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Especialistas cobram normas para continuidade de negócios

A falta de normas sobre continuidade de negócios prejudica a gestão da área, segundo especialistas do setor bancário reunidos no Global Risk Meeting 2015, evento realizado em São Paulo nos dias 11 e 12 de setembro.

Para eles, é preciso detalhar as particularidades do setor, coisa que as normas existentes hoje não fazem. Algumas arranham o tema, dizem eles, como é o caso da BSI (British Standards Institution) 22301, da ISO 31000 e a Resolução 3380 do Banco Central. Mas eles consideram que isso é muito pouco.

A Resolução 3380, por exemplo, tem literalmente uma linha sobre continuidade de negócios, conta Alaor Oliveira, gerente de Continuidade de Negócios do HSBC Brasil, banco recém-adquirido pelo Bradesco.

Para os experts, seria necessário formatar normas técnicas específicas na Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) sobre continuidade de negócios.

O modelo a ser seguido é o já aplicado nos Estados Unidos, Europa e Japão, as referências na área. Os gestores, no entanto, alertam que é importante não simplesmente importar normas. É preciso respeitar as características do país.

“Seria uma coisa para beneficiar todo mundo, desde a panificadora até a grande empresa”, disse Oliveira.

Os especialistas acreditam que a normatização ajudaria a diminuir as resistências ao desenvolvimento da área encontradas entre as empresas brasileiras.  “A falta de normas dificulta até para justificar os investimentos necessários para a administração”, disse Fabiano Santos, gerente de Continuidade de Negócios do Banco do Brasil.

“[Sem normatização] não há um padrão a seguir quando os problemas acontecem”, complementou Oliveira.

Regra importada
Algumas instituições internacionais adotam as normas de seu país de origem. É o caso do Citibank, explicou Karin Panes, da área de Continuidade de Negócios do banco norte-americano. “Nós seguimos a regulamentação dos Estados Unidos e isso ajuda muito”, afirmou.

Segundo ela, a regulamentação contribui até mesmo para aumentar o engajamento da equipe aos processos de continuidade de negócios — um item importante, consideram os gestores da área, principalmente levando em conta que interrupção dos negócios pode afetar a empresa toda, mas nem todos os departamentos abraçam a causa de forma integral.

“Continuidade de negócios não é um processo a mais para o gestor de uma área específica”, afirmou Santos, do Banco do Brasil. “Ela tem de fazer parte do processo em si.” Ele conta que conseguiu o envolvimento de um setor do banco tornando claro para o gestor que um problema no projeto que estava sendo tocado por ele estava exposto a riscos que poderiam causam prejuízos de R$ 500 milhões. “A partir daí, o processo de proteção desses riscos e de continuidade fluiu muito bem.”

Trata-se, portanto, de mudar a cultura, dizem os gestores, o que implica também um trabalho com a alta direção, que muitas vezes ainda considera a aplicação de recursos em sistemas de continuidade de negócio como gasto, não como investimento.

Trabalho constante
Este tipo de trabalho precisa ser constante, destacou o gerente de Continuidade de Negócios do Itaú Unibanco, Gerson Di Mambro. “É preciso cada vez mais priorizar os processos de risco e reavaliá-los permanentemente, frente às mudanças que sempre ocorrem no cenário”, afirmou.

Apesar das dificuldades, o setor bancário é o mais avançado do país em sistemas de controle e continuidade de negócios, afirmou Jeferson D’Addario, sócio-diretor da Daryus, empresa que organiza o Global Risk Meeting .

“(Os bancos) estão muito à frente de seus clientes”, disse ele, que criticou setores ainda pouco preocupados com a implementação de sistemas que garantam que as atividades de uma empresa não serão interrompidas mesmo que eventos imprevistos aconteçam.

“Não entendo como ainda tem gente que não entende que o patrimônio e o legado de uma empresa podem acabar ou ser prejudicados por causa de um acidente”, disse D’Addario.

Lista de riscos
De acordo com Alexandre Guindani, gerente de Continuidade de Negócios da Caixa, o principal risco à de interrupção da atividade a que os bancos estão expostos hoje está relacionado às tecnologias da informação. Mas a lista de riscos é longa e inclui desde a crise hídrica até a ocorrência de greves.

“Os prejuízos variam de banco a banco e de evento a evento”, disse Guindani. “Mas qualquer interrupção de negócios no setor pode gerar milhões em prejuízo.”

Lembrando que não existe nenhum grande banco sem um departamento muito forte de informática, ele disse que a manutenção desta área demanda um trabalho intenso. “Ela sustenta o nosso negócio. Se parar por meia hora que seja, gera um transtorno muito grande”, afirmou. “Pode-se perder negócios ou clientes.”

Por conta disso, o setor é bastante atento aos problemas que podem decorrer de alguma interrupção. “Antigamente, as pessoas colocavam dinheiro no cofrinho, hoje está no celular,” exemplificou Guindani.

A segunda maior preocupação da área recai sobre os fornecedores de atividades como telecomunicações e vigilância das agências, que são fundamentais para funcionamento dos bancos. A queda de um link, por exemplo, pode parar uma mesa de operações do banco. E a lei proíbe a abertura de uma agência se seus vigilantes estiverem em greve.

Falta d’água
A crise hídrica, que atinge principalmente São Paulo, rendeu um trabalho de três meses para a comissão de continuidade dos negócios da Febraban (Federação Brasileira de Bancos), contou Guindani.

A comissão traçou estratégias de funcionamento das agências caso venha a ocorrer racionamento de água.

“Como atender a população, se não tenho água na agência? Provavelmente, o pessoal do sindicato [dos bancários] não vai deixar abrir”, afirmou.

“Nossa preocupação é essa: como eu fico 3 ou 4 dias sem água? Que agências manter abertas, quais fechar? Começamos a traçar cenários e planos de como lidar com isso.”




