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Saúde de funcionário ‘exige gestão integrada da empresa’

Mauricio Vinhão, da Willis
Mauricio Vinhão, da Willis

A saúde dos funcionários das empresas está exigindo uma gestão cada vez mais integrada. Um “elo” mais fraco dessa cadeia pode comprometer significativamente os resultados da companhia,  alertou especialista a uma plateia de gestores de risco em São Paulo.

Por elo, entenda-se não um funcionário com saúde claudicante, mas as diferentes áreas que precisam trabalhar juntas para garantir uma boa qualidade no serviço de saúde para os empregados com os custos bem ajustados. Algo que, segundo Maurício Vinhão, diretor de desenvolvimento de negócios e produtos da corretora Willis, apenas 10% das grandes empresas podem dizer que tem no Brasil.

“Não é mais um problema só do RH, já que envolve vários outros setores da empresa”, disse Vinhão. “As áreas de compras, de gerenciamento de risco, a área médica estão muito envolvidas no tema.”

Capital humano

Vinhão apresentou um painel sobre o impacto financeiro do capital humano nas empresas no segundo dia do XI Seminário Internacional de Gerência de Riscos, em São Paulo.

“A questão é como ter controle para não ter um risco futuro ou um pagamento muito alto a ser feito. É preciso cruzar todas as ‘caixinhas’ dentro das empresas, saber como proceder e que riscos as pessoas correm”, afirmou.

As palavras-chave deste processo são controle e integração. Se estes dois aspectos estão bem contemplados, geram economia de custos sem comprometer o atendimento de saúde dos funcionários – um ponto sensível em qualquer corporação e que pode ser fonte de inúmeras dores de cabeça para a companhia.

A integração entre os departamentos permite, por exemplo, saber se o funcionário com sobrepeso está utilizando o convênio com a academia de ginástica da companhia.

“A integração de todas as peças é o que permite a entrega de resultado efetivo”, afirmou ele. “Não posso falar em gestão de saúde se não tenho controle dos atestados médicos [dos funcionários]”, exemplificou.

Custos

Os custos são parte sensível no setor, já que tem impacto no financeiro corporativo e no bolso do funcionário.

A inflação dos custos médicos nos últimos 12 meses foi de 17,7%, segundo Vinhão – em 2008 era de 7%.

Já os planos de saúde tiveram o maior reajuste nos últimos dez anos, de acordo com o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec): 13,5%. “A conta [das empresas] não fecha. Quem aguenta um reajuste desses?”, disse Vinhão.

A parte mais complicada é saber como estimular os funcionários a cuidar da saúde, fazer os exames certos, utilizar os serviços de forma adequada e evitar problemas de saúde futuros. “Os usuários precisam estar bem engajados”, disse Vinhão.

Além de terem a própria saúde envolvida no processo, são eles que acabam pagando boa parte dos custos dos programas de saúde.

A coparticipação, por exemplo, que é a parte que o funcionário banca de um plano empresarial começou em 5% anos atrás e hoje já está batendo nos 30%, informou o executivo da Willis.

Ao lado disso, aparece o fato de que os brasileiros com diabete, por exemplo, somarão 9,4% da população em 2050, segundo dados apresentados pelo executivo. Em 2008, eram 6%. Já a hipertensão atingirá 33% da população em 2050, contra 22% há sete anos.

Mais gente doente significa mais custos, além de piora da qualidade de vida e funcional as pessoas.

Dificuldades

Segundo Vinhão, o grande desafio para trabalhar bem a gestão de saúde é mudar a cultura, primeiro das próprias empresas e depois dos usuários, com os quais é preciso estabelecer uma relação próxima para conhecer os problemas e a melhor forma de tratá-los.

“Hoje ainda eles não têm essa cultura de prevenção. Têm um cartão [do plano de saúde] que eles acham que usam da forma certa,” afirmou.

Muitas vezes, disse ele, o usuário simplesmente não sabe que um procedimento custa R$ 50 mil.

Segundo Vinhão, o usuário pode sentir que passou a ser investigado no momento em que a empresa passa a procurar mais informações sobre sua saúde. A forma de trabalhar isso é comunicar com clareza o programa de saúde. “Ele não está sendo investigado, mas acolhido.”

Sobre redução de custos, diz Vinhão, é preciso mostrar que não há perda de qualidade dos serviços ou da cobertura, mas mudanças – como utilizar um outro médico ou fazer exame em outro laboratório.

“A empresa pode pagar menos, mas dentro de uma qualidade aceitável,” observou.

Mas isso costuma gerar bastante estresse dentro das companhias. De qualquer forma, Vinhão assegura que é possível implementar uma gestão adequada numa empresa num prazo entre seis e 12 meses.




