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Terremotos causados por ação humana aumentam nos EUA

A ação humana está aumentando a frequência dos terremotos nos Estados Unidos, de acordo com dados divulgados esta semana.

Segundo a US Geological Survey, uma agência de estudos geológicos do governo americano, sete milhões de pessoas agora estão sujeitas a tremores de terra devido a efeitos de atividades econômicas, especialmente a exploração de petróleo e gás.

Os sismos induzidos, como a instituição qualifica tais terremotos, se concentram especialmente nas regiões central e leste do país.

A principal causa dos terremotos induzidos é a injeção de água residual industrial no subsolo. Trata-se de água que é extraída do subsolo junto com petróleo e gás e que tem uma salinidade excessiva para ser utilizada para fins de consumo humano.

Após a extração dos hidrocarbonos, a água residual é reinjetada em poços construídos debaixo dos depósitos de água potável do subsolo. Trata-se de uma técnica utilizada há décadas pela indústria petroleira, segundo os especialistas.

A USGS divulgou nesta semana não só um mapeamento inédito do risco de sismos induzidos, mas também do risco de tremores naturais no país. A conclusão é que o risco está aumentando.

“Nossa pesquisa mostra que uma parcela muito maior do país enfrenta uma chance significativa de sofrer terremotos danosos no próximo ano, sejam eles naturais ou induzidos pelo homem,” disse Mark Petersen, um executivo da USGS.

Oklahoma

O Estado americano que apresenta os maiores níveis de riscos de danos devido aos terremotos causados pela ação humana é Oklahoma, seguido pelo Kansas, Texas, Colorado, Novo México e Arksansas.

De acordo com a agência, a região central dos Estados Unidos apresentou um aumento dramático da frequência de terremos induzidos pelo homem nos últimos seis anos.

Entre 2009 e 2015, a região foi atingida por uma média de 318 sismos anuais com uma magnitude superior a três pontos na escala Richter, culminando com 1.010 no ano passado.

Em 2016, até a metade do mês de março, 226 terremotos já haviam sido observados na região. O maior tremor induzido pela ação humana registrada pela USGS teve uma magnitude de 5,6 pontos a atingiu a região de Prague, em Oklahoma, em 2011.

A USGS observou que nem todos os poços de injeção de água residual são associados a tremores de terra, ainda que vários já o tenham sido. Também alerta para que não se confunda esta prática com o chamado fraturamento hidráulico, uma técnica de exploração de petróleo que também se baseia na injeção de água no subsolo.

A entidade diz que seus estudos até o momento mostraram que raramente o fraturamento hidráulico, que viabilizou um dramático aumento da produção de petróleo americana nos últimos anos, pode ser associado a um aumento dos tremores.




Brasil e Argentina impulsam risco de crédito na América do Sul

Reprodução
Relatório da Crédito y Caución.

A provável contração das economias do Brasil e da Argentina constituem o principal risco na área de seguros de crédito na América do Sul, de acordo com a seguradora espanhola Crédito y Caución.

Em relatório divulgado esta semana, a empresa estima que a economia brasileira deve recuar 3% em 2016, com desemprego em alta e a inflação chegando a 7%.

“O crescimento da dívida corporativa no Brasil entre 2007 e 2014 é um dos mais intensos registrados em economias emergentes”, informa a companhia, que opera no Brasil sob a marca Atradius, que desde 2008 faz parte do mesmo grupo.

Na Argentina, a economia deve sofrer no curto prazo na medida em que as reformas implementadas pelo presidente Mauricio Macri desde sua posse, em dezembro, vão eliminando alguns dos desequilíbrios criados nos últimos anos. A inflação deve subir e a economia deve se contrair em um primeiro momento, ainda que as perspectivas sejam mais positivas no futuro.

Mas nem só Brasil e Argentina apresentam desafios para os credores e seus seguradores de crédito na América do Sul, diz a empresa. “Escândalos de corrupção, burocracia excessiva, desigualdade social, baixo nível da educação e reformas estruturais urgentes” são temas que se repetem por todo o continente.

Veja as avaliações do risco de crédito da Crédito y Caución nos principais países da região:

Brasil

Brasil
Estimativa de expansão do PIB: -3% em 2016;  1,4% em 2017. (Fotos: Freepik)

A empresa prevê que a retração da economia e a inflação serão um pouco menos dramáticas em 2016 do que no ano passado, mas o consumo deve continuar caindo na medida em que mais trabalhadores engordam as filas do desemprego.

A dívida do governo aumentará, e o crescimento das exportações deve se abrandar, mas o déficit em conta corrente deve cair de 3,3% em 2015 para 2,7% neste ano. Do lado positivo, a empresa nota que o déficit do governo está majoritariamente denominado em reais e tem uma maturidade média de 6,5 anos, o que reduz o risco de calote soberano.

Em termos dos setores da economia, os que mais preocupam, do ponto-de-vista do risco de crédito, são os de gás e petróleo, eletroeletrônicos e bens de consumo duráveis.

Também recebem qualificação negativas as indústrias da construção, bens de produção, metalurgia, papel, aço, têxtil e automotiva.

Já o setor da alimentação está tendo desempenho acima da média, e por isso a perspectiva para as empresas do ramo pagarem suas dívidas é bastante positiva. O agronegócio, a indústria farmacêutica e o setor de serviços também mostram uma conjuntura aceitável.

A dívida das empresas não-financeiras aumentou de 30% do GDP para 49% entre 2007 e 2015, diz a Crédito y Caución. A seguradora considera a relação dívida corporativa relativamente baixa, e observa que 90% do total é financiado domesticamente, o que mitiga os riscos de refinanciamento e de variação cambial.

O principal motivo de preocupação, porém, é a instabilidade política do país. “As possibilidades de que urgentes reformas estruturais necessárias para retomar o crescimento sejam realizadas […] se desvaneceram”, avalia o relatório. Isso preocupa também porque o país é vulnerável a mudaças de humor dos investidores internacionais, uma vez que 96% das reservas internacionais são constituídas de fluxos de investimento de portfólio.

