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Como os seguros cyber podem chegar às PMEs

Como o ministro Sergio Moro e o procurador da República Deltan Dallagnol bem podem atestar, ninguém está a salvo de sofrer um ataque de hackers . Coisa que os seguros cyber estão cobrindo com cada vez mais intensidade.

Isso vale para autoridades descuidadas no uso de apps de mensagem. E também para empresas de pequeno e médio porte. Afinal, cada vez mais elas dependem da internet para tocar seus negócios.

Por esse motivo, o mercado de PMEs é o novo eldorado para as seguradoras que oferecem coberturas contra riscos cibernéticos no mercado mundial. São milhões e milhões de clientes em potencial. Cada vez mais  estes potenciais clientes estão acordando para a necessidade de se proteger contra os pilantras virtuais.

Mas vender sofisticadas apólices contra riscos tecnológicos para empresas com estruturas reduzidas não é nada fácil. Por esse motivo, uma série de iniciativas estão sendo desenvolvidas nos Estados Unidos. A ideia é levar os seguros cyber para os pequenos negócios.

Veja o que está sendo discutido neste mercado:

Seguros cyber, compra online

Para os especialistas da área, uma das formas de levar as coberturas cibernéticas a um número maior de clientes é vendê-las pela internet.

A CoverWallet e a CyberPolicy, duas corretoras virtuais americanas, hoje oferecem algumas possibilidade. Os clientes comprarem coberturas contra hackers, por exemplo. Da mesma forma, até mesmo contra violações de leis de proteção de dados com alguns cliques do mouse.

Outra empresa, a SSL Endeavour. A corretora de atacado desenvolveu um sistema digital. Através dele, as corretoras de varejo com quem trabalham podem realizar os trabalhos por seus clientes em um portal na internet.

A SSL Endeavour coloca assim à disposição do mercado de PMEs capacidade de seguros cibernéticos do Lloyd’s de Londres.

“Uma das grandes mudanças no mercado de cyber para pequenas empresas foi poder fazer a subscrição das apólices online”, disse Inaki Berenguer, CEO e co-fundador da CoverWallet.

“A compra do seguro cibernético costumava ser um processo longo, analógico e complexo em que os donos dos negócios com frequência ficavam confusos sobre se tinham ou não comprado a cobertura correta.”

Subscrição simplificada

Para poder vender apólices de seguro cibernético via internet primeiro é necessário simplificar o processo de subscrição das coberturas.

Empresas como a Coalition, uma agência de seguros americana, fez este trabalho. Como? Utilizando tecnologias de análise de dados e inteligência artificial. Dessa forma promoveu a redução dos questionários de cerca 20 páginas para apenas meia dúzia de perguntas.

“Pegamos um processo de subscrição que pode levar entre 10 e 15 dias e, através dos corretores de nossa rede, fizemos com que dure menos de três minutos”, disse Shawn Ram, o chefe da área de Seguros da Coalition.

Agora também está chegando ao mercado internacional uma plataforma da britânica CFC Underwriting. A plataforma promete entregar uma cotação do seguro cibernético para empresas de pequeno e médio porte com uma única pergunta: “Qual é o seu domínio na internet?”

Mais detalhes em breve na RSB.

Pacotes cyber

Uma das maneiras que as seguradoras estão conseguindo convencer clientes de menor porte a comprar coberturas cibernéticas é vendê-las em pacotes junto com outras coberturas.

Ou seja, junto com as apólices de seguro compreensivo empresarial. Por um pequeno valor adicional, inclui-se um nível de proteção contra riscos cibernéticos.

Muitas vezes a cobertura também é incluída nas apólices de RC profissional, ou E&O. Isso tem sido facilitado devido à estandardização dos clausulados para as coberturas cibernéticas mais simples.

Isso, inclusive, tem possibilitado a entrada de novos atores no segmento. As seguradoras de menor porte podem se valer dos clausulados-padrão. Além disso, também da farta capacidade de resseguro disponível no mercado para transferir até 100% do risco cibernético de seus portfólios. Isso segundo a agência de avaliação de riscos AM Best.

Pressão de clientes

Analistas dizem que a venda em pacote também ajuda a vencer a resistência de corretores mais tradicionais. Eles costumam ver nas coberturas cibernéticas um produto complicado demais para as comissões que recebem.

Mas essa resistência tem sido vencida pela exigência cada vez mais frequente de grandes clientes. Afinal, eles exigem das PMEs com que trabalham garantias de que elas estão se protegendo contra as ameaças virtuais.

“O impacto global do GDPR [a lei de proteção de dados europeia], aliado às demandas contratuais de instituições e parceiros comerciais, estão fazendo com que as PMEs exijam cada vez mais que seus brokers lhes orientem sobre os riscos cibernéticos”, disse David Price, diretor de seguros Specialty na SSL Endeavour.

Coberturas adaptadas

O mercado também aprendeu que as PMEs não necessitam de coberturas tão profundas e sofisticadas como as pedidas pelas empresas de maior porte.

Assim, seguradoras que visam esse segmento, portanto, estão adaptando seus produtos cyber às peculiaridades dos pequenos clientes. Na maioria das vezes, eles não possuem nem gerentes de riscos nem chefes de segurança cibernética no quadro de funcionários.

As coberturas mais baratas protegem contra danos causados por ataques cibernéticos aos equipamentos da própria empresa e pouco coisa a mais.

Mas companhias com exposições mais complexas podem também acrescentar serviços como gestão de crises, relações públicas e outros por um preço um pouco maior.

E também há serviços adicionais feitos sob medida para empresários que têm que lidar eles mesmos com os riscos cibernéticos sem conhecer o tema.

Por exemplo, algumas seguradoras preveem ajudar seus clientes a comprar criptomoedas, caso sejam vítimas de ransomware e tenham que pagar o resgate com bitcoin ou coisas do gênero.

Já a Coalition oferece a seus clientes um serviço de monitoramento permanente da internet para identificar se algum bandido está tentando duplicar o site da empresa para executar uma fraude.

Seguros cyber com preços acessíveis

Nada disso funcionaria, porém, se as coberturas de seguros cibernéticos continuassem custando o olho da cara, como era o caso há alguns anos.