Desastres em cidades podem custar US$ 4,5 tri em 10 anos

Desastres naturais e causados pelo homem têm o potencial de causar perdas de US$ 4,56 trilhões nos próximos dez anos nas principais cidades do mundo, de acordo com um estudo da Universidade de Cambridge.

No Brasil, 11 cidades analisadas pelo estudo estão expostas a perdas potenciais de quase US$ 150 bilhões.

O estudo, encomendado pelo Lloyd’s de Londres, analisa a capacidade de causar prejuízos econômicos de 18 tipos de desastres, incluindo desde riscos tradicionais como terremotos e furacões até novas ameaças como ataques cibernéticos ou os efeitos de tempestades solares.

As ameaças com maior capacidade de gerar grandes prejuízos financeiros são os colapsos de mercados financeiros, que, segundo o estudo, podem destruir US$ 1,05 trilhão em riqueza até 2025.

Em segundo lugar vêm as pandemias humanas, com US$ 592 bilhões, seguidas pelos vendavais e furacões, com US$ 587 bilhões. Terremotos e enchentes completam o ranking das cinco maiores riscos em termos de perdas econômicas potenciais.

As simulações de impactos destes riscos foram aplicadas a 301 cidades. Uma das conclusões do estudo é que os países emergentes vão arcar com uma proporção cada vez maior dos danos causados por desastres, naturais ou não, nos próximos dez anos.

Entre os fatores considerados para avaliar os prejuízos estão as práticas de gestão de riscos das cidades estudadas e as estruturas de reação a crises que lhes podem ajudar a se recuperar de uma catástrofe.

Brasil

São Paulo (Crédito: Agência Brasil)
São Paulo (Foto: Agência Brasil)

No Brasil, o estudo avaliou a exposição de risco das 11 maiores capitais do país em US$ 148 bilhões.

As cidades avaliadas foram São Paulo (com perdas potenciais de US$ 63 bilhões), Rio de Janeiro (US$ 24,3 bilhões), Brasília (R$ 11,6 bilhões), Belo Horizonte (R$ 10,1 bilhões), Porto Alegre (R$ 8,8 bilhões), Curitiba (R$ 6,8 bilhões), Salvador (R$ 6,7 bilhões), Recife (R$ 4,8 bilhões), Manaus (R$ 4,3 bilhões), Fortaleza (R$ 3,8 bilhões) e Vitória (R$ 3,6 bilhões).

Em São Paulo e Manaus, as principais são os colapsos dos mercados, as pandemias e as enchentes. Nas outras cidades, os riscos cibernéticos são vistos como mais potencialmente daninhos do que as enchentes.

Um novo choque de preços do petróleo e a possibilidade de calote soberano por parte do governo brasileiro também aparecem com destaque entre os riscos de maior capacidade de destruição econômica nas cidades brasileiras.

Mundo
De acordo com o Estudo, a exposição de São Paulo aos 18 riscos avaliados é mais elevada do que a de metrópoles do Primeiro Mundo como Londres e Paris.

A capital paulista é a terceira cidade mais exposta no mundo a riscos emergentes como ataques cibernéticos, pandemias e tempestades solares, e a 13ª que mais pode sofrer prejuízos com todas as ameaças combinadas.

No mundo emergente, apenas Taipei, Manila, Istanbul, Xangai, Hong Kong, Teerã e Lima apresentam maior risco de perdas econômicas. Nas capitais iraniana e peruana, mais da metade das perdas potenciais se devem ao risco de terremoto, enquanto que a filipina sofre um acentuado risco de vendavais e furacões.

A líder do ranking é Taipei, com uma exposição potencial de U$180 bilhões, seguida de japonesa Tóquio, com US$ 153,3 bilhões, e Seul, na Coréia do Sul, com US$ 103,5 bilhões. As três estão expostas a uma série de desastres naturais como furacões, terremotos e enchentes, além de riscos econômicos como colapsos dos mercados e choques petrolíferos.

Nova York e Los Angeles lideram o ranking nos Estados Unidos com mais de US$ 90 bilhões em exposições.

Clique aqui para acessar a página do Lloyd’s City Risks Index.




Para Banco Mundial, falta diálogo sobre gestão de riscos no Brasil

Para o Banco Mundial, discussões sobre a relação entre a gestão de riscos no setor público e no setor privado são essenciais, mas praticamente inexistentes no Brasil.

De acordo com Frederico Pedroso, especialista em gestão de risco de desastres da instituição no Brasil, o banco considera o tema prioritário. “Mas mal e mal conseguimos falar de relação público-privada em outras áreas, imagine nessa”, afirmou ele após palestra realizada em Curitiba. “É preciso um processo de amadurecimento de ambas as partes. O diálogo não funciona muito bem hoje.”

Segundo o especialista, quando se fala em desastres com origem na natureza, o problema não está só nas grandes catástrofes, já que eventos de menor parte também causam sérios danos à sociedade.

“(Estes eventos) acontecem todos os dias nos municípios menores e afetam a economia local, que vai se depreciando,” disse Pedroso. “Isso pode impedir, por exemplo, uma indústria de se instalar na cidade”.

Sem uma unidade maior entre público e privado, mesmo quando uma empresa implementa um programa sofisticado de gestão de riscos, seus efeitos acabam sendo limitados, já que não podem passar dos muros da companhia. “A partir dali tem a estrada, o porto etc, que são públicos”, afirmou.

Histórico
O Banco Mundial estruturou melhor sua atuação na gestão de riscos de desastres há cerca de dez anos, quando foi criada uma estrutura específica para lidar com o assunto.

A instituição, que funciona como um agência de fomento e crédito, entende que a gestão de riscos é um instrumento poderoso para o desenvolvimento, garantindo segurança e meios para amenizar prejuízos. Mais do que isso, permite que a população se desenvolva.