Argentina

Argentina
PIB: 1% em 2016; 1,8% em 2017.

A Crédito y Caución argumenta que na Argentina a mudança de governo e as medidas implementadas por Macri logo de saída aumentaram o otimismo com relação ao futuro da economia, mas ainda não acabaram com a instabilidade.

A empresa prevê que o PIB argentino crescerá 1% neste ano, e o desemprego aumentará um ponto percentual até 8,2%. Mas há risco de contração econômica como resultado da combinação da inflação alta com o aperto fiscal promovido pelo governo.

No curto prazo as medidas liberalizantes de Macri devem alimentar a inflação e desvalorizar o peso. A taxa de juros de curto prazo do Banco Central argentino já passou de 8% para 38%, nota a empresa. A Argentina também enfrenta risco de descontentamento social uma vez que o governo desmonta a rede de subsídios implementada nos anos Kirchner.

Tampouco ajuda o fato de que o Brasil, em crise profunda, é o destino de mais de um quinto das exportações argentinas.

Os setores que mais preocupam do ponto-de-vista do risco de crédito são a construção, materiais de construção, metais, aço e têxteis. O setor automotivo e o de eletroeletrônicos também merecem atenção dobrada de credores e seguradores.

Chile

Chile flag
PIB: 2,2% em 2016; 2,8% em 2017

Ainda que geralmente mais bem administrada do que em outros países da região, a economia do Chile sofre atualmente com a queda dos preços das commodities, especialmente o cobre, de longe sua principal fonte de reservas internacionais.

As exportações de cobre em realidade respondem por 50% das exportações chilenas e 10% do PIB. A desigualdade de renda, baixo nível educacional e baixa produtividade são outros fatores que abalam a economia chilena.

A Crédito y Caución espera que o PIB do Chile cresça 2,2% neste ano, com um leve aumento do desemprego para 6,6% da população ativa. O país deve apresentar um leve déficit fiscal de 0,1% ao final de 2016, com a dívida do governo passando de 15,2% para 16,2% do PIB.

As empresas que devem preocupar mais os credores no Chile são as que trabalham nos ramos da metalurgia, automotivo, construção, mineração, aço e têxteis. A agricultura, os eletroeletrônicos e o setor de serviços também enfrentam dificuldades.

Do lado positivo, a posição fiscal do Chile é bastante sólida, uma vez que boa parte do dinheiro ganho durante o boom das commodities foi armazenado para momentos como os atuais.

As reservas internacionais chilenas chegam a 9,2% do PIB, segundo a Crédito y Caución.

Colômbia

Colombia flag
PIB: 2,1% em 2016; 3,1% em 2017.

Outra economia vista com bons olhos pelos investidores internacionais, a Colômbia enfrenta um período de desaquecimento devido à queda do preço das commodities. A economia deve crescer 2,1% neste ano, comparado com 2,8% em 2015.

A posição fiscal do país, no entanto, não justifica maiores preocupações, e as reservas internacionais colombianas equivalem a nove meses de importações, o que a Crédito y Caución descreve como uma “sólida” posição externa.

Dos 15 setores cujo risco de crédito é avaliado pela seguradora, 12 recebem a qualificação de “estável”. Apenas as empresas do setor de eletroeletrônico merecem um sinal de advertência.

O que mais preocupa na Colômbia é a desigualdade social, o desemprego (que chega a 9%) e as infraestruturas, na visão dos autores do relatório.

Peru

Peru flag
PIB: 2,8% em 2016; 3,1% em 2017.

A economia peruana é descrita pela Crédito y Caución como “bastante débil” devido à sua dependência à exportação de commodities.

A seguradora espera que o PIB peruano aumente 2,8% em 2016, o que supera grande parte de seus vizinhos, mas fica muito abaixo das taxas de crescimento registradas até 2013.

As empresas de mineração, metalurgia e aço enfrentam perspectivas bastante negativas quanto ao pagamento de suas dívidas, enquanto que as dos setores da agricultura e têxtil também são considerados de risco elevado.

A situação fiscal do país, contudo, é sólida após vários anos de políticas responsáveis adotadas pelo governo, segundo o relatório. Conflitos sociais, a pobreza e a desigualdade são ameaças, porém.




Gestor de risco tem papel central na segurança cibernética

A principal associação de gestores de risco da Europa alertou as autoridades que o combate aos riscos cibernéticos exige o esforço de toda a empresa – e não apenas de seus técnicos de segurança informática.

Por esse motivo, é necessário que os gestores de riscos desempenhem um papel central nesta tarefa, de acordo com a Ferma, a federação das associações nacionais de gestão de risco europeias.

A organização fez o alerta em sua contribuição a uma consulta aberta pela Comissão Europeia sobre a formação de parcerias público-privadas para fortalecer a segurança cibernética na região.

No documento, a Ferma diz que um foco muito restrito em termos de segurança cibernética pode impedir as empresas de entender de forma eficiente os riscos virtuais que enfrenta.

A entidade também fez um apelo por uma maior colaboração entre as partes envolvidas no combate ao risco.

“As ameaças cibernéticas agora têm uma natureza sistêmica”, disse Jo Willaert, o presidente da Ferma. “Portanto, as empresas, governos e seguradoras precisam colaborar. Nós devemos atuar agora mesmo.”

ERM

No documento apresentado à comissão, a Ferma procura tratar com profundidade o papel central que a entidade acredita que o gestor de risco deve ter no combate às ameaças cibernéticas.

“Devido à sua natureza de constantes mudanças, os riscos cibernéticos ameaçam o sucesso das organizações na busca de seus objetivos”, afirma o documento. “Como com qualquer outro risco, o gestor de risco acrescenta um valor agregado único por meio da identificação e quantificação da exposição ao risco cibernético. Este é um passo necessário rumo ao entendimento e da exposição que a empresa tem [ao risco] e à sua administração por meio do emprego de soluções de segurança cibernética.”

