Pesquisa mostra agentes e causas de fraudes nas empresas
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- Oscar Röcker Netto
- 10 de maio de 2016
- Sem categoria
Investigação com dez companhias mostra que maioria dos fraudadores tem pelo menos 11 anos de casa e desvia o equivalente a 33% do salário anual
Metade das empresas vítimas de fraude por parte de funcionários dispõe de um programa de compliance, a maioria dos fraudadores tem mais de 11 anos de casa e trabalha em funções operacionais.
O retorno financeiro médio obtido com o delito equivale a 33% do salário anual, mas metade deles embolsa o equivalente a meio ano de remuneração.
Esses resultados fazem parte de uma pesquisa realizada com dez empresas que serviu de base para a tese de doutorado apresentada na PUC-SP em março por Renato Santos, diretor da S2 Consultoria e professor de Gestão de Riscos e Compliance.
O trabalho amplia o escopo acadêmico dos estudos de fraudes. O que começou em 1953 batizado de Triângulo da Fraude virou nos dias de hoje um Pentágono da Fraude.
Nove das empresas pesquisadas têm receita operacional bruta acima de R$ 90 milhões e mais de 500 funcionários, sendo quatro delas com receita acima de R$ 1 bilhão e mais de 5.000 funcionários.
Esse universo ajuda a entender um pouco mais da dinâmica das fraudes nas companhias.
Vale a pena?
O fraudador “top” da lista, por exemplo, apurou mais de dez vezes seu salário anual, enquanto o menor não teve benefício financeiro nenhum, tendo ajudado um superior na burla. Setenta e três por cento dos fraudadores ganhavam entre R$ 11 mil e R$ 30 mil por mês.
De acordo com Santos, os valores médios desviados são baixos, do que ele deduz que a maioria dos fraudadores não costuma pensar muito bem no custo-benefício de seus atos. Ele entrevistou ao longo de 2015 pessoalmente todos os 15 funcionários pegos em delito — todos entraram na sua pesquisa, apresentada em março.
Se o retorno pode ser considerado baixo, a punição também, avalia ele. No universo pesquisado elas variaram entre nenhuma (para 13% deles), advertência (13%), demissão por justa causa (41%) a ação civil ou criminal (33%).
Segundo o consultor, muitas empresas deixam de aplicar punições mais severas com medo de que essas medidas sejam usadas em processos trabalhistas futuros. Daí que se faz uma opção mais conservadora.
Senhor de si
Na dinâmica de atuação dos fraudadores, a capacidade que eles julgam ter para operacionalizar a fraude é um fato relevante para tomar a decisão.
O tempo de casa, portanto, influencia. A pesquisa mostra que 61% dos entrevistados tinham mais de 11 anos de serviços prestados à firma antes de cair em tentação.
Nesse período, segundo Santos, acumularam experiência e se sentiram suficientemente seguros para cometer o delito.
Outro ponto de destaque na fotografia corporativa revelada pela pesquisa é a existência de programas de compliance em metade das organizações fraudadas. E aqui a efetividade do programa é colocada em xeque — como revelam também os vários programas de compliance das empresas envolvidas na Lava Jato.
Um fraudador participante da pesquisa, por exemplo, disse que participou da capacitação de compliance da empresa em que trabalhava ao lado de seu chefe, mas isso não foi suficiente para evitar que ele sucumbisse a um caminho que viu como fácil.
“O programa de compliance não resolve tudo. As empresas [pesquisadas] têm estruturas bem montadas, mas as fraudes ocorreram do mesmo jeito”, diz Santos. “Se não pensar no aspecto humano, no funcionário, não se atinge o objetivo.”
Tempo e cargo
Além disso, os sistemas de controle costumam demorar para localizar os desvios. A maioria dos delitos demorou pelo menos seis meses para ser descoberta, sendo que 40% ficaram encobertos por mais de um ano.
Os fraudadores da pesquisa feita por Santos ocupavam cargos operacionais em 53% dos casos, estratégicos em 27% e táticos em 20%. As motivações nos três casos são as mesmas. A diferença é o potencial de prejuízo que o fraudador com presença hierárquica maior no organograma podem causar, diz o diretor da S2.
Roubar ou não, eis a questão
As razões que levaram os fraudadores a agir são distintas. Cada um tem sua motivação e muitas vezes elas se cruzam.
Dos 15 entrevistados, emergiram dez motivos diferentes que, segundo Santos, são razões presentes em quase todos os casos de fraude no mercado — e não restrito apenas ao universo da pesquisa.
Veja a baixo os motivos que levaram os fraudadores a agir, nas palavras deles mesmos.
1 – Capacidade técnica: “Tenho acesso total ao sistema, descobri falhas e eu mesmo conseguia fazer”.
2 – Autonomia: “Eu tinha todo o controle da operação”.
3 – Pressão por resultado: “Por mais que você faça, começamos sempre do zero”.
4 – Dádiva: “Comprei uma televisão simples com o dinheiro do fornecedor. Foi um presente”.
5 – Minimização do ato: “São coisas bem pequenas que eu fiz e estou pagando consequências enormes”.
6 – Falta de credibilidade do compliance: “Fiz o treinamento de compliance da minha empresa, aliás ao lado do meu chefe. Ouvimos tudo o que podia e não podia fazer. Mas é complicado não cair na tentação do caminho mais fácil”.
7 – Baixa probabilidade de identificação: “Eram muitos processos e poucas pessoas para fazer; menos ainda para conferir”.
8 – Desmotivação com a empresa: “Não tem como estar motivado aqui”.
9 – Ausência de controle: “Estava uma bagunça, uma correria absurda”.
10 – Dívidas pessoais: “Quis fazer um dinheirinho, estava desesperado”.
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