Os preços em geral têm caído. Afinal, na medida em que o mercado entende melhor o risco e a concorrência no setor aumenta. Mas é preciso fazer um esforço extra para fazer uma cobertura cyber caber no orçamento de segurança de uma PME. O que é muitas vezes inexistente.

A Coalition, por exemplo, oferece coberturas básicas a preços tão baixos como US$ 25,00 ao ano. Isso corresponde a cerca de R$ 100,00.

No entanto, os preços dos seguros cyber variam de acordo com o setor de atividade do cliente.

Anita Sathe, chefe da área de Estratégia da CyberPolicy, observa que uma padaria que tem pouca exposição a riscos de proteção de dados pode conseguir nos EUA até US$ 1 milhão de limite em uma apólice cibernética por módicos US$ 30,00 ao mês.

Mas uma clínica médica, que armazena dados pessoais de muitos pacientes, pode ter que desembolsar até dez vezes mais pelo mesmo limite.

Limites mais baixos para seguros cyber

Aliás, os limites constituem outra característica das coberturas cibernéticas que estão tendo que ser adaptadas para chegar nas PMEs.

As grandes empresas que tradicionalmente constituem o público comprador do produto com frequência pedem limites de centenas de milhões de dólares. Além disso exigem a formação de consórcios e extensa participação do resseguro para chegar a tais valores.

E para as PMEs, obviamente, as necessidades são muito mais modestas. Corretores dizem que, nos Estados Unidos, muitas procuram limites de cerca de US$ 1 milhão (R$ 3,92 milhões). Isso porque seus clientes assim o exigem.

Mas quando não é este o caso, e a intenção é puramente proteger os equipamentos e pequenas exposições potenciais de reponsabilidade civil, podem ser tão baixos como US$ 25.000,00 ou US$ 50.000,00, observou Tim Francis, chefe da área de Cyber na seguradora Travelers.

A ideia das seguradoras é começar oferecendo estes baixos limites para ajudar os clientes a entender o valor dos seguros cyber. Em contrapartida, no futuro, poderão buscar níveis de proteção mais significativos.




Contratos inteligentes vão automatizar o seguro

Os contratos inteligentes estão chegando. E, com eles, uma maior automatização do processo de subscrição de seguros.

Contratos inteligentes, mais conhecidos no mercado pela definição em inglês, smart contracts, são acordos entre duas partes.  Nesse caso, o papel e a tinta do documento tradicional são substituídos por código de programação.

A ideia é que, dessa maneira, ninguém possa escapar das obrigações contidas no contrato. Assim, já que eles são auto-executáveis, podem ser integrados, através de tecnologias como o blockchain, a todos os aspectos de uma relação comercial. Por exemplo, no mercado de seguros.

Mas até que ponto essa tecnologia emergente pode de fato revolucionar o setor de seguros para empresas? O Lloyd’s londrino publicou recentemente um estudo sobre o tema.

Leia abaixo as ideias mais interessantes:

Rapidez e menor preço

O caráter auto-executável dos contratos inteligentes cria o potencial de aumentar a automatização das apólices de seguros.

Para quem compra uma cobertura, isso significa que a execução de uma cláusula, no caso por exemplo de um sinistro, não depende da interpretação de peritos, de advogados ou do setor de gestão de sinistros da seguradora.

O Lloyd’s destaca que isso pode reduzir os níveis de litígio e eliminar etapas do processo. Isso possibilita uma redução dos custos em todo a linha de produção do seguro.

E, potencialmente, preços mais baixos.

Subscrição turbinada

Uma outra vantagem dos contratos inteligentes é que eles permitirão o armazenamento de uma elevada quantidade de dados sobre riscos e clientes.

Com esses dados na mão, por meio de ferramentas de inteligência artificial e machine learning, os subscritores terão condições de entender melhor os riscos e as necessidades de seus clientes.

Se fizerem bom uso desta riqueza de informações, poderão cobrar preços mais adequados. Além disso, a cada risco podem oferecer limites e condições mais ajustados.

Também já terão mais informações sobre seus clientes, reduzindo o tempo necessário para os trabalhos de due diligence e análise de risco.

Em tempo real

Em contrapartida, os contratos inteligentes abrem a possibilidade de adaptar as condições da apólice a mudanças nos parâmetros do risco.

Por exemplo, se um navio decidir cortar o caminho por uma zona de risco de pirataria, a fim de economizar combustível, pode fazê-lo sem que resulte na anulação da apólice.

Isso porque as duas partes podem firmar um acordo prévio.  No acordo o preço e as condições da apólice são automaticamente atualizados. Isso pode ocorrer de acordo com as rotas tomadas pela embarcação e informadas ao contrato inteligente através do GPS.

Contratos inteligentes agilizam pagamentos

Mas não há dúvida de que, para o comprador de seguro, o potencial mais atraente dos contratos inteligentes é a possibilidade de agilizar o pagamento de sinistros.

A ideia é integrar este tipo de contrato. Isso através de tecnologias como o blockchain em coberturas de seguros como os produtos paramétricos. Eles podem ser acionadas por meio de critérios objetivos e mesuráveis.

Isso evitaria em grande parte as dores de cabeça que as empresas muitas vezes sofrem hoje em dia quando têm um sinistro de grande porte.

Uma vez que o sinistro – por exemplo, o nível de chuva em um determinado dia – ultrapasse o valor acordado no contrato inteligente, o pagamento da indenização se dará automaticamente e de forma irrevogável.

Em programas de grande porte, o contrato também já pode fazer com que as empresas que seguem o subscritor líder já autorizem o pagamento. Afinal, uma vez que o líder aprovar o sinistro, isso será feito automaticamente.

O Lloyd’s admite, porém, que este tipo de novidade tende a se consolidar. A princípio em sinistros de alta frequência e baixo valor. Nos grandes riscos, o mais provável é que os contratos inteligentes agilizem parte do processo de gestão de sinistro, e não sua totalidade.

Menos fraudes

O Lloyd’s também acredita que a adoção de contratos inteligentes pode também reduzir o número de fraudes nos sinistros de seguros.

