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Desastres em cidades podem custar US$ 4,5 tri em 10 anos

Desastres naturais e causados pelo homem têm o potencial de causar perdas de US$ 4,56 trilhões nos próximos dez anos nas principais cidades do mundo, de acordo com um estudo da Universidade de Cambridge.

No Brasil, 11 cidades analisadas pelo estudo estão expostas a perdas potenciais de quase US$ 150 bilhões.

O estudo, encomendado pelo Lloyd’s de Londres, analisa a capacidade de causar prejuízos econômicos de 18 tipos de desastres, incluindo desde riscos tradicionais como terremotos e furacões até novas ameaças como ataques cibernéticos ou os efeitos de tempestades solares.

As ameaças com maior capacidade de gerar grandes prejuízos financeiros são os colapsos de mercados financeiros, que, segundo o estudo, podem destruir US$ 1,05 trilhão em riqueza até 2025.

Em segundo lugar vêm as pandemias humanas, com US$ 592 bilhões, seguidas pelos vendavais e furacões, com US$ 587 bilhões. Terremotos e enchentes completam o ranking das cinco maiores riscos em termos de perdas econômicas potenciais.

As simulações de impactos destes riscos foram aplicadas a 301 cidades. Uma das conclusões do estudo é que os países emergentes vão arcar com uma proporção cada vez maior dos danos causados por desastres, naturais ou não, nos próximos dez anos.

Entre os fatores considerados para avaliar os prejuízos estão as práticas de gestão de riscos das cidades estudadas e as estruturas de reação a crises que lhes podem ajudar a se recuperar de uma catástrofe.

Brasil

São Paulo (Crédito: Agência Brasil)
São Paulo (Foto: Agência Brasil)

No Brasil, o estudo avaliou a exposição de risco das 11 maiores capitais do país em US$ 148 bilhões.

As cidades avaliadas foram São Paulo (com perdas potenciais de US$ 63 bilhões), Rio de Janeiro (US$ 24,3 bilhões), Brasília (R$ 11,6 bilhões), Belo Horizonte (R$ 10,1 bilhões), Porto Alegre (R$ 8,8 bilhões), Curitiba (R$ 6,8 bilhões), Salvador (R$ 6,7 bilhões), Recife (R$ 4,8 bilhões), Manaus (R$ 4,3 bilhões), Fortaleza (R$ 3,8 bilhões) e Vitória (R$ 3,6 bilhões).

Em São Paulo e Manaus, as principais são os colapsos dos mercados, as pandemias e as enchentes. Nas outras cidades, os riscos cibernéticos são vistos como mais potencialmente daninhos do que as enchentes.

Um novo choque de preços do petróleo e a possibilidade de calote soberano por parte do governo brasileiro também aparecem com destaque entre os riscos de maior capacidade de destruição econômica nas cidades brasileiras.

Mundo
De acordo com o Estudo, a exposição de São Paulo aos 18 riscos avaliados é mais elevada do que a de metrópoles do Primeiro Mundo como Londres e Paris.

A capital paulista é a terceira cidade mais exposta no mundo a riscos emergentes como ataques cibernéticos, pandemias e tempestades solares, e a 13ª que mais pode sofrer prejuízos com todas as ameaças combinadas.

No mundo emergente, apenas Taipei, Manila, Istanbul, Xangai, Hong Kong, Teerã e Lima apresentam maior risco de perdas econômicas. Nas capitais iraniana e peruana, mais da metade das perdas potenciais se devem ao risco de terremoto, enquanto que a filipina sofre um acentuado risco de vendavais e furacões.

A líder do ranking é Taipei, com uma exposição potencial de U$180 bilhões, seguida de japonesa Tóquio, com US$ 153,3 bilhões, e Seul, na Coréia do Sul, com US$ 103,5 bilhões. As três estão expostas a uma série de desastres naturais como furacões, terremotos e enchentes, além de riscos econômicos como colapsos dos mercados e choques petrolíferos.

Nova York e Los Angeles lideram o ranking nos Estados Unidos com mais de US$ 90 bilhões em exposições.

Clique aqui para acessar a página do Lloyd’s City Risks Index.




Para Banco Mundial, falta diálogo sobre gestão de riscos no Brasil

Para o Banco Mundial, discussões sobre a relação entre a gestão de riscos no setor público e no setor privado são essenciais, mas praticamente inexistentes no Brasil.

De acordo com Frederico Pedroso, especialista em gestão de risco de desastres da instituição no Brasil, o banco considera o tema prioritário. “Mas mal e mal conseguimos falar de relação público-privada em outras áreas, imagine nessa”, afirmou ele após palestra realizada em Curitiba. “É preciso um processo de amadurecimento de ambas as partes. O diálogo não funciona muito bem hoje.”

Segundo o especialista, quando se fala em desastres com origem na natureza, o problema não está só nas grandes catástrofes, já que eventos de menor parte também causam sérios danos à sociedade.

“(Estes eventos) acontecem todos os dias nos municípios menores e afetam a economia local, que vai se depreciando,” disse Pedroso. “Isso pode impedir, por exemplo, uma indústria de se instalar na cidade”.

Sem uma unidade maior entre público e privado, mesmo quando uma empresa implementa um programa sofisticado de gestão de riscos, seus efeitos acabam sendo limitados, já que não podem passar dos muros da companhia. “A partir dali tem a estrada, o porto etc, que são públicos”, afirmou.