Setor elétrico precisa de ‘pontes’ e soluções de seguro inovadoras

Victor Garibaldi, da MDS Seguros, e Marcia Ribeiro, da LIght
Victor Garibaldi (MDS) e Marcia Ribeiro (Light)    (Foto: Carlos T. Mizumoto/ABGR)

Enfrentando pressão em várias frentes e com riscos cada vez mais complexos, os gestores de riscos do setor elétrico precisam construir mais pontes, internas e externas, a fim de enfrentar de maneira mais eficaz as ameaças que rondam as empresas do setor.

A avaliação é de Marcia Santos Ribeiro, especialista em seguros da Light e coordenadora do comitê do setor elétrico da Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR).

“O que a gente quer são soluções inovadoras”, disse ela, que participou nesta terça-feira, ao lado de Rodrigo Violaro, da Swiss Re, e da Victor Garibaldi, da MDS Seguros, do painel Gestão de Risco Energético, no XI Seminário Internacional de Gerência de Riscos da ABGR, realizado em São Paulo entre 26 e 28 de outubro.

“Precisamos de gente interessada em fazer produtos [de seguros] diferentes, inteligentes e aderentes. Os produtos de prateleira, muitas vezes com clausulado que fica difícil até para inglês ver, precisam ser melhorados.”

Ribeiro entende que esse desenvolvimento depende do esforço do mercado segurador, mas também – no caso do setor elétrico – é necessário focar mais o trabalho das próprias empresas, a fim de calibrar as reais necessidades para a companhia mitigar com mais precisão seus diferentes riscos.

“Para ir ao mercado também precisamos fazer um trabalho interno”, afirmou ela. “Queremos mais diálogo para termos produtos com mais substância. Se o mercado entender melhor nossos riscos, terá mais eficácia.”

Desafios

As pontes que Ribeiro defende ganham mais força quando se olham as fontes de pressão para os gestores de risco e para os desafios do setor elétrico, sejam empresas geradoras, distribuidoras ou transmissoras de energia.

A pressão vem de acionistas, executivos, conselhos de administração e stakeholders variados. Já o campo das ameaças é vasto, complexo e diversificado: riscos hidrológicos e crise hídrica; instabilidade regulatória e riscos políticos; riscos climáticos e outros.

Para Victor Garibaldi, diretor da MDS, os riscos mais importantes atualmente são os hidrológicos e os ligados à legislação e regulação, além da necessidade de investimentos grandes e recorrentes, que fazem pressão no caixa da empresas.

Sentido médio das coisas

Ainda que não seja um produto customizado, o seguro paramétrico caminha no sentido proposto pela especialista da Light. O modelo trabalhado pela Swiss Re CS, uma das pioneiras no Brasil neste setor, “é um instrumento adicional para gestão do caixa no curto e médio prazo”, explica Rodrigo Violaro, diretor de energia da seguradora de soluções corporativas. “Ele atende riscos que não estavam sendo administrados.”

O seguro paramétrico trabalha com médias de ocorrências climáticas. Acima ou abaixo de determinado nível, o seguro é acionado automaticamente.

“Não é um seguro para casos extremos, para eventos que ocorrem a cada 40 ou 50 anos”, explicou Violaro à Risco Seguro Brasil. “É um seguro para ocorrências mais frequentes, a cada 10 ou 20 anos, mas para perdas menores. Não trabalha com riscos de probabilidades pequenas de grandes eventos, mas frequência maior para perdas menores. Tem uma função mais operacional.”

As coberturas incluem precipitação (chuva, vazão de rio), vento, temperatura, irradiação solar, terremoto, El Niño e preço de commodities – todos fatores que impactam diretamente as empresas de energia.




‘Economia vai piorar antes de melhorar’, diz Mailson na ABGR

A economia brasileira vai piorar antes de melhorar, mas não há risco de que o país enfrente uma ruptura política ou que derive para um processo semelhante ao da Argentina ou da Venezuela.

Foi o que disse ex-ministro da Fazenda Mailson da Nóbrega, no discurso de abertura do XI Seminário Internacional de Gerência de Riscos e Seguros, em São Paulo.

O evento bienal organizado pela Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR) começou nesta segunda-feira, 26/10, na sede da Amcham. Durante três dias, gestores de riscos, representantes do mercado de seguros e especialistas em diversas áreas vão discutir os riscos mais importantes enfrentados pelas empresas brasileiras.

Na abertura do seminário, Mailson expressou otimismo com relação ao futuro do Brasil, mas reconheceu que, no curto prazo, a economia ainda vai passar por maus pedaços.
“O Brasil tem tudo para se recuperar deste momento ruim”, disse o ex-ministro, mas acrescentou: “A situação piora antes de melhorar”.