O documento segue: “O risco cibernético não é apenas um riso informático; é um risco de toda a empresa. A segurança cibernética deve ser integrada ao sistema de gerenciamento de risco integral [ERM, na sigla em inglês] da organização, com o conselho desempenhando um papel crítico de monitoramento, e com o gestor de riscos oferecendo assessoramento especializado para dar suporte à tomada de decisões.”

A Ferma observa que os riscos cibernéticos ameaçam a reputação das empresas e também a resiliência de suas cadeias de suprimento.

Além disso, afirma a entidade, leis cada vez mais exigentes estão aumentando os riscos enfrentados pelas empresas não apenas com relação às suas próprias exposições, como também as que podem criar para terceiros, como clientes e parceiros comerciais.

“Os conselhos das empresas precisam entender que o risco cibernético é um risco corporativo”, afirmou Willaert. “Por isso, nós advogamos um papel central para a função da gestão de risco. Sem ser um especialista em TI, o gestor de risco provê assessoramento qualificado para apoiar o conselho e o presidente [da empresa]. Ele ou ela está trabalhando de mãos dadas com as unidades operacionais como os departamentos de informática, jurídico e auditoria interna.”

A Ferma também propõe a introdução de algumas medidas para aprimorar o mercado de seguros cibernéticos, como a criação de um banco de dados de sinistros no setor, incluindo informações como os custos e os prejuízos causados por eventos cibernéticos.

Clique aqui para ler o documento em inglês.




Atletas dos EUA terão ‘seguro para medalha’ na Rio 2016

A notícia de que a Fifa vai lançar uma missão para tentar recuperar a taça Jules Rimet, roubada em 1983 no Rio de Janeiro, serve como um lembrete de que o Brasil possivelmente não é o lugar mais seguro do mundo para guardar um prêmio recebido em uma competição de alto nível.

Não seria surpreendente, portanto, que, com as Olimpíadas de 2016 chegando, os quase 11 mil atletas de 204 países esperados para competir no Rio de Janeiro estejam com uma pulga atrás da orelha com respeito ao que podem acontecer com as medalhas que muitos deles vão ganhar como recompensa pelo duro esforço feito nos últimos anos.

O comitê olímpico de ao menos um país, os Estados Unidos, decidiu fazer algo para acalmar os anseios de seus atletas, utilizando os serviços do mercado de seguros para este fim.

A seguradora Liberty Mutual, patrocinadora oficial da equipe americana, anunciou que vai providenciar um seguro para as medalhas que vierem a ser ganhas pelo país no Rio de Janeiro.

Em um programa elaborado em conjunto com o Comitê Olímpico americano, a seguradora se dispõe a garantir que o atleta não tenha que arcar com os custos financeiros do processo de substituição de uma medalha, em caso de perda ou roubo da mesma.

Perda

Justiça seja a feita, a possibilidade de que a medalha seja subtraída durante os jogos não é apontada pela Liberty como principal razão pela qual a cobertura se faz necessária.

O principal risco é que os atletas percam seus prêmios durante suas viagens, já que muitos gostam de levar suas medalhas consigo quando estão competindo ou visitando amigos e parentes.

No caso de perda ou furto da medalha, é preciso fazer uma solicitação formal para que ela seja substituída. Trata-se de um processo que, nos Estados Unidos, pode levar meses para ser concluído, com um custo estimado em até US$ 1,2 mil. A apólice da Liberty garante que os atletas não precisam arcar com os gastos envolvidos no processo.

A cobertura já estava em vigor nos Jogos de Inverno de Sochi, em 2014.

O valor da substituição física da medalha pode não ser muito alto, até porque mesmo as medalhas de ouro são feitas majoritariamente com prata, que compõem mais de 90% de seu material. A parcela de ouro é pouco superior a 1% da massa da medalha.

O valor sentimental, no entanto, é logicamente alto, e pode se refletir no preço que colecionadores venham a pagar, no futuro, por uma medalha especialmente famosa. Por exemplo, em 2010, a medalha de ouro conquistada por um membro da equipe de hóquei no gelo em 1980, nos jogos de Moscou, foi vendida por mais de US$ 300 mil em um leilão.

Zika

Jogadas de marketing à parte, os participantes da Rio 2016 estão realizando suas próprias avaliações de risco e organizando seus programas de seguro com vistas à competição.

Um dos temas que mais preocupam os comitês olímpicos internacionais é a epidemia do vírus da zika, cujos efeitos sobre as pessoas contaminadas continuam gerando dúvidas.

O governo brasileiro vem tentando tranquilizar as delegações participantes de que o risco para os jogos não é significativo.

Mas o Comitê Olímpico americano, por exemplo, afirmou que deixa aos próprios atletas a decisão de viajar ou não para o Rio de Janeiro em agosto.

“Com base nas informações que temos hoje, não estamos pensando em decisões que abranjam a todos”, disse Scott Blackmun, CEO do Comitê Olímpico dos Estados Undios (USOC). “Vai depender de cada atleta.”

O USOC criou um comitê de três especialistas que estão acompanhando a evolução do zika no Brasil. O comitê também vai providenciar os atletas com repelentes de insetos, redes de proteção contra mosquitos e informação sobre o que fazer quando se defrontarem com uma poça d’água, lavarem as roupas e “todas as coisas que podem reduzir a probabilidade de infecção”, segundo Blackmun.

O USOC também estará providenciando que os atletas do país tenham “o atendimento médico adequado, de modo que as pessoas que sejam afetadas possam receber tratamento rapidamente”, de acordo com uma nota publicada pelo comitê.




Risco de ações coletivas no exterior vai além dos Estados Unidos

A ameaça das ações coletivas nos Estados Unidos preocupa as empresas brasileiras e não é para menos: companhias como a Petrobras e a Vale estão tendo que responder processos na Justiça americana movidos por investidores e outros grupos de interesse.