Isso devido ao elevado nível de automatização e parâmetros objetivos incluídos no contrato. Todavia também porque as seguradoras terão maior capacidade de aprender com fraudes passadas.

Além disso, esses contratos devem ser viabilizados através de tecnologias como o blockchain. Esse tipo de tecnologia produz registros individuais para cada mudança feita no contrato.

Assim fica difícil para alguém tentar alguma malandragem sem ser notado.

Inteligência tem desafios

O Lloyd’s acredita que nem todos os segmentos do mercado de seguros corporativos vão poder adotar estas tecnologias de forma completa.

Seu maior potencial está em áreas como os seguros de aviação, transporte marítimo e agricultura, afirma o estudo.

No resseguro, há potencial nos contratos de resseguro automáticos, mas não tanto nos facultativos, onde há maior variedade de parâmetros envolvidos.

Para tudo isso se tornar realidade, porém, o mercado terá que lidar com desafio. Como a adaptação dos contratos inteligentes às novas políticas de proteção de dados. Além de criar mecanismos para que os clientes possam contestar decisões de pagamentos de sinistros ou de atualização de preços tomadas automaticamente pelos contratos.

Porque, por mais inteligente que seja o contrato, sempre vai haver clientes que não concordarão com a negação do pagamento de seus sinistros ou um aumento de preço na renovação da apólice.




Argo visa nichos e riscos de médio porte para dobrar negócio

Sob nova direção, a Argo Seguros está de olho no mercado de riscos de médio e grande porte para desenvolver o seu negócio no Brasil.

Em entrevista à Risco Seguro Brasil, Newton Queiroz, que foi indicado CEO pela Argo em abril, afirmou que o objetivo é dobrar a rentabilidade da empresa. Isso sem aumentar muito o seu número de empregados.

Já com uma importante presença em segmentos como RC profissional e transportes, a Argo também pretende crescer em outras frentes. Como o seguro garantia, os riscos de engenharia e os seguros patrimoniais.

“Nosso foco é nicho, crescimento e rentabilidade”, afirmou Queiroz.

Foco

A Argo fechou o ano de 2018 com um portfólio de R$ 209 milhões em prêmios. Queiroz admitiu que, comparado com outras empresas, não se trata de uma seguradora de grande porte no mercado brasileiro.

No entanto, ele prefere analisar a presença da Argo em ramos específicos. De acordo com ele, a empresa estima ser a líder em seguros de erros e omissões, E&O. Estes seguros também são conhecidos pela definição de RC profissional adotada pela Susep.

A Argo está entre as cinco maiores em transportes internacionais e entre as dez primeiras no segmento de transportes como um todo, de acordo com o executivo.

“Isso mostra um foco em ser a número 1 nos ramos que a gente quer liderar”, afirmou. “Queremos atender as empresas onde sabemos que temos um diferencial.”

“Agora queremos crescer em garantia, que é uma área para a qual a gente está voltando, property, RC geral e engenharia”, disse Queiroz.

Planos de crescimento

Ele afirma, no entanto, que o crescimento não será buscado a todo custo.

Por outro lado, no mercado de garantia, por exemplo, Queiroz observou que a disputa é ferrenha. Isso ocorre especialmente no sub-ramo da garantia judicial. É o setor onde as taxas são atualmente muito competitivas. O foco da Argo é buscar clientes que aceitem pagar um preço justo pelo produto.

Por exemplo, trabalhando com empresas internacionais. Afinal, este é um ramo que eventualmente ainda não possui uma grande presença no Brasil, mas são fortes no exterior. Assim, podem assinar uma contragarantia fora do país.

“Vamos mirar empresas que estão chegando no Brasil agora, e a gente espera que isso se reative no segundo semestre”, comentou.

Tamanho médio

Para atingir seus objetivos de crescimento, a Argo também tem como meta aumentar sua presença entre as empresas de médio e grande porte.

“Nosso DNA não é o megarrisco, mas o médio para grande risco”, afirmou. “Clientes neste universo sentem falta de um serviço mais personalizado.”

Portanto, para Queiroz, as empresas de pequeno e médio porte sentem falta de produtos mais adequados para suas necessidades.  Especialmente em termos de cobertura.

Em contrapartida, foi com a ideia de suprir essa carência que a Argo conseguiu atingir a liderança em seguros E&O, afirmou o CEO.

Normalmente, as apólices desse produto têm um limite que vale para todos os profissionais cobertos. Por exemplo, de R$ 1 milhão para dez profissionais.

Da mesma fora, se um dos dez profissionais beneficiados usar a apólice, os outros já não podem valer-se do limite. A apólice da Argo, porém, oferece o limite para cada um dos profissionais segurados. Por exemplo, R$ 1 milhão por profissional.

“Custa mais caro, mas o cliente está mais bem protegido,” disse Queiroz.

Pelo Brasil

A expansão do negócio também vai passar por uma exploração do potencial do mercado para além de São Paulo e do Rio de Janeiro.

Queiroz disse que a Argo Seguros pretende visitar com mais frequência corretores e clientes em potencial em várias partes do país.

O projeto começou em 4 de julho com uma reunião com 60 corretores em Belo Horizonte (MG). Novos encontros estão previstos para Porto Alegre (RS), Curitiba (PR), Salvador (BA), Rio de Janeiro (RJ) e Campinas (SP), ainda neste ano.

“Com a questão digital, as empresas se focaram muito em suas sedes. Muitas vezes se esqueceram de estar mais presente com os clientes e entender de novo o que eles precisam e querem”, comentou.

“Nossa nova visão é não perder o DNA digital, mas ao mesmo tempo trazer um pouco mais de visibilidade com os corretores e clientes.”

Inovação

Mas a vontade de ter contato presencial com os clientes não exclui investimentos em tecnologias. São eles que podem auxiliar a Argo a tornar mais eficiente o processo de distribuição.

“A Argo vem trazendo inovações ao mercado desde 2012. Investimos muito na plataforma de contato com nossos parceiros, por exemplo”, afirmou. “E também em produtos como as coberturas de RC profissional.”

Recentemente, a seguradora lançou um sistema, dentro de sua plataforma digital Protector. Ele permite aos corretores definir as franquias que querem adicionar aos produtos de E&O.