Histórico
O Banco Mundial estruturou melhor sua atuação na gestão de riscos de desastres há cerca de dez anos, quando foi criada uma estrutura específica para lidar com o assunto.

A instituição, que funciona como um agência de fomento e crédito, entende que a gestão de riscos é um instrumento poderoso para o desenvolvimento, garantindo segurança e meios para amenizar prejuízos. Mais do que isso, permite que a população se desenvolva.

De tanto receber pedidos de refinanciamento para obras já financiadas e destruídas por algum desastre natural — principalmente no Caribe e na Ásia —, o banco decidiu criar mecanismos para reduzir o problema.

Cada evento de reconstrução representava um prejuízo grande para quem contraiu o empréstimo e uma inconsistência para quem fornecia o dinheiro, contou Pedroso, que é pós-doutorado em gestão de riscos de desastres pela Universidade de Kyoto, no Japão.

O banco começou então a incluir alguns requisitos de gestão de riscos nos projetos a serem financiados, a fim de induzir um mapeamento dos riscos de desastres naturais onde a obra vai ser construída.

O processo institucional é mais de aconselhamento do que de exigências, explica o especialista. O banco aponta a necessidade de gerenciar determinadas questões, a fim de maximizar as chances de sucesso daquele financiamento. Se a obra é uma ponte, faz-se uma análise do potencial de inundação da região, exemplifica Pedroso.

O maior controle da exposição ao risco gera resultados positivos, como pode ser visto numa estatística apresentada por Pedroso.

Enquanto os prejuízos causados no Brasil, entre 2008 e 2013, foram de US$ 1,7 bilhão na média anual, a Indonésia registrou danos significativamente menores, de US$ 460 milhões, mesmo sendo uma região com maior quantidade de eventos desastrosos.

O país do sudeste asiático possui 17 mil ilhas que ficam assentadas numa região entre três diferentes placas tectônicas, o que garante a frequência de eventos como terremotos, vulcões e tsunamis. Mais de 170 mil pessoas morreram no país durante o tsunami de 2004.

Já o Brasil registra muito menos eventos, mas teve no período casos graves como as enchentes em Santa Catarina, Pernambuco e Alagoas, além de deslizamentos de terra no Rio de Janeiro.

Para Pedroso, a diferença no tamanho do prejuízo de cada país se deve ao controle dos riscos, que no Brasil é mais precário. Na Indonésia acontecem muito mais eventos desastrosos, mas eles são monitorados. Aqui ocorrem menos, mas sem muito monitoramento. Resultado: mais danos aqui.

Mas o trabalho do Banco Mundial no setor começa a ganhar corpo no Brasil. No ano passado, foi publicado o primeiro estudo “Risco e Oportunidade: Gestão de Risco para o Desenvolvimento”, tratando de temas como distúrbios sociais, crise econômica e desastres.

Em março passado, o banco divulgou o primeiro “Diagnóstico da Políticas e Programas de Gestão de Risco no Setor Agropecuário”.




Aumento do uso de drones cria novos desafios para gestão de riscos

A proliferação do uso de veículos aéreos controlados remotamente, os drones, está criando novos desafios para o mercado segurador e também para os gestores de riscos de empresas, que cada vez mais utilizam esses aparelhos em seu dia-a-dia.

Companhias como Amazon e Facebook já empregam drones em suas atividades. No Japão, os aparelhos  são utilizados para irrigação. Até veículos de comunicação como a BBC valem-se da tecnologia na produção de reportagens em áreas de difícil acesso.

Os riscos representados pela crescente utilização dos aparelhos foram ressaltados em um relatório divulgado recentemente pela Federal Aviation Administration (FAA), a autoridade de aviação civil do governo dos Estados Unidos.

De acordo com o órgão, pilotos de avião no país reportaram 650 casos em que tiveram contato visual com drones enquanto estavam pilotando suas aeronaves entre janeiro e 9 de agosto deste ano.

Em 2014, o número de visualizações em todo o ano foi de 360.

A FAA alertou que a presença de drones nas proximidades de aviões é ilegal e constitui risco de acidente aéreo. Muitos dos casos que chegaram ao conhecimento da organização envolvem aviões comerciais de passageiros cujos pilotos ficaram assustados pela súbita aparição dos veículos não-tripulados.

O órgão também afirmou que aviões que participavam de operações de combate a incêndio no Oeste americano tiveram por vezes que suspender suas atividades devido à presença de veículos não pilotados no espaço aéreo da região.

Na cabeça
Os riscos criados pelos drones, no entanto, tendem a se tornar cada vez mais parte do cotidiano  das empresas na medida em que o uso, comercial ou não, de tais aparelhos se intensifica, afirmam especialistas.

Um relatório sobre o tema publicado esta semana pelo Lloyd’s de Londres conta, por exemplo, o caso de um atleta australiano que, em abril de 2014, sofreu ferimentos após ter sido atingido por um drone que caiu na  cabeça dele.

Alguns meses mais tarde, em Nova York, o cliente de um restaurante foi ferido por um drone que estava fazendo fotos do estabelecimento.

“Na medida em que a tecnologia continua a se desenvolver e a ser utilizada comercialmente, grandes sinistros são uma ameaça constante. Por exemplo, danos e despesas legais substanciais poderiam ser criadas se um drone colidir com um avião de passageiros comercial, causando a sua queda”, alerta o Lloyd’s no relatório.