Como resultado, várias empresas estão repensando suas estratégias de levantar capital e expandir sua presença em território americano. Isso porque o simples fato de emitir títulos da dívida ou vender certificados de ações em uma bolsa americana já é suficiente para expor uma empresa a este tipo de risco.

Os resultados podem ser dramáticos em termos financeiros e reputacionais. Se há algo que uma empresa deve procurar evitar em suas operações no exterior é ter que responder a um ruidoso processo movido por investidores ou consumidores revoltados, cujos advogados fazem extenso uso da mídia para pressionar por indenizações.

Estudos têm mostrado que o volume de ações coletivas de investidores está em alta nos Estados Unidos, e processos contra empresas estrangeiras estão entre os que mais crescem. Para complicar a situação, não é só nos Estados Unidos que as empresas estão expostas ao risco de ações coletivas no exterior.

Uma nota publicada pelo escritório de advocacia americano Robbins Geller Rudman & Dowd, que é especializado no setor, explica como ao menos outros seis países possuem legislação que podem dar origem a ações coletivas, ou similares, por parte de investidores. São eles a Alemanha, o Reino Unido, o Japão, o Canadá, a Holanda e a Austrália.

O risco não é tão grande quanto nos Estados Unidos, mas, de acordo com o escritório de advocacia, um número crescente de ações coletivas está sendo levado em frente ao mesmo tempo em diferentes jurisdições, com as indenizações sendo repartidas proporcionalmente entre os participantes da ação.

Vale observar que o Robbins Geller Rudman & Dowd acaba de abrir uma ação coletiva contra a mineradora australiana BHP Billiton devido à tragédia de Mariana (MG).

Leia abaixo uma breve exposição das “oportunidades de ações coletivas”, como as chama o escritório, nos países em questão. E que servem ao mesmo tempo como um alerta para os riscos enfrentados pelas empresas em tais jurisdições.

Estados Unidos

A lei americana permite a investidores de qualquer lugar do mundo a acionar suas provisões antifraude.

Escritórios de advocacia especializados oferecem aos investidores a possibilidade de aderir às ações sem nenhum custo, já que sua remuneração é uma parcela da indenização recebida. Por esse motivo, trata-se de uma jurisdição eficiente do ponto de vista do custo para uma ação coletiva, argumenta a Robbins Geller.

Também não há o risco de ter de pagar os advogados da outra parte, caso a ação não seja bem-sucedida, já que a lei americana prevê que cada um paga o seu advogado.

“Indenizações em ações coletivas por fraudes em ativos financeiros nos Estados Unidos são significativamente mais altas quando fundos de pensão ou investidores internacionais lideram o ataque”, ensina o escritório.

Canadá

O número de ações coletivas por parte de investidores está em alta no Canadá, e no final de 2014 havia mais do que o dobro de tais iniciativas no país do que em 2007, de acordo com o Robbins Geller.

Os tribunais canadenses têm mostrado maior receptividade a aceitar participantes de outros países e a lei local também aceita o chamado procedimento “opt-out”, ou seja, todos os investidores atingidos são beneficiados pela decisão final, mesmo que não sejam participantes da ação.

Porém o Canadá impõe restrições ao tamanho da indenização (5% do valor de mercado da empresa ou 1 milhão de dólares canadenses, o que for maior) e, na maioria das províncias do país, a parte perdedora tem que encarar todos os custos do processo.

“Tem sido difícil levantar financiamento para os litígios porque, dado o tamanho e a complexidade das ações de classes de investidores, os custos podem ser enormes, o que representa um risco inaceitável para os investidores”, observa o escritório.

Austrália

Ações coletivas são permitidas no país desde 1999, mas agora estão começando a ganhar volume, segundo a Robbins Geller. Em 2014, seis ações de investidores foram iniciadas no país, contra cinco em 2013, e duas nos dois anos anteriores.

A Austrália também adotou um sistema “opt-out”, mas, assim como o Canadá, o perdedor da ação tem que bancar os custos de todo mundo.

Por esse e outros motivos, ainda há um interesse limitado por parte de investidores no financiamento de tais ações. Em geral, são os investidores institucionais que têm bala na agulha para entrar nestes processos.

Holanda

Um caso curioso. A Holanda não possui uma legislação de ações coletivas, mas pode ser usada como base para o fechamento de acordos entre as partes em casos de ações coletivas realizadas fora dos Estados Unidos.

Investidores que se consideram prejudicados por uma empresa criam uma fundação na Holanda, e por meio dela é possível assinar com a empresa processada um acordo que é válido para toda a União Europeia e outras jurisdições com as quais o bloco tem um acordo.

O escritório cita o caso da suíça Converium, que foi condenada em uma ação de investidores nos Estados Unidos que não incluiu investidores que compraram os títulos da empresa na Suíça.

Para acabar com o risco de litígio, a empresa fez um acordo com uma fundação holandesa formada por investidores baseados na Europa e que também se sentiam afetados. Eles receberam US$ 58 milhões em indenizações.

Reino Unido

Não possui uma legislação específica para ações coletivas, mas permite “ações de grupo”, o que o Robbins Greller qualifica como uma alternativa mais “fraca” para os investidores.

Além disso, litígios tendem a ter um custo elevadíssimo no país, e o perdedor arca com os custos, o que desmotiva muitos investidores a dar início a ações.

Mas o escritório de advocacia acredita que recentes perdas sofridas por detentores de títulos de empresas como os bancos Royal Bank of Scotland e Lloyds e o varejista Tesco devem dar novo fôlego às ações colegiadas de investidores no país.

Alemanha

O Robbins Geller afirma que o escândalo da Volkswagen está aumentando o interesse pelas ações de investidores alemães. O país não possui legislação específica para ações coletivas, mas a lei alemã prevê que um grupo de ao menos dez demandantes podem dar início a uma ação que, depois, pode servir de modelo para outros investidores que se sintam prejudicados.