Segundo ele, a empresa agora está analisando produtos que estão disponíveis na Argo fora do Brasil. As novidades devem começar a chegar já em 2020.

Além disso, Queiroz disse que a inovação ocorre de forma incremental nos processos da empresa, com vistas, por exemplo, a tornar mais eficiente a relação com os corretores, que considera fundamental para que o negócio tenha sucesso.

Corretores e startups

“Nossa visão é que a inovação ocorre na plataforma de distribuição, e não na forma de vender o produto”, observou. “O objetivo é fazer o processo mais automático e eficiente.”

O executivo não acredita no modelo de vender seguros diretamente ao cliente final, o que tem sido foco de tentativas de inovação por parte de startups tecnológicas.

Para ele, o corretor é essencial no modelo, especialmente na parte corporativa, em que os clientes necessitam de assessoria sobre os riscos que enfrentam e as soluções de transferência.

“O cliente se sente mais cômodo, e a seguradora também.”




Alteração em PL que amplia seguro garantia preocupa mercado, diz Austral

A nova Lei das Licitações, que aborda o seguro garantia traz importantes avanços regulatórios para permitir a realização de obras de infraestrutura. A nova medida está prestes a ser aprovada pelo Congresso Nacional,

A ampliação do uso do seguro garantia nas concessões de obras públicas é considerada um dos tópicos mais relevantes do projeto.

O projeto de lei 1292/95 foi aprovado pelo plenário da Câmara dos Deputados no final de junho. Após a aprovação de destaques, o projeto será submetido ao Senado Federal.

No entanto, segundo Carlos Frederico Ferreira, CEO da Austral Seguradora (foto), o mercado ficou preocupado com o acréscimo de uma simples palavra. Trata-se da preposição “até”, ao corpo do texto.

Conclusão

Um dos grandes avanços do PL 1292/95 é a possibilidade de aumentar a proporção de um contrato de obras públicas. Isso seria garantido por uma apólice de seguro garantia.

Hoje, a lei permite que o seguro cubra até 5% do valor da obra. No PL, o limite passa para 30% nos casos de obras de maior valor.

Com isso, na opinião de especialistas, aumenta a chance de que a obra seja concluída. Mesmo que a empresa ganhadora da licitação acabe não conseguindo cumprir os compromissos do contrato.

Da mesma forma, o projeto também prevê que a seguradora responsável pela cobertura pode assumir a responsabilidade pela conclusão da obra. Por exemplo, custeando a contratação da segunda colocada na licitação para encerrar os trabalhos.

Com o limite de 5% para a cobertura do seguro garantia, isso não acontece. Sempre valerá mais a pena para a seguradora pagar a indenização financeira.

Com 30%, dependendo de quanto a obra houver avançado, assumir a sua conclusão se torna uma ideia mais atraente. Porém, o custo pode ser inferior ao pagamento da indenização.

“No fim, o que interessa ao governo é ter a obra pronta, e não receber o dinheiro da indenização,” observou Ferreira em entrevista a Risco Seguro Brasil.

Escolhas demais

O texto do PL estabelece, porém, que, na contratação de obras de engenharia “de grande vulto”, o ente público que realiza a licitação. Contudo, pode pedir a apresentação de uma apólice de seguro garantia de “até 30% do valor inicial do contrato”.

Segundo o CEO da Austral, essa formulação causou desconforto no mercado. Uma vez que abre a possibilidade de que, na prática, as licitações acabem não adotando limites maiores que os atuais. Poderia até piorar a situação.

“A palavra ‘até’ deixa a opção de decidir por um percentual menor,” disse Ferreira.

“O ente público pode decidir por 30%, por 5%, por 1% ou até zero. É um ponto fraco no projeto da nova lei, pois deixou que este percentual seja decidido caso a caso.”

O barato sai caro

Há argumentos que os entes podem usar em defesa da adoção de limites inferiores a 30%. Por exemplo, o de reduzir os custos globais da licitação, já que limites menores exigem apólices de seguro garantia menos caras.

Além disso, o ente contratante pode argumentar que deseja democratizar as licitações, permitindo que empresas menores que participem do certame.

Isso porque a concessão de uma apólice de seguro garantia exige a avaliação da robustez financeira das empresas que querem fazer a obra, o que se transforma em uma vantagem para as companhias de maior porte, com mais acesso a crédito e maior experiência no mercado.

“O limite do seguro garantia é como um limite de crédito”, disse Ferreira.

“As seguradoras olham para a capacidade técnica da empresa, mas também para a sua estrutura financeira.”

Mas isso, na visão do executivo, funciona na prática como uma primeira triagem dos participantes, o que no final colabora para que aumentem as chances de que a obra seja concluída.

“O seguro garantia é um instrumento de pré-qualificação das empresas que participam de uma licitação”, afirmou. “Ele já faz um filtro.”

Seguro garantia: restrição de capacidade

Já Rodrigo Campos, diretor de Subscrição da Austral Seguradora, acredita que a incerteza gerada pelo “até” introduzido no projeto pode afetar a capacidade disponível no segmento.

“Se o projeto de lei for aprovado como está, vai ocorrer uma restrição de capacidade tanto de seguro quanto de resseguro”, disse Campos.

“Mas é uma restrição estritamente ligada ao PL, não se relaciona à capacidade disponível no mercado.”

Devido aos altos valores envolvidos, o seguro garantia conta com o apoio do resseguro para ser viável às empresas subscritoras.




Saiba como sensores ajudam a garantir segurança da carga

Sensores com novas tecnologias ajudam a rastrear a carga enquanto ela é transportada pelo mundo.

Imagine um container cheio de camarão fresco abandonado no cais de um porto. É verão e o sol arde sem descanso sobre o recipiente, transformando os crustáceos em uma massa de matéria putrefata.

Agora coloque-se no lugar do perito que, depois de uma semana, teve que avaliar se de fato houve um sinistro com a carga do container.

Essa história real, relatada por um subscritor de seguros marítimos no mercado de Londres, poderia ter sido evitada através da utilização de novas tecnologias. Elas estão ajudando as empresas a rastrear suas cargas em tempo real. Isso enquanto elas estão sendo transportadas de um lado para outro pelo mundo.