Já foi pior

Mailson, que fundou a consultoria Tendências, afirmou que a situação da economia brasileira, ainda que grave, não é tão negativa quanto à do final do governo José Sarney, nos anos 1980.

Ao mesmo tempo, a crise política não chega ao nível de paralisação do governo João Goulart, no começo dos 1960, quando o presidente foi deposto por um golpe militar.
“Não há sinais de ruptura”, observou. “Não há nenhum risco de o Brasil encaminhar para uma situação semelhante à da Argentina ou da Venezuela.”

Mailson disse, no entanto, que serão necessários de três a cinco anos para consertar o que chamou de erros cometidos pelos governos do PT e possibilitar a retomada do crescimento da economia.

O país enfrenta dois anos consecutivos de recessão, o que não acontecia desde 1932. Além disso, em sua análise, a presidente Dilma Rousseff vai se dedicar nos futuro próximo a sobreviver no cargo apesar da sua impopularidade, sem dar a atenção necessária às reformas de economia necessita.

“Uma presidente impopular e um governo fraco fazem com que a possibilidade de aprovar reformas seja muito reduzida”, analisou Mailson.

Riscos

Na opinião de Mailson, as reformas são importantes porque a economia só vai voltar a crescer se houver uma recuperação da competitividade.

Ele também expressou preocupação com a provável perda do grau de investimento das duas agências de avaliação de crédito que ainda não rebaixaram a nota do país (Fitch e Moody’s) e com a oposição de meios políticos a medidas de saneamento das contas públicas como a aprovação da nova CPMF. “Sem CPMF a situação piora muito,” ressaltou Mailson.

Ainda assim, porém, o ex-ministro vê aspectos positivos na atual situação que mostram que o país conseguiu avanços importantes nas últimas décadas. “A situação hoje é infinitamente melhor que em 1989”, disse ele.

Segundo Mailson, a economia hoje é mais sólida do que 25 anos atrás. As instituições estão mais estabelecidas, o sistema financeiro é saudável e bem regulado, e o país desenvolveu uma classe média significativa.

Estes fatores, aliados a uma democracia consolidada, uma imprensa livre e um Judiciário independente, entre outros, indicam que o país vai se recuperar de seu atual momento.

Crise bancária e cambial

Mailson não vê risco nem de uma crise cambial nem de uma crise bancária, que em anos passados multiplicavam os efeitos de períodos de incerteza política e econômica como o atual.

“A probabilidade de isso acontecer agora é próxima de zero,” afirmou Mailson, lembrando que as reservas do governo continuam altas e o câmbio flutuante reduz o engessamento da economia.

Além disso, efeitos da crise, como a desvalorização do real, podem alimentar reações positivas como um aumento das exportações e um processo de substituição das importações.

E uma ampla rede proteção social, em que, segundo alguns cálculos, mais da metade da população conta com algum tipo de renda garantida pelo Estado, ajuda a mitigar os efeitos da crise.

Ele observou que a liderança de Dilma Rousseff é bastante pior que a de José Sarney no final dos anos 1980, o que eleva a gravidade dos riscos políticos. Mas o ex-ministro afirmou que não há razão para pedir o impeachment da presidente e que um processo de afastamento poderia agravar a situação como um todo.

“O impeachment da presidente Dilma não altera a crise econômica”, disse ele, ressaltando que o processo de afastamento de um presidente só deve ser usado em casos extremos.

Clique aqui e veja a palestra do ex-ministro.




ABGR discute desafios da gestão de risco em encontro internacional em SP

Cristiane França Alves, presidente da ABGR.
Cristiane França Alves, presidente da ABGR.

A Associação Brasileira de Gerenciamento de Riscos (ABGR) realiza na próxima semana, de 26 a 28 de outubro, seu XI Seminário Internacional de Gerência de Riscos e Seguros. Trata-se do mais importante evento da área no Brasil e um dos maiores do mundo.

Os organizadores esperam reunir mais de mil pessoas no encontro, que terá 24 painéis temáticos, 58 palestrantes e mediadores e patrocínio de 23 empresas.

De acordo com a presidente da ABGR, Cristiane França Alves, a programação buscou cobrir os temas que são os principais desafios do setor atualmente, no Brasil e no mundo.

Daí que os painéis de discussão e debate vão tratar de assuntos que encabeçam a pauta dos gestores de risco dos principais mercados, como seguro D&O, corrupçãoriscos cibernéticos, fusões e aquisições de empresas, riscos ambientais, além de crise hídrica e outros temas fundamentais para a gestão da área.

“Os riscos hoje estão cada vez mais complexos e interligados, trazendo situações desconhecidas e interferindo em todas as atividades de uma empresa, desde a aquisição de matéria prima até a entrega final ao cliente”, afirmou Alves.