De tanto receber pedidos de refinanciamento para obras já financiadas e destruídas por algum desastre natural — principalmente no Caribe e na Ásia —, o banco decidiu criar mecanismos para reduzir o problema.

Cada evento de reconstrução representava um prejuízo grande para quem contraiu o empréstimo e uma inconsistência para quem fornecia o dinheiro, contou Pedroso, que é pós-doutorado em gestão de riscos de desastres pela Universidade de Kyoto, no Japão.

O banco começou então a incluir alguns requisitos de gestão de riscos nos projetos a serem financiados, a fim de induzir um mapeamento dos riscos de desastres naturais onde a obra vai ser construída.

O processo institucional é mais de aconselhamento do que de exigências, explica o especialista. O banco aponta a necessidade de gerenciar determinadas questões, a fim de maximizar as chances de sucesso daquele financiamento. Se a obra é uma ponte, faz-se uma análise do potencial de inundação da região, exemplifica Pedroso.

O maior controle da exposição ao risco gera resultados positivos, como pode ser visto numa estatística apresentada por Pedroso.

Enquanto os prejuízos causados no Brasil, entre 2008 e 2013, foram de US$ 1,7 bilhão na média anual, a Indonésia registrou danos significativamente menores, de US$ 460 milhões, mesmo sendo uma região com maior quantidade de eventos desastrosos.

O país do sudeste asiático possui 17 mil ilhas que ficam assentadas numa região entre três diferentes placas tectônicas, o que garante a frequência de eventos como terremotos, vulcões e tsunamis. Mais de 170 mil pessoas morreram no país durante o tsunami de 2004.

Já o Brasil registra muito menos eventos, mas teve no período casos graves como as enchentes em Santa Catarina, Pernambuco e Alagoas, além de deslizamentos de terra no Rio de Janeiro.

Para Pedroso, a diferença no tamanho do prejuízo de cada país se deve ao controle dos riscos, que no Brasil é mais precário. Na Indonésia acontecem muito mais eventos desastrosos, mas eles são monitorados. Aqui ocorrem menos, mas sem muito monitoramento. Resultado: mais danos aqui.

Mas o trabalho do Banco Mundial no setor começa a ganhar corpo no Brasil. No ano passado, foi publicado o primeiro estudo “Risco e Oportunidade: Gestão de Risco para o Desenvolvimento”, tratando de temas como distúrbios sociais, crise econômica e desastres.

Em março passado, o banco divulgou o primeiro “Diagnóstico da Políticas e Programas de Gestão de Risco no Setor Agropecuário”.




Gerente de risco e compliance são profissionais mais visados

Gerentes de controladoria, riscos e de compliance são os profissionais mais visados pelo mercado atualmente, de acordo com levantamento da consultoria de recrutamento executivo Randstad Professionals.

Segundo Anna Mello, gerente da empresa, a crise faz com que empresas busquem profissionais cuja função resulte em ganho de escala, redução de custos e melhoria da produtividade.

“Todas as empresas estão buscando a máxima adequação às novas legislações devido ao cenário político”, disse Mello ao portal G1, que publicou a reportagem nesta quarta-feira (26/8).

“Com isso, abre-se espaço no mercado para gerentes de controladoria, riscos e compliance. O  gerente de riscos está envolvido em processos financeiros, de comercialização e vendas (geração de receita), que são responsáveis pelo coração de qualquer negócio.”

Clique aqui para ler a reportagem completa do G1.




Escola cria MBA para profissionais da gestão de riscos e seguros

A Escola Nacional de Seguros irá realizar um MBA dedicado à Gestão de Riscos e Seguros. O programa foi desenhado para atender principalmente profissionais do nível de gerência e supervisão de riscos, além de técnicos ligados à cadeia produtiva do seguro — ainda que possa, segundo a escola, contemplar demandas de executivos da alta gestão.

De acordo com a escola, o curso tende a atrair profissionais que buscam referências sobre as melhores práticas no setor.

Os organizadores lembram que os gestores de risco trabalham com uma vasta e complexa variedade de demandas, o que muitas vezes pode gerar insegurança na hora de tomar decisões — principalmente se for levado em conta que a percepção sobre esta área pode variar até mesmo dentro da uma mesma organização.

Dentro deste contexto, um dos objetivos do curso é servir de referência para os profissionais, que poderão assim fundamentar suas decisões em experiências bem-sucedidas em outros lugares.

Demandas do mercado
Trata-se do primeiro MBA específico na área depois que a escola, antes mais conhecida como Funenseg, foi homologada oficialmente como instituição de ensino superior pelo Ministério da Educação. O curso foi construído de acordo com as demandas colhidas pelo mercado segurador, sendo totalmente reformulado em relação a cursos similares feitos no passado pela escola.

Como se trata de uma atividade de especialização, há pré-requisito de formação de nível superior. Assim, diz a escola, os participantes têm mais condições de absorver os conceitos expostos e transformá-los em processos gerenciais úteis ao seu dia a dia no gerenciamento de risco.

A data de início das aulas ainda está sendo definida, mas deve ocorrer este ano.

O programa foi organizado em quatro módulos, incluindo desde os fundamentos dos riscos até ferramentas de gestão e validação das aplicações de seguros para mitigação dos riscos operacionais.

O primeiro módulo vai trabalhar o contexto da atividade, abordando aspectos ligados aos objetivos das empresas e ressaltando a visão estratégica necessária para um bom gerenciamento de riscos. Contempla também as ferramentas básicas que possibilitam cumprir as exigências de governança e controles internos inerentes à atividade.

Os módulos referentes à avaliação e ao tratamento dos riscos segue a norma ISO 31000, que é uma referência mundial para gestão de riscos. A ideia é discutir práticas e metodologias de análise, avaliação e tratamentos dos mais diferentes riscos a que as empresas estão expostas.

