Saúde de funcionário ‘exige gestão integrada da empresa’
A saúde dos funcionários das empresas está exigindo uma gestão cada vez mais integrada. Um “elo” mais fraco dessa cadeia pode comprometer significativamente os resultados da companhia, alertou especialista a uma plateia de gestores de risco em São Paulo.
Por elo, entenda-se não um funcionário com saúde claudicante, mas as diferentes áreas que precisam trabalhar juntas para garantir uma boa qualidade no serviço de saúde para os empregados com os custos bem ajustados. Algo que, segundo Maurício Vinhão, diretor de desenvolvimento de negócios e produtos da corretora Willis, apenas 10% das grandes empresas podem dizer que tem no Brasil.
“Não é mais um problema só do RH, já que envolve vários outros setores da empresa”, disse Vinhão. “As áreas de compras, de gerenciamento de risco, a área médica estão muito envolvidas no tema.”
Capital humano
Vinhão apresentou um painel sobre o impacto financeiro do capital humano nas empresas no segundo dia do XI Seminário Internacional de Gerência de Riscos, em São Paulo.
“A questão é como ter controle para não ter um risco futuro ou um pagamento muito alto a ser feito. É preciso cruzar todas as ‘caixinhas’ dentro das empresas, saber como proceder e que riscos as pessoas correm”, afirmou.
As palavras-chave deste processo são controle e integração. Se estes dois aspectos estão bem contemplados, geram economia de custos sem comprometer o atendimento de saúde dos funcionários – um ponto sensível em qualquer corporação e que pode ser fonte de inúmeras dores de cabeça para a companhia.
A integração entre os departamentos permite, por exemplo, saber se o funcionário com sobrepeso está utilizando o convênio com a academia de ginástica da companhia.
“A integração de todas as peças é o que permite a entrega de resultado efetivo”, afirmou ele. “Não posso falar em gestão de saúde se não tenho controle dos atestados médicos [dos funcionários]”, exemplificou.
Custos
Os custos são parte sensível no setor, já que tem impacto no financeiro corporativo e no bolso do funcionário.
A inflação dos custos médicos nos últimos 12 meses foi de 17,7%, segundo Vinhão – em 2008 era de 7%.
Já os planos de saúde tiveram o maior reajuste nos últimos dez anos, de acordo com o Instituto de Defesa do Consumidor (Idec): 13,5%. “A conta [das empresas] não fecha. Quem aguenta um reajuste desses?”, disse Vinhão.
A parte mais complicada é saber como estimular os funcionários a cuidar da saúde, fazer os exames certos, utilizar os serviços de forma adequada e evitar problemas de saúde futuros. “Os usuários precisam estar bem engajados”, disse Vinhão.
Além de terem a própria saúde envolvida no processo, são eles que acabam pagando boa parte dos custos dos programas de saúde.
A coparticipação, por exemplo, que é a parte que o funcionário banca de um plano empresarial começou em 5% anos atrás e hoje já está batendo nos 30%, informou o executivo da Willis.
Ao lado disso, aparece o fato de que os brasileiros com diabete, por exemplo, somarão 9,4% da população em 2050, segundo dados apresentados pelo executivo. Em 2008, eram 6%. Já a hipertensão atingirá 33% da população em 2050, contra 22% há sete anos.
Mais gente doente significa mais custos, além de piora da qualidade de vida e funcional as pessoas.
Dificuldades
Segundo Vinhão, o grande desafio para trabalhar bem a gestão de saúde é mudar a cultura, primeiro das próprias empresas e depois dos usuários, com os quais é preciso estabelecer uma relação próxima para conhecer os problemas e a melhor forma de tratá-los.
“Hoje ainda eles não têm essa cultura de prevenção. Têm um cartão [do plano de saúde] que eles acham que usam da forma certa,” afirmou.
Muitas vezes, disse ele, o usuário simplesmente não sabe que um procedimento custa R$ 50 mil.
Segundo Vinhão, o usuário pode sentir que passou a ser investigado no momento em que a empresa passa a procurar mais informações sobre sua saúde. A forma de trabalhar isso é comunicar com clareza o programa de saúde. “Ele não está sendo investigado, mas acolhido.”
Sobre redução de custos, diz Vinhão, é preciso mostrar que não há perda de qualidade dos serviços ou da cobertura, mas mudanças – como utilizar um outro médico ou fazer exame em outro laboratório.
“A empresa pode pagar menos, mas dentro de uma qualidade aceitável,” observou.
Mas isso costuma gerar bastante estresse dentro das companhias. De qualquer forma, Vinhão assegura que é possível implementar uma gestão adequada numa empresa num prazo entre seis e 12 meses.