A presidente lembra que crise econômica, conflitos civis, terrorismo, mudanças climáticas e avanços tecnológicos fazem parte do dia a dia da profissão em todo o mundo. “No Brasil, tropicalizamos todas essas ameaças”, disse ela em carta aos participantes do evento, publicada no site da ABGR. “Diante disso, vemos o quão importante é o nosso papel na empresas. O gerente de risco não limita mais sua atuação à ótica dos riscos ‘puros’, mas percebe que pode contribuir com a gestão integrada dos riscos.”

Diante de um quadro de acelerado desenvolvimento e novidades, foram escolhidos palestrantes, de acordo com Alves, reconhecidos como de alta competência pelo mercado em suas áreas de atuação. “O mundo hoje muitas vezes apresenta situações inusitadas; precisamos de alguma forma anteciparmo-nos ao desconhecido”, afirmou ela.

Serviço
XI Seminário Internacional de Gerência de Riscos e Seguros
26 a 28 de outubro de 2015.
Das 8h30 às 18 horas.
Local: Amcham Business Center – São Paulo – SP
Rua da Paz, 1.431. Santo Amaro.
Inscrições: de R$ 1.000,00 a R$ 3.000,00. Encerram-se no dia 22/10, às 17h30.

Mais informações: www.abgr.com.br

 




Escândalos impulsionam ‘crescimento de maturidade’ na gestão de risco

Marcelo D'Alessandro
Marcelo D’Alessandro, da ABGR.

Os escândalos recentes e a Operação Lava Jato deram impulso ao gerenciamento de risco, à governança e ao compliance no Brasil. Vendo o potencial de estragos quase todo dia nos jornais e na televisão, um número maior de empresários despertou e busca hoje se antecipar e entender melhor os riscos de seu negócio.

Mas esse movimento, positivo para o setor e para o mercado, vem ocorrendo em meio a uma certa confusão com esses três pilares da boa administração, avalia Marcelo D’Alessandro, membro do Conselho Deliberativo da Associação Brasileira de Gerenciamento de Riscos (ABGR).

“Está tudo misturado. Cabe um pouco ao gestor de risco mostrar as diferenças [entre as áreas]”, disse ele em entrevista à Risco Seguro Brasil. “Governança, compliance e gestão de risco têm de ser independentes e complementares. Não precisam estar amarrados.”

Apesar disso, D’Alessandro considera que o setor passa hoje por um “crescimento de maturidade” no país.

“As empresas estão muito mais abertas a entender que seus riscos podem comprometer não só o fluxo de caixa, a imagem, a operação, mas também a própria pessoa [os administradores]”, afirmou D’Alessandro, que tratará do tema em palestra no dia 28 de outubro, durante o Seminário Internacional de Gerência de Riscos e Seguros, promovido pela ABGR em São Paulo.

Juntos, mas separados

D’Alessandro recorre à teoria de administração para justificar a separação e independência entre os setores. “A governança tem de zelar pela proteção da missão da empresa; o compliance, pela conformidade das regras; e a gestão de risco por acompanhar todos as ameaças e encontrar a solução para elas”, disse.

“Os três se complementam, mas, quanto mais independente for cada um deles, melhor o outro vai se desenvolver.”

D’Alessandro acredita que a autonomia do gestor de risco é fundamental para o melhor desempenho de sua função. Daí que seria importante ele fazer parte do board da companhia e responder diretamente à presidência.

“A função não pode estar amarrada nem ao compliance nem à governança. Por quê? Porque ela é uma área independente. Ela mostra risco inclusive de uma tomada de decisão ruim da governança.”

Mercados onde a gestão de risco é mais madura, como França e Estados Unidos, trabalham dessa forma, completou ele. “A gestão de risco se reporta diretamente ao Chief Risk Officer (CRO)”, afirmou.

O gestor acredita, no entanto, que esse processo terá lugar, com o passar do tempo, também no Brasil.

“Temos um problema cultural. O presidente da empresa ainda não entende que precisa de um diretor de risco”, afirmou. “O gestor pode contribuir muito em fazer com que a presidência entenda que ele precisa estar mais ligado diretamente a ela.  Senão volta ao problema de localizar um risco e não ter orçamento para comprar o seguro adequado… Precisa ter autonomia para mostrar essas coisas ao comitê que vai analisar o problema.”

D’Alessandro vê dois setores produtivos em que esse modelo de gestão está mais à frente no Brasil:  o de laboratórios químicos e farmacêuticos e a indústria automobilística. “Eles têm um sensível destaque, mas mesmo assim ainda misturam funções de auditor com gestão de risco,” disse ele.

Riscos emergentes

Quanto melhor for o desenho administrativo em que a gestão de risco vai se desenvolver no Brasil, mais condições terão os profissionais para enfrentar desafios cada vez mais sérios.