O módulo de projeto e pesquisa irá orientar o aluno a apresentar soluções concretas para o mercado.

Serviço

MBA Gestão de Riscos e Seguros
Início do curso: a confirmar.
Custo: R$ 800,00 mensais.
Carga horária total: 480 horas-aula, distribuídas de 20 a 22 meses.
Dia das aulas: sábados.
Número de vagas: 35.
Local: São Paulo – SP.

Veja aqui como se inscrever.




Terrorismo pede gestão de risco a empresa globalizada

Keith Martin, consultor da Aon.
Keith Martin, consultor da Aon.

A crescente internacionalização das empresas brasileiras faz com que muitas tenham que lidar com riscos que não existem no Brasil, obrigando-as a buscar formas de gerir novas exposições de seu negócio.

O terrorismo é um desses casos. Trata-se de um fator muito mais presente nos noticiários do que no dia-a-dia das empresas nacionais. Mas o envolvimento de grupos brasileiros em regiões como a África e o Oriente Médio, ou mesmo os Estados Unidos e a Europa, tornam o tema um foco de preocupação de diversos gestores de riscos do país.

Em entrevista à Risco Seguro Brasil, Keith Martin, consultor em riscos de terrorismo da corretora Aon baseado na África do Sul, explica por que o terrorismo deve ser em levado consideração pelas empresas, não só devido à sua presença no exterior, mas também pelo perfil cada vez mais global do Brasil. (A Aon publica um mapa do risco de terrorismo que pode ser acessado clicando aqui.)

Martin diz que empresas brasileiras não são alvos de grupos fundamentalistas, mas alerta que podem sofrer tanto direta quanto indiretamente com os efeitos de um ataque terrorista. Ele observa também que a ausência de ataques terroristas durante a Copa do Mundo de 2014 não significa que os Jogos Olímpicos de 2016 não venham a ser visados por grupos radicais.

Leia abaixo a entrevista:
Risco Seguro Brasil — Há um aumento global no risco de ataques terroristas contra empresas? As empresas brasileiras devem se preocupar com este risco?
Keith Martin — A Aon avalia que há um aumento no risco de ataques terroristas em certas regiões do mundo. Esses ataques quase sempre afetam também empresas – mesmo que elas raramente sejam alvos em si.  A exceção são companhias que são símbolos de certos países, como marcas de restaurantes fast-food e hotéis norte-americanos – essas podem, sim, serem alvos diretos.

Em geral, as empresas brasileiras não são alvo, mas têm que ter cuidado em certas regiões, como o Oriente Médio, devido ao risco de efeitos colaterais de ataques contra outros alvos.

RSB — Que áreas estão mais expostas a este risco? Há alguma região do planeta onde as empresas brasileiras estão presentes e onde há risco de terrorismo mais acentuado?
Martin — As áreas atualmente mais expostas são os países com grandes populações de muçulmanos, sejam eles majoritários ou minoritários, no Oriente Médio, na Ásia e na África, além dos Estados Unidos e da Europa Ocidental.  Obviamente, as empresas brasileiras são presentes em alguns desses países, e precisam ter cautela.

De modo geral, não há grande presença de empresas brasileiras via investimento etc. no Oriente Médio, mas na África, as empreiteiras brasileiras, cada vez mais espalhadas pela região, precisam ficar de olho na expansão do terrorismo por lá, inclusive em países como o Quênia.

Na Europa e nos Estados Unidos, as empresas brasileiras devem analisar cautelosamente o seu perfil de risco, em termos também das empresas implantadas na vizinhança delas.

Destacamos também que eventos globais aumentam o risco de terrorismo de forma aguda. Mesmo que a Copa 2014 tenha sido tranquila deste ponto de vista, as Olimpíadas no Rio 2016 também podem ser alvo de terrorismo, particularmente considerando que os Jogos já foram alvo de ataques diretamente pelo menos duas vezes (Munique 1972 e Atlanta 1996) e indiretamente (Beijing 2008).

A presença de atletas de países como Israel, Estados Unidos, Afeganistão, Iraque, Irã etc. e o status de “palco global” dos Jogos fazem deles, infelizmente, um alvo de alto valor para os terroristas.  Neste sentido, é importante que tanto o país como a cidade do Rio de Janeiro, além das empresas lá presentes, estejam preparados.

RSB — Como se define o risco de terrorismo? Que tipos de atividades estão cobertas? Por exemplo, as ações das Farc na Colômbia estão incluídas nestas coberturas? E ações como os ataques em série do PCC contra forças de segurança no Brasil também estariam cobertas?
Martin — É importante mencionar que o mercado oferece três coberturas, desde a mais “estreita” (que inclui somente terrorismo e sabotagem) até a mais ampla (todo tipo de violência política, incluindo guerra e guerra civil).

Normalmente, para evitar discussões com as seguradoras sobre a natureza do possível sinistro, recomendamos, pelo menos, a cobertura intermediária, que inclui terrorismo, sabotagem, comoção civil, motins e danos maliciosos.

Ações das Farc estão incluídas em qualquer uma das três coberturas, incluindo a mais restritiva. O mercado já pagou vários sinistros (tanto para danos materiais como para lucros cessantes) causados pelos Farc e outros grupos na Colômbia.

É importante que o grupo que cometa os atos de violência seja reconhecido como grupo com motivos políticos, ou que pelo menos os atos específicos eram de natureza política, religiosa ou étnica.  Quando se trata de um grupo visto mais como um grupo criminoso, e não político, como o PCC ou os grupos de narcotráfico no México, fica mais difícil argumentar que seja terrorismo ou outro tipo de violência política.

Note-se também que o fato que um governo considera os seus opositores como “terroristas” não necessariamente significa que as seguradoras vão reconhecê-los como tal. Por exemplo: na Síria, o governo considera todos os grupos armados da oposição como terroristas, mesmo os mais moderados, que países ocidentais estão apoiando. Neste caso, pode ser que a seguradora considere danos causados por conflitos entre esses rebeldes e o exército sírio como guerra civil e não como terrorismo.