O uso de sensores inteligentes, que ajudam acompanhar o trajeto de mercadorias em alto mar, por meio de apps de telefone celular, já faz parte da rotina de empresas exportadoras mais avançadas. E também de suas seguradoras.

Insurtech

É o caso da Ascot, que, juntamente com outros subscritores do Lloyd’s londrino, está desenvolvendo um projeto para tornar esta tecnologia disponível para seus clientes.

As seguradoras patrocinam o trabalho de uma insurtech chamada Parsyil no laboratório de desenvolvimento de novas tecnologias implementado pelo Lloyd´s.

A Parsyl criou um sistema que permite às empresas monitorar em tempo real fatores que influenciam o bom estado de uma carga. Entram aí níveis de luz, umidade, movimento, contato com a tripulação e coisas assim. (Clique aqui para saber mais.)

“Quanto mais aprendemos sobre o trabalho da Parsyl, mais convencidos ficamos sobre como a tecnologia pode nos ajudar a revolucionar os processos de pagamento de sinistros. Assim, aumentar a visibilidade dos riscos em toda a cadeia de suprimento”, disse Chris McGill, um subscritor de seguros marítimos da Ascot, a Risco Seguro Brasil.

Na palma da mão

A Ascot está oferecendo acesso ao sistema da Parsyl a seus clientes como um serviço adicional de gestão de riscos. Assim, ajuda a competir com as maiores seguradoras do setor.

“Os segurados podem instalar os sensores, chamados treks, quando a carga ainda está em seus armazéns”, McGill observou.

Os treks são pequenos artefatos que cabem na palma da mão, custam um pequeno aluguel mensal.  Registram a temperatura, luz, umidade e impactos que ela pode sofrer durante todo o percurso até a carga chegar ao seu destino final.

Eles são colocados magneticamente dentro do recipiente ou área de armazenamento. Assim sua bateria pode durar mais de três anos.

“Uma vez que a carga tenha chegado, é possível descarregar, com muita rapidez, através de um dispositivo móvel, toda a história da viagem”, disse McGill.

“Dessa maneira, podemos reduzir de forma significativa o trabalho necessário para peritar um sinistro. Por exemplo, podemos descobrir exatamente onde e quando uma mudança brusca de temperatura ocorreu.”

Aplicações

As informações coletadas não só podem ajudar a acelerar a tramitação de um sinistro. Todavia, também servem para aprimorar a gestão de risco e evitar futuros incidentes.

McGill citou como exemplo o caso de uma companhia americana que exporta leite em pó. A companhia queria saber os exatos momentos em que os containers que transportam a mercadoria são abertos. Isso porque o contato com a luz pode ter um efeito deletério sobre o produto.

Da mesma maneira, se o container é aberto em um momento em que não deveria, pode indicar tentativas de contaminação proposital da carga.

Assim, também podem indicar em que portos ocorrem problemas na estiva, já que os sensores podem dizer exatamente onde e quando a carga sofreu impactos danosos.

Benefícios

Para o subscritor da Ascot, a implementação deste tipo de tecnologia traz vantagens para toda a cadeia do seguro.

“Os segurados se beneficiam porque os gastos ligados à gestão do sinistro serão mais baixos no caso de uma perda coberta pela apólice, e os pagamentos serão mais rápidos”, disse McGill.

“As seguradoras se beneficiam porque podemos melhorar a nossa taxa de recuperação dos sinistros. Também podemos melhorar a gestão de sinistros. Ao mesmo tempo em que proporcionamos aos clientes informações importantes sobre seus negócios.”

“Com base nos dados coletados, podemos oferecer sugestões sobre rotas de navegação. Assim como as unidades de armazenamento que devem usadas, e que armadores são as melhores opções para determinadas rotas.”




Para Munich Re, tecnologia levará a novos modelos de negócios

Novas tecnologias como a internet das coisas farão com que empresas de seguros e resseguros revejam os seus modelos de negócio.

De fato, a implementação bem-sucedida dessas novidades pode mesmo resultar em queda na demanda por coberturas em alguns segmentos.

Esta é a visão de Tom van den Bulle,. Ele é o líder global de Inovação na resseguradora Munich Re.

De acordo com Van den Bulle, a resseguradora alemã está se preparando para ter sucesso em um novo ambiente. Assim, mais do que coberturas, as empresas do setor vão prover uma série de serviços adicionais de gestão e prevenção de riscos.

Novo, mas útil

Da mesma forma, ele disse que um importante passo no processo de inovação é evitar se apaixonar por tecnologias simplesmente porque elas estão na moda.

“Nós tentamos vários caminhos de inovação nos últimos anos. Aprendemos que, para nós, a inovação tem ocorrer em torno dos riscos”, disse Van den Bulle.

“Não podemos simplesmente introduzir novos produtos e serviços porque gostamos deles. As novas tecnologias nos permitem olhar os riscos desde diferentes perspectivas.”

Em resumo, isso significa buscar soluções que realmente satisfaçam necessidades dos clientes.

“Portanto, não devemos construir algo só porque é bonito, mas ninguém precisa”, disse Van den Bulle. “Em qualquer indústria que está investindo em inovação, um dos desafios é não se apaixonar por produtos e tecnologias para os quais não há demanda de verdade.”

Internet das coisas

Uma das novas tecnologias que a Munich Re acredita que tem potencial de causar disrupção no mercado é a internet das coisas.

Para Van den Bulle, trata-se do tipo de novidade que vai fazer os subscritores repensar seus modelos de negócios.

A Munich Re adquiriu no ano passado uma startup chamada Relayr. A startup desenvolveu um sistema que utiliza dados captados por sensores. Esses sensores servem construir modelos preditivos de mitigação de riscos.

A tecnologia da Relayr permite aos subscritores maximizar o uso de uma gigantesca quantidade de dados que as empresas coletam hoje em dia. Isso através de sensores, em suas cadeias de produções.