Se os juízes dão razão aos demandantes, as indenizações são decididas caso a caso. Os custos das ações tendem a ficar com a parte perdedora, mas há situações em que eles podem ser repartidos.

Além disso, a lei alemã permite que, em algumas, raras instâncias, os advogados trabalhem em um esquema de honorários contingenciais, ou seja, que só recebam se a ação for bem sucedida.

Japão

Segundo os advogados, ainda que o Japão não possua uma legislação específica para ações coletivas de investidores, desde 2004 está mais fácil entrar com processos contra empresas acusadas de enganar investidores ou ocultar fatos que poderiam afetar o valor de suas ações.

Como resultado, as ações têm aumentado dramaticamente desde então, e os resultados algumas vezes podem ser até mais favoráveis do que os obtidos nos tribunais americanos.

Investidores institucionais começaram de fora do país começaram a entrar com ações na Justiça japonesa especialmente após o caso Olympus, em 2012.

O escritório afirma que, depois que uma ação contra a fabricante de equipamentos de fotografia, acusada de fraudes contábeis, foi iniciada por investidores domésticos, 48 instituições estrangeiras seguiram o exemplo, recuperando US$ 92 milhões.

Clique aqui para ler a nota em inglês.




Multis enfrentam riscos extremos na área de direitos humanos no Brasil

Empresas globais do setor de mineração que possuem parceiros sediados no Brasil enfrentam um risco extremo de ver seu nome associado a trabalho infantil e trabalho forçado, de acordo com uma consultoria internacional.

A avaliação da Verisk Maplecroft coloca o Brasil no mesmo patamar, neste quesito,  de grandes economias emergentes como a China, a Rússia, o México e a Índia, além de Peru, Bolívia e vários países asiáticos e africanos.

A qualificação foi detalhada em um relatório da consultoria sobre os riscos de desrespeito aos direitos humanos ligados às cadeias de suprimentos.

Com fornecedores espalhados por todo o mundo, as empresas multinacionais cada vez mais se expõem a se ver envolvidas em casos de exploração de trabalho escravo ou infantil, especialmente com parceiros comerciais que se encontram em países em desenvolvimento.

E, como observa a Verisk Maplecroft, a legislação de países como os Estados Unidos e os membros da União Europeia são cada vez mais rigorosas em suas exigências de transparência e responsabilidade sobre o desrespeito aos direitos humanos nas cadeias de suprimento.

Além disso, além de estarem sujeitas a penalidades financeiras e legais, as empresas se expõem a elevado risco reputacional, caso se vejam envolvidas com violações aos direitos dos trabalhadores, já que este é um tema que chama muito a atenção da opinião pública em seus países de origem.

Corrente

O Brasil também aparece no relatório como uma economia de riscos extremos de trabalho forçado na cadeia de suprimento do setor têxtil, de discriminação de gênero na remuneração dos trabalhadores, e também de que os empregados enfrentem más condições de trabalho em suas empresas.

As multinacionais da área de mineração também devem estar preocupadas com a elevada possibilidade de violação dos direitos do povos indígenas no mercado brasileiro, de acordo com a Verisk Maplecroft.

O estudo aponta diversas outras situações em que as multinacionais podem se ver envolvidas em casos de desrespeito dos direitos humanos em suas cadeias de suprimento.

Países em desenvolvimento são aqueles que apresentam os maiores níveis de risco, com economias asiáticas como a China, o Vietnã e o Camboja criando alguns dos principais desafios para as empresas em termos dos tratos dados aos trabalhadores.

Mas mesmo na Europa o tema preocupa, já que a chegada de números recordes de refugiados da Síria e outras zonas de conflito cria situações em que muita gente aceita trabalhar no mercado informal em condições deploráveis.

Passo atrás

O estudo também observa que os sistemas de auditoria das grandes empresas não estão conseguindo acompanhar a extensão de suas redes de provedores no que diz respeito à fiscalização do risco de desrespeito dos direitos humanos, especialmente no que diz respeito aos parceiros comerciais de segundo ou terceiro nível – aqueles com quem a empresa não lida diretamente.

Por esse motivo, a solução do problema passa por um processo de engajamento com os trabalhadores, por exemplo promovendo um melhor fluxo de informações sobre o tema entre a diretoria, os empregados e seus representantes sindicais.




África testa inovações contra riscos catastróficos

Tanguy Touffut, da AXA.
Tanguy Touffut, da AXA.

A África é uma das regiões do planeta mais afetadas por catástrofes naturais, mas também um laboratório para soluções inovadoras para gerir estes riscos, de acordo com especialistas reunidos na França.

Durante um plenário no primeiro dia do Les Rencontres de l’Amrae, o encontro anual da associação francesa do setor, gestores de risco, seguradores e resseguradores apresentaram experiências internacionais na mitigação de enchentes, secas, terremotos e outros eventos catástróficos.

As experiências incluem discussões para a formação de pools de seguro e resseguro envolvendo o mercado e governos para garantir que os custos de reconstrução de áreas afetadas não caiam apenas sobre os contribuintes.

É o caso da iniciativa chamada African Risk Capacity, apoiada por países como os Estados Unidos, a Alemanha e a França, que estabeleceu um mecanismo de mutualização de riscos de seca por meio dos mercados de seguro e resseguros globais e também através da União Africana, um pacto regional.

O sistema beneficia atualmente nove países da África subsaariana e em breve o número deve chegar a 20, de acordo com Tanguy Touffout, o chefe do departamento de Risco Paramétrico da AXA Corporate Solutions, que participou do debate.

“A África é um laboratório para soluções inovadoras para os riscos catastróficos que podem ser levadas para outros países”, afirmou Touffout.

Gafanhotos

O continente certamente precisa de soluções inovadoras. De acordo com Hervé Allou, o diretor-geral da Globus Re, a África está particularmente exposta a catástrofes naturais, cuja frequência e severidade vêm aumentando com o passar dos anos.