De acordo com a empresa, as barbeiragens cometidas por controladores de drones mal preparados constituem apenas uma das novas ameaças criadas pelos aparelhos.

Outros riscos incluem a vulnerabilidade dos drones a ataques cibernéticos e a sua utilização para finalidades que invadem o direito à privacidade de terceiros, o que pode redundar em litígios e indenizações de responsabilidade civil.

Além disso, a elaboração de coberturas de seguros é complicada pela falta de um regime regulatório comum nos diversos países em que a utilização dos veículos não-pilotados está crescendo com rapidez, de acordo com o Lloyd’s.

No momento, já existem alguns produtos de seguro no mercado global especificamente desenhados para cobrir as atividades de drones utilizados comercialmente.

Na União Européia, segundo o Lloyd’s, é obrigatória a contratação de seguros de danos a terceiros para drones que pesam mais de 20 quilos. As coberturas padrão disponíveis incluem também proteção contra danos ao veículo e a seus sistemas durante sua utilização comercial.

Mas as exposições criadas pelos drones não se limitam a esses riscos. De acordo com o Lloyd’s, as empresas também podem negociar apólices que incluem coberturas de D&O, PI (responsabilidade civil profissional), responsabilidade do empregador, terrorismo, guerra, riscos cibernéticos e outras, que são negociadas caso a caso com as empresas que compram o seguro.

Novidades
Um estudo recente da corretora Marsh aponta que, apesar de relativa escassez de dados e estatísticas sobre o setor, o mercado tem lançado produtos de seguros dirigidos tanto a empresas que fabricam os drones quanto seus usuários.

Muitas vezes, os contratos são adaptados das coberturas já existentes para veículos aéreos tripulados, com mudanças para adequar os contratos às características de cada aparelho. Por exemplo, o termo “avião” é substituído por “UAS”, sigla em inglês para “sistema aéreo não pilotado”, e “piloto”, por “controlador”.

No momento, o tipo de cobertura que cresce com maior rapidez envolve veículos utilizados em operações do tipo VLOS, visual line of sight, ou seja, em que o controlador mantém contato visual com o aparelho, podendo assim evitar colisões, sem o auxílio de outros aparatos.

As apólices abrangem drones utilizados especialmente para a entrega de cargas, com coberturas de danos de até US$ 1 milhão.




Gerente de risco e compliance são profissionais mais visados

Gerentes de controladoria, riscos e de compliance são os profissionais mais visados pelo mercado atualmente, de acordo com levantamento da consultoria de recrutamento executivo Randstad Professionals.

Segundo Anna Mello, gerente da empresa, a crise faz com que empresas busquem profissionais cuja função resulte em ganho de escala, redução de custos e melhoria da produtividade.

“Todas as empresas estão buscando a máxima adequação às novas legislações devido ao cenário político”, disse Mello ao portal G1, que publicou a reportagem nesta quarta-feira (26/8).

“Com isso, abre-se espaço no mercado para gerentes de controladoria, riscos e compliance. O  gerente de riscos está envolvido em processos financeiros, de comercialização e vendas (geração de receita), que são responsáveis pelo coração de qualquer negócio.”

Clique aqui para ler a reportagem completa do G1.




Escola cria MBA para profissionais da gestão de riscos e seguros

A Escola Nacional de Seguros irá realizar um MBA dedicado à Gestão de Riscos e Seguros. O programa foi desenhado para atender principalmente profissionais do nível de gerência e supervisão de riscos, além de técnicos ligados à cadeia produtiva do seguro — ainda que possa, segundo a escola, contemplar demandas de executivos da alta gestão.

De acordo com a escola, o curso tende a atrair profissionais que buscam referências sobre as melhores práticas no setor.

Os organizadores lembram que os gestores de risco trabalham com uma vasta e complexa variedade de demandas, o que muitas vezes pode gerar insegurança na hora de tomar decisões — principalmente se for levado em conta que a percepção sobre esta área pode variar até mesmo dentro da uma mesma organização.

Dentro deste contexto, um dos objetivos do curso é servir de referência para os profissionais, que poderão assim fundamentar suas decisões em experiências bem-sucedidas em outros lugares.

Demandas do mercado
Trata-se do primeiro MBA específico na área depois que a escola, antes mais conhecida como Funenseg, foi homologada oficialmente como instituição de ensino superior pelo Ministério da Educação. O curso foi construído de acordo com as demandas colhidas pelo mercado segurador, sendo totalmente reformulado em relação a cursos similares feitos no passado pela escola.

Como se trata de uma atividade de especialização, há pré-requisito de formação de nível superior. Assim, diz a escola, os participantes têm mais condições de absorver os conceitos expostos e transformá-los em processos gerenciais úteis ao seu dia a dia no gerenciamento de risco.

A data de início das aulas ainda está sendo definida, mas deve ocorrer este ano.

O programa foi organizado em quatro módulos, incluindo desde os fundamentos dos riscos até ferramentas de gestão e validação das aplicações de seguros para mitigação dos riscos operacionais.

O primeiro módulo vai trabalhar o contexto da atividade, abordando aspectos ligados aos objetivos das empresas e ressaltando a visão estratégica necessária para um bom gerenciamento de riscos. Contempla também as ferramentas básicas que possibilitam cumprir as exigências de governança e controles internos inerentes à atividade.