Previsão

“O objetivo é poder prever quando haverá um problema na cadeia de produção”, Van den Bulle observou. “Trata-se de um produto de seguros? Não, não se trata disso. É um produto de pura mitigação do risco.”

“Nós estamos caminhando em uma nova direção. Nela, poderemos contactar uma grande montadora. Por exemplo, para avisá-la que dentro de cinco horas vai passar algo em sua cadeia de produção, e é preciso fazer algo a respeito.”

“Nesse exemplo, não há interrupção do negócio. Haverá menor demanda por seguros. Isso porque já que seremos capazes de prever potenciais sinistros”, continuou o executivo.

“Mas estamos nos movendo em uma direção em que poderemos fornecer aos nossos clientes não só seguros de lucros cessantes. Também poderemos oferecer um produto que soluciona seus problemas. Igualmente de uma maneira bem melhor ao evitar que a interrupção do negócio ocorra em primeiro lugar.”

Menos perguntas

Outro objetivo da Munich Re é tornar o processo de subscrição de riscos mais baseados em dados e informações do que no “feeling” do profissional responsável pela conta.

Para isso, a empresa está desenvolvendo um sistema que utiliza dados e tecnologias de autoaprendizagem para realizar tarefas de seleção de riscos e definir preços de coberturas.

“Estamos construindo uma ferramenta de precificação. Essa ferramete visa evitar que os clientes tenham que responder a um número altíssimo de perguntas quando compram um seguro”, explicou Van den Bulle.

“Quando se vende uma cobertura de seguro para empresas, os seguradores fazem de 60 a 80 perguntas a seus clientes. Portanto, queremos assegurar que será possível preencher com antecipação uma grande quantidade de informação com os dados que já estão disponíveis.”




Austral e Terra Brasis criam 4ª maior resseguradora local

A Austral e a Terra Brasis anunciaram na quinta-feira, 13 de junho, a fusão de seus negócios de resseguros.

A operação deve resultar na formação da quarta maior resseguradora local do Brasil, segundo as duas empresas.

Bruno Freire, da Austral (foto), será o CEO da empresa, enquanto que Rodrigo Botti, da Terra Brasis, será o CFO.

A fusão ocorre em um momento em que ambas companhias buscam crescer no exterior. Uma tarefa que exige maior esforço de capital e uma maior capacidade de assumir riscos às vezes não muito familiares ao mercado brasileiro.

Mais vendas?

Em contrapartida, também formam uma empresa de maior escala potencialmente mais atraente para um eventual investidor como um grupo estrangeiro.

Fala-se no mercado sobre a possibilidade de a Vinci Partners, proprietária do grupo Austral, vender a empresa.

O grupo Austral também inclui uma seguradora, que não está incluída na fusão. A companhia de private equity será a maior acionista da nova resseguradora, com mais de 60% do capital.

Com um processo de consolidação em pleno vapor no mercado global de resseguros, e sendo o Brasil um mercado que sempre intriga os grandes do setor, não é de descartar a possibilidade de que a nova resseguradora desperte maior interesse de grupos internacionais.

Vale notar que Freire disse ao Valor Econômico que a empresa pode recorrer a um IPO para aumentar seu poder de fogo atraindo mais capital.

Sinistralidade

Os níveis de sinistralidade, e consequente pressão sobre os resultados, também podem estar influenciando este tipo de movimento no mercado.

Na Terra Brasis, a sinistralidade passou de 54% em 2017 para 72% em 2018. Na Austral, caiu 2 pontos no ano passado, mas seguiu elevada, em 85%.

O índice combinado da Austral chegou a 109%, e o da Terra Brasis, a 103%. Os dados são de relatório elaborado pela Terra Brasis a partir de dados da Susep.

Sinergia

As empresas argumentam que a operação traz vantagens em termos de sinergia, por exemplo, em sua expansão pela América Latina.

Enquanto a Austral já tem operações no Cone Sul, a Terra Brasis iniciou sua expansão pelos países andinos e o Panamá.

No mercado nacional, a complementaridade do negócio parece menos evidente. A Austral fechou 2018 com um volume muito superior de prêmios: R$ 346 milhões contra R$ 140 milhões, de acordo com a Susep.

A principal linha de negócio da Terra Brasis é o resseguro patrimonial, que também é a principal área de atuação da Austral, de acordo com os dados da Susep.

Outros segmentos em que a Terra Brasis concentra suas atividades, como Riscos Financeiros e Transportes, a Austral também está presente, com volumes similares ou maiores de prêmios.




Internet das coisas pode revolucionar gestão de riscos e seguros

A internet das coisas pode revolucionar a gestão de riscos e o mercado de seguros. Aumentando, assim, a visibilidade e transparência dos ativos segurados.

A coleta de informações por meio de sensores, smartphones, smartwatches e outros equipamentos também deve gerar uma quantidade quase infinita de dados. Eles podem facilitar a mitigação de riscos.

Experiências neste sentido estão sendo desenvolvidas em todo o mundo por seguradoras, resseguradoras e insurtechs. Em contrapartida, trazem resultados interessantes em áreas como o transporte marítimo, riscos de responsabilidade civil e acidentes de trabalho.

Empresas como a Munich Re e a Argo adquiriram insurtechs para expandir suas capacidades nesta área.

Outras, como a Ascot e sindicatos do Lloyd’s de Londres, estão desenvolvendo parcerias com empresas tecnológicas especializadas na internet das coisas.

Internet das coisas: bilhões de conexões

Mas o mercado ainda está buscando as formas mais eficientes de introduzir uma tecnologia que está muito na moda. Porém, cuja utilidade ainda precisa ser plenamente apreendida por gestores de riscos e seguradores.

“A internet das coisas tem potencial. Mas o mercado ainda não concebeu uma aplicação definitiva da tecnologia”, disse Werner Rapberger, diretor da área de seguros na consultoria Accenture na Suíça.

O potencial da internet das coisas fica clara nos números envolvidos. Estima-se que, em 2020, 25 bilhões de equipamentos estarão conectados à internet. São computadores, smartphones e tablets e até sensores industriais e eletrodomésticos, entre muitos outros.

A empresa de pesquisa IHS Market acredita que este número chegará a 125 bilhões por volta do ano 2030.