Ao mesmo tempo, disse ele, as soluções que hoje são acionadas pelos governos locais para reconstruir as áreas atingidas e atender as populações afetadas são pouco efetivas, e a gestão de riscos naturais no continente é “marginal”.

“O mercado africano é especialmente vulnerável às mudanças climáticas”, disse ele. Ao mesmo tempo, o continente tem níveis de penetração de seguros muito baixos.

A lista de eventos catastróficos que costuma atingir os países africanos, causando destruição de rendas agrícolas, surtos de fome, epidemais e mortes inclui secas, terremotos, inundações, erupções vulcânicas e até mesmo pragas de gafanhotos.

Allou fez um apelo para que os governos da região procurem formas de colaborar com o mercado de seguros e resseguros para buscar maneiras viáveis de gerir tais riscos.

Marrocos

Um país em que o processo está em andamento é o Marrocos, afirmou Bachir Baddou, o diretor geral da FMSAR, a associação de seguros e resseguros do país norte-africano.

Segundo ele, um projeto de lei está sendo discutido com o governo para criar um sistema de seguros obrigatórios para cobrir eventos catastróficos.

O sistema se basearia na cobrança de tarifas suplementares em alguns tipos de apólices de seguro, como as coberturas de habitação, automóveis e responsabilidade civil por danos a terceiros.

O dinheiro arrecadado seria acumulado para criar um pool catastrófico que seria acionado em casos decretados como tal pelo governo marroquinho. As catástrofes cobertas seriam tanto naturais (enchentes, terremotos e tsunamis) quanto causadas pelo homem (terrorismo e desordem civil).

O problema é que o projeto de lei já está em discussão há dez anos, segundo Baddou. Ele estima que as exposições potenciais do Marrocos a catástrofes naturais chegam a mais de 1 trilhão de dirhams, o equivalente a mais de US$ 100 bilhões.

As apresentações foram feitas durante uma sessão da conferência dedicada ao Club Franco Risk, uma iniciativa voltada a difundir a gestão de riscos em países francófonos. O site do clube é www.clubfrancorisk.com.




Gestor de risco tem papel central em tempos extremos, diz ressegurador

Denis Kessler, da Scor
Denis Kessler, CEO da Scor.

Ascenção do populismo nos Estados Unidos. O desaquecimento da economia chinesa. Migrações em massa. O vírus zika. A lista de ameaças com que as empresas globais precisam lidar não para de crescer.

Não é para menos que importância dos gestores de riscos é cada maior nas organizações, como afirma o manda-chuva de uma das maiores resseguradoras mundiais.

“O papel de vocês está se alargando em todas as empresas que eu conheço”, disse Denis Kessler, presidente e CEO da francesa Scor. “Sua função é central para as empresas de hoje. Poderia também ser central para os estados, e também a nível global.”

“Eu acredito que o século 21 será o século da gestão de riscos em todos os níveis,” continuou Kessler.

A presidente da Amrae, Brigitte Bouquot, na abertura do evento. (Foto: Divulgação)
A presidente da Amrae, Brigitte Bouquot.

Ele fez as declarações durante o primeiro dia do encontro anual da Amrae, a associação dos gestores de riscos e diretores de seguros da França. O tema do evento, que está em sua 24ª edição, é justamente a interligação entre os riscos extremos, a começar pelas mudanças climáticas.

Na mesma ocasião, a presidente da associação, Brigitte Bouquot, conclamou os gestores de risco das empresas francesas a trabalhar pelo país em tempos de ‘guerra econômica’.

Tempestade solar

De acordo com Kessler, os riscos extremos estão cada vez mais relacionados entre si. Fatores como a possível saída da Grã-Bretanha da União Europeia, as demandas por independência da Catalunha, a onda de migração que atinge a Europa e os riscos de pandemia criam desafios cada vez mais difíceis para as empresas controlarem.

“Todas as dimensões e funções da empresa são afetadas por essas entropias”, afirmou Kessler, empregando o conceito da termodinâmica que é utilizado para mensurar a desordem de um sistema.

Ele também um exemplo de risco extremo com consequências inter-relacionadas, mas que é menos usual que os outros acima: a de que uma tempestade solar atinja a terra.

Caso este fenômeno, causado por uma de choque gerada por ventos solares, venha a acontecer, poderia causar danos generalizados a sistemas de transmissão elétrica, por exemplo, o que originiaria múltiplos sinistros de bens e propriedades e também de responsabilidades, afirmou Kessler.

Um risco incomum, mas não inimaginável. De fato, a Terra foi atingida por uma forte tempestade solar em 1859, e em 2012 outra passou raspando pelo planeta.

Presença maciça

O Les Rencontres de l’Amrae, que está ocorrendo em Lille, no norte da França, é uma dos principais encontros de gestão de riscos do mundo.

Cerca de 2.000 pessoas comparecem ao evento a cada ano. A presença de seguradores e corretores de nível global é maciça no pavilhão do Grand Palais de Lille.

A associação de gestores de riscos francesa vem realizando um trabalho intenso nos últimos anos para reforçar sua presença nos meios empresariais e mesmo na opinião pública a fim de elevar o perfil da profissão na economia francesa.

“Nós, gestores de riscos, precisamos ser um ramo de excelência”, disse Brigitte Bouquot, a presidente da Amrae, na abertura do evento.

Ela observou que em um ambiente de negócios em que os riscos são cada vez mais severos para as empresas, os gestores de riscos têm dois desafios essenciais.

O primeiro é deixar claro para a alta direção que a função não é um departamento burocrático como qualquer outro, e sim uma ferramenta essencial para agregar valor à empresa. Isso passa por reforçar a imagem da profissão e obter o reconhecimento que ela merece.

O segundo é fazer um esforço para garantir que é possível ter acesso a fontes de financiamento do risco, como as capacidades do mercado de seguros.

