, afirmou Holzberger.

Os motivos que estão levando às operações incluem a busca por novos mercados e por profissionais de subscrição de alta qualidade, segundo o executivo da AM Best.

Holzberger também afirmou que outra tendência no mercado é que os grupos globais buscarão estar cada vez mais próximos de seus clientes em mercados em crescimento, beneficiando hubs regionais de resseguro como Dubai ou Cingapura.




Susep anuncia seguro garantia mais amplo para infraestrutura

Roberto Westenberger, superintendente da Susep.
Roberto Westenberger, superintendente da Susep.

A Susep (Superintendência de Seguros Privados) está preparando um pacote de modernização que deve ser enviado ao Ministério da Fazenda e entrar em vigor no início do ano que vem, disse o superintendente da entidade, Roberto Westenberger, em São Paulo.

Ele também afirmou que, ainda em 2016, devem ser introduzidos novos produtos no mercado segurador. Entre eles, um seguro garantia para obras de infraestrutura com limites maiores do que os existentes hoje.

“Queremos assegurar que o seguro [garantia] cubra realmente o término da obra”, disse Westenberger, que participou do 7º Conseguro, realizado entre 15 e 17 de setembro em São Paulo.

Ele também disse que, quando assumiu o cargo, no ano passado, deparou-se com a falta de preparo de alguns membros dos conselhos de direção das seguradoras supervisadas pela Susep.

“Situações absolutamente preocupantes”, afirmou. “São exceções, mas vemos algumas vezes o despreparo dos conselheiros para tomar decisões.”

Modernização
O objetivo do que o superintendente chama de “Nova Susep” é garantir melhorias na eficiência do órgão regulador, que vem passando por mudanças desde que ele assumiu o comando do órgão, em março de 2014.

Entre as medidas de modernização está a criação da Diretoria de Condutas de Mercado, que terá duas atribuições principais. A primeira será reforçar o papel da Susep no que diz respeito à compra de seguros por parte dos consumidores. A segunda será fazer uma análise macro dos produtos que são oferecidos pelo mercado e, principalmente, dos movimentos concorrenciais.

Além de buscar mais eficiência, os pilares das mudanças são garantir a independência administrativa e a estabilidade financeira do órgão.

Segundo Westenberger, que antes de assumir a Susep era sócio da consultoria PwC, a filosofia de trabalho está alinhada com o Ministério da Fazenda.

Ele também vai tentar implementar um mandato fixo para os diretores do órgão e blindar a escolha a profissionais com o adequado conhecimento técnico da área.

“Ainda não temos os parâmetros definidos”, afirmou ele. “Mas não vai ser nada muito diferentes do que se tem em outros órgãos reguladores. Os diretores precisam de estabilidade para poder fazer o seu trabalho.”

Westenberger afirmou ainda que outros novos produtos que vem ser introduzidos no ano que vem incluem um novo seguro de vida, um de VGBL/Saúde (cuja tramitação já passou pelo Congresso) e um seguro para empresas de recondicionamento de peças (setor que já passou pelo pré-requisito de ser regulamentado).

Princípios da regulação
O superintendente explicou que a base da regulação aplicada pela Susep é a “supervisão baseada em riscos”, modelo alinhado ao da norma Solvência II que será implementada na União Europeia a partir do ano que vem.

Este modelo não se limita à avaliação quantitativa dos dados, cujas limitações ficaram claras, segundo ele, na crise de 2008, quando uma das maiores seguradoras do planeta foi à bancarrota.

“A boa ou má situação de uma seguradora é mensurada na sua administração”, afirmou. “A supervisão baseada em riscos foca no quão bem ou quão mal, mais preparada ou menos preparada, está a administração da seguradora para cuidar de sua matéria-prima, que são os riscos.”

Nesse processo, avaliam-se os controles internos, a governança, os processos administrativos, a gestão de risco, o nível de preparação de seus conselhos de administração, entre outros itens.

Tudo isso está alinhado ao modelo Solvência II. Westenberger lembrou que o Brasil costuma ser colocado como um exemplo de boas práticas em supervisão, ao lado de países como Austrália, Canadá, Japão e México.

“Estamos em companhia de países que praticam os modelos mais avançados de regulação de seguradoras”, afirmou.

O trabalho ora em andamento na Susep inclui a modernização do setor de tecnologia da informação, num trabalho estimado em US$ 1 milhão. A ideia é acabar com processos de papel e dar mais eficiência ao órgão. “O que vamos fazer é nos capacitar melhor para monitorar as companhias”, afirmou.