Empresa usa e gera dados

Uma boa parte desses equipamentos são utilizados por empresas em suas linhas de produção, em cadeias de suprimento ou transporte de mercadorias.

Cada vez mais, empresas também se valem de equipamentos conectados para aprender mais sobre o comportamento e o estado de saúde de seus funcionários.

Isso significa que uma quantidade gigantesca de dados estará sendo gerada. Relatório do Lloyd’s de Londres e da University College London, da Grã-Bretanha, observa que a internet das coisas permitirá ao mercado de seguros capturar uma quantidade de informações jamais imaginada.

Sob o mesmo ponto de vista, sabendo utilizá-la, essa riqueza de informações sobre ativos físicos e indivíduos cobertos pelo seguro gerará sistemas de avaliação de riscos mais acurados e flexíveis. Isso permitirá, no futuro, uma precificação mais apurada das apólices de seguros.

Gestão de risco

Porém, mais importante, é a capacidade que estes artefatos oferecem de rastrear ativos segurados. E assim também encontrar padrões de ocorrência de sinistros que podem ser tratados com antecipação, evitando que as perdas ocorram em primeiro lugar.

Por outro lado, o mesmo acontece com os acidentes de trabalho. Já que equipamentos como sensores nos capacetes ou cintos de segurança permitem descobrir outras situações. Por exemplo, em que os trabalhadores do setor de construção tendem a sofrer contusões.

Para Rapberger, é justamente esta capacidade de entender o comportamento de ativos e pessoas que oferece a grande promessa da internet das coisas.

Uma vez que seguradoras e resseguradoras tiverem uma quantidade suficiente de informações em seus bancos de dados, elas poderão trabalhar com os compradores de seguro. Dessa forma, o objetivo é mitigar as exposições de riscos e criar coberturas customizadas a preços mais aceitáveis, opina Rapberger.

Desafios da internet das coisas

Frank Neugebauer, sócio na consultoria tecnológica americana Capco, acredita que a internet das coisas pode ajudar as empresas. Por exemplo, a mitigar as perdas que sofrem com processos por lesões corporais sofridas por funcionários ou clientes em suas premissas.

Não se trata de um risco desprezível. Os Estados Unidos vivem uma onda de indenizações milionárias concedidas por tribunais a vítimas de acidentes. E a moda está se espalhando por outros países.

“O maior potencial da internet das coisas está nas áreas de lesões corporais e responsabilidade civil”, afirmou.

Neste caso, os chamados wearables, artefatos conectados como smartwatches e roupas de trabalho equipadas com sensores, coletam informações biométricas. Assim como os movimentos dos funcionários com o fim de orientar ações de gestão de riscos para evitar novos acidentes.

“Os wearables já são frequentemente utilizados em ambientes industriais para assegurar que as pessoas estão se movendo de uma maneira que é consistente com a forma que deveriam estar se movendo”, observou Neugebauer.

Ele alertou porém que não se deve utilizar esta tecnologia para punir quem não está fazendo as coisas do jeito certo. O objetivo deve ser identificar e corrigir comportamentos; não os punir.

Desafios

A internet das coisas, no entanto, também cria desafios para as empresas que utilizam a tecnologia. Por exemplo, na questão da proteção dos dados de terceiros.

Assim, as empresas devem estar atentas para obter a autorização de seus funcionários para utilizar os dados coletados. Da mesma forma, compartilhá-los com parceiros como corretores e seguradoras.

Caso contrário, correm o risco de escorregar em alguma das muitas leis de proteção de dados que estão sendo aprovadas mundo afora, inclusive no Brasil.

Neugebauer observou que o uso de wearables para monitorar os funcionários pode gerar protestos de sindicatos e grupos de defesa dos direitos dos trabalhadores.

No caso das seguradoras, Rapberger notou que os próprios clientes podem se mostrar relutantes em compartilhar seus dados de forma mais ampla com seus subscritores.




Internet das coisas: o impacto no mercado de seguros

A internet das coisas pode mudar o mercado de seguros. Um exemplo é o trabalho da Concirrus, uma insurtech britânica que está colaborando com vários subscritores do mercado londrino, além de corretoras como a Marsh e a Willis Towers Watson.

A Concirrus desenvolveu um sistema de coleta de informações sobre navios cargueiros. O sistema está ajudando as empresas a entender melhor os riscos marítimos. Assim, espera-se, deve dar lugar a processos mais eficientes de subscrição.

O sistema criado pela empresa se baseia na coleta de informações obrigatórias que os navios têm que enviar à Organização Marítima Internacional, mais conhecida como IMO na sigla em inglês.

Sensores

As informações são enviadas à IMO a cada 15 minutos. Isso a partir de cada navio que está em trânsito, por meio de sensores conhecidos como transceptores AIS.

Trata-se de uma legislação já consolidada no setor. Sob o mesmo ponto de vista, Andrew Yeoman, CEO da Concirrus, afirmou a Risco Seguro Brasil que, através desses sensores, o setor marítimo já vinha utilizando a internet das coisas muito tempo antes de que o conceito se tornasse moda.

Com acesso aos dados de geolocalização e outras informações sobre cada navio em circulação, a Concirrus elaborou um software que faz sua coleta e análise. O software armazena as informações em um sistema na nuvem.

Os clientes da empresa podem, então, ter acesso a esses dados. Dessa forma, analisá-los a partir de cerca de 3.000 variáveis diferentes, segundo a classificação das informações feita pelo software.

Com isso, segundo Yeoman, os subscritores têm a oportunidade de realizar uma análise mais detalhada dos riscos marítimos que chegam à sua mesa.

Informação muito nova

“Uma informação que as seguradoras jamais tiveram dizia respeito ao comportamento dos ativos”, disse Yeoman.

“Se elas puderem ver como os ativos se comportam, elas podem então segmentar o seu portfólio de riscos de uma maneira mais eficiente. Portanto, podem definir os preços das coberturas de acordo com este comportamento.”

As variáveis que podem ser analisadas incluem dados como a localização dos navios quando há um sinistro. Igualmente os portos que eles visitam. Assim como a operação dos motores, o estado dos carregamentos, a temperatura dos locais onde as mercadorias estão armazenadas, a atividade da tripulação, entre outras.