RSB — Que tipos de danos são cobertos pelas apólices de seguro contra o terrorismo? Além dos danos materiais à propriedade, é possível, por exemplo, incluir a remoção de membros do staff e seus familiares de áreas onde o risco se torna mais crítico?
Martin — Além dos danos materiais, as apólices podem incluir perdas por causa de lucros cessantes, algo muito importante porque muitas vezes, particularmente para empresas, os danos devidos à interrupção de negócios são muito maiores do que os danos físicos.

As apólices geralmente não cobrem remoção de membros do staff etc. Para isso, há outros serviços – inclusive seguro de viagem ou serviços de apoio para expatriados (que inclui terrorismo junto com sequestro, remoção por causa de terremotos, tsunamis, problemas médicos etc.).  A Aon oferece esse serviço, inclusive para empresas brasileiras.

RSB — Quais são as tendências de preços e condições de coberturas de seguros contra o terrorismo? Há áreas ou setores onde não é possível obter cobertura no mercado atual?
Martin — Globalmente, não houve aumento de preço porque o mercado de seguros, de modo geral, está muito soft atualmente. Há muita capacidade no mercado, e particularmente nos specialty lines como risco político, onde o retorno é considerado maior do que nas coberturas mais comuns.

Obviamente para certos países, não há cobertura, ou somente muito limitada.  Isso inclui países como Iraque, Líbia e Síria.  Existem alguns outros em que os prazos são mais curtos e as taxas mais altas, como na Nigéria, por exemplo.

Os ataques recentes na França e nos Estados Unidos não devem (ainda) influenciar muito o preço, já que foram ataques isolados com poucos danos materiais.  Obviamente, quaisquer ataques de maior escala (como no 11 de setembro de 2001 nos Estados Unidos, ou os ataques de 2004 em Madrid e de 2005 em Londres) podem mudar o quadro.

RSB — Qual é a melhor forma para uma empresa brasileira organizar seu programa de seguros contra riscos de terrorismo? É possível organizar uma cobertura global, e, em caso positivo, que mercados fornecem essas coberturas? São necessárias apólices locais em alguns países?
Martin — Recomendamos uma análise aprofundada, junto com o corretor, que deve ter experiência no assunto, da exposição da empresa ao risco e particularmente a definição de uma possível cobertura para o risco.

Sim, é possível e até comum, organizar uma cobertura global, e os principais mercados são Londres (Lloyd’s) e os Estados Unidos (AIG, Ace, XL, Zurich…), com participação de resseguradoras como Swiss Re e Munich Re.  E sim, em alguns países é necessário emitir a apólice localmente.

RSB — É uma boa ideia transferir este risco com o auxílio de uma empresa cativa?
Martin — Se for só para esse risco, a resposta para a grande maioria das empresas brasileiras é não.  Somente seria rentável para empresas com grande presença, ou com uma presença particularmente forte no Oriente Médio. Se já existe uma cativa, ela pode, sim, auxiliar – mas sugerimos o apoio de um corretor especializado, por se tratar de um risco muito complexo e fora do padrão.




Demanda por gestor de riscos dispara e se sofistica

Alexandre Zuvela, sócio-diretor da Fesa.
Alexandre Zuvela, sócio-diretor da Fesa.

A preocupação crescente das empresas com gestão de riscos fez a procura por profissionais da área aumentar 30% este ano, notadamente para cargos de diretoria, segundo Alexandre Zuvela, sócio-diretor da Fesa, uma das principais companhias de recrutamento de executivos no Brasil.

Além do aumento da demanda, também está ocorrendo nas companhias em que o setor está mais maduro um processo de procura por profissionais mais estratégicos, com visão mais ampla do negócio, que garantam um eficiente gerenciamento de riscos sem descolar do lado comercial.

Esse movimento no mercado de trabalho ganha ainda mais relevância frente ao quadro econômico negativo pelo qual o país atravessa, com  desemprego formal crescente.

A crise, no entanto, é justamente um dos fatores que levam ao aumento na busca por profissionais de risco, de acordo com Zuvela, que é responsável pelo recrutamento na área de seguros e mercado financeiro da Fesa.

“Em momentos de crise as empresas tendem a aceitar mais riscos, a serem mais flexíveis nas negociações”, explica ele. “Aumenta a preocupação com as métricas e o compliance. As empresas mais tradicionais dão mais foco a riscos mais amplos, além daqueles com os quais estão acostumadas, como o financeiro. Passam a olhar desde os riscos de imagem,  operacional, de continuidade do negócio… Tentam entender melhor todos os riscos a que estão expostas. Então há mais busca por profissionais que tenham essa visão ampla.”

Zuvela chama de “figura nova” este tipo de profissional, num caminho que entende como um aprimoramento deste ramo de riscos. “Há uma migração desses executivos para áreas cada vez mais estratégica das empresas”, diz ele. Dentro deste perfil, o profissional com uma acentuada formação técnica dentro da empresa passa a interagir de forma crescente com a área de negócios —  “olhando a gestão de risco com foco no business”, diz o recrutador.

Sênior
Alinhado a essa visão estratégica, a experiência da Fesa  mostra que é crescente também a procura para cargos de diretoria de profissionais de “risco puro” — aqueles cuja principal atuação será a gestão de riscos, e não uma posição em que o risco fará parte de um rol de outras funções dentro da companhia.

“É a figura de um pensador de risco estratégico para a companhia”, diz o executivo. “Trata-se de um perfil muito cross, que vai olhar todas as áreas de negócio com independência de ação. Vai além da auditoria, do compliance, da operação porque consegue ver a organização de uma forma muito transversal.”