Os riscos emergentes são um bom exemplo. Para D’Alessandro, eles representam o ponto mais sensível para o setor nos próximos anos.

“Todas as empresas sofrem ataques cibernéticos”, exemplificou. “Mas tem muita gente mandando pessoal de TI embora. Não vai ser o gestor de risco, com um martelo de Odin na mão, que vai resolver esse problema. As duas áreas precisarão atuar juntas para mitigar deste problema nas companhias.”

Na parte ambiental, outra área que vem exigindo atenção cada vez maior, o diretor da ABGR considera que o país trata do assunto como se fosse “um campo de várzea”.  “Não conseguimos nem jogar o lixo no lugar certo,” afirmou.

Ele vê nas questões ligadas à responsabilidade civil fatores que funcionam hoje como intimidadores para muitos profissionais, porque há uma pressão e cobrança muito grande da mídia, exigindo dedicação crescente dos profissionais de risco.

Mão de obra e salários

Mesmo com demanda crescente, o setor tem na mão de obra e na remuneração dois de seus gargalos, considera D’Alessandro.

Há carência de profissionais com o mix de habilidades necessárias para o bom desempenho das funções: boa formação técnica no setor produtivo em que atuam, conhecimento específico de gestão de risco, fluência em inglês e conhecimento de seguros.

Sem essa “grade”, os profissionais que começam na profissão precisam aprender na prática, diz D’Alessandro. E é dessa forma que boa parte dos departamentos de risco nas grandes companhias vem trabalhando.

“Há carência de profissionais, mas há também de salários”, diz o gestor. “Quando se tem bons salários, o mercado se movimenta mais no nível estratégico do que na base.”

Segundo ele, a “escada” da profissão de gestor de risco hoje no Brasil ainda está curta, não se estende até o nível de diretoria.




Vice da ABGR cobra apoio do mercado contra ‘vírus mutável’ que são os riscos

Vanderlei Pires Moreira
Vanderlei Pires Moreira, vice-presidente da ABGR.

Os riscos a que uma empresas está exposta são como “um vírus mutável”, que se adapta a diferentes situações e podem causar estragos onde se achava que não mais poderiam. E as seguradoras e resseguradoras, assim como a Superitendência de Seguros Privados (Susep), poderiam prestar uma ajuda melhor às empresas no tratamento deste vetor de enfermidades corporativas.

É como Vanderlei Pires Moreira, vice-presidente da Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR) e gerente global de Riscos e Seguros da Weg Equipamentos, analisa o setor atualmente.

O executivo da empresa catarinense, que conta com filiais em 32 países e operações em 162, será um dos palestrantes do seminário bianual promovido pela ABGR entre os dias 26 e 28 de outubro em São Paulo (clique aqui para saber mais). Trata-se de um dos maiores eventos de gestão de riscos em todo o mundo.

Em entrevista à Risco Seguro Brasil, Moreira disse que as seguradoras estão muito focadas nos seguros de bens e propriedades (as chamadas linhas de property), não cobrindo apropriadamente outros riscos que as empresas enfrentam.

“Infelizmente neste ponto, não somente o Brasil, mas todos os mercados de seguro precisam ainda amadurecer e trabalhar intensamente com seus segurados”, afirmou. “As seguradoras e resseguradoras deixam esta tarefa com os corretores e, infelizmente, caímos no mesmo ciclo vicioso.”

Ele espera, no entanto, que a recente abertura do setor de resseguros no Brasil melhore a oferta de produtos corporativos no país. “Principalmente com clausulados mais claros e objetivos, com cobertura real ‘all risk’ e sem a interferência no órgão regulador”, disse ele. “A Susep neste ponto deveria apenas fiscalizar e não atuar como hoje atua.”

Continuidade dos negócios

Gestor de risco de um empresa de alta complexidade e atuação em várias partes do mundo, Moreira entende que a definição dos riscos prioritários de uma empresa é uma tarefa complexa cujo objetivo é evitar a interrupção das atividades.

“Nem sempre é fácil mapear os riscos a que empresa está exposta”, disse ele. “Mas nosso foco é sempre a continuidade dos negócios, para que tenhamos sempre o sinal de alerta ligado para todos os riscos possíveis de serem analisados.”

Mesmo com esse cuidado, que deve ser permanente, fatores excepcionais exigem atenção mais detalhada. Atualmente, afirmou, os riscos político e macroeconômico estão emitindo fortes sinais de alerta para os administradores brasileiros.

Ele também considera que ameaças emergentes como os riscos cibernéticos, de reputação e de cadeia de suprimentos, pedem atenção especial das empresas.

“São riscos que podem abalar a estrutura de muitas empresas solidas e consequentemente redução de mercado ou na pior dos casos o encerramento de operações”, observou.