Os módulos referentes à avaliação e ao tratamento dos riscos segue a norma ISO 31000, que é uma referência mundial para gestão de riscos. A ideia é discutir práticas e metodologias de análise, avaliação e tratamentos dos mais diferentes riscos a que as empresas estão expostas.

O módulo de projeto e pesquisa irá orientar o aluno a apresentar soluções concretas para o mercado.

Serviço

MBA Gestão de Riscos e Seguros
Início do curso: a confirmar.
Custo: R$ 800,00 mensais.
Carga horária total: 480 horas-aula, distribuídas de 20 a 22 meses.
Dia das aulas: sábados.
Número de vagas: 35.
Local: São Paulo – SP.

Veja aqui como se inscrever.




Terrorismo pede gestão de risco a empresa globalizada

Keith Martin, consultor da Aon.
Keith Martin, consultor da Aon.

A crescente internacionalização das empresas brasileiras faz com que muitas tenham que lidar com riscos que não existem no Brasil, obrigando-as a buscar formas de gerir novas exposições de seu negócio.

O terrorismo é um desses casos. Trata-se de um fator muito mais presente nos noticiários do que no dia-a-dia das empresas nacionais. Mas o envolvimento de grupos brasileiros em regiões como a África e o Oriente Médio, ou mesmo os Estados Unidos e a Europa, tornam o tema um foco de preocupação de diversos gestores de riscos do país.

Em entrevista à Risco Seguro Brasil, Keith Martin, consultor em riscos de terrorismo da corretora Aon baseado na África do Sul, explica por que o terrorismo deve ser em levado consideração pelas empresas, não só devido à sua presença no exterior, mas também pelo perfil cada vez mais global do Brasil. (A Aon publica um mapa do risco de terrorismo que pode ser acessado clicando aqui.)

Martin diz que empresas brasileiras não são alvos de grupos fundamentalistas, mas alerta que podem sofrer tanto direta quanto indiretamente com os efeitos de um ataque terrorista. Ele observa também que a ausência de ataques terroristas durante a Copa do Mundo de 2014 não significa que os Jogos Olímpicos de 2016 não venham a ser visados por grupos radicais.

Leia abaixo a entrevista:
Risco Seguro Brasil — Há um aumento global no risco de ataques terroristas contra empresas? As empresas brasileiras devem se preocupar com este risco?
Keith Martin — A Aon avalia que há um aumento no risco de ataques terroristas em certas regiões do mundo. Esses ataques quase sempre afetam também empresas – mesmo que elas raramente sejam alvos em si.  A exceção são companhias que são símbolos de certos países, como marcas de restaurantes fast-food e hotéis norte-americanos – essas podem, sim, serem alvos diretos.

Em geral, as empresas brasileiras não são alvo, mas têm que ter cuidado em certas regiões, como o Oriente Médio, devido ao risco de efeitos colaterais de ataques contra outros alvos.

RSB — Que áreas estão mais expostas a este risco? Há alguma região do planeta onde as empresas brasileiras estão presentes e onde há risco de terrorismo mais acentuado?
Martin — As áreas atualmente mais expostas são os países com grandes populações de muçulmanos, sejam eles majoritários ou minoritários, no Oriente Médio, na Ásia e na África, além dos Estados Unidos e da Europa Ocidental.  Obviamente, as empresas brasileiras são presentes em alguns desses países, e precisam ter cautela.

De modo geral, não há grande presença de empresas brasileiras via investimento etc. no Oriente Médio, mas na África, as empreiteiras brasileiras, cada vez mais espalhadas pela região, precisam ficar de olho na expansão do terrorismo por lá, inclusive em países como o Quênia.

Na Europa e nos Estados Unidos, as empresas brasileiras devem analisar cautelosamente o seu perfil de risco, em termos também das empresas implantadas na vizinhança delas.

Destacamos também que eventos globais aumentam o risco de terrorismo de forma aguda. Mesmo que a Copa 2014 tenha sido tranquila deste ponto de vista, as Olimpíadas no Rio 2016 também podem ser alvo de terrorismo, particularmente considerando que os Jogos já foram alvo de ataques diretamente pelo menos duas vezes (Munique 1972 e Atlanta 1996) e indiretamente (Beijing 2008).

A presença de atletas de países como Israel, Estados Unidos, Afeganistão, Iraque, Irã etc. e o status de “palco global” dos Jogos fazem deles, infelizmente, um alvo de alto valor para os terroristas.  Neste sentido, é importante que tanto o país como a cidade do Rio de Janeiro, além das empresas lá presentes, estejam preparados.

RSB — Como se define o risco de terrorismo? Que tipos de atividades estão cobertas? Por exemplo, as ações das Farc na Colômbia estão incluídas nestas coberturas? E ações como os ataques em série do PCC contra forças de segurança no Brasil também estariam cobertas?
Martin — É importante mencionar que o mercado oferece três coberturas, desde a mais “estreita” (que inclui somente terrorismo e sabotagem) até a mais ampla (todo tipo de violência política, incluindo guerra e guerra civil).

Normalmente, para evitar discussões com as seguradoras sobre a natureza do possível sinistro, recomendamos, pelo menos, a cobertura intermediária, que inclui terrorismo, sabotagem, comoção civil, motins e danos maliciosos.