Napoleão

Bouquot encerrou seu discurso citando o lema de sua escola de engenharia, a École Polytéchnique, a fim de conclamar seus colegas a trabalhar a favor da França em tempos de “guerra econômica”.

“Pour la patrie, pour la science, pour la gloire”, citou a presidente da Amrae. O lema foi criado no final do século 18 por Napoleão Bonaparte e pode ser traduzido como “Pela pátria, pela ciência, pela glória”.

“Pela pátria, que nos dá tanto, e a quem devemos servir em tempos de guerra econômica,” completou.




COP21 cria ‘trilhões’ de oportunidades e também riscos para empresas

Os compromissos assumidos pelos países signatários do acordo sobre o clima na 21ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas, COP21, em dezembro vão criar oportunidades para as empresas, mas também uma série de riscos e desafios.

Segundo especialistas ouvidos por Risco Seguro Brasil, o histórico documento assinado em Paris deve possibilitar a liberação de centenas de bilhões de dólares, talvez até trilhões, todos os anos para o desenvolvimento de tecnologias limpas.

As empresas, no entanto, também deverão sofrer maior pressão por parte de governos, investidores e parceiros comerciais para adotar práticas de negócios que respeitem o meio ambiente.

O chamado Acordo de Paris foi assinado por 195 países e prevê que o aumento da temperatura média do planeta será limitado a 2,7 graus centígrados. Caso nada fosse feito, cientistas acreditam que o aquecimento da Terra chegaria a 4,8 graus até o final do século.

“Toda uma economia global foi criada neste espaço entre 2,7 e 4,8 graus”, disse Edward Cameron, o diretor executivo da ONG Business for Social Responsability, BSR, em Nova York. “Isto representa trilhões de dólares em investimentos, em práticas de licitação que precisam mudar. Também representa um ambiente regulatório muito diferente para as empresas em todo o mundo.”

Investidores

Do ponto-de-vista das oportunidades, vale ressaltar o compromisso assumido pelos países signatários em levantar ao menos US$ 100 bilhões de dólares por ano para financiar o desenvolvimento e adoção de tecnologias limpas, especialmente nos países em desenvolvimento.

Para Cameron, porém, este dinheiro, ainda que considerável, é só o princípio. Ele vê os US$ 100 bilhões atuando como um catalizador de esforços por parte de governos e outros atores, como investidores institucionais, o que pode alavancar os recursos para até trilhões de dólares ao ano.

“O dinheiro comprometido em Paris representa um capital-semente para a economia global”, disse Cameron. “Ele vai ajudar que mais investimentos, especialmente por parte do setor financeiro, sigam na direção contrária a atividades com alto consumo de carbono.”

Alguns investidores institucionais, por exemplo, já começaram a reagir ao acordo. Recentemente, o fundo soberano da Noruega, um dos maiores do mundo, anunciou que estava privilegiando cada vez mais investimentos em empresas que adotam tecnologias que reduzam a poluição.

Mais diretamente, um grupo de investidores liderados pelos fundos de pensão do Estado de Nova York (EUA) e da Igreja Anglicana fizeram um ultimato para a Exxon Mobil, uma gigante do petróleo americana, para que torne claro seu compromisso na mesma direção.

“O acordo sem precedentes de Paris para controlar o aquecimento global afeta as operações da Exxon de maneira significativa”, disse Thomas P. DiNapoli, o controlador geral do Estado de Nova York. “Como acionistas, nós queremos ter certeza de que a Exxon está fazendo o que é necessário para se preparar para um futuro com menos emissões de carbono. O futuro sucesso da empresa, e de seus investidores, exige que a Exxon avalie como vai ser seu desempenho na medida em que o mundo se transforma.”

Especialistas esperam que cada vez mais investidores adotem este tipo de postura, não somente para garantir o futuro de seus investimentos, mas também devido a pressões da opinião pública.

Cadeias longas

Riscos também foram criados pela COP21. De acordo com Cameron, os efeitos do acordo serão muito sentidos, por exemplo, por empresas que fazem parte das cadeias de suprimento de grandes corporações globais.

“O novo ambiente regulatório tende a ser muito complicado para empresas que possuem cadeias de suprimento extensas e diversificadas”, afirmou.

Sob pressão de governos e investidores, as grandes multinacionais vão ter razões cada vez mais urgentes para exigir que seus parceiros comerciais adotem práticas que sejam respeitosas com o meio-ambiente.

Por esse motivo, temas de sustentabilidade ambiental devem se tornar fatores mais decisivos em processos de licitação feitos por empresas multinacionais. Como as cadeias de suprimento são cada vez mais globais, os efeitos de tais medidas podem se espalhar mesmo por países onde a adesão aos compromissos da COP21 seja mais na conversa do que na realidade.

Ao mesmo tempo, como os governos assumiram fortes compromisso para a redução de emissões de carbono, a licitação de produtos e serviços sustentáveis também deve ganhar força mos planos de ações nacionais implementados por muitos países.

O efeito em cascata de tais posturas não deve ser ignorado, especialmente em economias onde o governo possui um peso bastante elevado, afirmou Cameron. Segundo ele, em lugares como a China ou a União Europeia, quase um quinto do PIB é composto por produtos ou serviços comprados pelos governos.

Desvantagem competitiva

O temor de muitas empresas é que a adoção dos compromissos da COP21 seja desigual, com alguns países implementando as medidas necessárias de forma rígida, enquanto outros permitam que suas próprias empresas continuem economizando dinheiro com o uso de tecnologias nada ecológicas.

Associações setoriais em países como a Alemanha, por exemplo, já andaram murmurando que algo deste tipo aconteceu após a assinatura do Protocolo de Kioto, que foi pouco respeitado fora da União Europeia. Com isso, as empresas europeias se queixam de que muitas vezes ficaram em desvantagem competitiva por ter de operar com custos maiores do que rivais de outros países.