Mão de obra dá trabalho

A complexidade dos desafios enfrentados pelas empresas, além das várias crises econômicas no Brasil e no mundo nos últimos, tem impulsionado a gestão de riscos no Brasil, na opinião do vice-presidente da ABGR.

Mas a atividade ainda se encontra em grande medida restrita às grandes corporações. “A maioria das empresas ainda nem ouviu falar [da função]”, avalia.

Ainda assim, o aumento da demanda por profissionais da área significa que não é fácil encontrar no mercado o talento em gestão de riscos que as empresas necessitam. “Para as empresas está cada vez mais difícil encontrar profissionais capacitados que lidam com a gestão de riscos”, afirmou.

A Weg, por exemplo, aposta na formação de seus próprios gestores de riscos, e metade dos profissionais que trabalham no setor foram recrutados dentro da própria empresa.

Para Moreira, as dificuldades com as quais o gestor de risco tem de trabalhar também incluem o serviço prestado hoje pelas consultorias da área, que, em sua opinião, têm um foco de prestação de serviço um tanto imitado.

“Todas [as consultorias] estão focadas em riscos específicos, o que torna o trabalho demorado e custoso para a empresa que optar por essa linha”, afirmou. “É preciso buscar a consultoria correta e sempre explicar os objetivos da empresa.”




Fraudes são exemplo de má gestão de risco e governança deficiente, diz jornal

Em reportagem de página inteira na versão impressa, o jornal Valor Econômico analisa hoje (7/10) os problemas de governança e gestão de riscos que levam empresas como Enron, Worldcom, GM, Sadia, Aracruz, Petrobras e agora a Volkswagen a sucumbirem às más práticas para inflar seus resultados.

As fraudes, diz o jornal, são exemplos extremos de governança deficiente e sistemas de controle ruins. Citando estudo da Association of Certified Fraud Examiners (ACFE), lembra que más condutas de funcionários não estão restritas a um número pequeno de companhias e que 70% das fraudes podem comprometer 5% do faturamento das empresas vítimas.

“Uma política de sinal vermelho para os riscos em uma empresa, portanto, pode significar sinal verde para os investidores”, diz o jornal, em texto do repórter Sérgio Tahuata.

A matéria do Valor evidencia que gestão de risco avançada traz melhor desempenho financeiro, rentabilidade e resiliência do negócio. Clique aqui e veja a reportagem completa (só para assinantes do Valor).

O jornal ainda mostra que os riscos que mais preocupam as empresas brasileiras são os relacionados a alterações regulatórios, de acordo com levantamento da AON. No resto do mundo, a principal preocupação é com “danos à marca”.




Gestor de risco tem mais trabalho, mas ganha espaço com crise hídrica

Marcia Ribeiro, especialista de riscos da Light
Marcia Ribeiro, especialista em seguros da Light

Considerada a mais grave em 84 anos, a crise hídrica mudou a rotina dos gestores de risco de empresas do setor elétrico, fortemente impactadas pela falta d’água.

Segundo profissionais da área ouvidos pela Risco Seguro Brasil, o aumento das variáveis de risco trazidas pela crise aumentou a demanda de trabalho, além de torná-lo mais minucioso — tudo para mitigar ou mesmo eliminar fatores que possam agravar ainda mais a situação.

Outro resultado da crise, porém, é que os gestores de risco estão mais envolvidos com a tomada de decisões dentro de suas empresas.

“A crise hídrica ampliou a rotina do gestor de risco”, disse Marcia Santos Ribeiro, especialista em seguros da Light.

Valéria Conrado Leite, gerente de seguro da AES.
Valéria Conrado Leite, gerente de seguro da AES.

“A restrição de recursos hídricos nas principais bacias contribuiu na redução de água para operação do sistema hidrotérmico, e questões estruturais do setor encareceram a energia elétrica, impactando a sustentabilidade social, econômica e ambiental da operação.”

A falta d’água, no entanto, não é o único componente deste período crítico.

Segundo Valéria Conrado Leite, gerente de Seguros, Garantias e Previdência da AES Brasil, questões políticas, regulatórias e econômicas agravam a situação e “vêm frustrando investimentos” na área.

“As distribuidoras, em especial, quase ficaram sem fôlego para continuar porque o caixa ficou muito apertado”, disse ela. “O cenário vinha crítico desde 2012, diante de tantas medidas equivocadas do governo, que hoje resultam em aumentos absurdos nas tarifas de energia elétrica.”

Com tantas variáveis complexas, o papel do gestor de risco ganhou mais relevância.

“Fortaleceu-se a cautela, e a análise de riscos tornou-se chave para as empresas tomarem decisões”, disse Leite.

“O gestor de risco está hoje sentado nas mesas de decisões de suas corporações. É um patamar importante para o crescimento e o amadurecimento da indústria brasileira.”