Ações das Farc estão incluídas em qualquer uma das três coberturas, incluindo a mais restritiva. O mercado já pagou vários sinistros (tanto para danos materiais como para lucros cessantes) causados pelos Farc e outros grupos na Colômbia.

É importante que o grupo que cometa os atos de violência seja reconhecido como grupo com motivos políticos, ou que pelo menos os atos específicos eram de natureza política, religiosa ou étnica.  Quando se trata de um grupo visto mais como um grupo criminoso, e não político, como o PCC ou os grupos de narcotráfico no México, fica mais difícil argumentar que seja terrorismo ou outro tipo de violência política.

Note-se também que o fato que um governo considera os seus opositores como “terroristas” não necessariamente significa que as seguradoras vão reconhecê-los como tal. Por exemplo: na Síria, o governo considera todos os grupos armados da oposição como terroristas, mesmo os mais moderados, que países ocidentais estão apoiando. Neste caso, pode ser que a seguradora considere danos causados por conflitos entre esses rebeldes e o exército sírio como guerra civil e não como terrorismo.

RSB — Que tipos de danos são cobertos pelas apólices de seguro contra o terrorismo? Além dos danos materiais à propriedade, é possível, por exemplo, incluir a remoção de membros do staff e seus familiares de áreas onde o risco se torna mais crítico?
Martin — Além dos danos materiais, as apólices podem incluir perdas por causa de lucros cessantes, algo muito importante porque muitas vezes, particularmente para empresas, os danos devidos à interrupção de negócios são muito maiores do que os danos físicos.

As apólices geralmente não cobrem remoção de membros do staff etc. Para isso, há outros serviços – inclusive seguro de viagem ou serviços de apoio para expatriados (que inclui terrorismo junto com sequestro, remoção por causa de terremotos, tsunamis, problemas médicos etc.).  A Aon oferece esse serviço, inclusive para empresas brasileiras.

RSB — Quais são as tendências de preços e condições de coberturas de seguros contra o terrorismo? Há áreas ou setores onde não é possível obter cobertura no mercado atual?
Martin — Globalmente, não houve aumento de preço porque o mercado de seguros, de modo geral, está muito soft atualmente. Há muita capacidade no mercado, e particularmente nos specialty lines como risco político, onde o retorno é considerado maior do que nas coberturas mais comuns.

Obviamente para certos países, não há cobertura, ou somente muito limitada.  Isso inclui países como Iraque, Líbia e Síria.  Existem alguns outros em que os prazos são mais curtos e as taxas mais altas, como na Nigéria, por exemplo.

Os ataques recentes na França e nos Estados Unidos não devem (ainda) influenciar muito o preço, já que foram ataques isolados com poucos danos materiais.  Obviamente, quaisquer ataques de maior escala (como no 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, ou os ataques de 2004 em Madrid e de 2005 em Londres) podem mudar o quadro.

RSB — Qual é a melhor forma para uma empresa brasileira organizar seu programa de seguros contra riscos de terrorismo? É possível organizar uma cobertura global, e, em caso positivo, que mercados fornecem essas coberturas? São necessárias apólices locais em alguns países?
Martin — Recomendamos uma análise aprofundada, junto com o corretor, que deve ter experiência no assunto, da exposição da empresa ao risco e particularmente a definição de uma possível cobertura para o risco.

Sim, é possível e até comum, organizar uma cobertura global, e os principais mercados são Londres (Lloyd’s) e os Estados Unidos (AIG, Ace, XL, Zurich…), com participação de resseguradoras como Swiss Re e Munich Re.  E sim, em alguns países é necessário emitir a apólice localmente.

RSB — É uma boa ideia transferir este risco com o auxílio de uma empresa cativa?
Martin — Se for só para esse risco, a resposta para a grande maioria das empresas brasileiras é não.  Somente seria rentável para empresas com grande presença, ou com uma presença particularmente forte no Oriente Médio. Se já existe uma cativa, ela pode, sim, auxiliar – mas sugerimos o apoio de um corretor especializado, por se tratar de um risco muito complexo e fora do padrão.




Demanda por gestor de riscos dispara e se sofistica

Alexandre Zuvela, sócio-diretor da Fesa.
Alexandre Zuvela, sócio-diretor da Fesa.

A preocupação crescente das empresas com gestão de riscos fez a procura por profissionais da área aumentar 30% este ano, notadamente para cargos de diretoria, segundo Alexandre Zuvela, sócio-diretor da Fesa, uma das principais companhias de recrutamento de executivos no Brasil.

Além do aumento da demanda, também está ocorrendo nas companhias em que o setor está mais maduro um processo de procura por profissionais mais estratégicos, com visão mais ampla do negócio, que garantam um eficiente gerenciamento de riscos sem descolar do lado comercial.

Esse movimento no mercado de trabalho ganha ainda mais relevância frente ao quadro econômico negativo pelo qual o país atravessa, com  desemprego formal crescente.

A crise, no entanto, é justamente um dos fatores que levam ao aumento na busca por profissionais de risco, de acordo com Zuvela, que é responsável pelo recrutamento na área de seguros e mercado financeiro da Fesa.

“Em momentos de crise as empresas tendem a aceitar mais riscos, a serem mais flexíveis nas negociações”, explica ele. “Aumenta a preocupação com as métricas e o compliance. As empresas mais tradicionais dão mais foco a riscos mais amplos, além daqueles com os quais estão acostumadas, como o financeiro. Passam a olhar desde os riscos de imagem,  operacional, de continuidade do negócio… Tentam entender melhor todos os riscos a que estão expostas. Então há mais busca por profissionais que tenham essa visão ampla.”