Mas Cameron nota que o Protocolo de Kioto teve uma adoção muito menor do que o Acordo de Paris. Os Estados Unidos não ratificaram o Protocolo de Kioto, enquanto que grandes países emergentes como o Brasil, a Rússia e a China adotaram versões bastante amenas dos compromissos assumidos.

Agora, não só todas as grandes potências econômicas estão engajadas, mas o processo que levou à assinatura do acordo parisiense também contou com extensa participação de atores privados, observa Cameron.

Para Brigitte Bouquot, a presidente da AMRAE, a associação de gerentes de riscos da França, a gênese do presente acordo indica que a participação das empresas na luta contra o aquecimento global será diferente e mais importante do que no passado.

“Eu não acredito que a chave para ter cumprir os compromissos da COP21 será uma maior regulamentação impulsionada por políticas dos Estados”, disse Bouquot. “Se vamos ter sucesso na transição energética, será graças à sociedade civil e a inovações introduzidas pelas empresas.”




Cresce número de ações coletivas contra empresas nos EUA

O número de ações coletivas movidas por investidores em ações e títulos de dívida nos Estados Unidos está em pleno crescimento e chegou neste ano ao número mais alto desde 2008.

A informação vem de um relatório publicado esta semana pela NERA, uma empresa de consultoria econômica sediada em Nova York.

As ações coletivas movidas por investidores, ou securities class actions, viraram notícia no Brasil recentemente após a Petrobras e a Vale terem sido alvos nos últimos meses de processos desse tipo na Justiça americana.

Os autores das ações são investidores que se consideram prejudicados pela queda no valor das ações e títulos das duas entidades, como resultado da Operação Lava Jato e a tragédia de Mariana, protagonizado pela Samarco, empresa da qual a Vale é co-proprietária.

De acordo com a NERA, no ano passado foram iniciadas 234 ações de classe de investidores, um patamar não visto desde o início da crise financeira global. Em 2014, o número chegou a 216.

Estrangeiros na mira

A maior parte do crescimento se deve a ações iniciadas de acordo com a regra 10b-5 da SEC, a agência reguladora dos mercados de capitais nos EUA, que proíbe empresas de falsificar ou omitir informações que convençam investidores a comprar seus títulos.

Esta é uma das cláusulas que o escritório The Rosen Law Firm invoca para justificar sua ação coletiva contra a Vale, em dezembro, assim como a cidade de Providence para argumentar sua ação coletiva contra a Petrobras, no final de 2014.

De acordo com outra consultoria, a Cornerstone Research, houve 35 casos de ações coletivas contra empresas estrangeiras nos Estados Unidos em 2015, um número bem maior do que a média entre 1997 e 2014, que chega a 22. Empresas brasileiras foram alvo de “múltiplas ações”, segundo a consultoria.

Apenas em 2011, quando houve uma onda de ações coletivas contra empresas chinesas, registrou-se um maior número de ações contra empresas não americanas, com 62.

Ameaça séria

As ações coletivas constituem uma tremenda dor de cabeça para empresas nos Estados Unidos, já que, por uma característica do sistema jurídico local, pessoas que se sintam prejudicadas por um produto, serviço ou investimento podem optar pelo pedido de indenização mesmo depois que os processos judiciais são iniciados.

Empresas americanas e internacionais com frequência se vêem alvo de ações coletivas movidas por consumidores que se queixam do mal funcionamento de produtos de consumo, problemas de saúde causados por alimentos ou remédios e assim por diante.

Advogados especializados buscam motivos para iniciar tais ações, e muitas empresas preferem chegar logo a um acordo, independentemente do mérito da ação, para não sofrer com a má publicidade gerada pelos casos.

As ações coletivas de investidores são movidas por pessoas ou entidades, como fundos de pensão, que, entre outros motivos, alegam ter comprado títulos emitidos por uma empresa após terem sido falsamente informados sobre o estado financeiro ou os sistemas de gestão da companhia em questão.

Vale lembrar que empresas brasileiras recorreram com freqüência aos mercados americanos, nos últimos anos, para levantar dinheiro a fim de financiar projetos de expansão, aproveitando-se das baixas taxas de juro praticadas pelo Fed, o banco central americano. Como resultado, muitas delas podem estar expostas a este tipo de ação.

Os valores envolvidos podem ser significativos. De acordo com a NERA, 108 casos de ação coletiva de investidores foram resolvidos por meio de acordo em 2015. Em média, os acordos representaram indenizações de cerca de US$ 7 milhões. Em 14 casos, porém, chegaram a mais de US$ 100 milhões.

Historicamente, a maior indenização neste tipo de ação supera US$ 7,2 bilhões, paga pela empresa de energia Enron, protagonista de um escândalo contábil gestado nos anos 1990  e que estourou em 2001 (veja quadro abaixo).

O valor das indenizações pedidas, porém, parece estar em alta. A NERA utiliza um parâmetro para calcular todas as perdas potenciais que os investidores podem ter sofrido ao colocar seu dinheiro nos títulos e ações emitidos pelas companhias processadas e que estão em litígio. Em 2015, este indicador chegou a US$ 183 bilhões, comparados com US$ 145 bilhões no ano anterior.

Os setores mais visados pelas ações foram os de tecnologia e serviços eletrônicos (22% dos casos), tecnologia e serviços de saúde (19%) e finanças (9%).

Conheça as 10 maiores indenizações pagas em ações coletivas de investidores nos EUA

1. Enron: US$ 7,2 bilhões

2. WorldCom: US$ 6,2 bilhões

3. Cendant: US$ 3,7 bilhões

4. Tyco International: US$ 3,2 bilhões

5. AOL Time Warner: US$ 2,65 bilhões

6. Bank of America: US$ 2,4 bilhoes

7. Nortel Networks: US$ 1,14 bilhão

8. Royal Adhold: US$ 1,1 bilhão

9. Nortel Networks: US$ 1,04 bilhão

10. McKesson HBOC: US$ 1,043

Clique aqui para ler na íntegra o relatório da NERA, em inglês.