Como gestão de risco é uma área relativamente nova no Brasil, a procura por “profissional de risco puro” ainda é menor e localizada nas companhias com histórico de gestão na área. A maior parte das empresas ainda busca profissionais de diretoria para desempenhar mais de uma função, entre elas, a gestão de risco.

De qualquer forma, diz o executivo da Fesa, a tendência de crescimento dos profissionais de risco deve continuar, haja vista que se trata de um setor em amadurecimento no Brasil — e portanto ainda não inteiramente compreendido por grande parte das empresas.

Minoria
Apesar do movimento registrado pela Fesa, o volume na área de riscos de outra grande recrutadora de executivos no país, a Michael Page, demonstra o amplo espaço ainda a ser ocupado por profissionais de risco no mercado.

A empresa de recrutamento tem uma área dedicada especificamente a seguros. A grande demanda, explica o gerente Marcelo Graseffi, é para colocação de funcionários nas próprias empresas seguradoras.

Uma minoria de cerca de 5% dos casos recai para empresas em geral que buscam profissionais de seguro para seu negócio — os quais podem desempenhar funções de gestores de risco. “Ainda tenho pouca demanda nessa área”, diz ele.

Para esses casos minoritários, segundo Graseffi, há demanda por muitos profissionais que irão trabalhar na área de compras, por exemplo.

Trata-se de uma situação muito similar ao histórico de evolução da gestão de risco relatado por profissionais da área — o gestor que começa como “comprador de seguro” e aos poucos vai ganhando novas funções no gerenciamento de riscos da empresa.




Para especialista, risco de desastre natural é mal gerido nas empresas

O Brasil é frequentemente afetado por temporais, enchentes e outros desastres naturais como os que atingiram o Paraná e Santa Catarina em julho. Mesmo assim, as empresas do país não estão conscientes da necessidade de gerir este risco, de acordo com um especialista da Fundação Getulio Vargas.

Renato Flôres, diretor do Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da FGV, também afirmou à Risco Seguro Brasil que o mercado de seguros precisa lançar produtos mais adequados e dar uma melhor orientação sobre esse tema a seus clientes corporativos.

As fortes chuvas e ventos que atingiram o Sul do Brasil este mês mataram quatro pessoas e causaram danos a mais de 5.100 propriedades no Paraná e em Santa Catarina, de acordo com os governos dos dois estados.

Em uma estimativa inicial, a Secretaria de Defesa Civil catarinense estimou os prejuízos causados pelos temporais em quase R$ 13 milhões para o setor privado e R$ 26 milhões para o setor público.

As perdas ocorreram menos de três meses depois que um tornado atingiu Xanxerê, também em Santa Catarina, causando dezenas de milhões de reais em prejuízos. Em anos recentes, enchentes originaram grandes perdas econômicas em Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro, entre outros estados.

Aliados com a forte seca que vem afligindo várias regiões do país nos últimos anos, esses eventos desafiam a popular noção de que o Brasil é um país que não está sujeito a catástrofes naturais.

Entre 2010 e 2013, de acordo com a resseguradora Terra Brasis, foram registrados no país 10.542 eventos que podem ser qualificados como desastres naturais, principalmente ligados à seca (6.812) e a enchentes e inundações (3.013).

Falta conscientização
A frequência das perdas ainda não foi suficiente, porém, para convencer as empresas da necessidade botar mais ênfase na gestão de riscos de catástrofes naturais, segundo Flôres.

“Não há consciência ainda sobre os riscos naturais e as próprias catástrofes”, disse ele. “E tudo indica que estamos entrando em um período em que a probabilidade de estes eventos acontecerem será maior.”

No Brasil, explicou ele, existe uma percepção até certo ponto justificada de que não há grandes riscos de catástrofes naturais. Mas nos últimos anos esta percepção está sendo contradita por uma sucessão de eventos que causam danos cada vez maiores.

“Tem havido furacões, alguns já com uma intensidade razoável”, disse Flôres. “Há áreas potencialmente de erupção vulcânica. Então é preciso tomar cuidados.”

Flôres desenvolve trabalhos na FGV no que define como “antifragilidade”, que implica a criação de rotinas e procedimentos que reduzam a fragilidades das atividades das empresas.

Mas é um trabalho ainda muito incipiente, disse ele, já que muito poucas companhias brasileiras possuem uma visão integrada dos riscos de desastres naturais que elas enfrentam.

“As empresas brasileiras nem começaram a lidar com o problema”, afirmou Flôres. “Ainda é preciso fazer um trabalho muito grande nesta área.”

Falta seguro
Outro problema é que, mesmo que uma empresa decida levar a sério a gestão de riscos de catástrofes naturais, ela terá dificuldade em encontrar uma solução de transferência deste risco para o mercado segurador.

Flôres disse que o mercado de seguros, nesta área, não possui os dados necessários para definir o preço de uma cobertura, o que impede o oferecimento de produtos adequados para cobrir o risco.

“É um mercado fino, e por isso o problema está nos dois lados”, afirmou Flôres. “O comprador não sabe direito onde encontrar o produto que necessita, porque não há oferta suficiente. Mas a demanda também é muito pequena. Do lado de quem oferta o seguro, existe dificuldade para precificar.”

Para solucionar esta situação, segundo Flôres, é necessário que o mercado realize um trabalho mais profundo no sentido de ensinar a potenciais compradores como é possível transferir o risco de desastres naturais.

“O processo de conscientização dos demandadores de seguro é lento”, afirmou. “As companhias do setor precisam fazer um esforço de se aproximar dos clientes e explicar como as coberturas podem ajuda-los. Também deveriam fazer um investimento no sentido de identificar e desenvolver produtos para este segmento.”




Risco à reputação da empresa é subavaliado no Brasil, diz especialista

Mitsuru Yanaze, do Ceacom da USP.
Mitsuru Yanaze, do Ceacom da USP.