Zuvela chama de “figura nova” este tipo de profissional, num caminho que entende como um aprimoramento deste ramo de riscos. “Há uma migração desses executivos para áreas cada vez mais estratégica das empresas”, diz ele. Dentro deste perfil, o profissional com uma acentuada formação técnica dentro da empresa passa a interagir de forma crescente com a área de negócios —  “olhando a gestão de risco com foco no business”, diz o recrutador.

Sênior
Alinhado a essa visão estratégica, a experiência da Fesa  mostra que é crescente também a procura para cargos de diretoria de profissionais de “risco puro” — aqueles cuja principal atuação será a gestão de riscos, e não uma posição em que o risco fará parte de um rol de outras funções dentro da companhia.

“É a figura de um pensador de risco estratégico para a companhia”, diz o executivo. “Trata-se de um perfil muito cross, que vai olhar todas as áreas de negócio com independência de ação. Vai além da auditoria, do compliance, da operação porque consegue ver a organização de uma forma muito transversal.”

Como gestão de risco é uma área relativamente nova no Brasil, a procura por “profissional de risco puro” ainda é menor e localizada nas companhias com histórico de gestão na área. A maior parte das empresas ainda busca profissionais de diretoria para desempenhar mais de uma função, entre elas, a gestão de risco.

De qualquer forma, diz o executivo da Fesa, a tendência de crescimento dos profissionais de risco deve continuar, haja vista que se trata de um setor em amadurecimento no Brasil — e portanto ainda não inteiramente compreendido por grande parte das empresas.

Minoria
Apesar do movimento registrado pela Fesa, o volume na área de riscos de outra grande recrutadora de executivos no país, a Michael Page, demonstra o amplo espaço ainda a ser ocupado por profissionais de risco no mercado.

A empresa de recrutamento tem uma área dedicada especificamente a seguros. A grande demanda, explica o gerente Marcelo Graseffi, é para colocação de funcionários nas próprias empresas seguradoras.

Uma minoria de cerca de 5% dos casos recai para empresas em geral que buscam profissionais de seguro para seu negócio — os quais podem desempenhar funções de gestores de risco. “Ainda tenho pouca demanda nessa área”, diz ele.

Para esses casos minoritários, segundo Graseffi, há demanda por muitos profissionais que irão trabalhar na área de compras, por exemplo.

Trata-se de uma situação muito similar ao histórico de evolução da gestão de risco relatado por profissionais da área — o gestor que começa como “comprador de seguro” e aos poucos vai ganhando novas funções no gerenciamento de riscos da empresa.




Para especialista, risco de desastre natural é mal gerido nas empresas

O Brasil é frequentemente afetado por temporais, enchentes e outros desastres naturais como os que atingiram o Paraná e Santa Catarina em julho. Mesmo assim, as empresas do país não estão conscientes da necessidade de gerir este risco, de acordo com um especialista da Fundação Getulio Vargas.

Renato Flôres, diretor do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV, também afirmou à Risco Seguro Brasil que o mercado de seguros precisa lançar produtos mais adequados e dar uma melhor orientação sobre esse tema a seus clientes corporativos.

As fortes chuvas e ventos que atingiram o Sul do Brasil este mês mataram quatro pessoas e causaram danos a mais de 5.100 propriedades no Paraná e em Santa Catarina, de acordo com os governos dos dois estados.

Em uma estimativa inicial, a Secretaria de Defesa Civil catarinense estimou os prejuízos causados pelos temporais em quase R$ 13 milhões para o setor privado e R$ 26 milhões para o setor público.

As perdas ocorreram menos de três meses depois que um tornado atingiu Xanxerê, também em Santa Catarina, causando dezenas de milhões de reais em prejuízos. Em anos recentes, enchentes originaram grandes perdas econômicas em Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, entre outros estados.

Aliados com a forte seca que vem afligindo várias regiões do país nos últimos anos, esses eventos desafiam a popular noção de que o Brasil é um país que não está sujeito a catástrofes naturais.

Entre 2010 e 2013, de acordo com a resseguradora Terra Brasis, foram registrados no país 10.542 eventos que podem ser qualificados como desastres naturais, principalmente ligados à seca (6.812) e a enchentes e inundações (3.013).

Falta conscientização
A frequência das perdas ainda não foi suficiente, porém, para convencer as empresas da necessidade botar mais ênfase na gestão de riscos de catástrofes naturais, segundo Flôres.

“Não há consciência ainda sobre os riscos naturais e as próprias catástrofes”, disse ele. “E tudo indica que estamos entrando em um período em que a probabilidade de estes eventos acontecerem será maior.”

No Brasil, explicou ele, existe uma percepção até certo ponto justificada de que não há grandes riscos de catástrofes naturais. Mas nos últimos anos esta percepção está sendo contradita por uma sucessão de eventos que causam danos cada vez maiores.

“Tem havido furacões, alguns já com uma intensidade razoável”, disse Flôres. “Há áreas potencialmente de erupção vulcânica. Então é preciso tomar cuidados.”

Flôres desenvolve trabalhos na FGV no que define como “antifragilidade”, que implica a criação de rotinas e procedimentos que reduzam a fragilidades das atividades das empresas.