Esse cenário tende a prosseguir no setor elétrico nos próximos anos. “O crescimento populacional, a expansão do consumo e as mudanças climáticas manterão a necessidade de acompanhamento”, afirmou Ribeiro.

Ribeiro e Leite são membros do comitê do setor elétrico da Associação Brasileira de Gerência de Riscos (ABGR).

Na prática
Um dos efeitos da crise atual foi o de aumentar o trabalho interdisciplinar nas empresas, que “cresceu fortemente”, segundo a especialista da Light. Trata-se de um movimento fundamental para quem tem de administrar riscos em várias frentes.

Ribeiro lembrou que a crise obrigou as empresas a encontrar com rapidez resultados eficientes. “Há necessidade de aglutinar os conhecimentos e experiências na mesma direção”, disse ela. “O objetivo é dar celeridade aos processos em busca de criatividade e melhores resultados.”

De acordo com Leite, as decisões hoje não estão sendo avaliadas apenas “sob o aspecto do investimento, mas também sobre o conhecimento do risco a tomar”.

Para ela, o cenário de crise criou oportunidade para os profissionais mostrarem seus conhecimentos e atuarem como líderes nas suas empresas.

“É um termômetro para demonstrar que a cultura de risco está crescendo no Brasil”, afirmou. “Mas é certo que temos ainda muito o que avançar e aprender.”

Ribeiro reforça essa linha.  “A gestão de risco tem atuado mais enfaticamente neste período”, disse ela.

“É preciso se antecipar aos fatos e trabalhar com consonância com as políticas das empresas. Buscar produtos de seguros que possam ajudar a mitigar os impactos ambientais e contribuir com o ‘loss control’ faz sentido, mas ainda há muito a fazer diante da realidade brasileira.”

Outro reflexo prático da crise é que melhorou o monitoramento dos controles do uso de água e energia por parte das empresas.

Origens
O intenso trabalho de reação à crise ocupa bastante espaço na rotina dos gestores de risco, mas eles não esquecem a origem do problema.

A falta d’água hoje é grave — reservatórios importantes operam hoje abaixo do chamado nível morto —, mas não se pode atribuir a crise apenas a este fator, dizem as especialistas.

“Em São Paulo, o Tribunal de Contas do Estado afirmou que a culpa foi do governo, que não fez o planejamento adequado e não soube articular o problema”, afirmou Leite, lembrando que a possibilidade de falta d’água é antiga.

“Disputas políticas fizeram o cenário ficar mais crítico do que se imaginava. Antever o problema é papel principalmente do governo, que tem o poder sobre os recursos nas mãos. Vamos pagar a conta pela arbitrariedade dos nossos representantes.”

Segundo a gestora da AES, as indústrias de modo geral não tinham um plano B para a crise hídrica. E agora muitas estão enfrentando sérias dificuldades em razão da escassez de água e aumento das tarifas de energia.

“A falta de políticas públicas assertivas e de planejamento contribui muito para o agravamento da crise”, disse Leite.

Agora, no entanto, a direção parece ter mudado. “Vemos empresas contratando consultorias para auxiliar em técnicas de economia de água e luz. Creio que essa será uma tendência daqui para frente “, disse Leite.

“Os problemas sempre existirão”, completou Ribeiro. “O que precisa ser feito é criar e ampliar regulamentos, políticas e cultura que propiciem o comedimento de uso dos recursos. Sem organização e disciplina, a sobrevivência não será tarefa fácil.”

Transmissão
O impacto da crise ocorre de maneira diferente para os diferentes tipos de empresas do setor elétrico, que é dividido em geradoras, distribuidoras e transmissoras de energia.

Um executivo de uma empresa de transmissão de energia, que pediu para não ser identificado, disse à reportagem que para o setor dele a crise hídrica não causou danos. Com menos geração de energia, as linhas de transmissão estão trabalhando com folga.

Houve aumento de demanda, no entanto, num lado positivo: novas linhas de transmissão para PCHs (Pequenas Centrais Hidrelétricas).

“Há necessidade de termos linhas de transmissão em ‘todos os cantos’ para escoar a energia gerada por elas”, disse o executivo. “As equipes de projetos têm trabalhado muito nisso.”

Mesmo assim, o setor também enfrenta problemas por falta de planejamento. “O país peca em transmissão há vários anos”, afirmou. “Acompanhamos a operação de usinas eólicas sem a devida linha de transmissão para escoamento da energia. Tudo feito sem planejamento.”

Para ele, o órgão regulador — a Agência Nacional de Energia Elétrica — também deixa a desejar. “A Aneel se tornou um órgão político, sem técnicos; as decisões se tornaram financeiras.”