A imagem é um dos bens mais importantes de uma organização. Mas as empresas brasileiras ainda não demonstram grande interesse para monitorar e gerir o risco de danos à reputação.

Esse é o ponto de vista de um dos principais especialistas em risco de imagem do país. De acordo com Mitsuru Yanaze, coordenador do Centro de Estudos de Avaliação e Mensuração em Comunicação e Marketing (Ceacom) da Universidade de São Paulo.

“Infelizmente os altos executivos ainda não perceberam a importância do valor da marca e da imagem corporativa nos negócios”, disse Yanaze à Risco Seguro Brasil.

“Nas grandes fusões que estão acontecendo hoje, uma relevância muito pequena das operações está relacionada à parte tangível, ao patrimônio líquido da organização. Mas os investidores estão dispostos a pagar preços monstruosos pela parte intangível, que é a percepção que as outras pessoas têm da empresa.”

Pesquisa do Ceacom com as 50 maiores empresas do Brasil revelou que não mais que 5% delas possui um sistema de monitoramento de imagem, segundo Yanaze, que também é autor do livro Retorno de Investimentos em Comunicação: Avaliação e Mensuração, que trata do assunto a fundo.

Um exemplo do impacto que os danos à reputação podem ter em uma empresa é a Petrobras, cujo valor de mercado despencou após a eclosão da Operação Lava Jato. Um dos principais motivos, diz Yanaze, foi a deterioração da imagem da empresa, que passou a ser associada a casos de corrupção.

Guia inglês
Fora do Brasil, o risco de reputação ganha cada vez mais espaço na agenda das empresas, e grandes companhias fazem pressão sobre a indústria de seguros para que ela apresente soluções que possibilitem sua transferência ao mercado.

A preocupação se reflete em um guia lançado em julho pela Airmic, a associação britânica de gestão de riscos, que trata especificamente da definição e gestão do risco de imagem.

As empresas que fazem parte da associação reportaram que esta ameaça ocupa atualmente o topo do seu ranking de preocupações.

O tema ganhou importância extra após casos como os danos causados à imagem da BP após um grande vazamento de petróleo no Golfo do México, em 2010. O valor de mercado da empresa despencou, pressões da opinião pública incentivaram o governo americano a jogar duro contra a empresa na busca de indenizações.

Curto prazo e longo prazo
O guia aponta que um problema com a reputação de uma empresa pode levar danos de curto prazo a ter consequências graves e de longa duração, como lucros menores, perda de clientes e fuga de funcionários qualificados, além da desvalorização das ações da companhia.

A publicação, elaborada pelo Reputation Institute, um centro de pesquisa britânico, explica que os danos à reputação podem afetar a empresas de várias maneiras diferentes. Por exemplo, dúvidas podem ser levantadas sobre a capacidade da empresa de inovar, de oferecer produtos seguros ou de obter altas taxas de crescimento do negócio. O público também pode duvidar da honestidade e dos padrões éticos da empresa, seu compromisso com temas sociais ou sua capacidade de proporcionar boas oportunidades de emprego.

A gestão dos riscos de imagem e reputação exigem a avaliação do potencial impacto de eventos negativos, a implementação de medidas de reação e um monitoramento constante da percepção que o público possui da empresa. Mais detalhes podem ser obtidos no guia em inglês.

Sistema
A gestão de riscos à reputação está porém ainda em evolução no mundo. No próprio Reino Unido, apenas um terço dos gestores de riscos das empresas membro do Airmic estão confiantes em seus sistemas para lidar com o problema, e só 3% compram seguros especializados em danos de imagem.

Mas ferramentas para lidar com o tema começam a estar à disposição dos gestores de risco e suas empresas. O próprio Ceacom elaborou um sistema de monitoramento para avaliar a reputação de uma organização em diversos meios.

O sistema leva em conta desde menções na mídia tradicional e redes sociais, até a variação do número de candidatos a vagas de trabalho abertas pela empresa e as visitas de formadores opiniões a estandes em feiras de negócios. O objetivo é avaliar se a reputação da empresa corresponde à sua identidade corporativa.

Yanaze explicou que a identidade corporativa é a imagem que a empresa quer que stakeholders como acionistas, trabalhadores e clientes tenham dela. E uma boa imagem é o que dá origem à reputação que a empresa tem no mercado.

“Tanto a imagem quanto a reputação são extremamente vulneráveis”, avalia Yanaze. “A empresa está exposta a perder sua boa imagem com muito mais velocidade de que levou para construí-la. Então é fundamental monitorar isso o tempo todo.”

Em geral, porém, as empresas brasileiras tendem a ignorar este tema a não ser que estejam em meio a uma crise, ou que o presidente da companhia manifeste interesse no assunto. E nesses casos, o mais comum é que medidas apressadas, como a mera reunião de informações que saíram na imprensa, sejam suficientes para satisfazer os altos escalões da companhia.




Seguro obrigatório é desafio para gestor de risco de empresa elétrica

Marcia Ribeiro, especialista em seguros da Light.
Marcia Ribeiro, especialista em seguros da Light.

A falta de conhecimento técnico sobre gestão de riscos e de seguros das empresas do setor elétrico por parte dos órgãos reguladores é obstáculo para implementação de programas de seguro mais eficientes na área, segundo a gestora de risco de uma da principais empresas do setor no Brasil.

Em entrevista à Risco Seguro Brasil, Marcia Santos Ribeiro, especialista em seguros da Light, disse ainda que muitas vezes o mercado de seguros também falha na provisão das coberturas que o setor necessita.

Ribeiro é coordenadora do Comitê do Setor Elétrico da ABGR, que no início de julho realizou seu 14º encontro anual na cidade de Tiradentes (MG). O evento reuniu 47 gestores de risco de 26 empresas elétricas brasileiras, que discutiram os temas mais relevantes para o setor e também participaram de debates com representantes do mercado segurador.