Mas é um trabalho ainda muito incipiente, disse ele, já que muito poucas companhias brasileiras possuem uma visão integrada dos riscos de desastres naturais que elas enfrentam.

“As empresas brasileiras nem começaram a lidar com o problema”, afirmou Flôres. “Ainda é preciso fazer um trabalho muito grande nesta área.”

Falta seguro
Outro problema é que, mesmo que uma empresa decida levar a sério a gestão de riscos de catástrofes naturais, ela terá dificuldade em encontrar uma solução de transferência deste risco para o mercado segurador.

Flôres disse que o mercado de seguros, nesta área, não possui os dados necessários para definir o preço de uma cobertura, o que impede o oferecimento de produtos adequados para cobrir o risco.

“É um mercado fino, e por isso o problema está nos dois lados”, afirmou Flôres. “O comprador não sabe direito onde encontrar o produto que necessita, porque não há oferta suficiente. Mas a demanda também é muito pequena. Do lado de quem oferta o seguro, existe dificuldade para precificar.”

Para solucionar esta situação, segundo Flôres, é necessário que o mercado realize um trabalho mais profundo no sentido de ensinar a potenciais compradores como é possível transferir o risco de desastres naturais.

“O processo de conscientização dos demandadores de seguro é lento”, afirmou. “As companhias do setor precisam fazer um esforço de se aproximar dos clientes e explicar como as coberturas podem ajuda-los. Também deveriam fazer um investimento no sentido de identificar e desenvolver produtos para este segmento.”




Simulação de ataque hacker estima prejuízos de US$ 1 trilhão

Severa interrupção de negócios, prejuízos colossais para empresas e governos e a morte de pessoas inocentes. Essas seriam algumas das consequências no pior cenário de um grande ataque cibernético contra o sistema elétrico dos Estados Unidos, segundo um estudo elaborado pela Universidade de Cambridge.

O estudo encomendado pelo Lloyd’s londrino simula o potencial de destruição de um ataque concertado sobre o sistema de distribuição elétrica americano.

A simulação consiste em um blecaute generalizado atingindo 15 estados do nordeste do país, uma região que inclui as cidades de Nova York e Washington, entre outros polos econômicos.

Um total de 93 milhões de pessoas ficariam sem luz, a maior parte das quais por apenas 24 horas, mas em algumas regiões a provisão de eletricidade não voltaria ao normal em menos de duas semanas.

O resultado seria um evento de proporções catastróficas, causando até US$ 1 trilhão de prejuízos, US$ 71,1 bilhões dos quais seriam assumidos pela indústria seguradora.

Os danos seriam causados pela suspensão de serviços médicos e de saúde, fechamento de portos, corte do suprimento de água, caos no transporte coletivo e outras efeitos resultantes da falta de luz. Isso sem mencionar os danos diretos à infraestrutura das regiões atingidas e a interrupção de atividade em milhares de empresas.

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Os pesquisadores criaram um cenário em que uma organização desconhecida pelas autoridades contratam um grupo de hackers com conhecimento do sistema de distribuição elétrica com a finalidade de elaborar um ataque coordenado nos Estados Unidos.

Os hackers criam um malware que se instala nos computadores das estações de controle de 50 geradores de energia localizados no nordeste americano. Em um dia quente de verão, os hackers assumem controle dos geradores, forçando-os a superaquecer e causando uma sobrecarga de energia em várias pontos da rede de distribuição.

Os autores do estudo dizem que o cenário é plausível, já que um reduzido grupo de hackers teria condições técnicas, ao menos na teoria, para realizar um ataque de tal envergadura.

Mas eles também observam que se trata de uma ação improvável mesmo para hackers sofisticados, pois é complicado organizar uma ação deste tipo, e as organizações do setor do possuem seus próprios mecanismos de defesa.

O fato é que o tema dos ataques cibernéticos contra infraestruturas básicas já há tempos preocupa os governos. De fato, o gestor de riscos de uma grande multinacional recentemente disse à Risco Seguro Brasil que um ataque contra quatro subestações de energia elétrica ocorreu há alguns meses na Califórnia, forçando a implementação de um dispositivo de emergência para a proteção de infraestruturas críticas nos Estados Unidos. O ataque não foi reportado pela mídia.

Impacto no seguro
O estudo tem uma preocupação especial com a questão de como a indústria de seguros seria atingida por um evento de tamanha dimensão, e a conclusão é que haveria uma grande variedade de pedidos de indenização.

As empresas geradoras de energia, por exemplo, reportariam sinistros diretos por danos a sua estrutura física, por lucro cessante devido à interrupção do fornecimento a seus clientes, pelos custos incorridos em ações de resposta junto ao público e pelas multas que poderiam receber dos órgãos reguladores pela quebra de suprimento de eletricidade.

Empresas de outros setores também sofreriam perdas cobertas por suas apólices de seguro de propriedade, além de lucro cessante e possíveis indenizações a trabalhadores por causa de acidentes resultantes da perda de luz. Outra possível consequência seria a ruptura de sistemas de disposição de resíduos, que poderia resultar em multas por crimes de responsabilidade ambiental.

Companhias de fora da região também seriam afetadas pela interrupção de sua cadeia produtiva, e a eventual queda do preço das ações de empresas afetadas poderia resultar em ações de indenização contra seus executivos por parte de acionistas. Dessa maneira, seriam acionadas suas apólices de D&O.