Cadeia do seguro, natureza do risco

Para Yeoman, os benefícios dessa tecnologia podem ser sentidos em toda a cadeia do processo de seguro. Em contrapartida,  ela permite que subscritores, corretores e clientes tenham um diálogo mais aberto a respeito dos riscos transferidos.

“Os corretores podem discutir com seus clientes a respeito das rotas de navegação. Se os navios trafegam por áreas de conflito, se eles estão conformes às leis de sanções comerciais. Assim como seus navios se comparam com os da competição”, disse Yeoman.

“E os seguradores são capazes de observar se um volume elevado de sinistros acontece em lugares determinados”, completa. “Ou depois que os navios param em alguns portos específicos etc. Eles podem conversar com os corretores e entender o que está passando.”

Os resseguradores marítimos, por sua vez, podem entender melhor a natureza dos riscos que adquirem através de sistemas de frota, o que ajuda a entender melhor onde suas exposições estão mais agregadas.

Exemplos

Um exemplo prático. Uma empresa pesqueira diz à seguradora que sua frota atua em águas costeiras, mais seguras. Os sensores, no entanto, revelam que as embarcações passam muto mais tempo em alto mar, onde os riscos são maiores.

Outro. Os sensores mostram que os navios de um cliente navegam a velocidade mais elevada que os de outras companhias similares. Isso pode forçar mais os motores, aumentando os custos de manutenção.

A Concirrus já está trabalhando na área de seguros marítimos com a corretora Marsh, as seguradoras londrinas Chaucer e Antares e resseguradora Trans Re, entre outros.

Operação

A empresa também possui uma solução de monitoramento de riscos na área de seguros de automóvel e acaba de firmar um acordo com a corretora Willis Re para levar a tecnologia de internet das coisas para segmentos de resseguros especiais, as chamadas coberturas specialty.




Empresa lança etiquetas inteligentes que reduz lesão de clientes

As “etiquetas inteligentes” podem auxiliar, e muito, o ramo dos seguros. A seguradora Argo lançou, nos Estados Unidos, um sistema que usa a tecnologia da internet das coisas para reduzir o volume de lesões sofridas por consumidores nas instalações de supermercados e restaurantes.

O sistema, desenvolvido por uma unidade chamada Argo Risk Tech, se baseia na inserção de etiquetas RFID e NFC. Elas enviam informações por radiofrequência. Assim, identificam quais são os principais pontos de riscos nas lojas administradas pelos segurados.

O resultado, segundo Rooney Gleason, líder da área de Varejo da Argo nos EUA, é uma sensível redução no número de acidentes com clientes. Isso gera, consequentemente, uma queda no volume de indenizações pagas pelos supermercados e restaurantes.

Além, claro, de menos sinistros pagos pela seguradora.

Só aceito se tiver

Gleason contou a Risco Seguro Brasil que, hoje em dia, a Argo americana já não aceita riscos de responsabilidade civil de restaurantes e supermercados.  A não ser que eles se disponham a implementar o sistema de prevenção de riscos baseado nos sensores.

Na prática, o que o sistema faz é potencializar medidas de gestão de riscos que as empresas já devem ter implementadas como parte de sua rotina.

A Argo instala as etiquetas em pontos selecionados nos locais segurados. Empregados ficam encarregados de realizar inspeções periódicas. Dessa forma, podem observar se há algum elemento de risco para os clientes nas áreas próximas a eles.

Isso pode ser vazamento de água, objetos que caíram ao solo, estantes fora do lugar ou outros tipos de não-conformidades.

App: como funciona

Cada vez que passa por um dos pontos, o empregado escaneia a etiqueta com uma app em seu telefone celular. Portanto,  automaticamente, abre uma série de perguntas simples e diretas.

As respostas são armazenadas na nuvem. Também são organizadas e analisadas, revelando tendências na ocorrência de sinistros ou riscos em potencial que podem então ser avaliadas.

Tradicionalmente, observou Gleason, as notas de inspeções são feitas em folhas de papel. Assim como são armazenadas em ficheiros. Esses ficheiros acabam sendo de pouca serventia para fins de gestão de riscos.

Sinistros precisos

Gleason também observou uma situação peculiar. Por exemplo, quando alguém cai e se machuca. Ao ser atendido pelo estafe da empresa, um empregado pode escanear a etiqueta mais próxima. Igualmente consegue já registrar o acidente e dar início ao processo de gestão do sinistro.

“No ano passado, meus clientes inspecionaram 220 milhões de pontos em suas lojas”, disse Gleason.

“Ao combinar as inspeções em tempos reais com os dados a respeitos dos sinistros, conseguimos detalhar com precisão de raio laser as ações de gestão de riscos nas áreas de suas instalações que têm maior necessidade.”

Ele citou como exemplo do nível de detalhe que se pode chegar o fato de que, em um restaurante em particular, se notou que o maior número de quedas ocorria entre as 8h30 e 10h30 da manhã, um horário que não parecia especialmente óbvio.

Dessa maneira os administradores puderam tomar medidas para reduzir o risco no período em questão.

Redução do sinistro

“Como resultado, temos visto uma redução significativa na frequência de acidentes que os clientes escorregam e caem nas lojas.”

Segundo ele, o sistema consegue reduzir a frequência de quedas dos clientes em 15% a 20%. Número significativos, ainda mais quando as quedas sã0 uma das principais fontes de processos de responsabilidade civil enfrentados por supermercados e restaurantes nos Estados Unidos.

Gleason acredita que a tecnologia de internet das coisas tem muito potencial para o setor e deve continuar se espalhando como instrumentos de redução do custo total do risco das empresas.

A própria Argo está lançando nos EUA um sistema parecido que ajuda a garantir o estado para consumo de alimentos que devem ser guardados sob baixas temperaturas.

“Sensores estão ficando cada vez menos caros, e sua capacidade é cada vez maior. Vai ser difícil para os subscritores não se envolverem com a internet das coisas.”, afirmou.

“Os sensores oferecem muitas aplicações que ainda estão sendo introduzidas no setor de seguros par empresas.”