O período turbulento por que passa o setor elétrico — afetado pela falta de água, riscos de apagão, problemas de distribuição e a delicada situação econômica do país — garantiu peso extra ao encontro deste ano.

Alguns dos assuntos que preocupam os gestores de risco são as perdas de energia elétrica, algumas por razões técnicas que fazem com que nem toda a energia gerada nas usinas chegue ao consumidor final, outras devido a furtos e fraudes de energia, como os notórios “gatos”.

Temas regulatórios ligados às regras tarifárias, a influência da política energética do governo sobre os contratos de concessão e os custos associados aos riscos de investimentos também fizeram parte da agenda.

Coberturas obrigatórias
Mas um dos temas que mereceram maior atenção dos participantes foi a dificuldade em obter as coberturas de seguro obrigatórias incluídas em contratos de concessão na área de energia.

“Os gestores de riscos e seguros do setor elétrico experimentam certo desconforto em relação à obrigatoriedade da contratação de seguros dos ativos de transmissão”, disse Ribeiro.

Muitos dos problemas, segundo ela, estão ligados à falta de conhecimento técnico sobre seguros no lado do supervisor, o que resulta em demandas pouco claras, e nem sempre realistas, relacionadas à obrigatoriedade da contratação de seguros. O supervisor do setor elétrico é a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel).

“Existem pontos obscuros a serem esclarecidos”, afirmou Ribeiro. “São poucos critérios em comum nas empresas e há experiências diferentes vivenciadas pelos gestores nas abordagens dos fiscalizadores. Durante troca de ideias, observei pedidos variados e distintos, com solicitação e apresentação de material diversificado. É possível perceber a falta de conhecimento técnico sobre o seguro específico e suas variáveis.”

Segundo ela, o órgão regulador deve ter um conhecimento mais profundo tanto da realidade das empresas concessionárias quanto do funcionamento da indústria de seguros que vai prover as coberturas exigidas para as concessões.

“Há um desconhecimento a respeito das questões técnicas ligadas aos seguros”, disse a especialista da Light. “É imprescindível entender esse mecanismo, a política das empresas, como o mercado segurador funciona, assim como os critérios dos seguros obrigatórios.”

Ela citou como exemplo um recente episódio vivido por uma organização do setor.

“Uma empresa pública recebeu um prazo de 60 dias para realizar a avaliação patrimonial para fins de seguros e apresentar o respectivo seguro com a especificação dos bens segurados, o que é impraticável. Em uma empresa privada, as atividades para obter a documentação da avaliação patrimonial podem levar de três a quatro meses, dependendo dos ativos a serem avaliados,” disse ela.

“Em resumo, o processo começa com o levantamento das informações necessárias, sites, plantas e dados técnicos dos locais e itens”, continuou Ribeiro. “Em seguida é preciso fazer visita a campo, entrevista com os profissionais de diferentes áreas. Depois disso, ainda é necessário fazer uma pesquisa de valores no mercado específico para a preparação de laudos técnicos e planilhas de custos. Sem o conhecimento dessa abrangência, como pode dizer o que é que falta, como deve ser feito e quando deve ser entregue?”

A solução deste problema, de acordo com ela, exige que as empresas façam um trabalho mais próximo com as autoridades a fim de traduzir as demandas do supervisor de forma mais realista com as condições de mercado.

“Esse não é um aspecto de fácil solução”, avalia ela. “O ideal é buscar a aproximação e o diálogo entre as partes, entender o contexto em prol de melhorias.”

Até que haja avanços nessa relação, porém, a contratação de seguros obrigatórios seguirá sendo resultado de um processo complicado, com muitos pedidos, réplicas e tréplicas por ambas as partes.

Falta produto
A relação com a Aneel não é a única dor de cabeça a ser trabalhada pelos gestores de risco do setor elétrico.

Segundo Ribeiro, muitas vezes também faltam respostas das seguradoras para riscos que as empresas gostariam de transferir para o mercado.

Em alguns casos, falta capacidade da seguradora. “É notória a carência de ofertas de produtos”, disse. “Em determinados ramos, às vezes apenas uma proposta é apresentada. As empresas de energia encontram barreiras e precisam usar a criatividade e muito empenho para conseguir seguradoras com interesse no risco.”

O mercado brasileiro também sofre com uma escassez de profissionais especializados nos segmentos que cobrem os riscos específicos do setor elétrico.

“Em riscos de engenharia, por exemplo, é comum encontrar obstáculos para garantir certos riscos em determinados tipos de obras”, explicou Ribeiro. “E isso pode ocorrer, por hipótese, devido à falta de um profissional do ramo com a qualificação necessária para entender este tipo risco.”

A coordenadora do comitê da ABGR também expressou preocupação com as frequentes fusões e aquisições que vêm sendo feitas no setor de seguros.

“É verdade que as fusões aumentam a capacidade das empresas envolvidas”, disse ela. “Mas por outro lado se reduz o número de players no mercado. Em uma concorrência, aumenta o risco de uma empresa participante ficar sem a oferta de seguros necessária, ou receber uma oferta que não é satisfatória.”

Encontro em Minas
O encontro que reuniu gestores de risco em Tiradentes abordou os seguintes temas: D&O – Lei Anticorrupção, cujo palestrante foi Álvaro Igrejas, da Willis;  Programa Gestão de Riscos x Gestão de Seguros (Rodrigo Protásio, da JLT); Seguro de Responsabilidade Civil Geral (Lilian Greco, da Mapfre); Seguro Garantia (Roque Junior, da JMalucelli);  Riscos climáticos e efeitos no fluxo de caixa das companhias de energia (Rodrigo Violaro, da Swiss Re); Avaliação Patrimonial para fins de Seguros (Carlos Eduardo Souza, da Engeval); e Seguro de Vida (Fabiano Lima, da SulAmérica).