Pagamentos de indenizações por cancelamento de eventos e outras apólices de seguros especializados seriam impactos adicionais da catástrofe junto ao mercado segurador. Uma gorda conta também chegaria ao setor do lado dos seguros de vida, de automóveis e de moradia.

Clique aqui para ler o estudo em inglês.




Risco à reputação da empresa é subavaliado no Brasil, diz especialista

Mitsuru Yanaze, do Ceacom da USP.
Mitsuru Yanaze, do Ceacom da USP.

A imagem é um dos bens mais importantes de uma organização. Mas as empresas brasileiras ainda não demonstram grande interesse para monitorar e gerir o risco de danos à reputação.

Esse é o ponto de vista de um dos principais especialistas em risco de imagem do país. De acordo com Mitsuru Yanaze, coordenador do Centro de Estudos de Avaliação e Mensuração em Comunicação e Marketing (Ceacom) da Universidade de São Paulo.

“Infelizmente os altos executivos ainda não perceberam a importância do valor da marca e da imagem corporativa nos negócios”, disse Yanaze à Risco Seguro Brasil.

“Nas grandes fusões que estão acontecendo hoje, uma relevância muito pequena das operações está relacionada à parte tangível, ao patrimônio líquido da organização. Mas os investidores estão dispostos a pagar preços monstruosos pela parte intangível, que é a percepção que as outras pessoas têm da empresa.”

Pesquisa do Ceacom com as 50 maiores empresas do Brasil revelou que não mais que 5% delas possui um sistema de monitoramento de imagem, segundo Yanaze, que também é autor do livro Retorno de Investimentos em Comunicação: Avaliação e Mensuração, que trata do assunto a fundo.

Um exemplo do impacto que os danos à reputação podem ter em uma empresa é a Petrobras, cujo valor de mercado despencou após a eclosão da Operação Lava Jato. Um dos principais motivos, diz Yanaze, foi a deterioração da imagem da empresa, que passou a ser associada a casos de corrupção.

Guia inglês
Fora do Brasil, o risco de reputação ganha cada vez mais espaço na agenda das empresas, e grandes companhias fazem pressão sobre a indústria de seguros para que ela apresente soluções que possibilitem sua transferência ao mercado.

A preocupação se reflete em um guia lançado em julho pela Airmic, a associação britânica de gestão de riscos, que trata especificamente da definição e gestão do risco de imagem.

As empresas que fazem parte da associação reportaram que esta ameaça ocupa atualmente o topo do seu ranking de preocupações.

O tema ganhou importância extra após casos como os danos causados à imagem da BP após um grande vazamento de petróleo no Golfo do México, em 2010. O valor de mercado da empresa despencou, pressões da opinião pública incentivaram o governo americano a jogar duro contra a empresa na busca de indenizações.

Curto prazo e longo prazo
O guia aponta que um problema com a reputação de uma empresa pode levar danos de curto prazo a ter consequências graves e de longa duração, como lucros menores, perda de clientes e fuga de funcionários qualificados, além da desvalorização das ações da companhia.

A publicação, elaborada pelo Reputation Institute, um centro de pesquisa britânico, explica que os danos à reputação podem afetar a empresas de várias maneiras diferentes. Por exemplo, dúvidas podem ser levantadas sobre a capacidade da empresa de inovar, de oferecer produtos seguros ou de obter altas taxas de crescimento do negócio. O público também pode duvidar da honestidade e dos padrões éticos da empresa, seu compromisso com temas sociais ou sua capacidade de proporcionar boas oportunidades de emprego.

A gestão dos riscos de imagem e reputação exigem a avaliação do potencial impacto de eventos negativos, a implementação de medidas de reação e um monitoramento constante da percepção que o público possui da empresa. Mais detalhes podem ser obtidos no guia em inglês.

Sistema
A gestão de riscos à reputação está porém ainda em evolução no mundo. No próprio Reino Unido, apenas um terço dos gestores de riscos das empresas membro do Airmic estão confiantes em seus sistemas para lidar com o problema, e só 3% compram seguros especializados em danos de imagem.

Mas ferramentas para lidar com o tema começam a estar à disposição dos gestores de risco e suas empresas. O próprio Ceacom elaborou um sistema de monitoramento para avaliar a reputação de uma organização em diversos meios.

O sistema leva em conta desde menções na mídia tradicional e redes sociais, até a variação do número de candidatos a vagas de trabalho abertas pela empresa e as visitas de formadores opiniões a estandes em feiras de negócios. O objetivo é avaliar se a reputação da empresa corresponde à sua identidade corporativa.

Yanaze explicou que a identidade corporativa é a imagem que a empresa quer que stakeholders como acionistas, trabalhadores e clientes tenham dela. E uma boa imagem é o que dá origem à reputação que a empresa tem no mercado.

“Tanto a imagem quanto a reputação são extremamente vulneráveis”, avalia Yanaze. “A empresa está exposta a perder sua boa imagem com muito mais velocidade de que levou para construí-la. Então é fundamental monitorar isso o tempo todo.”

Em geral, porém, as empresas brasileiras tendem a ignorar este tema a não ser que estejam em meio a uma crise, ou que o presidente da companhia manifeste interesse no assunto. E nesses casos, o mais comum é que medidas apressadas, como a mera reunião de informações que saíram na imprensa, sejam suficientes para satisfazer os altos escalões da companhia.