Usinas a fio d’água são novo desafio para o setor elétrico

A quase totalidade dos 20 mil MW de energia elétrica que devem entrar no sistema entre 2013 e 2018 no Brasil serão provenientes das chamadas usinas a fio d’água. Por um lado, o fato de elas operarem sem grandes reservatórios de água dribla uma série de problemas ambientais. Por outro, o sistema fica mais volátil.

Para Carlos Alberto Oliveira Pinto, membro do comitê do setor elétrico da ABGR, esse é um dos principais desafios de gerenciamento de riscos dos próximos anos.

“A sazonalidade de chuvas altera profundamente as condições para produção de energia”, diz ele. “Essas usinas possibilitam a geração de grande quantidade de energia em períodos chuvosos; nos períodos secos, a produção é drasticamente reduzida.” A oscilação dificulta o planejamento energético, avalia o gestor.

De acordo com Oliveira Pinto, as mudanças climáticas exigem diversificação das fontes de energia. E com a participação cada vez mais acentuada de hidrelétricas a fio d’água, eólicas, biomassa e solar, o uso de usinas térmicas (mais caras e poluidoras) é necessário para garantir a estabilidade do abastecimento.

Com a escassez nos reservatórios, as térmicas são também acionadas para poupar água nos períodos de seca.

“O país necessita de investimentos em ações estruturais para minimizar impactos, após a ocorrência de qualquer grande evento”, avalia Oliveira Pinto.

“Teremos grandes desafios pela frente, sendo necessária a diversificação de fontes de energia. As mudanças climáticas devem impactar de forma substancial a tomada de decisão dos governantes e com isso diminuir os impactos para a economia.”




Para especialista, avaliação de risco de desastre natural precisa evoluir

Os modelos matemáticos usados para analisar e quantificar riscos de desastres hoje no Brasil não são mais suficientes frente aos desafios do país e dificultam a alocação de capital para o mercado de seguros.

A avaliação é de Moacyr Duarte, pesquisador da Coppe, o centro de pesquisas em engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro, que participou de um debate sobre riscos emergentes durante o 7º Conseguro, realizado em São Paulo entre os dia 15 e 17 de setembro.

Para Duarte, que trabalha com gerenciamento de riscos para a prefeitura do Rio de Janeiro, os modelos de representação matemática baseados no modelo binário (“de respostas sim ou não”) não são mais suficientes.

“O chek list não funciona mais”, disse ele. ” Não adianta mais termos a foto [do problema], precisamos de um filme.”

Duarte se referia ao enorme volume de dados envolvidos em cada situação, em termos de avaliação de riscos de desastre.

Nada de capital
Com os modelos com que se trabalham hoje, afirmou ele, o resultado das avaliações de riscos é precário e pouco eficiente.

“A resposta vai ser extremamente conservadora e vai se afastar do objetivo porque não se vai enxergar [o problema]”, observou. “O modelo de cálculo é ruim.”

Para o especialista, sem que os modelos matemáticos sejam aprimorados, não vai haver um aporte de capitais que poderiam alavancar a capacidade de seguros no setor.

“Não conseguiremos aporte de grandes capitais sem que ocorra uma sofisticação dos cálculos”, afirmou. “Ninguém coloca dinheiro sem um cálculo muito preciso e bem explicado por trás.”

Como exemplo, ele citou a situação de algumas favelas no Rio de Janeiro, onde modelos tradicionais de avaliação de riscos apontam que toda a região de uma comunidade está exposta ao risco de desastres.

Um levantamento mais específico, no entanto, mostrou uma outra realidade. “Só cerca de 10% das moradias estão efetivamente sob risco”, afirmou ele. “A maioria é passível de seguro, mas está fora do mercado. Se continuarmos com o velho parâmetro, vamos negligenciar isso tudo.”

Resseguro
Outro participante do painel, Rodrigo Botti, CFO e COO da resseguradora local Terra Brasis, considera que uma maior participação do mercado de capitais é fundamental para desenvolvimento dos seguros contra catástrofes no Brasil.

Trata-se de um recurso já bastante utilizado nos Estados Unidos e Japão, mas ainda não trabalhado no Brasil, disse ele.

Botti vê a possibilidade de que aportes de capitais sustentem uma maior proteção para os incidentes mais comuns no país, como as secas e as inundações.

Os exemplos internacionais mostram, por exemplo, a implementação de sistemas de proteção ligados ao preço do combustível.

“Poderíamos ter coisas similares contra apagão, desmoronamentos e seca”, disse ele.

A Terra Brasis faz alguns estudos de mapeamento de desastres naturais no Brasil e disponibiliza os resultados para o mercado.

Botti lembrou que os desastres que costumam atingir o país são muito diferentes dos que ocorrem com maior frequência no resto do mundo, como os terremotos e furacões.